A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Exercícios Cerebrais: Amor (Híper e Sub)

Amor,
és incondicional,
a tua falta é sal na terra,
para não crescerem plantas
tornando-a deserta.
Mas se a nossa ligação aperta,
a ilusão abandona-nos numa ilha,
onde vivemos sem ninguém.
És o remédio para a dor
e ao mesmo tempo uma armadilha.
Por isso, peço-te,
não te aproximes nem não te afastes,
senão só me trarás desastres.
Dois extremos a provocar o mal,
solidão, mesmo sendo social.
Falo-te das tuas consequências,
quando apareces em excessos
e desapareces em deficiências.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Bênção (segunda parte)

Meu Amado Irmão,

Lembra-te do passado,
vive o presente
e não te esqueças do futuro.
Independentemente do que faças,
terás de trabalhar pelo duro.
Mantém sempre o teu coração puro,
não te deixes levar por superficiais
nem pelos seus iguais.
Nem sempre terás razão,
deves ouvir a sabedoria.
Não roubes que teu pai não o faria.
Aprende a perder
mas revolta-te contra a injustiça.
Aconteça o que acontecer,
não te cales se tiveres bom argumento,
por vezes um bom coração é um coração frio.
Aceita qualquer problema como um desafio,
um teste à tua personalidade.
Nunca te deixes dissolver na cidade.

Assim te benzo.

Bênção (primeira parte)

Minha Querida Irmã,

Quando tiveres filhos
lembra-te que nós já o fomos.
Ensina-os que terão de lutar
e que devem amar.
Mostra-lhes como foram os nossos pais,
que, para nos alimentar,
tiveram de receber menos e trabalhar demais.
Ensina-os a sofrer,
tanto psicologicamente como fisicamente,
e que um dia também irão morrer.
Deixa-os terem problemas,
mas sê cuidadosa,
que tenham bom remédio, esses temas
e que não lhes deixem com uma vida dolorosa.
Ensina-os a serem eles mesmos,
que não se deixem ir por esta sociedade de resmos.
Se os deixares e os agarrares
serão personalidades de bons "falares".

Assim te benzo.
Não tenho palavras para escrever,
nem frases para descrever.
O que penso já foi pensado.
O que digo já foi dito.
Mesmo que o faça neste mundo,
chamar-me-ão de vagabundo
e pensarão que vivo num sub-mundo.
A única coisa que me faz continuar
é o português, que tem várias maneiras de se expressar.

Como humano-artista,
faço da arte uma pista
para que a tua personalidade assim resista.
Já a palavra "revolução" tornou-se comercial
fazendo com que me sinta mal,
mas o pensamento que me deixa com este sentimento
é o facto de já ter morrido o meu querido Portugal.

"Tenho orgulho de ser português mas tenho vergonha dos portugueses".

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Duas Velas No Quarto

São duas velas no meu mundo
que se acendem durante a escuridão.
Por onde vagueia a podridão
das sombras escuras da solidão
deste meu negro quarto.
Onde o mal grita dores de parto.
Explorei apenas do meu quarto um quarto
e já estou farto.

O fogo ilumina as mentes mortas e pálidas,
onde afasta as pingas de chuva dos infernos que caiem
para cima numa confusão que eu próprio tenho medo de entender,
uma confusão organizada, não consigo perceber.
De uma claridade tão clara que faz parecer escuro.

Duas velas no meu peito, mesmo aqui.

Duas velas se acendem,
quando o amor e o ódio se prendem,
como no mesmo tempo real,
no meu quarto, onde se misturam o bem e o mal.

Poemas de sentir

Poemas de sentir,
poemas de amar.
Poemas sem sentido
e poemas que dão muito que falar.
Poemas simples,
poemas complexos.
Poemas comuns
e poemas que nos deixam perplexos.
Poemas acabados,
poemas incompletos.
Poemas falsos
e poemas honestos.
Poemas de vomitar,
poemas de silenciar.
Poemas de qualidade
e poemas sem verdade.
Poemas,
poemas,
poemas...

domingo, 26 de setembro de 2010

Definições - Personalidade

No passado o futuro vejo
e nele o presente re-vejo.
Assim que possa compreender o desejo
de ver, sentir, ouvir e falar,
é na história que entendo o meu lugar.
Se não souber, irei vaguear e perguntar
onde, no meio de tanta gente, possa ficar.

Para me perceber,
as minhas origens tenho de ver.
E comparo com o meu passado privado
(ele muda-nos e isso já está traçado).
Concluo que em diferentes circunstâncias
o meu corpo expele mais umas do que outras fragrâncias.

Sou humano,
então sou todos os adjectivos,
sou mentiroso e honesto, sou menos e soberano.
Mudar para melhor nós podemos
quando tudo isto sabemos.
Mas, antes de mudar temos de entender,
que a perfeição está na imperfeição de ser.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Procuro Aquilo Que Não Encontro

Escavo a minha cova à...
Procura de uma solução para os meus problemas.
Procura de um paraíso onde haja paz.
Procura de um silêncio para acabar com a confusão.
Procura de uma almofada para chorar.
Procura de um ar para poder respirar.
Procura de uma morte para acabar com as minhas vidas.
Procura de uma cura para as minhas feridas.
Procura de uma pessoa que não existe.
Procura da chave da liberdade para me tirar da prisão.
Mas nada disto encontrei.
Agora já não sei,
enterro o rei da capa cortada,
na minha lapa revive-se a minha vida mais privada,
"Procuro aquilo que não encontro".

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Eu, o Cognome e Eu. (v.s.a.)

Eu, o Desvio do Vento
e o Movimento Contrário ao Tempo.
Eu, Alguém que é Ninguém
e o Boneco Pousado na Prateleira dos "Sem".
Eu, o Poema Nunca Lido
e o Rio Mais Poluído.
Eu, o Dente Substituído por Baixo da Almofada
e o Mais do Menos do Nada.
Eu, a Pessoa que já Morreu
e o Minuto que já Desapareceu.
Eu, a Comida Fora da Validade
e a Desprezada Realidade.
Eu, o Sangue Derramado
e o Coração Apertado.
Eu, o Grito Abafado
e o Nó da Garganta Apertado.
Eu, a Sombra mais Escura da Negra Solidão
e os Olhos que Nunca mais Abrirão.
Eu, a Morte da Calma.
Eu, o Despedaço d'Alma.
Eu, Apenas Eu.

sábado, 18 de setembro de 2010

Necessidades. (ponto final)

Não preciso do dinheiro para comprar.
Não preciso da vida para viver.
Não preciso da morte para morrer.
Não preciso de pessoas para socializar.
Não preciso da roupa para me vestir.
Não preciso da boca para falar.
Não preciso do cérebro para pensar.
Não preciso do ar para respirar.
Não preciso da comida para comer.
Não preciso da água para viver.
Não preciso de não ter para sentir falta.
Apenas preciso do que não preciso.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Tolerância - A Caminho da Desgraça

Acordo.
Desligo tudo o que deixei ligado.
Preparo-me para sair e ir trabalhar.
Saio.
Chego à estação.
Entro no comboio e sento-me.
Olho para a janela e vejo:

Vejo muitas casas,
vejo um rasto de plantas,
vejo muitas pedras.
Vejo uma criança a brincar na estrada,
vejo adolescentes a vandalizar a mente de uma criança,
vejo um acidente de carro,

Levanto-me e saio.
Trabalho.
Acabo o trabalho diário.
Vou-me embora.
Chego ao comboio.
Sento-me.
Olho para a janela e vejo:

vejo um roubo,
vejo um bêbado a gritar irritado com toda a gente,
vejo um homem a ser esfaqueado por adolescentes,
vejo um assalto a um banco,
vejo casas históricas com gatafunhos nas suas paredes.


Saio do comboio.
Chego a casa.
Deito-me no sofá.
Vejo televisão.
Vejo o primeiro-ministro a dizer que o país está num bom caminho.
Vejo televisão.
Adormeço.

Acordo.
Desligo tudo o que deixei ligado.
Preparo-me para sair e ir trabalhar.
Saio.
Chego à estação.
Entro no comboio e sento-me.
Olho para a janela e vejo:

Vejo uma briga,
vejo uma pessoa a chorar,
vejo alguém a suicidar-se,
vejo um prédio a desmoronar-se,
vejo um tiroteio entre gangs,
vejo brancos a espancarem um preto,
vejo alguém a morrer,
vejo um placar que diz:
"Estamos num bom caminho"
situado à frente de um bairro de lata.

Ouço o comboio a chiar intensamente.
Deixo de ver.
Não revoltar e morrer.

No Café Da Minha Rua

No café da minha rua
estão lá sempre as mesmas pessoas
sempre nos mesmos lugares,
sempre com os mesmos cigarros,
sempre com os mesmos cafés,
sempre às mesmas horas,
sempre a falar das mesmas outras vidas.

Mas hoje, em dezassete anos, mudaram,
não as mesmas pessoas,
nos mesmos lugares,
com os mesmos cigarros,
com os mesmos cafés,
sempre às mesmas horas,
mas sim,
a falar duma nova outra vida.

Só para observação,
tenho um novo vizinho.