A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Vida - Novas Perspectivas

Quando era puto olhava para o balcão,
aquele bolo que bem me sorria,
achava que era avareza
quando o pedia a minha mãe respondia-me pobreza.
Sonhava ser herói, só andar a practicar o bem,
nem pensava que teria de trabalhar,
que, para satisfazer as necessidades básicas,
teria de suar e sangrar.
Era-me indiferente as desgraças mostradas na TV,
a televisão era-me irreal, nem pensava no seu porquê.
Tinha tudo, nem precisava de esperança.

Cresci, deixei de ser criança,
comecei a tornar-me adulescente,
a roupa foi a primeira decisão pela minha mente,
apartir daí descobri a liberdade e a adrenalina,
desconhecia as suas consequências
e vivi de atitude cretina
por ter-me deixado levar pelas tendências.
No meu inconsciente a vida era um paraíso
e fazia merda sempre com um grande sorriso.
Mas de repente encalhei,
porque o dinheiro constrói um rei
à cultura da imagem,
mas imagem não é paisagem,
é pura miragem,
mas yah,
eu fiquei na pobreza,
perdi muitas gentes por sua causa,
quem queria saber de um puto que não marcava pausa?
Dei por mim destruído pela consciência pesada
descobrindo que a vida não é conto de fada,
até pode ser, mas depois é apresentada a conta.
Yah mãe, agora percebo quando dizias
que o dinheiro tem de ser estimado
não pela quantia mas pelo seu fardo.

Fui alvo de chacota,
um actor da TV famoso que tinha sido,
virara pobre, de repente já nada dava certo,
amizades, família e mais os olhares que me preconceituavam.
Já não sabia onde me virar no meio de tanta tristeza,
comecei a dar nas paças à procura da beleza
da vida que me atraiçoara,
como se eu tivesse tido opção,
e soubesse que esta vida me ía ser cara
pois o ser humano não tem como culto
uma criança fazer escolhas de adulto.
Já via sangue escorrer na minha mão,
os psicólogos chamavam-lhe depressão,
eu dizia que era doença sem solução:
solidão.
Estava numa grande confusão entre o assassinato
ou vender alma à morte em troca de um pacto,
ou os dois... mas... e depois?
Pois.
O ódio e amor tinham um ponto igual,
e quanto mais pensava nisso mais ficava mal.
Não havia coragem para enfrentar o amanhã,
já nem ía às aulas de manhã,
ficava sentado à espera do nada,
da pessoa que eu chamara mamã,
da outra que eu chamara irmã
do outro que chamara irmão.
No meio de tanta escuridão
pensava numa razão mas...
mais um dia passava
e eu me arrastava.
Saía com um sorriso,
mas foram mais as vezes que chorava.
Esta é a voz que foi oprimida da opinião,
tinha de gritar e espernear,
dar pulsação ao meu coração,
coser os tecidos,
encher a minha alma
dar cor à minha pele,
sarar feridas...

Cresci: jovem adulto,
comigo cresceu uma revolta
e com toda a revolta fiz revolução.
A vida é lixada?
Numa outra perspectiva,
ganhei, ganhei a qualidade da amizade,
e a consciência do seu valor,
ganhei o desprezo ao dinheiro
e a vontade do amor.
E então cresci como ser humano,
como pessoa, como homem,
como irmão, como amigo,
como desconhecido
e dei por mim um herói reconhecido
por quem me conhece,
vivendo com experiência e consciência,
sem esquecer-me da minha vivência
ganhar outra visibilidade sobre o mundo,
assim, à vagabundo.

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