A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

terça-feira, 31 de julho de 2012

A Vós

A minha alma acabou numa cova qualquer,
a cada segundo uma grama de terra me sobrepunha-se,
(mas desta vez meus caros leitores,
não fiquei de barriga para o ar a ver o céu,
antes ao contrário, de cara no chão,
pois quis desviar-me do cliché cinematográfico),
de costas para o sol, de cara na terra,
não a beijá-la, mas sim de peito escondido,
desprezando o tecto celestial,
não sendo eu digno de o ver
ou a dor fóssil ser mais forte
que toda a beleza que a Terra tem.
Sem querer, voltei a relacionar
a dimensão da dor com o tempo
usando a acção arrastar-me
sem escrever a palavra.
Talvez estejam a ler este poema
com alguma amargura, não?
É que estou a escrever com a frieza
do pensamento ouvindo Brahms.
A verdade é que vejo o brilho das lágrimas,
tão puras que são e não compreendo
a tristeza com que o preconceito me lê.
Quer dizer, eu tento a originalidade
do meu ser, porque não tentais vós?
Não faço tensões de chorar na escrita.
Onde há escuridão há uma chama pequenina
que dá vida e amor há existência do ser,
nem que seja um ser doloroso,
mas vive e enquanto vive poderá escolher.
É claro que não são todos os casos
mas também não são poucos
nem dá para fugir à dor
mas enquanto há vida, há liberdade.
Como vos digo,
só há opressores quando há oprimidos
porque todos somos mortais
e perante a morte somos todos iguais.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O meu sonho é ser poeta
e concretizo-o sempre que o sonho...

Um Homem Só

Basta um homem, um homem só,
para representar a Humanidade,
um homem só com uma só palavra e uma só acção
que nos faça arrepiar na pele mil anos de História,
que nos faça encontrar conquistas, derrotas...
lutas de gerações após gerações,
que nos faça sentir saudade do que não conhecemos,
que nos faça calar para ouvir o ruído das vozes mortas,
basta um homem só, que não tenha encontrado alma,
para nos fazer amar o odiado,
para nos fazer lembrar o desprezado,
um homem só, entre nós,
não inferior, não superior, mas entre nós,
cuja a alma foi não enorme, mas universal,
que cuja só acção, só palavra,
tenha emergido em todos os cantos,
em todos os lugares da Terra,
o homem só, que sem sair do lugar,
tenha nadado os cinco oceanos,
tenha voado todos os céus,
tenha atravessado os sete continentes...
um homem só, que no silêncio
conquistou a voz interior da Humanidade,
que numa só acção,
velejou nos sorrisos do mundo,
nos orgulhos das nações,
nas certezas das esperanças,
um homem só com uma só palavra,
tenha enchido corações,
tenha conduzido as multidões,
tenha, sem saber, mudado o curso da História,
um homem só que, com um grito na alma,
tenha conquistado todos os barulhos,
todos os sons da natureza, todos os ruídos da cidade...
Só, que na sua morte haja nascido flores na sua campa,
lembrado por todas as idades,
que nos seus olhos estejam o reflexo
da poesia de todos os homens,
de todas as mulheres, de todas as crianças...
o homem só, que com ele caminham
os fantasmas e os espíritos
doutros tempos e séculos,
que trouxe o brilho às lágrimas da tristeza e da felicidade,
o homem só, com uma só acção e uma só palavra...

Às Sinfonias

A sinfonia é a alma do compositor,
quando se a toca ressuscitamo-lo,
invocamos a sua alma, a sua voz,
e dividimo-la em vários instrumentos musicais
como um céu iluminado de estrelas,
como se as folhas das árvores dançassem
sonorosamente com as suas notas,
como se o mar vibrasse com as cordas
e dentro das montanhas ecoasse
todos os bichos, em coro.
E algures, por baixo de nós,
a percussão nos fosse tão familiar 
como as nossas memórias
sobre o tic-tac do tempo outrora nosso...

Primeiros Lances

Em quaisquer palavras nos vimos,
nos encontrámos sem parecer...
E nos entre-olhares sentimos
e sonhámos com o outro viver...
Sem sabermos sorrimos
e olhámo-nos com prazer...

Rúbricas e fábulas...
sonhos e fantasias,
vida, vida...

Outras Paixões

Os teus olhos são o meu sonho,
as tuas mãos, as tuas eternas mãos,
a vida inteira as esperei olhando o céu nocturno
como um marinheiro que volta à terra
matando a mortal saudade dos braços de sua amada.

Os teus lábios, os teus infinitos lábios,
são paisagem de uma tela,
uma estrondosa composição de cores
que me hipnotiza como se nada mais existisse.

A tua voz, a tua distante voz universal,
noutro lado do planeta a reconheceria,
a ouviria na surdina dos silêncios,
em toda a presença feminina.

As tuas mãos, as tuas espirituosas mãos,
ressuscitam as águas mortas
de um suor descuidado,
arrefeceriam o sol fervoroso dos desertos,
nelas estão a mutação dos meus pensamentos.

Tu és o Amor que guardo no meu coração
de um tempo eterno resguardado
na vanguarda dos antepassados intemporais.

Canto-te, minha amada, mais uma vez...

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Leiturados

Consegues apalpar as palavras escritas,
abraçar com o carinho com que dou?
Será que sabes o que dizes quando me citas
sem saberes quem eu sou?
Será que sabes quantas estrelas tem o meu universo
quando lês a minha poesia, consegues localizá-las?
Será que lês o que escrevo neste verso
ou é como queres quando estás a interpretá-las?
Tens noção
quantos batimentos por minuto tem o meu coração
enquanto dou asas a uma nova criação?
Sabes, realmente?

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Amor e Paixão

A pele que tu conheces
tem o seu próprio universo
testemunha de mil e uma preces
num toque suave de emoções,
completamente submerso,
disperso em convergências,
contactos entre os dedos e as atracções
dum futuro previsível
depois de um passado cheio de provocações,
um desejo gigantesco e invencível
de caminho à lua
onde dar não tem qualquer senso,
até que depois do momento intenso
os nossos olhares chegam a um consenso
porque no amor há o conhecimento aprofundado
de não ter falado, bastou olhar
para adivinhar o meu pensamento,
sou eu e ela, um só num só momento,
o suficiente para conquistar a liberdade
dum lugar no seu coração
com direito à melhor hospitalidade
trazida pelo aconchego da sua paixão,
assim represento,
eu e ela, um só,
num só momento.

Amadora - As Ruas Negras - Parte IV

Amadora, que ruas são estas?
Quantas atenções prestas
a quem está a cair
e olhas sem nunca sorrir?
Porque nos distingues as cores da vida
se são as mesmas as nossas dores
quando nos sentimos sem saída...
Amadora das ruas escuras,
sem luz e sem amor,
não achados, sem procuras,
o sol não produz calor
às sementes criadas na escuridão
crescidas rosas sem pétalas
de condenações perpétuas,
irmandade na solidão
sem algum céu aberto,
coberto pela opressão climática
onde ser bom é ter uma visão apática...

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Indirectas Intrigantes

Vamos brincar às indirectas
no recreio da ignorância e covardia
como cowboys com setas
atiradas ao ar sem pontaria.

Completamente não intencional
porque "eu disse por dizer,
não foi por mal" e coiso e tal,
a acção dos cobardes
começa logo a tremer,
não tens é colhões
para dizer-mo na cara
e tens várias razões,
não é ser cobarde,
é inteligência,
porque a resposta acompanha a prepotência
de te atacar com a verdade,
não tenho tempo nem disposição
para falar de gente sem influência
nenhuma, gente que ruma
a um funeral onde ninguém irá
para se despedir
e quem for irá para se rir.

Indirectas é para intriguistas,
gente disfuncional
que serve o capitalismo na esplanada
para falar mal
sobre tudo mas sabe tanto quanto faz:
nada, ignorância incapaz,
cambada de abortos sociais,
desgraça dos próprios pais,
múmia pseudo-burguesa
que nem sabe tratar
minimamente bem
a língua portuguesa,
não estou para me chatear
eu vou por ali além
duas vezes mais
do que eles conseguem alcançar.

Não sou grande,
tu é que tens um cérebro pequeno,
reduzido a um neurónio fundido,
nem com dois mil anos com nicotina
teria a tua língua cancerisna.
É devido ao cheque
entre vários de um leque
entre vários de um sofá.

Metáfora Aos Machos

Os cigarros fazem mal à voz,
endoidecem as cordas vocais após
umas milhares de paças
enquanto passas devagarinho
a andar só em zonas de fumadores
até te encontrares sozinho
entre fumos provocadores.
Até que chegas ao ponto
em que há um eterno encontro
entre o amor e o vício
e já estarás a meio do precipício,
assim o cigarro torna-se objecto
sem afecto mas predilecto,
muito pessoal e privado
para mostrar à malta
que te tem escutado
nessa sanidade mental
em falta.


O cigarro foi feito para se fumar,
produz escarro mas não interessa
também consegue matar
o tempo quando se tem pressa.
Acalma os nervos
pelo menos assim acreditam os seus servos,
também faz bem à saúde
porque se ama o cigarro
que nos engana a atitude
e torna rude a paciência
que atraca a ressaca
com a tendência
de um ambiente de cortar à faca.

sábado, 21 de julho de 2012

Conta-me como nasceste,
como foi quando abriste os olhos
e viste pela primeira vez o mundo?
Casando com palavras amáveis,
desconhecendo realmente tudo,
sou eu, sou assim, no espírito
um hora que talvez mude.

Nascemos iguais mas diferentes,
morremos diferente mas iguais,
o que não é igual é a visão
que me ofereceste do mundo.

Nunca te agradeci por isso,
talvez morra sem saber que no fundo
agradeço-te por teres lutado
para que nenhuma lágrima fosse infiel à vida.


Quero-te dizer que ainda não encontrei,
porque esses óculos que tu me deste
vesti-os por cima da capa da máscara
e quando a tirei, tirei as lentes também.

Foi sem querer, ou sem crer no que vi,
nada nas horas faz parecer mais digno
do que os minutos,
e dos minutos os segundos,
ainda há os milésimos,
que ninguém vê,
que influenciam os segundos
que influenciam os minutos
que influenciam as horas
que influenciam os dias
que influenciam os meses
que influenciam os anos
que influenciam as rugas
da idade dos séculos.

Acreditar não é amar,
não é obsessão certeza,
identificações não são designações,
mas já que se matou a língua portuguesa,
nada diz tudo de um nada mudo.
Serão silêncios ou ausência de palavras?
Parcialidades convenientes.

Coisas de Amor

Não procuro drogas,
álcool ou outras formas de amor,
não procuro luzes, encontros,
regressos ou outras formas de saudade,
não procuro mentiras,
fugas à realidade, sonhos
ou outras formas de ilusão,
não procuro razão
nem qualquer outra forma de verdade,
o que procuro,
é simplesmente tu.

Tu,
que nas asas do meu ser
crias o verbo voar
e dás-lhe outro sentido
que eleva mais alto
na simplicidade de viver.

Tu,
que nos teus lábios
levas o meu desejo,
no teu olhar
os meus silêncios,
nas tuas mãos
o meu lar,
nos teus cabelos
a magia,
na tua voz
a minha saudade,
no teu andar
as minhas nuvens...

Não te quero,
não te desejo,
não te idealizo,
nada de nada...

o teu nada,
meu tudo
real e sincero.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Preguiça de Viver

Arde num fogo sem chamas
aos gritos sobre quem não se chama
perdido nas sombras do que se aclama
na pele por baixo de escamas
sem prumo ao tempo fugaz
num relógio sem ponteiros,
ânsia muito mais eficaz
na ignorância dos interesseiros.

Segurem,
está cair lentamente,
vai ultrapassar o chão
em queda permanente
sem limite e sem travão.
Está a parar de cair,
não lancem o suspiro
que o que está para vir
é rápido como um tiro.

Quem cai não é culpado,
a culpa é da gravidade
de um corpo pesado
criada pela sociedade.

Não percebem
os desesperados
porque não bebem
da fonte dos abandonados.

Quem é louco afinal?
Será o suicida
no meio da gente
que prega a moral da vida
e na prática consente
o mal que se iça?
Ou está nele a preguiça?

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Nosso Sangue

Minha Vida,
Não consigo parar de pensar
na desordem de um mundo vazio
que se tornou numa tenda
a abarrotar de produtos e bens à venda.
Já nem dá para nos abraçar,
as mãos estão ocupadas a consumir,
Amor, como é que nós nos podemos beijar
se as nossas bocas estão tão cheias
que já nem conseguem sorrir?
Escorrem nas nossas veias
tantas horas de tempo queimado
pela publicidade.
Em que corredor do supermercado
está a nossa vida feliz e bela?
O que é a nossa realidade
se não conhecemos o resto do mundo?
Amor, o que é o nosso olhar
senão uma promessa de clientela?
Será que a Moral dá-nos um lugar
se dermos uma esmola ao moribundo?
Amanhã ele estará lá outra vez,
a sua função é ser porteiro do alívio
a quem lhe dá um pouco de dinheiro
em troca um sermão em convívio.
Amor, isso não é egoísmo?
Capitalismo este que se tornou uma peste
em que se olha ao espelho a ver se se bem veste
e não repara em quem se tornou,
se realmente o é,
mas o dinheiro abraçou todos os homens sem fé.
Amor, onde é que estás?
Dizem que és tu quem nos muda
mas não te acho capaz
ou nas minhas preces tu és surda.
Que Vida tão absurda,
para sermos felizes temos de ser egoístas,
esquecer o mundo à nossa volta
e celebrar as nossas conquistas,
tão pequenas que são,
não influenciam a revolta
contra a podridão deste mundo cão.
Amor, vamos conversar a fim
de ver se o mundo é mesmo assim
ou se só faz parte de mim...
Porque eu não consigo ser racional sem sofrer,
por mais voltas que dê só vejo tudo errado,
parece que morremos antes de morrer
como se o nosso destino estivesse amaldiçoado.
Amor, dizem que cegas,
então porque é que não me pegas?
Este calor que sinto é infernal
prefiro o teu, Amor,
que à sociedade
nunca haverá de ser normal.
Prefiro os teus lábios
do que uns pares de neurónios sábios.
Espelho meu,
qual de nós é que sou eu,
se o amor não sente nada?
Qual de nós é que já não tem vida
e deixou-se ficar à berma da estrada?
A Vida não é injusta,
a sociedade é que leva-nos a um caminho
que só a nós próprios é que nos custa
na rotina que se ajusta
a sermos indiferentes ao nosso vizinho.
Amor, és um produto ou semente?
Só na aparência é que não há luto
num mundo que se tornou tão conveniente.
Amor, o pecado dos heróis foi a morte,
é o esquecimento a sorte
com que pagas a quem te ofereceu casamento?
Não, a verdade virá com o tempo...

Cartazes Celestiais

Irei para sempre insultar
todos aqueles que ousaram usar
a boca e criar sons,
aqueles que provocaram fortes dolorosos tons
mas criaram brechas nas suas acções
e condeno todos os seus soldados com condecorações,
que para sempre verão o sofrimento eterno
de ser o amor carenciado o seu inferno.

Eu amo o mundo e a Humanidade
e por isso não consigo aceitar tal realidade
onde se geram nos ventres das mães
novas gerações de tirania
trazendo consigo a ironia
de adorar pegadas dos restos dos nossos cães.

Eu condeno nas páginas do meu caderno
todas as artes da felicidade
e espero desesperado por um momento terno
que traz a paixão ardente da mocidade.

Eu sou o homem de Deus
que, como Jesus Cristo pregara aos ateus,
eu preguei a quem não valeu a vida,
que sem lutar disseram-lhe injusta
mas nunca fizeram uma má vinda.

Eu tremo, estou a tremer,
é por esta via de ocasião
em que nada tenho a temer
senão a minha própria solidão.

Irei para sempre inscrever
torturas com enorme avidez
enquanto o ódio se torna amor por nascer
como as asas da mulher que Deus fez.

Ergo-me aos céus
para me entregar ao amor
e mando os homens vestirem véus
a toda a dor, raiva e rancor.

Eu sou o homem da paz
e declaro a mais sangrenta guerra
ao invasores da minha terra
provocadores das acções vis e más.

Eu vendo os batimentos em falta do meu coração
aos tempos da pulsação da nossa paixão.

Sou o sol à volta do planeta,
seco toda a água e leite
a todas as almas
cujo o crime foi aceite.

Eu assino o novo Terceiro Testamento
do mais terrível e horrendo
porque eu deixei-vos, abandonei-vos,
eu não quis saber
se se estão a matar ou a morrer.

Eu criei os homens sem fé
para espalhar a filantropia,
o meu nome é Deus da Hipocrisia,
criador de mares sem avistar maré.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Pecados Humanitários

Eles tentaram penetrar na minha mente
ousaram tentar infiltrar uma voz
para que eu fosse em frente
e me misturasse entre os pós
das terras dos cemitérios
mas eu fui lá conhecer
os cadáveres sérios
que me vieram dizer
as histórias dos mortos
cujo sangue derramado
seria para plantar flores
a um futuro mais contemplado
mas as flores que os vivos plantaram
foram nas campas dos vencedores
para não se sentirem culpados
porque não semearam
as vitórias da Humanidade
e para serem perdoados
idolatram os mortos
com toda a caridade
no deserto dos desgraçados
construindo portos
para alimentar esperanças
de sonhos nunca realizados.


Ilusória Senhoria


Eu sou anti-herói em desenvolvimento
procurando no que vejo um momento
mas parece que estou destinado
a um curso de vida nascido já finado.
Estarei a pregar sempre as mesmas palavras
e incitar as minhas imaginações mais macabras
porque foi o que a sociedade me ensinou
onde o mundo me abandonou.
Sou inconstante,
procurando um instante na vida 
onde o amor venha até à minha alma perdida.
Conto contas de uma busca incessante
que na escuridão me habituei,
quando vi a luz ceguei
e agora já não sei,
misturado com sonhos e ilusões,
a meio da realidade creio
estar no ceio de um sonho ou pesadelo,
enquanto engano-me nas conclusões,
às vezes esqueço-me que sei-o
e silencio na minha o apelo
de um coração que não hei-de vê-lo.
Mas eu não precisaria de olhos se tivesse asas,
citação de vida, máxima sem sentido,
descontextualizada, mas como ela,
eu estou completamente perdido.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Previsões Para o Capitalismo



Em 2322
já se poderá comprar a morte,
já se poderá comprar tudo o que se desejar,
e depois,
quando todos tiverem pedido tudo,
só o nada há-de ficar
e o mundo será mudo,
porque o dinheiro
não comprará o nada
e a morte será o sonho derradeiro.

Às Criancinhas Que Jesus Cuspiu Na Cara

Aposto que apostaste
mas só ganhaste o contrário da glória,
é sempre a mesma história,
a tua saliva cospe a tirania
do ódio só, nesse olhar invejoso
sem conseguir ver o sol durante o dia,
seu pau quadrado sem gozo,
vives numa nau fora d'água
porque toda essa mágoa e agonia
só traz areia do deserto
com que a vida se ri com toda a sua ironia
enquanto abraça toda a prostituição beijada pelo desafecto,
tragam dinheiro que até esse material criou o seu dialecto
e engana mais que o Demónio ainda mais o mundo virtual
que suga mais a quem não sabe viver o que é real
foge fugindo ser social,
a todos nós,
que nos caia o mal e desgraça,
na indiferença dos nossos deuses
que adoramos no crucifixo da praça,
cheios de pregos na nossa casa
pelo lugar mais odiado que arrasa
para cairmos mortos sem saber,
faltamos ao trabalho,
mas há sempre uma nova vaza
por isso não vemos oportunidades,
enquanto revoluções acontecem no meio de tempestades
e não parou de trovejar, de chover, de destruir,
quantos mais vivos mais os não vistos hão-de sorrir,
dêem-lhes um altar se eles existissem
mas mesmo que a luz deles nos aponte
e os seus olhos estejam acima das nossas cabeças,
nós somos tantos que até fazemos sombra
onde na escuridão vê-se a lua cheia
que transforma homens em lobisomens,
anti-heróis e desordens
para ninguém 
que haja jamais ter praticado a pureza do bem.

Ainda bem que Jesus se foi embora 
e levou com ele todos os heróis e cowboys,
homens de cara esquecida e desfocada,
porque viu sem demora
que esta gente que cá anda não vale nada.

Deixai os homens baterem-se por poder
que a todos eles morrerão quando chegar a hora.

domingo, 15 de julho de 2012

Fase Dois da Irrealidade

Quem me dera descobrir que isto tudo é mentira, antes de morrer
quem me dera poder festejar isso até não conseguir mais viver,
quem me dera dar-me o ar que as árvores suspiram,
quem me dera desejar-me calar as gaivotas que não voaram,
quem me dera ser real e existir, tão real como real é sorrir,
quem me dera não haver cães com dentes opressores,
quem me dera que hoje não houvesse tempo,
quem me dera poder festejar infinitamente esse momento,
quem me dera o silêncio que não traz o ruído de pensar,
quem me dera te amar sem que houvesse espelho a questionar,
quem me dera assassinar estes poemas,
mas eles são eu eles são mentiras eu sou eles,
um berço de peles sem tendões no esqueleto
onde dormir é acordar sem seres
nas casas sem portas onde não há olhos pretos...

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Outros Encantamentos

E assim repentinamente,
só via beleza em todo o lado,
é esta a leveza que acontece quando se fica apaixonado.


E o mal não tem importância
sejam inconsistências da ganância
sejam preferências não razoáveis
neste ar que respiro
pensamentos afáveis
em delírios aleatórios.


Tudo é belo, tudo é magnífico,
todos os caminhos vão ter ao suspiro pacífico.

Agora vejo como nunca vi,
como tudo se desfigura à minha volta quando estás aqui.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Meios Sem Fim

Não há garfos,
alguém viu os nosso garfos?
Ainda ontem os tinha deixado em cima da mesa...
Fomos roubados? Fomos roubados...
Não temos garfos.

Mas ainda há facas?
Manda-as fora,
sem garfos não vale a pena ter facas.

Só nos restam as colheres.
Colheres para que solução?
O vazio também está nas mãos.
Não, nunca existiram talheres,
a nós nunca tiveram qualquer utilidade.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Amadora - As Ruas Negras - Parte III

Eles atacam-nos, criticam-nos,
como se já nascêssemos culpados
por cada crime somos nós os acusados
mesmo não estando sentados na cadeira do réu.
Será que eles sabem que não confiamos na cor do céu?
Porque às vezes também se confunde com o mar,
em vez de estarmos seguros só desejam nos matar.

Se o lugar onde vivemos faz ser quem somos
então onde é que eles vivem que tanto criticam sem saber?
Eles falam mal de nós mas somos nós que estamos a morrer.
Nós vivemos o perigo de viver neste lugar
sem esperar que um dia havemos de parar de respirar
por uma faca que nos pode penetrar,
por um mal entendido que nos pode matar.
Aqui não há homens,
aqui há soldados
desarmados mas armados a dar ordens,
porque aqui os não amados
são escravizados e mal-tratados.
Aqui, além do preto e branco,
também há o vermelho
e o perfume da testosterona
que abunda nestas ruelas,
que assusta o fedelho
à tona das celas.

O que temos nós realmente,
uma prisão onde todos os dias
podemos sair mas acabamos por voltar,
antes fosse este o nosso conforto
mas depois do pôr-do-sol
alguém poderá cair morto.

Será que eles sabem que as opiniões deles provocam mais danos
do que os canos das pistolas?
Será que eles se não sabem que nós também somos humanos?
Porque eles disparam frases de cartolas
e nós choramos de ódio todos esses insanos
que nos levaram injustamente,
tão desnecessariamente
porque aqui roubar é apostar no caixão.
Será que a culpa é do ladrão
quando não é ele que tem a arma na mão?
Será que deve ser morto por roubar
como se mata um cão
depois de se diagnosticar
que nada se pode fazer
a não ser morrer?

Será que a minha zona pertence a Portugal?
Ou é um fim do mundo numa terra semeada com sal?
Será que fomos paridos já nosso funeral
se a nossa própria terra nos quer mal?
Ainda há lágrimas de esperança
porque ninguém matava quando era criança.
Mas estamos abandonados pela Humanidade
nesta terra selvagem onde se consome a coragem,
são eles que provocam a eternidade deste inferno.
Não somos nós que fugimos, estamos sempre cá
porque há qualquer coisa má
que nos persegue para onde quer que se vá.
E nada acontece, ninguém ouve a nossa prece,
mas eles criticam-nos constantemente,
nós vivemos no ceio da maldição
e não conseguimos sair desta maldita prisão
por causa das descriminação dessa gente.

Afinal, quem é que é inteligente?

segunda-feira, 9 de julho de 2012


Não entendo,
vejo-os todos a lutar pelo poder,
cambada de ignorantes
armados em inteligentes,
esses que hão-de morrer,
andam na luta dos montantes
mas acabam como todas as gentes
que lutam por sobreviver.

O Hino Dos Imortais

Tens razão,
não sou nenhum deus,
sou humano dentro e fora,
tornei-me imortal,
a realidade é que posso ter tudo o que quiser
seja dinheiro ou amor de uma mulher
mas nada acompanha a minha idade.
Tenho no meu corpo o desejo dos mortais,
o tempo nunca me faz falta,
não há tempo porque não há ritmo,
não há ritmo porque não há limite na pulsação,
não há pulsação porque não há tempo,
porque o tempo é para quem é mortal
e tem mais pressa em não morrer
mas o tempo continua a passar
e o momento é rápido a acontecer,
único mas há-de sempre lembrar
com grande carinho recorda a história
de um amor que embala a idade mais próxima da morte
à escala de um conjunto de acções
onde as horas e os anos não passam pela memória
e com sorte ainda morre sem saber
que a morte lhe veio buscar
por razões misteriosas
que mete medo a quem
viveu tentando chegar aos cem
amigos e acabou sem.

O amor é para os mortais.
Os desejos, os fetiches, os sonhos 
são para os mortais,
são momentos com prazo de validade
da gente que vive uma realidade
e morre sem saber que mais real
foram esses sonhos, desejos e fetiches
do que a verdade a que se subjugaram
matando-a por cada causa que conquistaram
contra a inexistência de ser
quando outros viveram sufocados
e nunca ousaram viver
porque vivem cansados...
tudo isto é muito chato,
porque eu não sei se sou velho ou novo
e é o único facto que desconheço
sem ter algum preço
sobre porque é que raio não mereço
a mesma mortalidade
de alguém que foi para a cova
cujo corpo entrou em decomposição.
Não há nada que aprova
a minha admiração
porque eu conheço o mundo tão bem
e não há nada que já não tenha provado,
a vida tornou-se um fardo...
mas qual vida? Se morrer não me assiste
como é que a vida existe?

O meu único desejo é morrer,
é sentir o meu tempo a arder
e temer a morte,
já tentei todas as formas de suicídio,
nada faz o meu coração parar de bater
a minha alma quer desaparecer
mas o meu corpo é a minha prisão
e já ando para aqui
em deambulação
sem saber a razão,
a única justificação
que ficou por dizer,
não tenho rugas,
poderiam ser as minhas fugas
na esperança que visse ponteiros a rodar
com o desespero e a stressar
mas mais uma vez,
isso é para quem há-de se calar
de vez.


Rastejantes

São fantasmas as palavras
que um dia nos vieram prometer,
acções reinantes e subjugações
sem nunca se entreter
e trabalhar com boas intenções.

São calúnias as que se ergam
mártires de ninguém,
abafados pela sombra
calados pela opressão,
criminosos sem crime
se a nós houver coração,
se a nós existir Humanidade,
se a nós o brilho vier de dentro,
se a nós não nos abalar o medo,
se a nós não nos couber o martírio,
nós, que alguém somos,
haveremos de ser ninguém
porque não há acções,
a indiferença provoca infertilidades
sobre o que é ou poderá ser
e uma são todas as verdades
fracas, abaláveis, falíveis
onde há almofadas para adormecer
impalpáveis, irrealizáveis
que a inteligência há-de sempre prever
inconcebíveis, instáveis e substituíveis, renováveis
e servidoras de uma só nação
de um qualquer que se mete na frente
sem saber existir no planeta,
na História, não nasceu deus
mas deus se quer fazer
sem nunca estar contente
vai concebendo o nosso mundo
a seu belo prazer...

quarta-feira, 4 de julho de 2012


Estás sempre a emprestar os teus lábios
mas quando é que realmente os entregas?
Não existem amores sábios
porque quando se ama não há regras.

domingo, 1 de julho de 2012

Entre Beijos - Embriaguez Fundamentalista

Olá menina,
eu 
sou o senhor doutor 
de sonhos,
eu 
sopro
e faço vento,
eu
sou razão sentimental
eu
amo
eu
afecto
o céu
com
a
minha
alegria,
eu
sou
fantasma
da
felicidade,
eu
tenho
colheres
e
como
todos
os
dias
pão,
eu
conto
sem
mão
e
hoje
não
preciso
de
ninguém
a ti
exactamente
aqui
e
aqui
e
aqui
eu
sou
o avacalho
de
nuvens
no
céu
no
mar
e
na
terra
eu
sou 
nevoeiro
de
árvores
e
tenho
mil
e
uma
partículas
desordenadas
a
culpa
é
tua
e
do 
meu
que
treme
e teme
o chão
que
tu
pisas
eu
descomprimo
sentimento
também
sou
água
do
fogo
que
desvanece
na
noite
de
lua
cheia,
eu 
sou 
corpo
pra
preencher
toda
a
tua
poesia,
eu
sou
poeta
que
te
escreve
na tua pele
na
nossa
aglomeração
sem
saber
estou
a
escrever
na minha pele,
porque
tu
e
eu
somos
um só coração
e
todas
essas merdices clichés
não
tenho
palavras
prefiro
te
beijar
para
ver
se
é
real
ainda
hoje
acordei
e
pensei
qual
de
nós
é
meu,
porque
já 
me
confundo
com
tudo
é
amor
é
qualquer
coisa
inexplicável
sobre
o
vapor
do
bafo
da
tua
boca
que
é
horrivelmente
belo,
cheira
muito
mal
mas
eu
gosto
só 
porque
é
teu.
Topas?
Eu
sou
a
frenética
poética
da
paixão
quando
te
toco
existe
uma
razão
no
mundo
que
o
torna
humano,
tu
e
eu,
nós.
Estou
com
calor,
acho
que
beijei
o
sol
é
que
fiquei
cego.

Pedaços de Fotografias Rasgadas

Sabes, 
eu não jogo bem da cabeça,
sou completamente insano,
porque o planeta gira
num teatro absurdamente desumano.

Milhões de pessoas a morrer à fome
e eu não sei se me apetece comprar
bolachas de chocolate ou baunilha,
mas enfim, vou beber um café,
o que se faz no Parlamento
faço eu na esplanada
para queimar o tempo
já que não se faz nada.

Sou louco
mas é por conviver com loucuras,
porque há guerra em nome da paz.
Eu até me queixava mas não tenho tempo
a escravização existe desde o momento
em que o despertador toca,
quem precisa de fumá-las
se a fome nos dá a Nossa Senhora da Moca?

Eu sou defensor da democracia
e da liberdade de expressão
desde que tenham a minha opinião.

Quem contradia
com um pedaço de pão na mão
depois de tantos dias a passar fome?

É a Nossa Senhora da Caridade
da Nossa Senhora da Igreja Covarde
servidora de Deus Nosso Senhor e Nosso Dinheiro.

Nós matamos e crucificamos
e no meio de tudo isto,
há o álcool e o sexo
onde sempre vamos
esquecer os actos mundanos.

É claro que sou louco,
porque tudo o que está mal
está a ser considerado normal
pouco a pouco.

Meus senhores eu apresento-vos a evolução,
o poder dos homens existe
mas o dinheiro é que está na nossa mão,
há quem goste de xadrez, quem goste de jogos virtuais,
nós não, nós gostamos de brincar com vidas reais,
hoje iremos ali à Somália explorar um bocadinho mais.

Sois tão obcecados com contas bancárias
que confundes pessoas com algarismos,
não tendes mentalidades primárias
mas tendes na vossa visão estigmatismos.

Sem ofensa, mas não passais de um mortal,
e a um imortal lhe interessa a morte,
porque não sedes racional
e deixais a vossa corte?

Vós iluminais o mundo de escuridão,
sendo vós a luz mas esqueceis
que nós estamos no escuro
e conseguimos ter melhor visão
(réis, sempre à procura
de metade de seis).

Agora falemos de mim,
o que interessa dizer?
Não tenho importante importância
para exportar poder.

Lá se vai uma chaminé,
um fumo, uma coisa ali ao pé
da fábrica desintoxicadora
dos ares e ambientes amadora.

Ainda bem que sou um cérebro pensante,
desmovimentado ainda assim andante,
escrevo escrevo escrevo escrevo
muita coisa irritante
que não me sai da veia mas sim do nervo.