A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Tangas E Mangas


Há aquelas mulheres que merecem o respeito do coração
e há aquelas que são cadelas
que se acham belas donzelas
mas são desprezadas abaixo da escravização.
Nós, os homens, somos todos iguais
só porque há burras que escolhem os gajos que estão a mais!?
Nepia, não fales à toa,
limpa mas é esse esperma no cantinho da tua boca,
tu é que tens tanta fama de perna como de puta louca.
Sê bem-vinda à realidade, isto não é um conto de fadas,
tu é que decoras um gajo com músculo
que só serve para te dar chapadas.
Tu é que vais atrás do coro manhoso
de um príncipe encantado
mas depois chama-lo merdoso
por te ter desprezado
quando viu uma gaja boa e olhou para o outro lado.
Mulheres como tu não são consideradas gentes,
são prémios dos homens,
objectos irreverentes de usar e deitar fora
quando começam a criar desordens.
Por isso decora:
se quiseres continuar como essas espécies de mulheres
faz a posição que o teu homem adora,
não é por causa disso que andas sozinha agora?
E depois dizes que ele não te merece,
mas então qual é que é a tua prece?
Ah! Já sei!
Andas aí a rodar à GT
à procura de quem mereça as tuas mamas?
Não sei para quê, toda a gente as vê.
Diz-me lá, procuraste o principezinho em quantas camas?
Não o achaste em nenhuma parte
porque só andaste com gajos que fazem do sexo uma arte.
E depois admiras-te por te acharem um mero anexo para o abate.
E, cá para mim, a coisa funciona assim:
ele tá-se a cagar para ti
porque há mais vacas como tu
que viram sempre o cu,
és namorada de um namorado
que fode numa outra morada
e tu nem sequer dás conta de nada.
Podes vir com insultos
e tumultos, tu nem sequer
sabes o quão sujos
são os nomes nas tuas costas.
Tu és um jogo de apostas
onde basta um par de notas
que tu te encostas e roças,
tu até já o fazes inconscientemente
que a coisa acontece assim muito rapidamente.
Tu não és uma mulher, és uma dama,
uma peça de xadrez,
o amor do teu gajo é só da cama,
tu é que não o vês.
Estás sempre a ser encornada
porque nessa relação
és a única pessoa apaixonada
mas isso não é traição.
Pois então,
cadela que é cadela
anda só atrás de cão?
Ah já entendi!
É aquela história macabra
em que tu és a cabra
há espera do príncipe real
para te transformar em princesa
mas enquanto não encontras o tal
vais deixando mais uma pila tesa.
humm... agora vejo...
tu no sonho e eles no desejo...
bué-da fixe...
tu na fantasia e eles no fetiche...
o único espaço que ele quer conquistar é na tua vagina
não no teu coração,
a ironia é que vens falar com mania
mas a tua personalidade está no teu rabão.
A tua lista já é um rolo,
ainda por cima
só consegues foder no patamar do bartolo.
Da vida é só isso que te vale
que a verdade não se cale
sobre quem não tem miolo
como esse teu cérebro feito de bostas
de tal maneira que já se considera um dom.
Olho para ti
e sinto... sinto.
Tu tens... tens...
apenas, tens.
Nos teus olhos...
no teu olhar...
há... é...
simplesmente é!
Não há palavras
mas tu existes...

terça-feira, 26 de junho de 2012

A Minha Casa

O que esconde um sorriso?
Será que é verdadeiro
numa criança cuja a existência
é a de um objecto
para espancamento
dentro de uma casa em decandência,
quero dizer,
para onde vão as lágrimas
se os esgotos estão entupidos?
E ainda não entendi se há tecto
ou se o sol não quer entrar
porque está escuro,
já nem olho por cima de mim
porque nesse universo há um furo,
uma escapatória, uma ilusão
que ilude a ilusão que se tornou a realidade
de uma solidão que não encontra o sentido
neste labirinto que se tornou a verdade,
estou completamente perdido,
não sei o que é verdadeiro,
desconfio,
já desconfio da minha desconfiança
porque as minha janelas são espelhadas por dentro
e não inspiram confiança,
sempre que me olhava por elas
rachavam pelo meu centro,
estilhaçavam por todo o meu corpo
e dissolviam-se nos meus músculos
consumindo cada oportunidade
de um sorriso na realidade.
Que casa é esta?
Onde a sociedade se torna desonesta
porque armários não são para guardar,
são para esconder,
corredores infinitos
cheios de vazio onde o oco
de uma voz tão feroz
em suores hirtos
que inundam pouco a pouco.
E se eu for infeliz?
Foda-se,
esta casa nem fui eu que a construí
mas no entanto pertenço tanto aqui
como estas paredes húmidas,
de pele a cair tão devagar...
já não reconheço...
será maldição?
Eu sou a contradição
enquanto estiver vivo...

sábado, 23 de junho de 2012

A Crónica Do Poder Crónico


Meus Senhores,
mandei organizar esta conferência de empresa para vos informar da lista de mortos. Antes de mais, devo acrescentar os meus pêsames a todos os que estão para morrer em breve na lista e os que já morreram. Agora o mais importante, a resposta à pergunta que todos têm feito nestes últimos dias: quem vai ser o último a morrer? Pois bem, cidadãos, serei eu. Visto que não podemos pôr nenhum ser humano fora da lista, devo ser eu o último a morrer. Em primeiro lugar, porque fui eu que fiz a lista das sentenças. Em segundo lugar, porque sou eu que mando matar e, como vocês devem imaginar, não é nada fácil mandar matar, às vezes é preciso sermos nós a ter de disparar o gatilho porque há coisas que me ultrapassam (felizmente é só isto) como a cambada de incompetentes sem profissionalismo nenhum que nem a burocracia sabem fazer e, como devem calcular, eu - que preciso de dormir as minhas dez horas por dia - tenho de me levantar mais cedo, tenho de me vestir logo de manhã, tenho de sair à rua logo de manhã, tenho de entrar num carro logo de manhã, ir até ao Terreiro do Paço logo de manhã, que são exactamente quinze minutos e fuzilar eu próprio as pessoas da lista, ainda tenho de as ouvir berrar histericamente, o que, como já devem ter percebido, não é nada saudável para a minha cabeça. E para concluir, a minha função é mandar matar, e só posso morrer quando não houver mais nenhum ser humano para mandar matar. Na verdade, serei a penúltima pessoa a morrer, porque tenho de mandar alguém matar-me, como devem imaginar não posso mandar matar-me a mim mesmo, tem de ser alguém com patente mais baixa, inferior. Mas esse, também já o escolhi: nada mais, nada menos, que o meu filho. O que me levou a tal conclusão foi que não há ninguém mais melhor que eu e sinto que são nos meus órgãos genitais que está a esperança e salvação da Humanidade. E quem será a mulher que terá a honra de partilhar os genes para a continuação da nossa espécie, perguntam vocês, e eu respondo, que será um óvulo modificado geneticamente para que o meu futuro filho possa, como um das funções principais, ser fisicamente igualzinho a mim e assim possa criar uma estátua minha. Eu que estão a questionar-se como é que o meu futuro descendente vai aprender a construir uma estátua. Pois bem, também pensei nisso, será, neste caso, um livro. Agora vocês perguntam-se como é que o meu futuro filho aprenderá a ler, também já tinha pensado nisso, será, sem tirar nem pôr, eu. Agora os senhores estarão a pensar como poderei ser eu se consto na lista para morrer e eu respondo assim: ressuscitar. Criámos, meus senhores, um aparelho totalmente eficaz que ressuscita depois de três segundos morto. e portanto, voltarei à terra para continuar matar. E agora, meus senhores, devo anunciar-vos que todos terão este aparelho convosco, para eu poder continuar a mandar matar como exige a minha profissão, mas não se preocupem, vocês ressuscitarão para eu voltar a mandar matar-vos e depois de mortos, ressuscitarão para eu poder voltar a mandar matar-vos e assim sucessivamente.
Obrigado e até à próxima.

Preto e Branco?

Estou sentado no sofá
a ver o mundo a acontecer pela tv,
estou do lado de cá
aconchegado,
sem questionar o porquê,
só vejo factos e acontecimentos
preocupações banais,
erros considerados normais,
mas não vejo momentos
a não ser este prato de todos os dias,
vejo guerras como se fosse cinema
às vezes mudo o canal
porque o coração torna-se um problema
questionando irracionalidade animal
mais sangrenta a humana
que não se contenta em matar
não é amor, é vício o poder de poder torturar
que por amor à paz deve castigar,
quanto mais sei mais questiono:
se este mundo tem dono,
condenou-nos ao abandono?

Mas à parte disso,
vejo a fé num sorriso,
numa risada,
numa conquista,
num grito de liberdade,
numa ajuda,
vejo actos tão simples não divulgados,
são os pregos para buracos
onde escapa o vazio
nesta máquina do mundo poluída,
condicionados por esta vida
que pode ser tudo
se por todos lutares,
pode ser uma vida cheia
se houver lugares
preenchidos por amor
que de sempre em sempre semeia
porque o amor cresce naturalmente...




quinta-feira, 21 de junho de 2012

Colagens

Não uso o baralho todo
nem bato bem da cabeça,
dou-te toda a razão
e ainda sou eu a acabar a tua frase,
porque o que dizes
já estou farto de ouvir,
na verdade não me fartei
usei apenas um expressão
porque eu já sei
a que horas contas
as mesmas palavras
e demonstras
um sabedoria previsível
onde estamos todos incluídos,
não é totalmente plausível
mas tu fazes a tradução
da minha dicção
que só a ti é perceptível.
Mas como és tu incrível,
quem te inventou?
Precisamos de mais vindos
de onde te fizeram,
não sei se erraram
ou se quiseram,
mas se foi erro
então eu também quero errar
mas não vergo linhas
para continuar
porque não sei contar
quantos contos hei-de contar,
vem mais um pedaço
para eu despejar,
como admiro
estas asas de aço
que visto, firo
e resisto
com mais sorrisos sinceros
que iluminam
olhos escuros
porque eu sou feito de furos
que não me dominam.

terça-feira, 19 de junho de 2012

[O Título És Tu Que Escreves]


O que vos é normal é indiscutível
mas quando há uma realidade contraditória
aos vossos olhos é sempre impossível,
é sempre a mesma história...
espero na esperança de ver o fim
enquanto escrevo estes pares de versos,
tomara que fosse tão simples assim
mas sentimentos submersos
são vozes berradas nas bordas
de um corpo às voltas a si próprio
sem saber onde cair morto
questionando se o planeta
é mesmo assim ou é do ópio...
mas deixemos essa treta
e vamos ao que interessa,
mais uma vez estamos a ter esta conversa.

Esse olhar a mim não me engana,
podes vir com aldrabices,
só estás é a dar cana,
mas eu não estou para chatices,
faz o que quiseres,
já cansei, fiz de tudo e agora não sei,
deves gostar de me ver sofrer,
não tens noção,
não consegues perceber
as facadas no que dás no meu coração?
Não sabes o quanto estou a enlouquecer,
de mãos na cabeça sem saber mais o que fazer.
Tornas-te uma ferida na minha alma,
tem cuidado, está a ficar em crosta
e ficarei apático em relação a ti,
mesmo que infecte eu tive a dignidade de ficar aqui,
exactamente aqui, bem ao teu lado,
mas eu continuo a lutar pelo nosso Fado
em nome dos nossos laços
mesmo que novos dias sejam fracassos,
morreremos unidos,
por mais que me possas magoar
continuarei sempre a amar-te.

Eu sei e nós sabemos que a culpa não foi tua,
nós lutámos, esforça-mo-nos mesmo que cada dia seja escasso,
mesmo que um dia a nossa casa seja a rua
temos o nosso amor que me acalma em cada teu abraço.

Acima de tudo eu te agradeço
porque o teu amor não tem preço,
ensinaste-me a perder,
a conquista a mim não me diz nada,
maior luta é a de sobreviver
e cada dia é-me uma nova chapada.


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Espelho Meu, Sou Só Eu?

Dizem que o mundo é redondo
mas eu vi um canto em cada pessoa,
e pior, vi pessoas engolidas por um canto,
nem conseguia perceber se o vazio estava nelas,
se o vazio eram elas
ou se elas é que estavam no vazio.
Não foi o silêncio,
não foi a falta de palavras,
foram as palavras a mais,
o paleio frio enganador
revelador da dor
da ausência de amor.
A personalidade é insuficiente
e o indivíduo fica dependente
dum vício necessário de demonstrar
algo irreal, um ser ou ter,
acabando por soletrar
na covardia de parecer.

Porque o que deixou de ser
era o que foi parecer,
então o espanto
de alguém ser tanto
que parecia um homem
nunca deixou de ser criança
num canto qualquer da desordem
da agonia e amargura
que se quer esconder na esperança
de alguém ter a cura
ou uma mão honesta e mansa
cheia de encher o vazio
de uma realidade
daquele que nunca conseguiu ser frio.

Espelho meu, espelho meu,
será que sou só eu?

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Primeira Impressão

Julgaste-me na primeira impressão,
ouviste falar do meu nome 
e achaste conhecer-me
antes de me conheceres em primeira mão.

Pois então,
como me conheces se nunca conversaste comigo?
Sabes se o cão que falou de mim é meu amigo?

A matemática de deduções é perigosa
quando se ergue só numa linha de reflexões rigorosa,
porque quando se odeia, 
odeia-se a pessoa e tudo o que ela faz
e quando a acção é boa, as intenções são más.
Não é esse o pensamento que o ódio semeia?


Não sei onde cair morto,
falo dos poemas da minha alma que tu desprezas
para mais tarde leres com calma as minhas rezas,
e à medida que me torno uma mera memória
os meus poemas tornam-se mais vivos.
Morri, não há nada mais a escrever,
é o fim da minha história,
adormecido num caixão sem adjectivos
porque não me quiseste ler
mas no entanto estranhaste
alguém ter falado de mim no funeral,
não me conheceste assim,
afinal, era irreal o que pensaste.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A Máquina do Mundo.

Trabalha, trabalha, trabalha. Trabalho!
Traball, traballo, tripalium, três paus!
Instrumento-para-subjugar-animais-forçar-escravos-a-aumentar-a-produção!
Trabalha, trabalha, trabalha. Trabalho!
Traball, traballo, tripalium, três paus!
Instrumento-tortura, crucificar-escravo, ficar-cruz-pregado!
Trabalha, trabalha, trabalha. Trabalho!
Traball, traballo, tripalium, três paus!

O Homem trabalha.
O Homem trabalha.
O Homem trabalha.

Trabalha, trabalha, trabalha. Trabalho!
Traball, traballo, tripalium, três paus!
Instrumento-para-subjugar-animais-forçar-escravos-a-aumentar-a-produção!
Trabalha, trabalha, trabalha. Trabalho!
Traball, traballo, tripalium, três paus!
Instrumento-tortura, crucificar-escravo, ficar-cruz-pregado!
Trabalha, trabalha, trabalha. Trabalho!
Traball, traballo, trabalho, tripalium, três paus!

Traball, traballo, trabalho, tripalium, três paus.
Vida-em-três-idades.

A criança trabalha, a criança trabalha, a criança trabalha e a criança trabalha!!!
A-criança-trabalha-na-escola-para-mais-tarde-trabalhar-melhor.
A-criança-trabalhará-melhor-e-será-alguém!
A criança trabalha, a criança trabalha, a criança trabalha e a criança trabalha!!!

O Homem trabalha.
O Homem trabalha.
O Homem trabalha.

Traball, traballo, tripalium, três paus!
Vida-em-três-idades!

O adulto trabalha, o adulto trabalha, o adulto trabalha e o adulto trabalha!
O adulto trabalha para a família trabalhar melhor!
O adulto trabalha para viver para trabalhar melhor!
O adulto trabalha, o adulto trabalha, o adulto trabalha e o adulto trabalha!

O Homem trabalha!
O Homem trabalha!
O Homem trabalha!

Trabalha, trabalha, trabalha. Trabalho!
Traball, traballo, tripalium, três paus!
Instrumento-para-subjugar-animais-forçar-escravos-a-aumentar-a-produção!
Trabalha, trabalha, trabalha. Trabalho!
Traball, traballo, tripalium, três paus!
Instrumento-tortura, crucificar-escravo, ficar-cruz-pregado!
Trabalha, trabalha, trabalha. Trabalho!
Traball, traballo, trabalho, tripalium, três paus!
Vida-em-três-idades!

O idoso trabalha, o idoso trabalha, o idoso trabalha e o idoso trabalha!
O idoso trabalha solidão!

O Homem trabalha.
O Homem trabalha.
O Homem trabalha.

O idoso morreu.
O idoso morreu, o idoso morreu, o adulto morreu e a criança morreu!
A criança não está a sonhar!
O adulto não está sustentar!
O idoso morreu sem aproveitar!

O Homem trabalha.
O Homem trabalha.
O Homem trabalha.

Trabalha, trabalha, trabalha. Trabalho!
Traball, traballo, tripalium, três paus!
Instrumento-para-subjugar-animais-forçar-escravos-a-aumentar-a-produção!
Trabalha, trabalha, trabalha. Trabalho!
Traball, traballo, tripalium, três paus!
Instrumento-tortura, crucificar-escravo, ficar-cruz-pregado!
Trabalha, trabalha, trabalha. Trabalho!
Traball, traballo, trabalho, tripalium, três paus!
Vida-em-três-idades.

Temos de trabalhar!
Temos de trabalhar!
Temos de trabalhar ou morremos a tentar!

Trabalha trabalha trabalha trabalha trabalha trabalha
trabalha trabalha trabalha trabalha trabalha trabalha!

Descansar para trabalhar!
Comer-beber-respirar-e-mijar!
Necessidades básicas para o Homem trabalhar!
São os nossos direitos à roda do trabalho!
Trabalho! Trabalho! Trabalho! Trabalho!
Traball, traballo, trabalho, tripalium, três paus!
Instrumento-para-subjugar-animais-forçar-escravos-a-aumentar-a-produção!

Trabalha trabalha trabalha trabalha trabalha trabalha
trabalha trabalha trabalha trabalha trabalha trabalha!

A Cidade de Deus

Aos jovens que vão pisar o chão
que esteve por baixo dos meus pés,
quando já nada restar de mim,
deixo-vos o que eu vi e senti
destas ruas e lares
que eram mais ou menos assim:

Cobre uma nuvem gigantesca e espessa sobre o Rio Tejo.
Não conseguimos ver o céu que está para lá da nuvem...
tão glorioso, tão apaixonante e viciante... tão confortável...
tenho saudades desse céu...
se é como a minha imaginação conta quando olho a nuvem.
Tenho tantas saudades desse céu libertador,
de um ar tão leve que mesmo estando na rua
sentimo-nos em casa, no nosso lar..
Saudades... nunca o vi ou senti.
Mas quando olho para essa nuvem tenebrosa
ergue-se em mim uma luz,
como se eu fosse o próprio sol desse céu tão perfeito e distante...

A nuvem, quando nos cai em cima, rouba-nos a esperança...
Essa nojenta chuva ácida, que nos corrói tornando-nos em ódio...
e sem querermos acaba por ser contra nós que batalhamos...

Menos àqueles que possuem guarda-chuva,
que podem fugir para lá do horizonte do nosso horizonte...
esses, esses que podem, esses que possuem, esses poucos
que nem valem uma milésima de nós...

Mas o que é preciso para fazer desaparecer essa nuvem?
Parece intocável... por mais que a tentemos agarrar, ela escapa-se...
Parece encoberta... todos os pertencentes desta terra
acreditam que é mesmo assim o nosso céu,
cinzento, oscilando somente entre o preto e o branco, monótono...
Mas porque nunca viram o céu, o verdadeiro céu...

O céu que nos é direito inato...
e que nos foi roubado para agradar uma dúzia de pseudo-deuses,
que se acham poderosos e superiores mas que morrem da mesma maneira que nós.
Também nos roubaram a consciência.
Desconcientes, menos quando chove. Quando chove,
eles reclamam, eles sentem a turba, o nosso animal,
que provoca terramotos em qualquer terra,
mas os coitados, com mais esperança que sapiência,
acham que o nada que fizeram é tudo,
não sabem conduzir o animal,
só querem sentir e pertencer-lhe...
é a fome do ódio e a ânsia de vingança
deste nosso desespero arrastado...
tantos séculos de arrasto...
já está nas nossas veias,
acabando por se tornar em veneno,
essa ganância por resultados:
nada, absolutamente nada.

Essa chuva ácida,
essa maldita e eterna chuva ácida
dessa maldição de nuvem,
apodrece as nossas belas flores,
derruba as nossas estátuas,
desfaz os nossos monumentos,
rouba as cores da nossa Bandeira,
enrouquece o nosso Hino,
corrompe a nossa Língua...
já não reconheço a nossa Pátria,
vivemos numa Pátria sem memória...

A origem da nuvem está no motor das fábricas,
fábricas essas que se alimentam do desespero dos nossos
para que as suas chaminés possam expelir a fórmula da nuvem...
E assim conseguiram criar um motor para fazer rodar o mundo,
porque o planeta está corrompido, por si só, no seu modo natural, já não roda...
era necessário electricidade, mas está estática,
dá para senti-la à nossa volta, até faz comichão,
mas o pior: é invisível...
foram as fábricas, que se alimentam da morte dos homens,
que lhes devora as almas, e é do esforço desses homens sem vida,
que tão monotonamente fazem girar a carcaça pêrra do nosso planeta.

Mas quantos se ergueram perante a fatalidade...
agora jazem enterrados, e são mortos, e são histórias esquecidas...
transformam-se em pedras... em pedras da calçada.
A nossa calçada é feita dessas nossas pedras.
Mas todos estão tão preocupados em olhar em frente
que não reparam no que pisam, nas pedras, nos mortos nossos...
Não temos consciência de que essas pedras são feitas de almas.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Humanozinho

Insónias com tonturas,
não sei se foi de dar voltas na cama
ou se do planeta que não pára de rodar,
e no meio da noite e das loucuras
há uma voz que me chama,
um substantivo que não consigo pronunciar
mas é imensamente apelativo,
não sei se real, se da minha mente,
mas de repente achei-me dependente
de um sentimento que não me larga
e não me deixa seguir em frente.

Essa voz nasce na noite clara
deixando-me despreocupado de tudo,
barulho torna-se silêncio, fiquei surdo,
focado só na voz que não mostrou a cara.

O tempo continua e não encontro nada,
procuro nas ruas do meu pensamento,
nada se quer se não em sonhos
que dão satisfação no momento,
no momento da frustração
onde não existe o tempo.

O sol renasce todos os dias
mas eu vejo-o sempre igual,
eu acordo sempre diferente
e é por isso cresço e morro.

Eu vi a voz porque eu preciso.
O sol não, o sol apenas existe...

sábado, 9 de junho de 2012

Hoje o vosso céu é o meu chão
e o vosso chão é o meu céu.
Com os pés a pisar o ar,
de cabeça a apontada à terra.
Porque hoje o que é real é a minha imaginação,
sem qualquer razão ou regra.
Hoje apetece-me andar assim,
substituir as estrelas pelas árvores
e dizer que o extraterrestre é o ser humano,
sou vizinho da Terra, sou seu satélite,
hoje não há céu que me contenha,
porque hoje sou sonhador realista,
caminho por baixo das nuvens
que por baixo de mim estão,
não preciso de estrelas,
estou contrário a tudo,
porque hoje eu sou nada.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Tudo O Que Eu Quiser

Eu tenho um botão que fala comigo,
ele não se chama nem tem nome,
cigarros é tudo o que preciso
só não estou pendente.
frases sem sentido,
cabeça desvairada
a rodas de um pensamento desentendido,
mas quem precisa de entender?
A única coisa que eu quero é escrever.
Não tenho interesse em saber
o que é que o senhor tem a dizer,
até posso escrever em alemão,
o papel é meu e também o meu coração,
portanto não vejo razão
de haver uma justificação,
a não ser que me saibam dizer o que é arte,
ou poema,
porque quem perde tempo a pensar
não está a criar.

Carta À Humanidade

Eu sou ignorante, porque sou infeliz,
sou preguiçoso porque estou triste,
sou morto porque tenho lágrimas,
mas apesar de tudo,
sou a felicidade desesperada,
sou sonhador lunático,
porque amo quem me ama
e quem me desama,
o meu sonho é incompleto
porque não sonhas o mesmo que eu,
a justiça.
Mas tu tens a certeza que não mudará
sem nunca teres experimentado
e eu estou certo que a evolução está na mudança,
mas temos de estar todos juntos
porque a luta não está no fazer,
está no não fazer, no não pagar os impostos em protesto,
não alimentar este capitalismo cancerisno que nos corrompe a alma.
Todos juntos, se não nos mexêssemos todos,
o mundo pararia e brindava-se o fracasso dos males,
porque nós temos estado a fazer,
mas erradamente...

P.S.:
Abraçarei o meu assassino com toda a força que me restar,
seja ele pessoa, seja ele o tempo, seja ele uma corda...

Crítica Avacalhada

Esta é a corrida de ser alguém,
o dinheiro cai como a chuva,
cães e gatos,
em copos e pratos,
em factos e desacatos,
são traças e chatos,
hoje apereceram todos cá
para sentir o poder do meu coração,
trezentas mil potências de watts no meu coração,
e faço músicas eternas e efémeras
mas é no esquecimento,
este é o avacalho de rimas
desidratadas e sem trabalho,
tu nem sequer estimas
então vai para um sítio que eu cá sei,
de qualquer das formas eu sou rei
da caneta e prego ao papel
tão suavemente e facilmente
crio pláticos fanáticos
pelo estupidez de conquista sem desafios,
isto é como pôr sombra na escuridão,
é igual a nada,
porque eu escrevo à chapada,
ainda não houve respeito por esta coisa,
chamam-lhe o que quiserem,
isto é a modernidade da letra,
sou muito moderno e uso chupeta,
adivinhem quem sou,
ainda faltam tampões para os ouvidos
e já me chamam de peta,
é o deboche total,
com uma frase tão brutal
e já valho bastante
o suficiente para retirarem deste poema
a frase muito interessante
escasso em tema.
A poesia é o que eu quiser
homem ou mulher,
ou merda o quanto-basta de uma frase tamanho colher
de remédio contra o tédio,
porque é batota estar ébrio,
não bato bem da cabeça
e penso de lado porque sou buéééééé diferente
dessa gente que pensa
mas que não compensa a sociedade
ainda no avacalho falo mais uma outra realidade
e disparo bostas comerciais e tudo o mais,
olhem para mim sou um intelectual demais
e de mais a mais aparecem uns quantos iguais
que fizeram tanto quanto eu faço sentado numa sanita
a fazer um esforço para me sair caganita,
mas hoje até já se aprecia disso,
dão-lhe vários nomes,
até dizem com caridade se tira fomes,
é arte do tudo que faz rigosomante nada,
porque só nos contos de fada é que há final feliz,
eu bem que quis mas hoje prefiro aparvalhar,
caricaturar até à exaustão
ficar a falar até ensurdecer
para piorar ainda mais a situação
vou continuar até depois de morrer,
eu sei que é uma desilusão
mas olha lá a minha cara de preocupado,
encontras? Pois não existe,
não fiques chateado
se quiseres mostro-te umas montras
assim tipo pó coiso facebookianas
onde podes escrever que tens fome
e toda a gente se identifica,
é sem canas
e ainda te consome
a mentira virtual de uma vida que se estica
e pum! rompe-se,
mas que diferença fez?
foi apenas mais um
e como vez, desses temos aos molhos
que com estes meus olhos
vi-os correr à volta de uma rotunda
à procura de uma vida profunda,
mas o profundo é o vazio deles,
por isso andam em manadas
sem opinião de jeito
é só para o intelectual respeito
e concordam no preconceito,
gente destas é o que se pede,
para o demónio é um autêntico filme pornográfico,
qualquer dia ele fica demasiado cansado
porque nós já fazemos assim naturalmente
que ele se nos manipular é só para fazer o bem
e se nós já somos maus por natureza
onde está a beleza do coitado que passa a ser ninguém
porque o ninguém é sempre igual aos outros
partículas brancas de uma tela,
indistinguíveis,
a única diferença é o corpo
que lhes torna sexualmente irresistíveis,
assim se faz mais um aborto,
já devem sair pelo ânus
mas para onde caminhamos?

O Comercial Absurdo

Então tudo bem?
Olá o meu nome é violador
venho violar a língua portuguesa
com tanta beleza
que vocês vão me ter amor.
Eu sei eu sei,
eu sou rei em sentenças preconceituosas
e fraseio em falácias ranhosas
para satisfazer a vossa burice.
Autógrafos só para a ignorância
nada de inteligência aqui,
eu sou pela mentira, não pela ciência,
sabem como é, é uma nova corrente
assim para o muito independente de tudo
até da verdade porque eu sou revolucinário,
não sou mudo, classificado como otário
pela gente a quem calha o malmequer.
Comercialóide e tudo o resto,
eu presto pensamento funesto
a quem toda a gente me presta
um altar para a festa.
Mas eu prefiro pedir sexo emprestado,
gosto de variar apesar de pensarem que é para sempre,
mas como vivo bué e ando sempre contente
não gosto de ter uma parceira permanente.
Afinal, só se vive uma vez
e eu não tenho tempo para pedir desculpas,
há mais porcaria a fazer,
obrigado obrigado, eu sei que sou bom,
isto de ser o melhor no meio da desgraça não é para todos,
é só para quem tem dom.

Carta Leitor

Enfrenta a morte com dignidade, irmão,
e não receies o tempo que ela demore.
Vive, a realidade existe.
Seja ela uma ilusão.
Se a sentires, é porque existe,
mas não vivas em sua função,
vai até onde o olhar não consegue chegar,
e não creies em definições.
Definições são como pratos de ementa,
tudo está, é certo, relacionado,
até no oposto e contrário.
Busca nos espaços das minhas palavras
o mundo que deixei por escrever,
que não conheci,
que não tive vida para conhecer,
traz algo novo ao mundo
e toma o que eu não tive
para que o que não tenhas,
de importante, realmente importante,
possa existir nos próximos que hão-de vir.
Nem sabes, leitor, o quanto amo o mundo,
o quanto amo o segundo que foi,
o segundo que é e o segundo que virá,
porque todos esses segundos são eu,
um novo segundo vem e um novo eu existe.
(Somos nós, os animados, que fazemos o tempo,
porque nós damos-lhe espaço e corpo.)
Deixa-me exprimir o amor que sinto,
sou capaz de beijar o meu sacrifício
se assim for necessário à felicidade do mundo.
E não temo, porque amor que ama,
não mede limites de visão
e tem o universo todo compilado no coração.
Eu sou o amor e a paixão,
e por isso luto ferozmente
contra quem te faz mal,
mas sou impotente,
por isso te escrevo
porque tu me és igual:
ser humano.

O Nós Dois

Vou-te contar uma história,
um, dois e lá mais tarde o três,
era felizes antes de ser uma vez.
Falas-me ao ouvido,
tocas-me suavemente com a tua mão
e eu fico todo fodido
porque não chegámos a finalização.
Deixaste-me com fome,
cheio com essa sensualidade,
ainda mais apetecível
ao dares-me para trás maliciosamente,
já me tens na mão
mas não me importa,
sou eu que te vou possuir,
tu conduzes a história
mas sou eu que escrevo
o que te vai ficar na memória,
não vais conseguir esquecer,
porque virei valente
com tanta paixão
vais abrir o presente
e sentir a surpresa da perfeição.
Não há nada a dizer,
o mundo acontece-nos,
só precisamos do tacto,
os outros sentidos são irrelevantes
nem conseguir chegar ao último acto,
porque eu sou o dono do teatro
e sei os teus focos de luz,
esta é a minha encenação
hoje vamos conhecer o universo
sem tirar os pés do chão.

Sou Uma Personagem De Tchekhov

Desculpa este meu mundo confuso,
eu... eu já tento evitar falar,
porque todos os sentimentos
estão acontecer ao mesmo tempo...

Não compreendo...
e compreendo porque não compreendo...
os músculos da minha jovem face estão a paralizar...
às vezes dou por mim numa ilusão da minha própria ilusão,
é tudo causa da minha infância...
nunca cheguei a crescer...
ninguém pode avançar quando tem algo por resolver,
algo tão forte como a alma...
tenho tantos buracos e roturas...
E enfio a mão nelas a apalpar o vazio...
procuro cosê-las com ilusões
e já as levo comigo para todo o lado.
O organismo é tão perfeito como uma equação complexa,
o problema é quando há uma série de incógnitas...
quem me dera poder tocar piano,
traduziria tudo que sinto em notas
e vocês ouviriam apaixonadamente sem saberem
o que é que as notas da minha alma quere dizer...
sou ser humano, o que me aconteceu está nas minhas veias,
a merda da opressão... o planeta aperta-se contra mim,
sinto-me sufocado, só quero respirar nos pulmões de outra pessoa...
sou a decadência de um rapaz solteiro
e só sei queixar-me romanticamente
como uma criança que só se cala com chupeta.
Sou uma personagem de Tchekhov.

O Inferno Que O Inferno Me Apelidou

Ele disse:
com estes olhos verás as desgraças do mundo
mas nada poderás fazer porque estarás a cair com ele.
Não terás forças porque esgotá-las-ás a resistir ao céu,
aos pensamentos destrutivos, sim, tentarás segurá-los,
mas não conseguirás travá-los porque infiltrar-se-ão nas tuas veias
e só poderás dar-lhes o fim se encontrares o fim da tua pulsação.
Morrerás sem nunca teres vivido.
O mundo desmorona-se à tua volta e tu cairás com ele.
Nada poderás fazer.
Só te resta assistir.
O ódio consome-te e desidrata-te.
Não verás o sol.
Nem qualquer outra forma de calor natural.
Tentarás encontrar no desespero alucinante
mas toda a água que beberes será a salgada
e por isso viverás das alucinações.
Todas as conquistas que tiveres serão vazias,
cheias de nada.
Tu és o fim do mundo.
Não tentes, não lutes, não te valerá de nada.

E eu fiz,
meu filho-da-puta,
contra todos esses cabrões eu me ergui,
eu entornei decadências em copos de vidro,
tornei-me mais forte que estas quatro paredes.
Tu troxeste-me o inferno
e eu pus o inferno a temer-me,
a gritar histericamente
apelidando-me de inferno.
Eu sou a nova forma de psicopatia,
o caos tornou-se algo normal
e contra o normal são os psicopatas.
Tenho-vos a todos nas minhas mãos,
na minha campa está a minha alma a berrar o vosso inferno,
seus cabrões, trouxeram as armas da ignorância
mas eu sou tão grande, tão volumoso e tornei tudo real e verdadeiro
que por pensamentos aleatórios vocês me acertaram.
Afastem-se, eu estou prestes a rebentar
e levarei todos os cabrões comigo.
Sim todos esses filhos-da-puta que se masturbaram no meu sofrimento
agora terão a paga!!! Eu ressuscitei!
Jogo sozinho neste mundo
mas eu sou maior que o vosso céu,
eu vou para onde os meus olhos olharem,
eu estou nos cantos de todo o mundo,
nada me escapa!
Quando eu for derrubado,
o mundo desmoronar-se-à
e eu acordarei desta merda de pesadelo,
desta voz que me acompanha,
a voz eterna dos oprimidos
que anseia tornar-se opressor dos opressores,
jamais poderei governar o mundo,
ou o inferno ao que vocês chamam,
comigo, chamarão de paraíso.

Estou só,
atirado num canto escuro do mundo,
no extremo,
tão só... tão pequeno...
chão.. chão? Mas o que é isso?
Não há chão que me suporte,
estou em permanente queda...
não há ninguém que mais me julgue
que eu, eu, que ando com o peso
de uma alucinação, numa pressão
de uma opressão onde não há ninguém
que não me odeie, a toda a hora ouço
a repulsa que o mundo tem de mim...
estou só, sozinho...
até os meus músculos têm nojo de mim...
o meu coração não me quer...
e o meu cérebro odeia-me,
todos os meus neurónios atacam-me,
destroiem-me...
só sei a matemática do sofrimento,
afastem-se de mim, sou um extra-terrestre,
estou a mais,
não há álcool nem droga nem sexo que satisfaçam a minha felicidade,
mas eu juro que sou igual a todos vós,
sou ser humano como vocês...
não fujam de mim por favor...
não me julguem, apenas sou consequência do que me aconteceu...

Que se foda!
Vão todos vocês à merda!
Posso morrer só!
Ponham-me de parte, vão pó caralho!
Seus filhos-da-puta ignorantes!
Quem vocês são para me apontar o dedo!?
Ainda por cima não são os meus actos nem as minhas atitudes que acusam!
É o meu silêncio!
Seus filhos-da-puta merdosos, vocês acusam-me do meu silêncio!?
Com tantos cabrões a destruirem o mundo!?
Vão todos à merda!
Quem disse que eu precisava de vocês?
Posso morrer no apodrecimento,
mas morrerei com dignidade!
Em todos os meus fracassos encontrarão a dignidade!
Eu sou digno de viver, por sofrer!
Eu nunca me esqueço!
Nesta solidão aprendo a amar!
Posso não saber como amar,
mas sei amar! Quantos de vocês podem orgulhar-se disso?
Quantos de vocês, que só amam os próprios músculos?
Eu não preciso de espelho para me ver, estão a ouvir?
Posso morrer só!
Ouçam-me! Eu quero morrer só!...
no colo de alguém...

Como estas lágrimas estão quentes,
afinal ainda amo...

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Amadora: As Ruas Negras - Parte II

Eu venho da terra de ninguém,
onde há mais ataques de preconceitos
do que roubos ou outras actividades ilegais,
onde não há deveres não há direitos,
todos os da minha terra parecem estar a mais.

Eu venho da terra do nunca,
onde não se encontra esperança nesta espelunca,
traça-se o destino entre a droga e a gravidez,
todos criticam mas não há quem lute contra os seus porquê's.

Eu venho da toca do lobo,
aqui, além de se snifar as grades,
também snifa-se as presas receosas,
expelem o odor a terror tornando-se deliciosas,
bem-vindo às terras de Hades.

Eu venho das terras do deserto,
onde não há afecto há ódio,
aqui o céu é o nosso tecto
e o carácter o nosso pódio.

Eu venho das terras sem chão,
onde há paredes invisíveis como uma prisão
e a primeira decisão é a queda
porque já se come pratos cheios de merda.

Eu venho das terras da escravização,
escravos sem literatura,
com muita experiência de vida
porque metade da comida é ilusão.

Eu venho das terras do acontecimento,
onde os últimos suspiros vão com o vento.

Eu venho das terras da culpa,
Onde vai a bala vai a culpabilização nos telejornais,
o morto inocente é culpado sem conhecer justiça nos tribunais.

Eu venho das terras da anarquia,
simplesmente porque a Constituição Portuguesa aqui é uma ironia
e só vemos senhores ao seu serviço casados com a hipocrisia.

domingo, 3 de junho de 2012

Dormir Acordar


(Não sei definir dormir.
Não me observo quando durmo.
Estive a aproveitar esse momento.
O que significa não reflectir.
Ou se calhar reflicto.
Não sei.
Nunca me lembro quando acordo,
ou se me lembro é de muito pouco.
Álcool. Quando se acorda nada é recordado.
É a perda da consciência.
Baldar à realidade.)


Bom dia meus senhores.
Hoje é um novo dia.
É novo porque acordámos.

Acordar é separar as pálpebras.
E ter consciência de que as abrimos.

Os nossos músculos relaxaram durante horas.
Daí sentirmos um novo dia.
O cérebro também é um músculo.
Por isso também deve acordar.
Preparado para enfrentar o sol.
Se acordar com preocupações passadas,
não acordou, apenas descansou.
E pesa-nos o levantar.

Dormir é descansar totalmente o corpo e a mente
enquanto a alma vagueia pelo seu próprio mundo.
Acordar é tornar o corpo, a mente e a alma num só.
E estar aqui. E agora.
Harmonia. Acordar é harmonia.

Não vos sei dizer o que é acordar com despertador.
É como ressuscitar um cadáver através de choques eléctricos.
O cérebro é ressuscitado, como um objecto electrónico
que, ao ligar a sua ficha à tomada, retoma as suas funções automaticamente.

Acordar é não arrastar o dia anterior nas nossas costas.
Acordar leve. Como a suavidade dos raios de sol matinal.
Acordar é não pensar que se acordou.

Acordei? Acordei? Estou acordado?
É isto, acordar? Abrir as pálpebras?
Será que os meus pés sentirão o chão?
Está tudo no sítio: móveis, livros, roupas...
A minha cabeça está pesada...
Dormi? Não me lembro...
Nem me lembro da última vez que fechei os olhos,
a derradeira vez em que os fechei e adormeci...
Acho que ressuscitei.