A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

E se eu morrer pelas minhas próprias mãos,
e se perguntarem porquê a minha morte
é porque não conheceram a minha vida.

E não sei o que é que pior,
os que nos amam matarem-nos sem saber
desfazerem-nos para seu belo prazer.

Estou exausto, tão exausto...
só quero voltar para onde não me lembro...
As minhas lágrimas não param,
a garganta está tão tensa que os gritos
berram-se mudos,
levem-me daqui....
Sinto-me só e tenho medo...
sou aborto falhado
apaixonado pelo desumano.
apetece-me gritar
a loucura deste mundo,
mas não posso chorar
porque não quero sentir-me vazio,
sem sentimentos,
vagueando sem andar,
desprezando todas as formas de felicidade...
como eu desejava ser normal!
dava tudo para ser normal...
mas não há espaço para mim,
o ar que respiro é pesado
e sufoca-me...
morri antes de morrer
e só me iludo por cada dia que passa,
já não há nada para mim,
o fim está perto...

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Não posso chorar porque se o fizer surge das lágrimas um reflexo meu nojento e vergonhoso. Gigante, até me fazer sombra, até me rodear, até me devorar... penetrando no meu peito para desmembrar a minha alma. Tenho medo... mãe, tenho medo que o sol desvende a minha pele... a minha pele de velho rancoroso, covarde o suficiente para não ter posto um fim à sua vida e viveu-a negando o que a todos nos une, o amor. Tenho medo destas noites em que me castigo por ter vivido mais um dia... um dia não haverá mais carne para desfazer... não haverá mais provas físicas em como estou vivo...
tenho raiva de mim... que merda de espelho é este que não se parte!? É o inferno!?... Mas não estou amaldiçoado, sou a maldição, se quisessem desfazê-la teriam de me fazer desaparecer... mas este céu!? Onde está o céu com mais estrelas do que vazio? Estou farto disto! Ah! Ao menos podia fazer eco mas não! Não! É claro que não! Já estão todos em silêncio a fazer o meu luto! Claro! Ah! Se ao menos os mortos pudessem falar quantos vivos se calariam!...
Olhem para mim... o cúmulo do altruísmo! Ofereci as minhas lágrimas e já não há água em mim! Agora só sou uma carapaça seca da velhice... isso, fujam da aberração que eu sou... Mas no inferno serei eu quem irá governar! Ah! Vemo-nos lá!
Estou farto disto. Desliguem as luzes, acabou o espectáculo. Com licença.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

à roda, à roda à roda, 
parado e sem parar,
os meus pensamentos giram sobre mim
como um tornado de chamas,
não posso mexer-me,
se me mexo diante do mundo
essas chamas penetram
nas minhas veias nervosas
e carbonizam o meu peito,
mas se ficar muito tempo parado,
o meu sangue congela
e o meu coração deixa de bater...
não sei o que fazer...

bem-vindos à minha auto-estima.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Amo-te,
o que há mais forte que isto no mundo?
Quero deitar-me no teu caixão,
eternamente ao teu lado,
contigo coser estrelas no universo
e narrar histórias nunca antes imaginadas.

Sentir os teus lábios
é como chegar aos portões do paraíso
com um passe V.I.P.,
felicidade imensa impossível de sonhar.

Dizer que te amo é frustrante,
tão ínfimo em relação ao que sinto por ti
que senão me beijasses preferia ser mudo,
pois sentiria a insignificância das palavras,
negando a minha alma
em revoluções espiritualmente sanguíneas,
divorciado cirurgicamente de ti.
Morte tão certa da minha alma
que os porquês não existiriam,
porque o caos estava a formar-se
tendo como final o meu fim.
São colhidos os cravos vermelhos,
vermelhos da nossa terra, nosso sangue,
e esquecidos os cravos brancos,
é a ausência da paz do povo,
escravos da própria Pátria.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Todos admiram a lua,
anseiam a sua presença
para se iluminarem,
mas do outro lado da lua,
na face escura e escondida,
há um verdadeiro ser
a chorar tristeza.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Sou distraído porque o mundo não tem argumentos válidos suficientes para ter a minha atenção.
O verdadeiro amor está na linguagem gestual.
peace
Sou poesia imensa,
tão banal e pouco intensa,
às vezes ainda acerto
quando sou honesto.

Real e verdadeiro
ou ilusório,
tenho esta capacidade
de ser arrogante
por achar a realidade
tão desinteressante,
com números deambulantes
nas equações da vida.

Com incógnitas universais,
e tudo o mais.

Amar

Sou um beijo mal dado,
um lábio a sangrar rasgado
por causa do dente amaldiçoado.

Sou a opção de quem prefere sentir dor
em nome da paixão e do amor
e pede mais um beijo dizendo por favor.

Sou música.

Condimentos Do Amor

Está tudo claro,
claro está que me iludo,
mas é que quando te vejo
fico atordoadamente surdo,
completamente cego de desejo,
não me farto de escrever isto
nem sequer resisto em repetir,
que me interessa a mim
quando me faz sorrir?
Porque sai-me a fluir
tão rapidamente assim
que poderia morrer
sem parar de escrever
sobre ti.
Estou mais para lá
do que para cá,
o sono é pesado
e o café parece-me chá,
és minha adrenalina
sinto-me tão amado
que ainda sou capaz
de analisar esta paz
na retina da vida.

Baseio-me em ti,
meu amor,
para cantar
esta canção
através da
linguagem gestual.
Não há
outra maneira
de demonstrar
algo tão natural.
Façamos em silêncio,
os nossos olhares
revelam palavras
por inventar.

A vida é temporal,
uma partida de Deus
que corre sempre mal,
uma despedida sem adeus
pelas recordações permanecidas
no inferno questionável de quem vai,
deixando dor às almas vivas.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Por detrás do sonho
há um pesadelo...
uma luz que desmascara
os rostos inacabados...
são as sombras na face,
são covas nos ossos
de tanto chorar...
pele afogada, olhos inchados,
desfocados pelas suas águas...

Tenho saudades de algo
mas não sei o que é,
estou tão incompleto
que o que faz falta em mim
é mais completo que eu.
Entre as minhas atitudes,
acções, pensamentos,
vive esse meio buraco.
Menos nos momentos
de felicidade, quando
estou feliz tudo está certo,
talvez seja a minha felicidade
que me torna completo...
mas porque estou feliz?
Qual é a matéria,
ou a essência do meu sorriso?
Os dias passam-me pelos dedos
como água... e não espero.
Não há esperança.

Meu Ser

Desejo fazer amor com o mundo
mas não sei onde me enfiar,
sinto-me deslocado,
os meus pés não deviam tocar no chão,
devia ter nascido sem corpo
para melhor amar,
devia ter sido Natureza
para ser possuído por todos.
Quero abraçar o mundo
como se fosse uma criança,
ensinar-lhe que o impossível é ser impossível
e vê-lo adormecer ao meu colo
enquanto sonha o céu...

Ser Poesia

Sou expressão espiritual,
sofro mutações a cada sol matinal.
O meu corpo existe para ser tocado,
é uma prisão cujas janelas são os meus sentidos,
uma próxima definição da liberdade de viver.
Sinto-me turista no mundo,
a cada dia que me lembro do que não vi,
da miséria, da dor e da malvadez do planeta,
vou me sentindo mais longe da realidade,
mergulhado nas teclas de um piano,
entre os agudos inocentes aos graves raivosos
- é a minha máquina de escrever.
O meu coração é ritmo de percussão,
definindo a quantidade de passos
no espaço dos sentimentos.
A minha fragilidade é um violino
quando me sinto sozinho,
é violencelo na escuridão
da minha sombra.
Sou uma flauta reproduzida
do outro lado das montanhas
como um eco a gritar:
"Humanidade à vista! Humanidade à vista!".
Sou a proximidade íntima
de uma viola em coro.
Sou infinito...

Retracto

Esparançosos e sonhadores
são estes meus negros olhos,
tão negros e escuros
que afectam as minhas pálpebras
tornando-as olheiras.
Esta é a minha contradição de vida.
E enquanto expelo os meus segredos humanos
vou-me tornando universal,
e tu, leitor, vais amando o que escrevo,
brilhar na minha essência.
Leitor eu, que mais me reconheço
nas minhas palavras e sei
melhor que ninguém do que é feita
a minha poesia.
Este é o meu legado,
como na minha supultura,
só poucos saberão o significado
das palavras inscritas nos poemas
da minha autoria.
Crio-os com o tecido da minha alma,
trespassando a honestidade máxima,
é aqui que me conheces
e podes afirmar que já me conhecias,
mas devo precisar de morrer
para se ouvir as minhas preces.

[poeta a] Paginação da Vida

Escrevo para mim,
sou feito de sonhos pequenos,
de sorrisos entre lágrimas.
Vejo mas vejo mal
e tento ver para além de.
Cresci nos meus silêncios
pois não pude senão ouvir
os gritos e as lágrimas
das gentes minhas amadas.
Deixei de falar
porque fiquei espantado
com as mentiras ensinadas,
com as palavras falsas...
e odiei tanto, tanto,
que preferi apagar as luzes
e esconder a minha loucura.
Sou poeta só,
a minha agricultura de reflexões
é alimentada por lágrimas transparentes,
por sorrisos honestos,
pela partida dos raios solares,
pelo protagonismo da lua
e pela saudade escondida
de algo que não tive.
Amo-te,
és o sonho a caminhar pela terra
com capacidade de me levar ao céu.

Suicídio

Suicídio,
quando a vida é impossível,
a felicidade de outrem é imperceptível,
farto de sofrer, sem medo de morrer,
há mais amor na morte do que na sorte,
é ser forte ao ir contra a Natureza.

Suicídio,
quando o futuro é uma incerteza,
o fim do tempo torna-se uma presa,
um desejo palpável numa faca
mais realista para destruir
todas as outras lâminas
que sangram lágrimas de dor,
para abafar a pior morte:
o sufoco, as lágrimas contidas,
os gritos desprezados,
os abraços fantasmas.

Suicídio?
Não há alimento para a alma,
não razão para a pulsação,
aborto incompleto,
só o corpo rasteja
numa alma estancada.

Suicídio,
não há vida nem futuro
quando o passado é mais sombrio
que a própria morte.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Antecipadamente Tarde

A vida tornou-se uma maré de recordações
sobre indecisões tomadas como decisão,
em momentos onde poderíamos ser grandes,
em escolhas que nos tornariam mais perfeitos,
mais reais, mais completos, maiores...
é como... caminhar numa estrada de terra,
deparar-se com uma pedra pousada no chão
e esperar eternamente que ela se desfaça,
para podermos seguir em frente.

E sem querer, a vida não aconteceu,
restando só eu como a única realidade
da minha própria vida. Sem querer,
fiz-me de indecisões, de medos inexistentes,
até chegar o dia em que os dias seguintes
se tornam restos, vivendo de recordações
e arrependimentos; olhando-me ao espelho
e ver que, por dentro destas camadas de pele
cheia de rugas e cales sem significados,
há um vazio de intenções que ninguém compreendeu...

Não quero morrer antes de morrer.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Aeronave Poesia

Directamente para a queda.
Desde que a minha alma deu o primeiro salto
saindo do planeta Terra, caindo pelo Universo,
sem saber se é para cima, para baixo, para o lado.
Há dezanove anos a cair,
tão lentamente que pareço voar, fumando.
Cigarros fazem a contagem do tempo,
funcionando como ponteiros.
Sentado no ar a escrever poemas,
livre da gravidade, movo-me
em setecentos movimentos,
mergulhado na Poesia.
Hipnotizado pela velocidade,
deixo-me confundir e fundo-me
com a estrela Polar,
parindo umas quantas cadentes
entre disparos para o vazio.
Sou uma estrela com asas,
os planetas vêm atrás de mim
com dentes carnívoros.
Também, de quando em quando,
apanho mocas deprimentes
com buracos negros,
absorvido neles e eles na minha alma,
noutra dimensão conhecida como solidão,
esfregando a minha cara no seu chão
em desafio a ver qual de nós fica sem nada,
mas tenho ossos cuidados por lágrimas,
músculos desenvolvidos pelos sorrisos
e estes meus olhos têm dois buracos negros
conhecedores do Universo inteiro,
são o máximo da sapiência
pois sabem que não sabem.
Ando a pisar sóis
só porque disseram que era impossível,
sou rebelde imperceptível
correndo parado,
mas quando respiro
deixo-os entrar nos meus pulmões
para que pressintam as razões
destes dois órgãos limpos:
não falo, tenho ouvidos gigantes,
com mais fome que o Bubu,
mas não engulo, cuspo sementes
que em tempos de poluição morrem
sem nascer como abortos.
Estou cheio de trips,
não não fumei, não injectei nem sniffei,
também não estou doente,
apenas uso a imaginação,
brincando com a inteligência
em troca de um par de infinidades
sobre uma história sem fim
porque não tem conclusão,
é apenas uma espiral.

Este poema
não é Big nem Bang,
apenas estou a ouvir
o clã Wu Tang.


Desinteressado pelos elogios,
a minha Poesia progrediu na solidão,
da total auto-destruição.
Abandonado e estranhado pela sociedade,
canalizei tudo na Poesia.
Também souberam rebaixar-me,
vejo-os reflectidos na tempestade,
são monstros e gigantes,
fortes e tudo o mais,
eu não,
sou pequeno o suficiente
para caber entre povo,
não sou nada demais
apenas diferente.

Fui rebaixado, pisado,
esmagado, até o meu corpo
ficar soterrado no chão,
no chão vi os pés dos pequenos,
esfaqueados como as minhas costas,
esburacados como a minha alma,
esfolados como os meus ouvidos,
obrigados como o meu sorriso,
extasiados como a minha vida,
desidratados como os meus olhos,
sou deles, são a maioria da Humanidade.

Os da minoria são grandes,
são mas é fantasiados e iludidos,
lêem livros escritos pelo nosso sangue,
aconchegados como mortos na cova
a ver-nos passar pela horizontal,
às voltas pelo mundo,
enquanto eles vão pela vertical
avançam vertendo sede pelo poder.

Poema é ser pessoa viva
gerando reflexões
onde porquês vivem de emoções.
Onde lágrimas têm tanto brilhar
como os dentes lavados de quem sorri.
Vês através de mim
mas sentes de maneira diferente.
Papel branco é a maior liberdade,
ser poeta é definição de ser livre,
apresento-me deus, eterno e infinito,
honestidade define a realidade
mesmo sendo irreal
- é sobre o que sinto.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Sou imitação barata de mim mesmo
nos olhos dos outros, um espelho
que reflecte a escuridão da face
do pano que o cobre e tapa.

Estou do lado dependente,
sem ter nada para imitar
a não ser a escuridão.

Inútil, mexo e remexo as mãos
à procura de uma função,
ou do amor desfuncional.

Fim.

Inteligência Para Ti

Olho esses teus olhos
a ver se encontro inteligência
mas só vejo a ironia
de um filósofo sentado
numa sanita como se fosse um trono,
suportada por cartas sem trunfos
como se fosse um castelo.

É claro que o teu cérebro
está em decomposição,
nunca foi lá fora apanhar ar,
apodrecido, fora da realidade,
descontextualizado nas acções,
não há modo de pensar.

Vês, achas que vês,
por essas janelas
tapadas com fotografias
editadas por miragens.

Ouves o quê?
Notícias irregulares
por quem nunca conheceste.
Que tal ouvires os gritos
de dor, de desespero
dos que nascem sofridos.
Impõe a questão de nascer
morto porque natural é viver.
E viver é escolher.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Tempos e Círculos

Sonhei contigo hoje de manhã,
ao acordar senti-me ressacado,
apercebi-me, ao abrir os olhos,
que voltei à realidade.

Qual é a origem do tempo?
Se o que me faz mover
para além da ciência
é a vontade de ser.

Onde encaixa o sonho
no meio de tantos encaixes
de engrenagens e rodas dentadas?

A vida é um círculo,
às voltas às voltas sem fim.

Senão há fim como pode haver início?
E se realizarmos um sonho
não é o fim de um ciclo?

Não é também o tempo
que encrosta rotundas sem saída?
Ou, se não cura, faz esquecer,
ou antes, não lembrar,
porque quando voltamos
às voltas sentimos dejá vús reais.

E se falhámos antes,
falhamos outra vez,
e se conquistámos antes
conquistamos outra vez.

Ou o contrário.

Nós somos o nosso círculo
mas muitos não percebem os sinais
e quando a ilusão deixa de existir
percebem o quanto é tarde demais.
Minha flor de sentinela,
passeias pelas veias da cidade
desconcentrando a poluição.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Planeia-se o esperado
e acontece o inesperado:
Amor.

Tudo faz sentido.
Desconhecem-me,
afirmam a minha presença
mas estou distante...
eu também os vejo,
mas o meu pensamento
teletransporta-me...
dizem ver-me,
eu não os ouço,
ando nas ruas
enquanto vagueio nas memórias
inconcretizadas,
hoje não devia ter saído da cama...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Lagos Inalcançáveis

Há algo em nosso nome
por oficializar,
será que sabemos?
Estará entre
segundos instintivos,
minutos contados
e horas desesperadas.

Embora quisesse pegar-lhe,
é invisível como o vento,
impossível de agarrar como um lago,
onde mergulho para tocar
acabando por ser eu o tocado,
envolvido pela imaginação do ser.
Faço bolhas de ar com os meus sonhos
até não haver mais ar em mim,
mas não me habituo...
deixo-me afundar até às profundezas
porque a matéria do meu corpo
não foi feita para este ambiente,
desfazendo-se aos poucos,
caindo morto,
dissipado pela tua essência,
dissolvido no teu desprezo.

Há um silêncio criminal envolvido,
o som das balas não faz sentido,
palavras não se percebem,
a água está turva,
a visão tornou-se desfocada.
Alguém mergulhou no lago
na tentativa de encontrar sabores
mas a água é insípida e pesada,
sem haver superfície
mais uma alma que se afunda,
uma voz torna-se nítida,
é a morte a chamar
a aprofundar a vida.

Algo Nosso

Há um par de pernas em fuga,
andam para fingir e parecer,
correm para fugir e desaparecer
da escuridão e da luz...

sem lua, sem sol,
à procura de um buraco
para encaixar o objecto
em permanente queda
que ele é, mas  não
sabe que o próprio planeta
é um gigantesco buraco
cheio de peças desencaixadas,
amontoadas e apressadas...
agarradas às vinte e quatro horas,
sem se moldarem, inflexíveis,
não cabem em molduras reais
pois o tempo é-lhes infiel
pela realidade ser o esquecimento
de se ser mortal,
e então vive-se, ou parece...

Há um par de pernas a correr
dentro de lama movediça,
irrequietas, agitadas,
gritam socorro mas não há ar...
é a lama dos mortos,
os que fizeram o luto à luta,
sugam os agitadores
que assim desfazem
o pensamento homogéneo
e criam a diferença.
Trazem a mudança
e tecem a nossa evolução,
simples e honesta
alma aberta,
resiste, ergue-se
e conquista.
Estou sem fim,
a fim de encontrar o fim
mas enfim...

é o tédio dos imortais.
Sou um castelo de areia,
o vento desfaz-me em contrastes,
leva ele a vida
e vai ficando a morte,
só.

Foi e vai com os vivos
até me restar a cova
e uma vida vivida
inscrita numa lápide.


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Sapatos Descalços


Silêncio.

Estou chocado.
Passaste. Passeaste.
Olhaste e não pousaste.

Silêncio.

Com que então!
Com que então com que então...
fui um autocolante no teu coração,
uma tatuagem temporária na tua pele,
um dia rotineiro, uma estrela que nem chegou a brilhar,
um cigarro fumado, uma beata fatela,
uma personagem inexistente de uma história feliz,
um aniversário de uma criança
que faz anos num dia fora do calendário.

Silêncio.

Sou uma lápide confundida com uma pedra vulgar.

Silêncio.

Sim senhor! Mas que piada seca que me tornei!
Uma chave para palitar os dentes.

Silêncio.

Que belo é o mundo!
Vive através das minhas disfunções!
A realidade funciona disfuncionando-me!

Silêncio.

Ao menos a minha voz poderia fazer eco, sei lá!
Mas eu também não quero incomodar-vos,
continuem a ver televisão.
Desde que inventaram prédios
as árvores tornaram-se acessórios.
E toda a beleza florestal esfumou-se,
por isso comam a televisão.
Não vos quero incomodar.

Silêncio.
Descasca pele seca de cebola devagarinho.
Silêncio.

Também só sou turista.
Prefiro ser vento e passear entre vós
do que ser uma pegada na areia.

Silêncio.

Enfim,
está tudo em fim.

Silêncio.
Cai a cebola...
e também os passos.

Agora sim, silêncio.
Vejo-te passar.

Na verdade já passaste.

Mas ainda estou a ver-te.

Dizem ver-me ver nada.

Se calhar é mesmo nada.

Mas o que se sente não se vê.

Bem vindos ao mundo,
esta é a realidade que vos espera,
um conhecimento feito de certezas
e uma morte desmentida pelo capitalismo.

Mas não se preocupem,
o ser humano está habituado
a habituar-se à dor e à alma vazia.

Se não estás do lado dos que sofrem
estás nos que vivem o vazio
de uma vida irreal:
a felicidade do planeta infeliz.

Por mais que te batam palmas,
ou és burro e sorris
ou és inteligente e desconcerta-os
com verdades da realidade
decadente a que chamam Humanidade.

O que quer que vivas
não contes com a imortalidade
do desiquilíbrio do mundo
nem com a impossibilidade
implantada sobre a perfeição
contrária às origens.

Foge, se não tiveres consciência
não fales, não ouças, não toques,
não vejas e vive da cultura agrária
numa terra onde não houve retrocesso
humanitário.

Coisas Entre Mim, Tu e Eu

Frustração, frustração...
Ainda me pergunto onde falhei,
será que não cheguei a tempo,
será que me quiseste?

As pessoas passam por mim
mas as perguntas mantêm-se
porque nenhuma sabe responder,
só tu tens a essência da resposta...
nos teus lábios... nos teus olhos...
na tua voz...

diz-me no que acreditas...
quem me viu, quem me vê,
e o importante tornou-se
num objecto de usar e deitar fora,
porque te quero, e nada mais tem valor...

Amas-me?
Pergunto se me amas.
Se não, vou-me embora,
e fica tudo esclarecido entre nós,
só preciso que me respondas
para silenciar a minha voz...

quem me dera ser por um beijo teu,
seria o início, seria certo... certo?
mas houve alguém que morreu
entre tu e eu...

quem foi? tem nome?
existe? ou sou eu mirabulando
num mundo feito de quedas,
de planaltos fracos?

vou dormir,
que sejam os sonhos
a organizar a minha realidade...

Romance Inconclusivo

Sentei-me à tua espera,
talvez esperando o impossível,
sentado na berma do passeio
do outro lado da estrada,
olhando a janela do teu quarto,
quase através dela pelos meus sonhos.

Dias adormecido,
pessoas passavam por mim
achando-me vagabundo
e vagabundo era
vagueando pelo teu mundo.

Pela primeira vez o céu não me interessou
porque ao teu lado sentir-me-ia maior,
juro-te, a minha liberdade seria infinita
num tempo eterno.

Sais de casa sem me ver,
parece desprezares-me,
fui desaparecendo aos poucos
sem saber o que fazer.

Perguntei-me qual era a ilusão,
se era eu ter o teu coração
ou o teu não.

E não pude moldar
por desconhecer a realidade,
disseste sim e não,
qual deles é verdade?

Porque o que faz a ilusão
é a minha vontade.

Quando te vejo
sinto aquele desejo
mas a minha frustração
prefere afastar-se
do que haver hipótese de desilusão.

Amo-te.
Não te amo.
Amo-te.
Não te amo.
Quero,
não venero.
Tic-tac-tic-tac.
O tempo passa...

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Estou sem palavras,
ainda por cima
não consigo encobrir
este silêncio.

A tua beleza desconcertou-me...
irradias-me, estou incapaz
de não olhar para ti.

Infidelidade do Tempo

Conheci o sonho duma criança,
o brilhar dos seus olhos era dum herói,
as suas palavras eram lençóis inocentes,
as suas questões desconcertavam adultos
ao tornar simples o que simples é,
o destino dos seus olhos desenhava
anjos sem asas, frustrados, desamados, nas pessoas
recebendo em resposta futuras desilusões
ao tornarem-no limitado por definições
do que há-de ser a sua realidade.

Conheci a droga dum adolescente,
mais uma criança que não cresceu,
preso numa realidade deficiente:
um sonho não realizado,
é este o crime que o deixou indiferente.
Enjaulado nos seus próprios horizontes,
sem se poder mover,
descobriu o que a droga lhe pode oferecer:
uma moca para matar o tempo,
como se esperasse que o corpo
igualasse no que a alma já é:
velho morto e cansado.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

De repente estava ali eu,
diante da minha transformação,
não pude acreditar,
preferia chamar-lhe ilusão
à prova de toda uma mentira vivida.

Parece que nem de propósito,
como se todas as cores do mundo se despegaram
para formar a escuridão,
a luz estaria sempre lá,
como se me fosse fazer uma festa surpresa,
esperando o momento mais inesperado.
Vejam como sonhos
se tornam desilusões,
encorajados a fracassar
dando-lhe o nome de realidade,
somos nós crianças sub-desenvolvidas
em sonhos tropeçados pelas corridas
do tempo, tempo dividido em prazos
por dias e por horas
esquecendo-nos da nossa mortalidade.

E quando damos por isso
maior parte da nossa vida
esfumou-se da memória
por causa das constantes repetições
a que chamam de rotina.

Mas até perdoa-se,
apesar de o ser humano
ter habituado a Natureza
ao nosso belo prazer,
nós não nos despegamos
do que somos,
pacotes funcionais
castrados à nascença.

Pratos Limpos

Vi no teu olhar
promessas universais de amor infinito,
assisti aos teus gestos
prometedores na minha face
e as tuas reacções face
às minhas provocações.

Fui tua sombra nos meus sonhos,
na verdade fui tua esponja,
absorvi os teus males, os defeitos
sem nunca contra-argumentar
para não te afugentar.

Fiz um dos meus maiores feitos
por causa de ti
mas quando te quis mostrar
não quiseste estar aqui.

Preferiste estar aí,
bem longe de mim,
afinal não te atraí.

Tu e eu somos diferentes,
duas dimensões paralelas
cuja a única igualdade
é o tempo imparável.

Nunca houve amor,
nunca te amei de verdade
porque nunca me amaste,
apenas foi a minha dor
da solidão que conquistaste.

Estive desidratado,
abandonado nesse deserto
onde tudo é incerto,
mas as lágrimas hidratam.

Real é ilusão
quando o coração
pulsa o vazio
sem saber
se é sangue
o sangue
que nos prova
sermos reais.

Mas te garanto,
não estiveste a mais.

Bom dia
amanhecer,
acordo pelo prazer
de te ver e apreciar,
hoje adormeço
antes do pôr-do-sol
de cansaço
sem ter de o ver
pois vivi e não
necessito de te pensar.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Desconcretização

O assassino assina nas ruas
homicídios invisíveis,
são sombras de pessoas
sangrando constantemente
sangue estático,
alguém matou alguém
mas não há quem saiba,
nem o morto nem o homicida,
por vivermos num planeta
de cadáveres ambulantes
cuja função é terem função.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O meu papel é livre,
nunca carimbado,
nunca categorizado,
não escrevo para leitores,
muito menos servirá
como papel higiénico
para ser despejada
por palavras vazias
da pseudo-intelectualidade,
sou alma marcada
dos ignorantes sobreviventes
da realidade, ilusionistas
dos intelectuais.

Sou demasiado real,
e ao sê-lo sou sonhador
por necessidade,
cada vez mais aparte
da sociedade,
universalmente só
na escrita pessoal,
por isso,
pessoalmente
não crio arte.

Não preciso de público,
preciso de viver para escrever
mas sou necessitado da escrita para viver,
porque sou um turista neste planeta
nascido para plantar
sementes em terra invisível.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Amo-te - Inversões

O nosso tempo está gasto.

Raspámos o valor
das nossas vozes em palavras vazias
desvanecidas por actos sem significados.

Nunca um "amo-te" teve tanto eco,
vagueando sem destino,
cego, esbatendo em paredes cruéis,
desaparecendo sem ser absorvido.

Somos dois estranhos na mesma cama,
gritando como crianças à procura de atenção,
usando esses mesmos gritos para preencher
os silêncios ocultos nas esperas escondidas
entre olhares desiludidos.

"Amo-te",
promessa de uma vida inteira
vivida num curto espaço de tempo,
um orgasmo fascinante e desejado
até ser para deixar de ser
passando a ser uma mera coisa
sem nome que passou...

"Amo-te",
a mais bela princesa de sempre
tornada na maior prostituta gratuita decadente.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Sonho-te,
quase te tornas real
quando estás perto de mim,
quando me falas,
e o céu parece iluminar-se
e o frio deixa de ser frio...
e sonhos tornam-se certezas.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O céu voa
enquanto passeio pelo teu corpo.
Tamanha felicidade
é absurda demais para caber na realidade
porque quanto mais te beijo
mais te desejo, mais te quero,
mais te venero.

Rapaz dos Olhos Grandes

Rapaz dos olhos grandes,
que vive o que vê,
questiona o que viu
e imagina o que há-de ver.

Rapaz dos olhos grandes,
o esquerdo vive da realidade,
o direito de sonhos
e nenhum deles faz mais
do que ver e olhar.

Rapaz dos olhos grandes,
de cabeça pesada
ou arrastada no chão
quando caída para a frente
e sofre do que é real
ou fica pendurada para trás
olhando para o céu
e o sonhos são sonhados,
sonhados, sonhados
porque os astros são inalcançáveis.
Furamos o chão da Terra com o impacto da queda, trespassando-a. Até chegarmos ao outro lado do planeta uma vida inteira passa mas no final apercebemos de que matéria somos feitos ao chegarmos ao céu do outro lado e às suas estrelas. As mesmas estrelas que já estavam do nosso lado do planeta e que muitas vezes esquecemos de acender as suas luzes, porque são necessárias em tempo de escuridão total.
No final, meu irmão, esses pontos luminosos no céu que nos são desconhecidos é que estiveram sempre lá a testemunhar quantas pegadas deixámos. Se as esquecermos então a Humanidade não tem razão de existir porque não há sonhos nem esperanças pois o mundo tornou-se tão escuro que nem dá para inventar uma realidade imaginária. Sem sonhos somos cadáveres a pisar o chão à espera de cair numa cova.

domingo, 25 de novembro de 2012


As minhas palavras
esconderam-se nos teus lábios.
Sim, roubaste-me as palavras
ao dares a entender que me amas.
Não tenho nada a dizer,
senão satisfazer este desejo
intenso de roubar-te um beijo.

sábado, 24 de novembro de 2012

O ser humano é feito de sonhos,
eu sou feito de ti, o meu completa-se com o teu,
duas metades geram um sonho inteiro e completo.

Paixão Vazia XII

Paixão vazia,
sem correspondência,
vazia como cadáveres
cujos olhos se movem
à procura de um lugar para ficar.

Paixão Vazia XI

Brincas com palavras
sem te aperceberes
serem tintas atiradas 
para a tela que eu sou.

Tento resistir
mas são tantas camadas
a romperem os meus tecidos.

São buracos preenchidos pela escrita,
são universos sem planetas, estrelas
ou astros, completamente vazios,
até se tornarem em poesia.

E os mortos vivem felizes.

Paixão Vazia X

És um holograma
de duas faces contrárias
mas ambas irreais.

Não faço ideia
para que lado olhar,
ofereces-me vários lugares
mas impedes-me de sentar.

Não sei se é o teu coração,
se faz parte da tua alma
ou se é para colecção
esta bola de espelho
onde me enfiaste.

É confuso,
porque o chão é o tecto
e o tecto é o chão,
mas quando estou certo
perco a razão,
porque significados
tornam-se antónimos
e antónimos significados.

São as tuas palavras
a provocarem-me dano...
ou alegria... já nem sei...


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Sou psicopata sendo.tu a minha doença,
fico retardado com a tua presença,
sou perseguido pela tua ausência
ficando sem razão para minha existência.

Quando tu não apareces não sei para onde vou,
quando tu me esqueces não faço ideia quem sou,
quando tu me falas não sei o que dizer
porque quando tu te aproximas quero é fazer.

Os Teus Beijos

Os teus beijos são como água
em tempo de seca,
são o regresso de Jesus
quando simbolizado pelo amor,
são a perfeição da luz natural
impossível de ser recriada pelo mundo industrial,
são o início do meu Universo
por me sentir o Big Bang ,
são a fonte e origem de algo
inexplicável até no mundo paranormal,
são um sentimento mais forte que o amor
tornam a tristeza numa piada
e roubam o fundamento ao ódio.
Dos teus beijos inventaram a palavra "magia",
deles fizeram bebés serem paridos de sorriso na cara,
os teus beijos são a minha filosofia de vida.

Parabéns, mais um poema para ti.
Sinto-me andar sem pernas,
sinto-me ver sem olhos,
sinto-me tocar sem o fazer,
sinto-me ouvir sem ouvidos,
sinto-me cheirar sem nariz,
sinto-me assim,
sinto-me feliz.

Paixão Vazia IX

Quando penso em ti penso em mim,
penso porque não estás aqui
e que factor é esse que afugenta o amor.

Quando penso em ti o planeta arrepia-se,
os espelhos deixam de mostrar a realidade
e os vidros transparentes tornam-se mentirosos.

Quando penso em ti a Ciência falha,
a religião deixa de religar
e a filosofia não se encaixa.

Quando penso em ti não há somas nem totalidades,
o Futuro sonhado é sempre Futuro sem Presente
e a Vida uma mera coincidência sem causa.

Mas tudo isto é falso
porque quando penso em ti,
penso em nós,
a perfeição da realidade,
e o equilíbrio instala-se em todos os temas
ficando feliz mesmo sem ter escrito poemas.

Paixão Vazia VIII

Sabe a muito o pouco dado de ti,
não sei o que vês quando me olhas,
ou se realmente olhaste,
porque acho sinceramente que não viste
pois não achei nada no teu olhar,
deve ser tudo esse nada que me tens dado,
um nada onde me iludo para me sentir realizado.

Nem sei se sou louco ou apaixonado
ou se sou loucamente apaixonado,
ou se este poeta escreve num papel exagerado,
porque pego nesse teu nada
e crio algo que nunca foi real.

Aqui posso escrever que te amo,
na realidade não o posso dizer
porque não se ama quem não nos ama,
mas aqui, aqui,
sou deus todo-poderoso
criador do meu mundo,
com verdade ampliada,
por isso escrevo-te amar
porque no meio desse teu nada
há algo ínfimo, afinal,
onde me posso agarrar.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Paixão Vazia VII

Espero por ti no gelar da noite
na estação de uma paixão,
esperançoso de te ver sair
no comboio seguinte,
procurando nas janelas
a tua magia e essência
mas os comboios passam sem parar.

Quando parecem travar
os meus olhos brilham mais que a lua cheia
e o meu coração bate por três
ao imaginar que sairás para ficar,
para me beijar.

Passam noites e dias,
passo fome à tua espera,
morrendo por cada comboio que vai
e ressuscitando por cada comboio que vem.

Não consigo sequer pensar
que nunca hás-de chegar,
sei que hás-de vir,
sei... tenho a certeza...
e que eu hei-de sorrir.

Se não houver eternidade no amor
então que perdure na dor
o que eu nunca fui para ti,
mas talvez seja eu a embarcar
num desses comboios que passam
para absorver outro luar...

Paixão Vazia VI

Morro diante dos teus olhos,
dissolvendo-me em lágrimas,
afluindo-me nos esgotos
conspurcados da cidade,
espreitando secretamente nas sarjetas
à procura dos teus passos,
vagueando entre torneiras
na esperança de te tocar...
estagnado nas poças
para me evaporar
e me tornar em nuvem
para melhor te encontrar,
ou que seja eu chuva
e me precipite nas pessoas
na sorte de te apanhar...
estou transformado em água,
mergulhado no seu ciclo sem fim...
já não estou em mim,
já não estou em mim...

Paixão e Poesia

Tu és matéria física da Poesia
e eu sou teu poema.

Deixa-me traduzir-te.
Os teus beijos são palavras escritas,
o teu olhar é minha essência,
a tua voz ecoa nas entre-linhas
e o seu tom soa nas curvas das letras.

Teu poema sou,
vagabundo dos teus cabelos,
nas tuas curvas conto histórias sonhadas
mas os teus silêncios tornam-me inacabado.

Sou uma planta afectada pelo tempo, - tu.
Sou uma folha de Primavera ao sabor do vento, - tu.
Sou um papel em branco ansioso pelas tuas palavras,
tu, recheio da minha paixão.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Por não estares comigo e o amor ser cego, sou um cego no meio da escuridão.

Há Dias Assim

Há dias assim,
em que o vento passa-me ao lado,
indiferente como um desconhecido,
em que a chuva rebaixa os meus olhos
limitando os meus sentidos,
em que os prédios não me vêem andar
porque os meus pensamentos
vagueiam para o lado oposto
à direcção das minhas pernas.

Há dias assim,
em que o teu abraço é a minha angústia,
o teu beijo a minha frustração
e o teu toque a minha saudade,
ou antes a ausência de tudo isto
que me faz pensar na inexistência das coisas.

Há dias assim,
tão assim-assim,
cheios de respostas ilusórias
para perguntas irreais,
porque a realidade é feita
de sonhos e desejos,
o meu é estar contigo,
mas não estou,
desencaixando-me do real,
por isso há dias assim,
desinteressantes
e incompletos,
tão assim-assim
que mais valia
nem existir...

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Marinheiro ao Luar

Passo os dias à espera da noite
para te ver, para te absorver, minha lua,
para que os meus olhos reflictam o teu luar.

Branca a tua luz que me ilumina a alma
completando a noite, e, quando não surges,
no dia seguinte o sol inquieta-me
e os meus sonhos se desabam
como castelos de cartas
por não alcançarem o teu céu.

Escuros são os dias
quando as noites também o são,
como se a noite não acabasse
até sentir a tua existência,
vagueando no oceano
à procura do teu rasto,
sem haver outra imagem
que me interesse.

Minha Lua,
por não te conseguir alcançar
beijo o teu reflexo na água,
mas depressa se desfaz ao tocar-lhe
e os meus desejos desfazem-se também.

Canso-me ao aportar,
porque o meu povo chama-me louco
mas loucos são os que não amam,
dizem que eu nunca trarei nada,
não sabem eles que nos longínquos mares
conquisto asas para voar e pousar
os meus olhos na fonte do teu brilho.


Torná-mo-nos infalíveis, meu irmão,
a nossa amizade está acima de todas as outras,
a nós não nos atinge o tempo dos anos.
Somos feitos mais do que matéria,
ultrapassámos a dimensão do espaço,
é algo maior que as nossas memórias juntos,
matematicamente perfeito, não tem fim,
é infinito, é imortal, já era eterno antes de existir.

A nossa amizade torna-se maior a cada segundo,
o bem e o mal neste mundo torna-a mais forte,
mesmo que a morte isole um de nós,
meu irmão, continuamos a existir,
porque nos sabemos decor.

Estou longe de conseguir
escrever a nossa amizade,
mas não fomos feitos pelas palavras.
Ninguém sabe o que quero dizer,
só tu sabes do que estou a falar.

São os nossos silêncios.

Falho em querer explicar
a nossa amizade,
mas não há poesia que aguente.

Mano, fomos inventados
para sermos melhores amigos,
tão certo como o que já vivi.
Vagueio sem me mover,
toco sem usar as mãos,
vejo sem focar,
o mundo encaixou-se,
estou feliz,
a minha realidade é outra,
é um sonho realizado.

domingo, 18 de novembro de 2012

Pinturas Deambulantes

Para o inferno com o mundo!
Se eu estou em queda
então que penetre profundo no chão!

Hoje vou-me injectar
até ter mais buracos
do que células na pele,
até ter mais branca
do que sangue nas veias.

Vou snifar tanto
até começar a tossir pó branco.

Vou devorar tantas lâminas
até o meu corpo
se transformar num quadro de Picasso,
até me tornar mais desmontável
que bonecos de brincar.

Tornei-me inatingível,
infalível, impossível,
inalcançável e aplausível
porque a minha alma
saltou duma ponte
e caiu no céu
espalmando-se até ao horizonte.

Hoje a dieta deste poeta
é à base cogumelos alucinogénicos
com direito aos genéricos
por causa da penúria
que não me afecta
mas é preferível
ver gente inexistente a morrer
como uma criança
colada à televisão
às sete da manhã.

Estou cheio de coágulos
na ponta da língua,
de acordo com os meus cálculos
ela é uma pista de rally ambígua.

O meu corpo é um armazém
crente e fiel às mentiras de ninguém.

Uma garrafa fumou-me
e sugou-me até me tornar seco
como chão árido.

Passa-me esse ácido
que o mundo está demasiado doce
além disso estou muito ávido
desde das doze horas e há doze
horas que espero desesperado
por isso preciso de mentiras sem demoras.

Este planeta tornou-se tão imperfeito
que rejeito a minha alma a preceito,
preciso de drogas e ilusões
enquanto entram-me verdades gritadas
pelo ouvidos a dentro
mas isso são só alusões
de contos de fadas
onde eu nunca estou no centro
e se não estou centrado na minha vida
porque raio continuo vivo?

Mas a minha alma foi parida
para escrever sem objectivo,
maldita a hora que vim
parar à desgraça sem fim.

Ainda por cima vejo
demasiadamente bem,
tornei-me mestre profissional
mas não há ninguém
com escola igual
para que possa ser rival
na luta contra o mal,
por isso hoje traio-me
e esfaqueio-me
mas não me contraio
porque se a morte veio-me
buscar eu morrerei de pé
como uma estátua,
estava a brincar,
se a morte vier eu mato-a!

Eu vou sugá-la com uma palhinha
até me transformar nela,
ela infiltrar-se-à no meu corpo
mas sentir-se-à numa cela
até se sentir um aborto
mal resolvido,
rir-me-ei tanto
até os meus pulmões rebentarem
porque sou o esplendor vencido
que nem todos os vencedores juntos
compensam tamanha derrota.

Destranco e abro mais uma porta
e deparo-me com conjuntos de pessoas
mas não há quem seja especial
especialmente única, ímpar e tal,
são cérebros feitos de broas,
o meu está guardado numa sanita usada,
numa casa-de-banho pública
onde ninguém mete lá a pata.

A minha cabeça oca tornou-se cinzeiro
para se despejar pessoas cremadas,
esquecidas, não reclamadas,
mas ninguém é certeiro
por isso ando a cheirar cinzas dos mortos,
rodeado de fantasmas
a berrarem-me na cara
sobre problemas que ninguém solucionara.

Estive em todos os lugares abstractos
do planeta e da Humanidade
agora os meus olhos estão fartos,
cheguei ao fim do meu mundo,
acordo agora para viver a realidade.

Realidade Falível

Vê como o mundo gira!
Tudo muito bem encaixadinho.
Roldanas, pregos e porcas,
dinheiro a entrar pelo cu
e merda a sair pela boca,
este é o novo instrumento
parido pelas mães dos homens.
Até há o sistema de cordas
para quem não aguenta,
tenta-se suicidar mas só tenta,
hesita, volta-se para trás, acorda
ao descobrir a razão da falta de paz.
Abre a caça e a reza à morte
para esses filhos-da-puta,
surge muita gente que não entende
por desconhecerem o sofrimento
que torna o pensamento de viver absurdo,
que torna um mortal surdo, cego e mudo.
Loucos são os que não querem morrer.
Loucos são os que querem viver,
e cala-me essa mente prostituta
porque a vossa sociedade
mentiu ao ditar regras e princípios
que a minha vida furtou e furta
por ser prova contrária
a essa coisa chamada verdade.
Mas depois dizem que é natural
porque eu sofri tanto mal
que consegui tornar-me especial,
mas eu escolhi ser,
podia ter-me tornado
num psicopata desgraçado
da infância até ser adolescente,
mas fui demasiado real
para caber na vossa ilusão,
foi assim que me tornei inteligente
no ceio da minha solidão,
vocês sabem desse segredo
por isso é que têm medo da escuridão,
quando não conseguem ver,
sentem os sentidos a falhar
e a realidade deixa de ter sentido
surgindo a vontade de morrer,
mas não se podem matar
porque nunca chegaram a viver,
ninguém vive realmente sem ser
livre de ser e estar.

sábado, 17 de novembro de 2012

Paixão Vazia V

Sudoku insolúvel
com números desencaixados,
quadros brancos
inconstantes e deformados
de números descontextualizados,
pontas soltas, arestas penduradas
e abertas a baloiçar no ar.

Já não é sudoku,
é algo desfuncional sem nome.
Mártir do nada
em nome de tudo
lutando na realidade anti-fada
num mundo surdo
por causa do barulho.

Paixão Vazia IV

Fujo de ti
mas o planeta é redondo
e volto ao mesmo sítio.

Acontece o mesmo com o meu cérebro,
um labirinto onde dás voltas e voltas
e não me sais da cabeça.

Espero que estejas feliz
a passear pela minha cabeça,
não queres passear também
pelo meu corpo? Porque eu passeio
pelo teu mas é só com o olhar.

Está complicado,
esta matemática não me serve,
é totalmente lógica mas não me faz sentido,
é um complexo prisional
para actividades paranormais
onde é proibido viver a realidade,
preso aos sonhos, à imaginação,
ao desejo insatisfeito,
e nem sequer tenho direito
a viver em ilusão.
Que vivo eu então?

Paixão Vazia III

Puxo conversa
e puxo mais uma paça,
o tempo passa
e eu morro
porque fumei.
Mas fumei,
morri a fumar,
é a única certeza
que vivi.

Conversar contigo
é acreditar em teorias
que se desfazem
quando eu existo,
e quando eu existo
tu não existes,
e anseio a tua existência,
mas se tu existires
eu não existo.

Eu sonho
e tu vives,
tu acordas,
eu não durmo,
tu pensas antes de fazer,
eu só penso
porque a realidade
não me atrai
porque não te atraio.

O planeta é uma roda
cheia de buracos impalpáveis
que supostamente roda
apoiada em verdades inalcançáveis.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A Casa Da Misericórdia

Diz-me tu o que não é ilusão...
quando as marcas estão em chão abstracto
dissolvido num filho parido morto,
que outrora significara tudo,
sorrisos e esperanças,
sonhos e promessas,
mas a morte foi dada à luz
e o amor foi dispersado...
amor, outrora era tudo,
agora traição e o nada vazio...

vazio como a casa que assim se tornou pelo amor dispersado,
como tinta atirada de um balde para uma tela,
passando a ser um quadro...
um mero acessório de uma casa abandonada
onde toxicodependentes vão-se drogar
desprezando totalmente a ferida dos iludidos...

não há porta e a prostituição é constante,
e dormem lá os oprimidos das chuvas e dos frios...

é a casa dos cantos,
onde desgraçados se encostam
sobreviventes à morte que o desprezo causa,
abraçados pelo mundo só, fugitivos da socialização,
re-criadores no silêncio de uma vida vazia
e de memórias que os matam lentamente...

esta é a casa de ninguém,
onde os humanos que não existem
são repousados à espera do fim,
todos os vividos de uma vida feliz
tornada irreal, por agora ser nada,
como se a morte fosse tão desumana
ao ponto de deixá-los vivos...

cemitério, esta casa cheia de pessoas vazias
que não têm palavras para falar sobre o nada que são,
sobre o "em vão" que são as funções das coisas,
os nomes das coisas e as suas consequências...

a casa dos invisíveis,
onde as verdades afinal são mentiras
e o tempo não é tempo...
e a importância afinal não é importante...
e os desejos não se desejam....
e os sonhos não são sonhados...

não é mansão, só três divisões
estão intactas cobertas por um telhado meio,
e uma escadaria destruída que leva
os alucinados às estrelas
- por causa das alucinações
da fome e das drogas alucinogénas
e também porque depois do último degrau
está um precipício comedor de cadáveres caídos -

casa das luzes desligadas,
cova humilde e confortável para quem a Humanidade se desligou,
para quem o brilho do olhar é um pavio queimado,
para os pés das pedras gastas e para fósforos usados...

mas vieram cá os homens da gravata
penhorar o símbolo da casa,
o único símbolo que os tornava reais,
a única arte que os representava:
o quadro cuja a tinta era sangue...

É o fim.
Não há forma de vida,
a morte nada tem a fazer aqui.

A casa torna-se oca, sem esperança,
pelas mãos dos que estão à margem da Humanidade:
os cabrões dos capitalistas.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Rugir de Um Leão Magoado

Bebo as minhas lágrimas, bêbado e com a besana sozinha...

a chorar tudo
sem saber se o rugir
é mudo ou eu é que estou surdo...
não sei como reagir
entre a realidade e a ilusão
com este desejo incontrolável
que me deturpa a interpretação...
ferida de leão inconsulável,
velha como as prostitutas,
sem brilho e domesticado
com dentes servos de frutas...
sem carne,
mais uma tarde esfomeado,
chora leão a rugir desafinado
afastando sem afugentar
os outros animais,
sem conseguir um lugar
ao lado dos seus demais...
deveria ser natural
mas desde que conheci humanos
tenho-me sentido mal,
alérgico a estes seres estranhos...
brincam com o meu coração,
quando estou quase morto
usam as pás da ressuscitação,
maldita morte, tornou-se um aborto...
para seu belo prazer
cortam as minhas garras,
é a minha honra a desaparecer
para ser o palhaço das suas fanfarras...
leão ruge mansinho
preso entre quatro grades,
rodeado de risos, sozinho
como a quinta carta entre quatro ases...
chora como um vadio
interpretado como um louco
a morrer de tanto frio
que o seu pêlo parece pouco...
chamam-lhe belo quando chora,
não há seriedade neste planeta,
isto é uma grande peta,
eu vou mas é embora...
qual realidade qual ilusão,
a mim não me põem mais a mão
no meu coração,isto sim é que é verdade.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

São dias sem significado
nestas noites suicidas
e nas manhãs da ressurreição...

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Paixão - Transformação Real

Não sei se é ilusão,
o desejo de te ter
deturpa-me a visão,
não faço ideia do que estou a ver,
se é que realmente vejo,
mas tu iludes-me com a tua sedução...
espelho meu espelho meu,
que vejo eu?
É isto real
ou um desejo faminto?
Mas parece que eu apareço na tua vida
sem apreço ou é o peso uma medida
leve por ser amor ou pesada por ser amor?
Estás realmente aqui?
Ou tudo é significado bipolar?
Diz-me o que diz o teu olhar?
É real ou estarei a sonhar?
Maldita ignorância que passa fome...

Paixão e Magia

Porra. Não acredito que o Amor seja utópico,
amor é sacrifício dos nossos defeitos
em nome da nossa felicidade.
Também não digo que sejamos sempre felizes
até porque a felicidade não é habitual
e nunca se habitua porque onde há conquistas
há novos sonhos e objectivos
mas também há momentos incomparáveis
que nos torna praticamente inseparáveis.
Amor é dar e receber a dois
cuja perfeição é o equilíbrio,
mas e depois?
Quando a perfeição se torna rotina?
Há paixão?
Paixão apaixonada e apaixonante
é olhar e ao olhar sentirmo-nos arrepiados
com o desejo de beijar e tocar,
tornar real o desejo de amar.
Acredito na magia da Vida,
caso contrário como viemos aqui parar?
Quer dizer,
sou filho de um casamento falhado,
vítima da sua guerra traumática,
mas o trauma tornou-me amor de vida renovado
porque sei a fórmula matemática
de problemas solucionados por uma alma apática.

Magia, a minha palavra de eleição,
porque sou ignorante ao acreditar desde a minha infância
mas ainda mais sábio pela consciência da minha ignorância,
para tudo aquilo que a ciência não tem explicação
e admira-se.
Se não houvesse magia como poderia eu vencer o sofrimento?
Foi ela que me salvou no momento em que senti o fim do meu tempo.
Paixão é amar magicamente..
Seja a tua vontade satisfeita,
mais que palavras, silêncios
que só nós sabemos interpretar,
mais que eu e tu, só nós,
nós, mais que sonhos,
maior que o Universo,
mais longe que as estrelas,
perto de cada um,
nós, a resposta sem pergunta,
sem contradição, sem dúvida,
sem questão...
tu e eu, nós,
re-inventemos a Humanidade
e chamemo-la a Paixão.

domingo, 11 de novembro de 2012

Quero sorrir com o teu sorriso
e brilhar com os teus olhos...
quero me libertar do mundo,
deixa-me ser homem...
quero que as nossas almas se libertem
como a descolagem das aves...
quero me perder contigo
e encontrar o ponto paradisíaco
e inventar o amor...
quero ser mais que ser humano,
quero estar contigo...
re-inventa-me com os teus beijos,
desenha-me com o teu olhar...
vem comigo, confia em mim,
vamos ser eternos e infinitos...

sábado, 10 de novembro de 2012

O meu mundo desfaz-se nas minhas mãos
como fosse areia seca, e durante a sua queda
transforma-se em água...
tento, tento agarrá-lo mas ao chegar ao chão evapora-se,
formando uma nuvem que o vento levou...
Enquanto o mundo à minha volta se despedaça...
Sou infinito como o vento que passa,
que vai passando suavemente pela face
numa viagem de ida, infinito como a sua voz
que mantém quieta e tranquila no ouvido
como se o vento não se movesse.
Sou uma sombra de dia
e uma luz durante a noite,
sou um retracto de uma ilusão
de uma vida penetrada por problemas.
Se o mundo fosse perfeito eu seria o imperfeito
mas como o mundo é imperfeito eu sou perfeito,
uma perfeita merda ambulante com duas pernas
que não sabe andar, mas mesmo que soubesse
não haveria chão que conseguisse pisar.
É verdade, sou um falhado,
tão falhado que nem consigo ser o falhado,
sou apenas um.
Com certeza que devo ter nascido
em quarenta e dois bebés mortos à nascença
antes de ser obrigado a estar vivo nesta vida.
Na verdade tudo começa com "f":
Francisco fracasso falhado.
O que vale é que gozo com as minhas tristezas
e que acho que isto é tudo irónico

Paixão Vazia II

O mundo continua a rodar
mas eu não sinto diferença
porque tento fugir de quem sou,
e não sei para onde vou,
não sei o que é a realidade,
estou perdido e confuso,
nem sei se eu próprio sou real
ou sou uma miragem de um pesadelo...
o mundo está a girar
e os meus olhos rodam também
à procura de um esconderijo,
de uma cama, de um lar...
mas não encontro o teu coração,
por tua causa só vivo de sonhos
esquecidos ao voltar a viver...
dá-me um beijo de despedida,
ressuscita-me, perdi as chaves da razão
e só tu é que sabes o código para acalmar a emoção...
só tu é que guardas a fórmula do meu sorriso,
tu és o porquê da existência,
deixa-me voltar à origem de tudo...
Por quem espetamos a pá na terra?
Para quem escavamos a cova?
Fomos nós que fizemos as nossas próprias escolhas
ou foi a terra onde nascemos?
Se é nossa por direito, porque sofremos?
Porque somos paridos pelo sofrimento
como se fôssemos nós a esperança?
Ou somos antes a raiva incompreendida
da dor que os nossos pais carregam?
O que nos move para uma guerra civil,
para uma revolução? É o sacrifício do corpo
por uma certeza que antes de ser já é um direito
mais que humano, instinto? Que a Natureza assinou
quando se criou? Quem vai vencer?
Quem é que se vai rir senão os psicopatas
que nadarão num mar de notas
que mais tarde será sangue
e as chamas da raiva e do ódio da Humanidade?
Uma criança chora lágrimas límpidas sobre a pele suja,
de quem é a culpa?
Somos animais domesticados da esperança?
O que somos?
Somos ou tornámo-nos?
Porquê?

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Alma Rota

É verdade, sou um gajo muito violento,
a minha alma dá cabeçadas nas paredes do meu corpo
na tentativa de sair para voar pela liberdade
e arranha o peito até estar em carne viva desesperadamente
à procura de perceber se ela própria é a real...
a minha alma é maior que o meu corpo,
não cabe em mim, está a sufocar,
mesmo assim foi forçada a viver
como o meu corpo foi ao ser parido...
ando na rua a passear a minha dor
enquanto a minha dor passeia um exército
esquecido que trouxe com a sua morte
vitórias e conquistas agora destruídas,
sou feito de sorrisos que vão e não voltam
e a minha alma foi tecida por buracos
que de quando em quando se revoltam
contra o vento que os trespassam
como se eles e eu fôssemos invisíveis,
inexistentes... buracos cheios de dor,
ainda assim vazios porque ninguém
consegue tocar-lhes como se fosse água...
buracos cheios de desejos intocáveis,
irrealizáveis, os sonhos são a única realidade
que me vão abanando suavemente,
como se eu fosse bebé e filho de crianças loucas
frustradas e castrados por não terem sonhos com que viver...

sou uma faca sem lâmina mas refaço-me...
todas as manhãs renasço e ressuscito,
cada poema destes é uma ressurreição
da minha felicidade e o símbolo máximo da esperança
que durante o meu silêncio recito
com palavras sempre diferentes e passageiras.
Cresço rápido, ao final da noite sei todos os segredos
do Universo, da Humanidade e da Vida
mas quando acordo esqueço e não sei de nada,
nem faço ideia que esta cama é minha,
como se tivesse sido parido com esta idade
sem saber nunca o que é que se avizinha...


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Dá-me tu palavras para dizer e reflectir,
pois já não sei o que pensar,
nem o que fazer, não sei o porquê da vida
nem o porquê do teu sorriso...
não sei de mim, porque não me pegas,
porque não me agarras nem me amparas...
não conto com sonhos porque não entendo a tua realidade,
nem com nada de nada porque tudo se tornou desinteressante,
até a minha sombra, e os espelhos sós...
escrevo por escrever,
só queria respirar o teu cheiro,
só de imaginá-lo quase que o agarro,
quase que se materializa,
quase que se vê e ganha a tua forma,
e eu quase que me sinto feliz,
e a minha vida roda de quase em quase,
como chão que não sei se é chão se é tecto,
se é buraco, um poço, uma entrada...
não sei o que é, nem sei é real,
se existe ou se vou acordar...

Paixão Vazia - Rotinas Inconstantes

Procuro palavras mas não as consigo dizer,
e sem saber quase que sinto prever
a tua reacção ou o meu medo de ser
negado pelo teu coração.
E continuo a contar dias iguais, desprezando-os,
prezando só os tão poucos segundos
em que se encontram os nossos mundos.
Tudo o resto é resto, essas horas todas
só sei pensar e sonhar como as histórias
que começam com "era uma vez"
e acabam "felizes para sempre".
Pulo no tempo só para te voltar a ver
mas sempre que aterro caio numa fina poça de lama
que se torna em lama movediça, instável,
sugando-me e sufocando-me em dúvidas e questões,
e fico sem perceber o que é Passado,
por não entendê-lo não encontro Futuro
nem sei reagir ao Presente.

Paixão Vazia

Fico sentado na areia, de frente para o mar,
a olhar para o horizonte impossível de tocar
como a tua pele, o teu cabelo, o teu olhar.
Olho à minha volta e vejo a Natureza no seu esplendor,
tenho comigo toda a calma de espírito
como se não existisse nem fim nem tempo,
mas não sinto a dimensão do espaço
por que não te tenho ao meu lado,
como se eu não existisse...

E tudo se torna relativo, tudo se torna irrelevante,
porque o planeta gira como uma curva sem fim
que vai ditando o tempo infinito
de todos os que vão sem mim...
e não voltam, não voltam
porque não se importam...
sou uma cascata em permanente queda
cuja água não encontra lugar para pousar e repousar,
e vou caindo desfeito pelo universo
desligando as estrelas do céu...
e acordo.
E volto a viver.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Assim Se Foi

Os olhos que me viram não me olharam,
passaram ao lado como quem vai num comboio
cuja curiosidade do olhar aguça numa pradaria que passa
e não volta, nem nos olhos nem pelo que deles são feitos
- os desejos de olhar como quem sente o seu real espaço,
(infelizmente o meu não padece em lugar nenhum da matéria e essência do teu corpo) -
só me resta saber que existo, ou se não existo acreditar que sim,
e viver o que a vida simboliza em questões de ser no olhar dos mortos.
Desprezas-me como quem despreza a própria respiração,
mas o ar continua à nossa volta, mesmo que não o vejamos,
e mais outra diferença entre mim e o ar é que ele não precisa do porquê,
porque já precisas dele. A minha ilusão é tão vazia como uma caixa de cartão inútil.
Desmamado da sua essência, sem que se renove até se renovar,
cujo o tempo (que tanto se diz curar) vai enferrujando-me
como um cano onde já não passa mais água.
Quero voar como um pássaro mas o oceano onde fui pescar
estava cheio de petróleo que eu achei ser paraíso,
afinal eram peixes mortos a boiar,
e eu, cujos olhos que tanto brilharam,
foram enganados pela realidade
e fiquei lá, entre os mortos e os cadáveres,
sem mais conseguir voar,
rendido pela suja realidade,
à espera de algo que nunca saberei o que é,
não sei se é esperança ou se é tortura,
mas o que há-de ser há-de ser,
os pássaros voarão e o sol nascerá.
Mas deixemos os olhos com a imaginação
e façamos nós a fé com as palavras
e a realidade através da acção.
Vou beber ice tea de manga num copo de whisky e apanhar uma besana fingida para fingir que estás aqui ao meu lado e que gostas de mim, vou adormecer agarrado aos lençóis macios e fingir que é a tua pele, vou dizer a mim mesmo as palavras que desejava sairem da tua boca, vou repeti-las tantas vezes até serem verdade, vou viver nesta puta de ilusão e a morte terá pena de mim. Digam que sou louco, deixem-me em paz que eu não quero saber da verdade nem da realidade, que se foda a existência, o certo e o errado, vivam vocês o que vos contaram que eu prefiro viver aquilo que desejo que a minha vida deveria ser. One love.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

A Morte que Deus Não Amou


No oceano dos mortos,
onde os cadáveres bóiam,
há uma pessoa viva na superfície,
que também está a boiar,
que devia ter morrido mas não morreu,

esquecida e abandonada,
à espera do sol que não vai nascer,
da lua que nunca fica cheia,
da noite que não parece
e do dia que não aparece...

é a morte que Deus não amou.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Passo noites acordado,
na cama, de olhos abertos,
a ver passar fotografias
contigo ao meu lado
em sonhos completos
num futuro onde sorrias.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Amores Luares

Encontrei a Lua a passear nas ruas nocturnas,
ela segredou-me o motivo que a faz enganar-nos,
chamando-a mentirosa, disse-me ela que o Amor
não se baseia no que se diz ser mas sim no que realmente é,
contrariando a aparência com a realidade,
porque há uma verdade em cada par de Amor
que mais ninguém irá conhecer,
perguntei-lhe se falava de cumplicidade,
ela respondeu-me ser algo maior,
algo que ao viver ultrapassa o que é real.

Ilusão? Não, ilusão serve para nos agarrarmo-nos à terra,
o sentimento que te falo está num patamar superior,
é a forma máxima do Amor,
é super-realismo das invisibilidades espirituais,
é a materialização do sentimento através de partículas surreais,
é o descomposto da química através da física,
é a superioridade das palavras entre silêncios,
é a prova da inexistência do que é paralelo
na aglomeração perpendicular de duas linhas
rectas paralelas que se tornam numa só
através de um olhar - destinos intocáveis -,
em poucas palavras: sou eu e ela.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Amor - Mais Uma Tentativa

Oh Amor,
fazes-me sorrir ao expoente máximo
e ser asas de uma vida contada em sonhos.
Somos perfeição, somos estrelas aluadas,
somos outra espécie de água,
que tanto parece mágica,
que, ao beber, tudo se torna nítido
como se visse o universo todo dentro de um copo
e que, ao absorver, me tornasse literalmente universal,
sentindo as emoções de todos os seres vivos
de uma só vez, sendo-me transversal.
Amor, somos um comprimido
cujo efeito é rasgar os horizontes
e ver o planeta todo como se fosse plano,
como se víssemos tudo ao mesmo tempo
cada detalhe, cada olhar.
Ainda não consegui inventar
a palavra para decifrar
o meu desejo por ti.
Invento outro poema
na tentativa de explicar
o nosso amor exemplar,
a perfeição de ser e estar.
Os meus lábios são serventes
da tua natureza,
meu amor, nada é mais certo
que a nossa paixão,
mesmo que tudo isto seja uma mentira
sempre podemo-nos abraçar,
beijar e talvez alcançar
a pureza total e pura,
sem que haja procura
da palavra amar.
Meu Amor,
de um lado ao outro neste mundo
vai percorrer a nossa história,
em galerias, porque a Humanidade
orgulha-se sem saber explicar
a eterna equação criada por nós,
nós tornámo-nos fazedores da Vida
no seu estado mais básico e belo
através do nosso olhar.
Meu Amor,
nós somos a razão da qual
existe e resiste a Humanidade,
o teu ventre é o início e a origem
dessa mesma razão subentendida
em gritos de gentes desesperadas,
por cada pétala da flor do nosso Amor
transforma-se em estrela no céu
para dar brilho aos olhos humedecidos
de cada homem, mulher e criança,
para que cada lágrima se torne alimento de uma nova flor,
para que haja em todos os becos uma subtil esperança,
e torne este planeta mais redondo
para que não hajam pessoas atiradas para cantos.
Amor, esta matemática é a existência do fazer,
do amar e poder ser mesmo sem saber,
entre amar e ser amado há uma terceira parte
ainda não contado, é o nosso amor,
tão necessário como o ar
que expulsa e repele qualquer tentativa de nos matar.
Meu Amor, mais uma vez falhei
em tentar representar o nosso amor,
dá-me um beijo, já que não consigo representá-lo em palavras,
represento-o na melhor forma de existir, nas acções.

terça-feira, 23 de outubro de 2012


Estou encardido de mim mesmo,
oxalá pudesse ser uma outra pele,
uma pele com luz sem cicatriz
que sugam como um buraco negro no Universo,
mas eu não sou pele,
sou cicatriz...
Anseio dizer-te que te amo,
entrelaçar os meus dedos pelos teus cabelos,
aconchegar-me no teu olhar,
mas eu sou uma sombra na escuridão
proibido de alcançar os sonhos
que iluminam os teus olhos,
sou um rasto de um pavio
desfeito numa mesa
que alguém frustrado ousou derrubar,
sou tudo abstracto, nada em concreto,
sem papel onde me consiga identificar...
sou um facto de um futuro incerto,
sou um pedaço do céu caído no mar,
ou sou reflexo do céu no mar,
não sei...
afogo-me...
e não sei o que me está a afogar...
Tu és um sonho que sonho viver,
um espelho onde me quero ver,
no regalar dos teus olhos apaixonados
me reconhecer, e sem nos beijarmos,
beijarmo-nos arrepiados do nosso ser
e sermos transformados pelo Amor de acontecer.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Amor - Outra Tentativa



O meu amor vai mais longe que a infinidade dos números,
não há conjunto de palavras que definam o meu amor por ti,
não há acções que satisfaçam a minha vontade de me aglomerar contigo,
és a minha luz, o foco do meu olhar,
sem ti os meus olhos não param de girar à procura da única imagem nítida.
 No final da noite observo-te enquanto dormes
e pergunto-me onde é que se foram inspirar,
tu és a etimologia da palavra perfeição,
posso ficar anos inteiros a observar-te sem me cansar
a ainda vou descobrindo maravilhas em ti,
tu és o papel para a minha poesia,
em ti escrevo histórias de amor e paixão,
fonte de inspiração, origem do Universo,
no teu ventre carregas a esperança da Humanidade,
a essência do Amor transformado em realidade.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

D.Quixote e Sancho Pança

Estou na minha casa, sentado no sofá, a ver um filme. Na cadeira está o meu melhor amigo a dormir, adormeceu. Estava a olhar para ele e apercebi-me da nossa amizade. Eu e ele conhecemo-nos há doze anos atrás, quando entrámos para a escola no primeiro ciclo. Desde então não nos separámos mais.
Existe uma tendência de misturar fidelidade com cumplicidade na nossa sociedade. Aliás, confunde-se fidelidade na amizade com algo que nem sei se tem nome, algo que esse melhor amigo se torna, uma sombra talvez. No ponto de vista desse preconceito vulgar a nossa amizade torna-se estranha ou mesmo indigna de ser a melhor amizade. Porque discutimos. E não somos iguais como deveria ser, somos totalmente diferentes. Ele é muito mais prático, aventureiro, destemido. Eu sou mais teórico, menos social e mais queixoso. Ele faz, eu reflicto. No entanto, nós os dois somos a bengala um do outro porque a cumplicidade não é criada nem limitada a risos e sintonias nas conversas. A cumplicidade vai mais longe, consegue prever as reacções e acções do outro, os seus sentimentos e claro, pensamentos. Passámos muito tempo sem nos vermos, sem nos falarmos, afastados ao mero acaso de nenhum puxar pela amizade e não morremos, não sentimos a necessidade de  estar com o outro, porque essa é a real amizade, sabermos que o tempo e o espaço não corroem o fio, não é a física das coisas nem é o ouvir, o falar, o tocar que em ausência possa corromper este laço. Não escrevemos as nossas histórias juntos, se é isso que o geral redutor preconceitua, mas sim o que está para além disso.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Necessito de mostrar
alguém que não sou,
algo que outro sonhou,
desconfortado em estar,
desconfiado em amar,
olhos amaldiçoados
que vêem para lá do presente,
para lá do mal,
longe como um olhar distante
sem nunca descobrir um igual
ou menos inferior à dor,
para a igualar é só com amor.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Há uma porta de madeira branca por abrir...
O que há para lá dessa porta?
Sinto ser um mundo novo por descobrir,
a chamar-me, a querer dar-me as boas-vindas,
mas receio que seja batota,
que seja só um mundo feito de cinzas...
será uma porta de madeira
ou estou a ver um espelho
de uma porta que ultrapassei?
Não me lembro...
talvez até tenha passado sem me aperceber...
mas onde está a chave?
Não há chave nos meus bolsos,
talvez a tenha perdido
ou nem sequer a tenha achado...

As portas não se abrem sozinhas,
muito menos se trancam sozinhas...

Que não sejam fugas
ou ficarei dependente
de pensamentos instintivos
e de algo que me persegue...

É mentira... é mentira...

Quando Te Esqueces de Mim

Quando te esqueces de mim
o mar deixa de ter ondas,
a Primavera deixa as flores à espera,
e uma criança chora ao luar sem saber,
quando te esqueces de mim,
é como se um raio me atingisse
em pleno céu aberto à luz do dia,
assim, inesperadamente,
- é a realidade a recair na ilusão.

E com aspas se vão formando palavras
sem significado, apenas para cobrir
o que não se consegue dizer,
como uma ironia disfarçada de sorriso,
é de um sarcasmo amargo na resposta
sobre quando te esqueces de mim:
Já estou habituado, é sempre assim...

terça-feira, 21 de agosto de 2012

À noite,
quando os meus olhos tomam o seu repouso,
todas as estrelas formam uma única constelação
desenhando o teu retracto, o teu sorriso...
mas por mais que estique a mão
estás sempre longe, muito longe...
como a inalcançável linha do horizonte...

desculpa... só me apetece pedir desculpa...
desculpa ter nascido...
À margem de todos... com tudo.
Não escrevi para ti, não escrevo para galerias,
só escrevo para corações, olhares, almas...
só escrevo para paisagens... (ou... miragens?...)
por isso não te admito ser lido
com intenção de quem quer ver
menos do que as coisas são:
com severidade, com... austeridade...
- porque sou uma criancinha a escrever.

Uma criança que inocente que olha para o lado
quando não quer ver os horrores da vida,
que olha para as pessoas interrogando-se sobre elas,
com olhinhos vivos de quem pinta
sem se mexer, sem... dizer...

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Morte Do Poeta


Aglomerei-me com o Universo,
deitei-me com cada estrela dele,
entreguei-me à alma das coisas e das causas,
engoli, como o espelho, o Mundo inteiro,
dentro do meu corpo está cada partícula do nosso Planeta,
e vomitei Poesia, ainda que fosse nojento,
abracei-a como um pai, como um irmão, como um só,
e deixei-a voar, navegar e caminhar nos vossos espíritos
como se eu já não tivesse nada a ver com os meus poemas,
mas o meu último poema não está escrito
porque sofre constantes mudanças,
até mesmo depois da minha morte:
com fé incessante titulei-lhe: Humanidade.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Fomos ar
no momento em que abrimos os braços
e rodámos sobre nós sem parar.

Fomos água
no momento em que mergulhámos
dentro do mar e ouvimos o seu silêncio.

Fomos fogo
no momento em que chegámos
ao auge de um amor abraçado.

Fomos terra
no momento em que nos afogámos
na lama e ficámos pintados.

Fomos... e não voltámos.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Um poeta em extinção,
um mundo vazio,
um silêncio calado,
um gesto quieto,
uma voz apaziguada,
um olhar cego,
uma mão sem dedos,
um coração trespassado,
um lar sem nada,
um escuro de medos,
uma poço de segredos,
uma luz que não acendeu,
uma pegada rasgada,
este sou eu,
um homem sem alma,
um conto sem fada...

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Mãe

A saber:
não me fiz perder
em ilusões inalcançáveis,
apenas fantasias
que me serviram de lençóis nas noites frias;
todos os meus sentimentos foram palpáveis,
eu senti-os, alteraram as minhas pulsações.
Sabei também
que a chave da porta de casa é a minha mãe,
pois foi quem me preparou para atravessá-la,
foi quem me ensinou a  ultrapassar os buracos no chão,
as ruas minadas, os céus chuvosos,
os vastos desertos da solidão,
a respirar nas ruas invadidas pelo mar da confusão,
ensinou-me a ser rijo como uma pedra da calçada,
tão constantemente pisada, cada vez mais gasta,
e que como eu, como ela, estamos acompanhados
as lágrimas das gentes devastadas,
que mesmo de olhos fechados,
há um sol que nos ilumina e aquece,
há uma lua que brilha nas nossas estradas
para nos dar o calor da fé quando a noite arrefece,
ensinou-me a adaptar-me aos animais
quando a Natureza nos abraça,
quando a sociedade vê-nos a mais,
que as plantas também têm significado
mesmo que não falem, podemos tê-las ao nosso lado
para que sejamos nós a falar por elas,
sem que tenha de haver correntes ou trelas
que nos condicionem a personalidade e a vontade,
ensinou-me a sorrir mesmo quando as lágrimas nos pesam,
a encontrar harmonia tanto no coração como na paisagem,
e, se não encontrar, inventar um poema em nossa homenagem.

Diários de Poeta

Sou um jovem em busca da Poesia
porque é a única certeza que tenho.
Procuro-a na alma dos objectos, nos olhares,
nas palavras, no tempo, nos acontecimentos...
mas acabo por encontrá-la dentro de mim,
como uma catarse.

A tinta do meu papel não se interessa
pela quantidade de leitores,
desde que eu a ame, não há nada a constar.

Mesmo que me perca, escreverei sobre a perdição.
Mesmo que falhe, escreverei sobre o falhanço.
Mesmo desinspirado, escreverei sobre a desinspiração.
E concedo-me o direito de ser assim.

Sou um deus, deus do meu mundo,
só eu sei quantas estrelas tem o meu Universo,
só eu é que vivi a minha vida
porque sou eu é que estou dentro do meu olhar.

Sou poeta, absorvo o que está à minha volta
como um papel absorve a tinta de uma esferográfica,
como quando damos vida a uma fotografia através de recordações.
Uma fotografia que nos fala e tem algo a dizer.
Nunca interroguei a qualidade do verso
porque antes de escrever sinto a sua essência,
- é a minha definição de perfeição,
é a minha maior honestidade.
Um pessoa honesta consigo própria não se define pelo os adjectivos que lhe dão mas sim pelo seu próprio nome.

Fim de Capítulo

Lentamente, o pano vai caindo,
os projectores vão-se desligando,
e eu, sem me aperceber,
continuo o meu monólogo,
o monólogo da minha pessoa,
da minha vida, da minha gente...
O pano continua a descer,
já tapando a minha cara,
e continuo a falar
sem me ter apercebido.
até que as luzes se desligam,
o pano chega ao chão,
separando-me das pessoas,
o meu monólogo é interrompido,
já não o posso continuar,
as palavras que ficaram por dizer
tornaram-se recordações e reflexões
da vida minha que partilhei com os meus.

O pano cai e acaba-se mais um acto na minha vida.
Agora o palco é outro.

sábado, 11 de agosto de 2012

Passei a ter certeza de que para lá do horizonte o oceano cai como cascata onde os mortos estão em queda no universo, esquecidos e abandonados, onde o mundo se desfaz na espuma dessa gigante cascata, porque as lágrimas dos povos não saram e no Olimpo estão as estátuas amaldiçoadas que os escravos e os sobreviventes foram obrigados a erguer: os mortais. Mortais, matam-nos a alma antes do corpo morrer.

Às Horas do Cigarro

O tempo arde, esfumaça-se,
tornando-se parte de outras pessoas
cujos momentos juntos passámos,
e na última hora da idade, 
só nos restará recordações
que se vão desfazendo
à medida que o cérebro morre,
memórias partilhadas
são caramelos deitados fora:
fazem sempre parte de algo,
nem que seja do chão ou do cinzeiro...

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A Explicação de João

Uma vez cruzei-me com o João,
o João que levava uma faca na mão,
vítima de descriminação,
escorria-lhe sangue do corpo,
andava parecendo um morto
por isso toda a gente se afastava,
mas o que não sabem
é que a alma dele também sangrava,
ele estava inchado, cheio de nódoas negras,
mas o que eles desconheciam
é que a sua garganta também estava inchada,
fechada, trancada, acorrentada ao silêncio da opressão,
porque ele tinha cadastro a dar com um pau,
não havia gesto que fizesse que não fosse acusado,
todos se afastavam da sua raiva como ímanes
mas não sabiam que ele desejava no fundo ser abraçado,
que desde o primeiro dia da sua vida estava condenado
a implantarem-lhe a ideia nos seus tímpanos
que ele era malvado e por mais que fizesse
as lágrimas escondidas e abafadas
iriam cozer-lhe os tecidos do seu corpo,
todos o acusaram, se afastaram,
até ao dia em que tudo foi para o torto:
os seus gritos sem dicção arrancaram-lhe o coração
de sentir-se sem saída, de toda a sua vida parecer fantasia,
porque às vezes essa é a única esperança que nos resta
na sociedade voraz que não nos empresta um pedacinho de paz
para que o tempo continue a ser capaz
de existir sobre a nossa pulsação
sem que percamos totalmente a razão.
Assim João, cansado de um destino traçado,
encontrou a Morte num sonho,
e perguntou-lhe se tinha um lençol
que afastasse este mundo medonho,
mas até ela lhe negou uma nova visão sobre o sol,
e João acordou sem querer, a enlouquecer,
querendo vestir as vestes da Morte,
pegou numa faca e apontou à garganta
lançando pragas à Humanidade,
até se aperceber a origem da sua realidade,
a perplexidade da conclusão foi tanta
que as lágrimas pararam de sangrar,
apercebeu-se que foi posto
num canto onde não havia encosto,
onde não havia para se deitar
onde não havia ar para abraçar
então decidiu que não haveria de se matar
e vingar as lágrimas sangrentas e desesperadas,
porque onde há razão e causa há culpado,
quem implantou todo este meu fardo?
A resposta foi fatal, com o tempo descobriu
que tudo era uma mentira,
que a sociedade não passava de uma loja de roupas
num campeonato de quem faria a melhor pose,
mas a tragédia de tudo isto é que todos o faziam a sofrer
e que João elevou-se ao conseguir se aperceber.
Brincou com a verdade, conseguia olhar nos olhos de alguém
e descobrir as suas mágoas, o seu sofrimento,
tocava na sociedade, desfazia-a tão bem,
que se transformou num Titã,
os deuses da terra transformaram-no num invisível ambulante,
uma assombração velha como as origens do mundo
que se alimenta das perguntas que as lágrimas fazem...
Eu luto ao lado dos mortos,
de espada e escudo na mão,
no deserto, na terra dos caídos,
à espera que venha uma tempestade de areia,
prometo resistir à jardada dos media,
de pé firme no chão,
os únicos gritos que ouvirão
nesta manifestação serão os de libertação:
abaixo a corrupção!
Manifestação manchada de sangue,
eles que tragam milhões de cassetetes,
balas, tanques e informação corrompida,
eu tenho ao meu lado o estandarte erguido,
morrerei pelo seu símbolo:
em nome do Povo haja consagração
do fim desta apelidada maldição.
Hoje controlo a gravidade,
cada bala, cada cavidade
que esteja a espumar sangue,
chama-me demónio, ó malvado,
pois não conheces a minha existência
e estavas longe de saber que sou teu inimigo,
tenho comigo a ciência de ter profetizado
os passos que vão te deixar marcado.

O Meu Último Poema

Está ali, ou aqui, o meu último poema.
Consegues ver? Está à nossa volta,
ao nosso redor, está em nós.
Está onde não está:
na presença da ausência,
está por descobrir, está a ser respirado,
está nas ondas, no vento,
nas danças e nos cantos das folhas das árvores,
na calçada, dentro de cada casa,
na morte, no silêncio...
em todo o lado, em todo o movimento,
em toda a estática, em todo o tempo:
no Passado, no Presente e no Futuro.
Não procures: está em ti e para onde olhares.
Está na queda, nas nuvens, no céu,
está aqui, está no vazio.
Está nas lágrimas e nos sorrisos,
em todo o lado, em todo o tempo,
o meu último poema és tu,
tu, que me lês,
pois eu morri e tu estás vivo,
mas a minha Poesia nunca morre,
mesmo que vá comigo...

quinta-feira, 9 de agosto de 2012


Ainda se ouve, à noite, o eco do cigarro aceso e ritmo das teclas... a música cumpre o seu papel e nós o nosso, seja ele qual for - enquanto estivermos vivos há-de haver algum não é? - e o tempo passa como a quantidade de passos que são precisos daqui a aí, mas tal como o sol que anuncia as manhãs e se esconde para lá do horizonte deixando a lua à solta, cá estamos nós, poetas, sem papel ou com papel incompatível mas desejável à Humanidade, no refúgio do quarto quando a noite ganha forma, expelindo o nosso Universo que, com ou sem papel, vamos escrevendo, adivinhando e até mesmo inventando o papel dos outros. Somos personagens fora do próprio livro, livro de folhas sem nada escrito, como quando o nada se torna em tudo. Haveremos de estar no céu, à noite, a brilhar como a pureza das estrelas utópicas.
Abraço meu irmão.

Nossos Olhos

Gostava de ser velho como tu
e narrar as minhas memórias
a pessoas como eu, bons ouvintes.

Quantos encantos têm os cantos dos teus cabelos brancos?

O branco dos teus pêlos
são fotografias de momentos marcadas com selos
enviadas para as vitrinas das galerias dos teus olhos,
pois há neles o encontro de uma vida acontecida,
talvez mais intensa do que quando foi feita,
espelho de quem és, cicatrizes e tijolos reflectores,
mágicos, são feitos da mesma matéria que outros olhos,
mas há algo neles que se distancia dos demais,
(justifica lá isso com os teus cálculos, ó Ciência!)
será que é o que neles se contém?
Será que é o que eles mostram?
O que são os nossos olhos, para vermos?
Para os outros nos verem por dentro?
Mas há algo não consumado...
Ainda que olhasse e não visse,
ainda que visse e não olhasse,
é ruptura malícia ou brilho apagado?
O que será?

Uma Outra Aurora da Felicidade

Há um lugar algures por aí
onde eu me bronzeie numa espreguiçadeira,
um lugar onde me deite
emergido num mar de estrelas,
onde esteja a fumar um cigarro num planeta inabitado
e bata palmas ao ver um satélite aterrar:
finalmente a Humanidade conseguiu cá chegar!
Era fácil, mesmo assim ainda demorou um bocado.
Talvez tivesse armadilhado o percurso,
mas eu consciencializei-me sem tirar algum curso,
por isso não compreendo como é que se vai vivendo
em cima da calçada onde cada pedra se vai vendendo.
Ressuscitem-me essa porra de sorriso
na escuridão para ter uma luz de presença
e traz-me um gigantesco riso
na solidão que o seu silêncio torna a alma tensa.
Quando não houver compreensão
haja um vinho feliz, quando não houver perdão
que haja um brinde à liberdade
sobre as escolhas que eu fiz.
E que lá na piela do teu coração
a gente encontre muitos ninhos de emoção,
que daí cresçam ovos e descolem passarinhos livres
para subires às nuvens acima da realidade em que vives.
Que chovam penas em vez papelinhos brilhantes
para celebrar as conquistas do que fora utopia antes,
vamos para a porta da felicidade,
pela maneira como a gente se comporta
mereceremos a sua chave.
Qualquer dia abrimos uma estalagem
para contar as nossas histórias aventurescas
onde o diálogo presenciou a coragem
e as cervejas tornaram-se grotescas.

Mas para quê um sentido?
Desde que tenho ido
ao sofá do teu coração
tornei-me temporariamente imortal
e o resto... bem, o resto...
é uma lata de ração para cão
que eu vos empresto,
não faz mal... pois não?

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Sou totalmente palpável
no sonho de...
palavras sem sentido,
tudo é uma só coisa
porque vai dar sempre ao mesmo.
O que falta à vida?
Nada... totalmente nada.
E ao resto, que fique onde está,
bem longe.
Esta é a terra da falsidade
onde ser civilizado é manter-se calado
mesmo quando algo está errado,
ser civil é andar na rua como uma tábua
com uma etiqueta ou uma aba
a dizer que o burro é bem-educado,
como se diz a um animal domesticado,
que obedece à ordem
por isso a prece da manifestação
é considerada desordem
enquanto a corrupção
dá festinhas na cabeça do Homem.

domingo, 5 de agosto de 2012

O Monstro

Sou um monstro,
horrível, nojento...
nunca deverei tentar,
estou certo que irei falhar...
Mas porque me deixaram nascer?
Até nisso falhei:
tentar não nascer...
Sempre que tentei ganhei,
mas foi a desilusão,
ainda me lembro disso,
é a primeira imagem
que vejo quando acordo:
tinha tentado,
a vitória haveria achado,
era criança,
e, com orgulho e esperança
de ser abraçado,
mostrei-lhes a conquista
e eis que me disseram
ser insuficiente,
vergonhoso do orgulho,
furioso na vitória,
assim me tornei:
o monstro
que espezinha a conquista,
que odeia os vitoriosos
e despreza as tentativas,
o monstro coberto de escamas,
cada escama uma desilusão.
Houve um dia
que achei o poema mais bonito
e foi num papel jamais escrito.

Reflexão Aos Espelhos Desonestos

Ainda há partes de mim em ti,
não são bocados ou restos,
nem entregas...
são, talvez, momentos de partilha...
mas há algo que em mim falta,
será culpa tua ou minha?
serão as circunstâncias da vida ou do tempo?
serei eu que falto-me, que me falto no espelho?
que me finto quando me devo ser honesto?
Não, não roubaste-me nada...
eu tinha algo para te dar...
está algures na desarrumação da minha alma...
mas está sempre a escapar-me,
a fugir-me como eu fujo de mim,
a esconder-se como eu me escondo de mim
quando a realidade se me quer apertar...
m... e... d...o....

medo?
Somos de quem?
Será que é por ser mortal?
Fugimos do sofrimento mesmo quando é-nos honesto?
quando é a única coisa honesta na nossa vida?
É medo? Medo do quê? De quem?
De nós próprios? Dos outros?
Se sofrermos assim tanto, que fazemos?
Morremos? Enlouquecemos? Suicidamo-nos?
É esse o medo instintivo do ser humano?
Sofrer de tal maneira que se mata?
O medo instintivo de sofrer do ser humano é morrer?
É sempre esse o medo do ser vivo,
tentar afastar-nos da ordem natural das partículas...

À Nossa Morte, Meu Amor

Temos que fugir,
o mundo está a desabar,
pedaços do céu caem lentamente,
vamos, vamos para uma cama qualquer
e fiquemos lá, amor, abraçados,
a olhar um para o outro,
que morramos nos escombros deste planeta,
desde que estejamos juntos,
porque na verdade fomos só a nós que vivemos,
só a nós nos tivemos,
só possuímos, de verdade, as nossas almas...
Amor, façamos amor por uma última vez,
não há outro lugar onde eu queira estar,
quero morrer contigo, ao mesmo tempo,
quero estar no conforto do teu peito,
e ainda adormecerei antes de morrer
e morrerei a dormir, a sonhar contigo,
sem nunca chegar a saber que morri,
morreremos felizes assim...
mais felizes que o sorriso da morte
de ter ceifado milhões de vidas
durante toda a sua existência,
sim, morreremos felizes assim...

Fortalezas da Paixão

Preciso de ti,
sem ti sou como um peixe fora d'água,
agitando-se num pânico de morte,
à procura do mar sem saber para que lado é,
sem saber onde é o norte.

Os teus beijos
enchem as minhas veias,
preenchem de ar os meus pulmões,
tu és a raíz da razão das razões:
tu existes e eu não preciso de espelhos,
não preciso de gostar das minhas roupas,
porque tenho a rapariga mais bela do mundo
nos meus humildes braços...

A História do Vento

Existem chamas debaixo d'água,
são os dragões adormecidos de há eras atrás
que acordaram e desenterraram-se
depois de tantos triliões de anos esquecidos
equivalentes aos quilómetros enterrados.
Acordam agora, agitando os oceanos,
rugindo de raiva e vingança.
Não há ser vivo mais puro que este,
mas também já não há habitat puro
e, ao emergirem dos mares,
berraram pela dor de sentirem o planeta tão impuro,
da imensa podridão do ar,
do veneno do mar e do deserto solar,
impureza tal que desfez os dragões
em berros tão altos e tão fortes
que provocaram ondas gigantes,
berros que se chocaram
e provocaram tornados e furacões...
assim se extinguiram os dragões:
por nossa causa, por causa do Planeta poluído,
e ao que chamamos de vento,
não é mais dos que os seus gritos agonizados
a vaguearem pela Terra
à procura do sossego dos anjos...