A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

sábado, 31 de dezembro de 2011

Olhos fechados,
sem os conseguir abrir,
de real não vejo nada
entre pesadelos abandonados
e fantasias de sorrir.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Estou perdido,
com tudo o que aconteceu,
ainda não me dei por vencido
mas derrotado sou eu
de cabeça erguida
como o tempo que passa
passa o tempo
a pedir desculpas à vida.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Cânticos De Julgamentos

Viver num mundo que não é meu.
Não encontro o meu mundo,
escondo-me em subterfúgios
e danço loucamente o sonho
gritando Ah's sobre ecos,
sendo olhado como louco
porque não quero chorar
e faço de tudo para não o fazer,
até me entrego às vergonhas dos actos
que tendem a não ser justificados...
exausto, suado,
continuo dançando
e todos se riem de mim,
nem uma alma pura
entende a coreografia
que justifica os porquês
oriundos de outras gentes...
Danço porque tenho sede,
preciso de água,
tenho pavor de pedir por favor,
de mostrar o que sou,
ser frágil, ser frágil...
dança Francisco dança
para que os maus fiquem
de longe a gozar contigo
e dessa maneira não se aproximam
com abraços confortáveis e traiçoeiros,
não pares de dançar
não pares de dançar
ou eles falarão de ti,
dança para eles falarem
do louco que dançou
das humilhações eternas
de um ser qualquer
que não tu
mas uma personagem que em ti há.
Dança, porque se parares
a corda vai lá estar
para abraçar as tuas lágrimas.
Foge, Francisco, dançando
pela mentira, pela fuga
à realidade, dança,
Francisco deixa-me possuir-te
deixa-me arrancar de ti
a tua alma...
Não passas do que és
porque não o deixas ser,
tens medo de viver
pelo teu verdadeiro nome.
Dança Francisco,
foge fugindo escondido no sonho
que te faz dançar sobre música irreal,
eu te dou o compasso
da mentira, do verdadeiro sentimento
da ira que construíste nessa fortaleza
tão gigante que auto-guarda
um ser tão pequenino...
é isso que tu és, não é?
Pequenino... "o pequenino Francisco"
como te chamavam,
NÃO É?
É disso que foges,
da lembrança dos abraços
traiçoeiros que tatuavam em ti o amor
mas que te abandonaram em criança
que te deixaram à mercê das maldades,
e tu, minha criança, não te sabias defender
das pancadarias que não entendias,
e só choravas, porque era a única
coisa que sabias fazer,
não é Francisco? NÃO É?
RESPONDE! PORQUE CHORAS
EM VEZ DE DANÇARES?
Olha para ti,
encravaste a alegria
por teres parado de dançar, vez?
Fizeste com que os risos
se tornassem em silêncios incomodados,
OLHA! Choras como a criança
que nunca conseguiste largar!
DANÇA FRANCISCO DANÇA
ou cairás na solidão
onde as nuvens tapam
o brilho das estrelas!
Não podes parar para beber água
as tuas pernas já tremem de cansaço
e os restos de água que tinhas
estão a desaparecer,
estás a ficar desidratado
mas não podes parar de dançar,
não podes parar de sonhar,
vê, a água que ainda guardas
só poderá sair pelos olhos
mas para isso terás de parar
de dançar e tu não podes parar de dançar
mas essas lágrimas estão azedas
porque não foram desabafadas,
não é Francisco?
NÃO É? RESPONDE!
RESPONDE A DANÇAR!
És amargo como um velho rabugento
que o é por não ser amado,
olha as rugas Francisco,
dança! DANÇA!
Estás desidratado
precisas de água mágica,
tão simples de pedir,
mas terias de olhar para os olhos
dessa pessoa para lhe pedir
e tu não consegues!
DANÇA POR NÃO CONSEGUIRES!
Mas ninguém ouve o teu socorro,
não vale a pena, eles não compreendem,
não querem saber de ti,
as lágrimas que queres chorar
fazem parte do passado,
JÁ NÃO TENS IDADE PARA
CHORAR TAIS LÁGRIMAS!
Não é, Francisco? Não é?
Olha para ti, danças como uma tábua!
DANÇAS PORQUE ÉS UM FRACASSO!
Para não tentares nada mais do que dançar!
Dança rapaz! Sente o sonho...
mas que sonho? O sonho da felicidade?
TU SONHAS A FELICIDADE?
AHAHAHAHAH
ÉS UM INFELIZ!
UM GRANDESSÍSSIMO INFELIZ!
AHAHAHAHAHAH!!
Francisco Francisco...
Danças sobre a tua desgraça
os teus pés já sangram,
estão em carne viva
mas o sonho não te deixa sentir
a realidade, estás escondido!
Estás escondido em
passos sobre passos de dança!
Dança! Quero te ver dançar...
Dança para te aproximares
dos quem tu tanto precisas!
Tu precisas de todos, não é verdade?
Já não destinges o que queres das pessoas
com o que elas realmente são!
É por isso que danças,
não é Francisco?
DANÇAS PORQUE NÃO CONSEGUES
DIFERENCIAR O SONHO DA REALIDADE!
Alucinado, danças com fantasmas,
andando para aí a saltitar de desilusão para desilusão!
DANÇAS! DANÇAS!
Só os loucos é que apreciam
a beleza da tua dança,
não é? SÓ OS LOUCOS
É QUE REALMENTE PERCEBEM
O QUE SE ESTÁ A PASSAR!
Mas os loucos suicidam-se
e tu receias esse fim
porque sabes que poderá não haver fim,
que a dança poderá não chegar ao fim
por isso ignoras os aplausos dos loucos
em vez de parares para agradecer
a sua compreensão, não é?
DIZ-ME FRANCISCO
É OU NÃO É?
CONTINUA A DANÇAR!
NÃO PARES!
NÃO PARES DE DANÇAR!
OH! Os teus olhos estão fechados?
ENTÃO MINHA MARIONETA,
PARECES UM MORTO A DANÇAR!
TU ESTÁS MORTO!
JÁ MORRESTE! E TU BEM O SABES!
DANÇA! DANÇA DANÇA!
MEU MORTO BELO!
MEU CADÁVER CHEIO DE PUREZA!
Mas porque fechas os olhos?
Não queres ver as caras de gozo deles?
Sabes que eles são inocentes
nas suas atitudes de gozo,
eles gozam com tudo o que há e é a tua vida
mas tu não lhes fazes nada por
saberes que são inocentes, NÃO É?
Porque TU é que estás errado!
Porque danças no teu mundo desconcertado!
AHAHAHAHAHAH
DAAAAAAAANNNÇA!
Danças porque não descobres o culpado!
Tu não consegues atingir o culpado
não é?
AHAHAHAHAH!
DANÇAS PORQUE
NÃO CONSEGUES DESCOBRIR
O CULPADO!
ASSASSINO DANÇANTE!
DANÇA HOMICIDA!
DANÇA SOBRE O
CHÃO ENLAMEADO DE SANGUE!
DO SANGUE QUE
JORRA DO TEU CORAÇÃO ESFAQUEADO!
MAS QUE POÇA!
DANÇA SOBRE A POÇA DE SANGUE!
Olha-te, vê-te!
Tu bem vês que te vês
mas não queres ver!
AHAHAHAHAH!
DANÇA MEU GREGO PERFEITO!
GOSTO! GOSTO!
NÃO PARES DE DANÇAR!
CONTINUA A DANÇAR!
AHAHAHAHAH!
BAILARINO DE MERDA!
ESTÁS A PISAR A TUA PRÓPRIA
MERDA MEU BELO RAPAZ?
Não consegues disfarçar o cheiro
nauseabundo da tristeza e do ódio!
És puro de mais para tornares
os teus pensamentos de ódio
em acções!
E por isso danças!
Tu sabe-lo, rapaz! Tu sabe-lo!
Poderias destruir o teu ódio
se pedisses, como um gato
domesticado, uma festa!
Mas tu tens medo,
prevês reacções não é!
Toda a gente se riria de ti!
"FRANCISCO, O CÃO DOMESTICADO"!
SERIA ESSE O SLOGAN PARA TODA A TUA VIDA!
ESTARIAS CARIMBADO A FERROS QUENTES
ATÉ AOS RESTOS DOS TEUS DIAS!
POR ISSO DANÇAS!
DANÇAS PORQUE SENÃO DESTRUIRIAS
A TUA VIDA NA PRISÃO, INCOMPREENDIDO,
JULGADO POR AQUELES INOCENTES QUE NÃO TE ENTENDEM!
POSTO À PARTE, PARA SEMPRE!
AHAHAHAHAHAHAH!
AÍ JAMAIS TE AMARIAM!
A tua alma seria espancada
como fora!... e como ainda É!
SIM! ESPANCAS A TUA ALMA
PORQUE FOI O QUE TE ENSINARAM
EM CRIANÇA NÃO É VERDADE?
AHAHAHAHAHAHAHAH
DANÇA MINHA CRIANCINHA VIOLENTA!
DANÇA! DANÇA PARA NÃO
SERES VIOLENTO, PARA NÃO TE CASTIGARES
ETERNAMENTE, PARA NÃO TERES
DE NÃO TE PERDOARES!
És tu, Francisco, o primeiro a atacar-te,
ainda antes de fazeres algo, já te castigas!
JÁ TE INCRIMINAS!
ANTES DE ACONTECER
JÁ TE JULGAS COMO SE FOSSES
UMA OUTRA PESSOA QUALQUER!
E ficas tão centrado nisso,
que esqueces que as tuas acções
são banais, são comuns
e que não existe ninguém
que seja tão rígido
como tu! Mas TU crias
esse cancro em ti!
AHAHAHAHAHAH!
CRIAS O CANCRO
ANTES DE RESPIRARES!
AHAHAHAHAHAHA
E DANÇAS PARA NÃO O FAZERES!
PASSAS A TUA VIDA NUMA ÚNICA
MERDOSA ACÇÃO: DANÇAR!
AHAHAHAHAHAHAHAH!
DANÇA MINHA LÁSTIMA!
DANÇA PARA NÃO TE JULGARES
NO TRIBUNAL DAS CULPAS INOCENTES!
AHAHAHAHAHAHAH!
DANÇA DESGRAÇADO!
DANÇA PARA NÃO
MUTILARES A TUA ALMA!
DANÇA PARA NÃO
TORTURARES A TUA CABEÇA
COM LEMBRANÇAS DE DANÇAS
HUMILHANTES E DEGRANDANTES!
AHAHAHAHAHAHAHAHAH
Sonhos à noite
são pesadelos durante o dia!
Ahahahahahahahahah!
Danças em palcos
para não dançares
no meio da Natureza!
Tu sabes que as árvores
fariam silêncio reconfortante
para te ouvir!
Por isso foges delas!
E chorarias!
TU SABES!
Não fazes os teus passos
merdosos no meio de árvores
porque elas te iriam ouvir!
AHAHAHAHAHAHAHAH
DANÇA MINHA PRESA!
DANÇA! DANÇA O SILÊNCIO!
As folhas delas iriam acompanhar
os teus movimentos! Terias atenção,
uma atenção tão equilibrada!
DANÇAS PORQUE RECEIAS
QUE TE VEJAM; O TEU VERDADEIRO EU!
AHAHAHAHAHAHAHAHAH!
DANÇAS COM MÁSCARAS
E VESTIDOS ABSURDOS!
AHAHAHAHAHAHAH!
DANÇA! MEU ACTORZINHO DE MERDA!
És um péssimo actor!
Tentas representar-te
mas não consegues
porque não te conheces!
AHAHAAHAHAH
DANÇAS PORQUE
NÂO CONHECES O PORQUÊ!
AHAHAHAHAHAH!
És um fraco! És um reles fraco!
SERÁ QUE TENS ALMA?
RESPONDE! NÃO RESPONDES?
CONTINUAS DANÇANDO?
DANÇAS PARA NÃO SENTIRES
O TEU CORPO CHEIO DE VAZIO!
AHAHAHAHAHAHAH!
ESTÁS CONDENADO!
MORRE! FAZ A COREOGRAFIA
DA TUA MORTE NA DANÇA!
Quero ver-te abandonares
o teu corpo DANÇANDO!
AHAHAHAHAHAHAHAH
MORRE DANÇANDO!
SERIA BELO! SERIA PERFEITO!
NINGUÉM NESTE MUNDO
JAMAIS IRIA CONSEGUIR
ESCREVER ALGO TÃO BELO!
AHAHAHAHAHAHAHA
MAS NINGUÉM IRIA SABÊ-LO
PORQUE NINGUÉM DEU CONTA!
E tu sabes como é que eu sei
que ninguém deu conta?
Porque TU JÁ ESTÁS MORTO!
AHAHAHAHAHAH
E NINGUÉM se apercebeu!
Sabes porque é que ninguém
se apercebeu? Sabes PORQUÊ?
Porque TU TAMBÉM NÃO
TE APERCEBESTE QUE
JÁ ESTÁS MORTO!
AHAHAAHAHAAHAH
BEM VINDO AO INFERNO!
MEU CABRÃO DE MERDA!
AHAHAHAAHAHAHAH



Isto nunca aconteceu, o que vocês leram foi apenas um momento de silêncio.

Em Defesa do Suicídio

Afastei-me do mundo,
cansei-me do cheiro nauseabundo
da ganância e da hipocrisia,
da tolerância sádica da ironia.
Fartei-me dessa humanidade desumanizada,
talvez, talvez tenha sido covardia,
mas eu não suportei mais,
afinal, o amor deixa limitado
de um sorriso à dor.
Tive de virar as costas
sem sequer me despedir,
não quis o vício que tu és,
nem a alucinação me deixara sorrir.

Posso morrer aqui... só...

Que maneira há, de sentir dó,
por alguém que abraçou a morte,
sem direito à honra de uma vala?
A culpa de uma corda ao pescoço
de uma voz que não fala,
igual à de um morto,
numa tortura desigual
que acaba por abafá-la...

Quem tem o direito de apontar o dedo
a uma pessoa que se suicidou sem medo,
quando a voz era calada?
Qual hipócrita,
que não lhe deu ouvidos,
chora no funeral,
entre marés dos arrependidos?
Ele amou a vida,
mas antes dela já amava a sua alma,
e como um cavalo de corrida,
prefere correr até morrer,
do que levar pancada
e ele, na vida,
seria obrigado a sofrer?
Que choras, ó tu,
que as tuas palavras lhe foram nada?
Quantas mentiras lhe pregaste,
prometendo-lhe amor,
quando o amaste
mas só lhe causaste dor?
Qual lhe foi a escapatória
se foi preso na vida,
desgraçado na sua própria memória?
Quantas lágrimas derramou
por não ver nem uma conquista,
nem uma glória?
Que futuro lhe esperaria,
se o passado fora desgraçado?
Quem se riria e sorriria
quando tudo o que conhece da vida
é nada mais que um corpo fracassado?
Que medo teve ele quando se matou,
contraste de quem és,
se a ele o sofrimento não mudou
e tu foges da morte a sete pés?
Sim, agora já é alguém para ti,
agora, choras por não teres tido presença,
agora? Agora que ele já ditou a sua sentença.
Mas onde estavas tu na maldita hora?
Preocupado com quem?
Preocupado com o quê?
Amáva-lo? Não o conhecias bem
se nunca respondeste ao seu porquê.
Que morte criticas tu?
A morte da felicidade
ou das feridas da alma
que teimaram em não sarar?
A morte da sua liberdade!?
Sentia-se impotente perante a sua realidade...
Não venhas falar de pessimismo
se ele nunca conhecera outra cultura
senão a sua própria tortura?
Com tanta gente,
ele nasceu sozinho,
ele sofreu sozinho,
ele sobreviveu na guerra sozinho
e claro, morreu... partiu sozinho...

Que outro caminho da morte seria diferente
ao da sua própria vida?
Ele fez do seu próprio corpo uma mensagem
que tu não quiseste ver,
ele chorou e gritou e tu não lhe falaste,
ainda o acusas de morrer?
Com que direito?

Tu choras durante dois ou três dias,
ele chorou estes anos todos...

Suicidou-se inocente,
suicidou-se por ser ser humano.
Enquanto a cidade se movimentava
ele nunca fora mais que um rato num cano,
por baixo da superfície,
num labirinto sem fim,
procurando soluções
numa terra sem planície...
Ele foi somente uma alma,
indiferente ao corpo,
por isso se suicidou
ao encontro da sua calma...
Sou um estranho só, completamente só,
apenas me sinto encaixado aquando de um abraço.
Sou um estranho só, completamente só,
vivo demais sobre sonhos irreais.
Sou um estranho só, completamente só,
mas nada faz sentido embora sentido faça
refugio-me nos sonhos,
completamente sozinho,
sem sentido, sou estranho ao real
porque vivo só, só pelo sonho...

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Proíbem-me de salivar a sua morte!?
Enquanto foi ele que usurpou sorrisos,
sentenciou felicidades,
roubou os corações
dos cavaleiros e sonhadores,
tornou a tristeza uma doença incurável,
alimentou a besta da ira
transformou pais em anti-naturais,
destruiu as vidas dos que estão para nascer,
fez à vida parir a dor de querer morrer,
é ele o cancro do medo 
escondido do outro lado da esquina,
é ele o criador do bicho da faca afiada,
é ele a depressão que ceifou heróis,
é ele que irradia a desgraça que os deuses
não conseguiram travar,
ele é a prova do falhanço da Natureza,

AH! 
Até tenho vergonha de te pronunciar,
a cada passo que dás 
dá-me vontade de pedir desculpa
à Humanidade por teres nascido
antes fosse que assim não fora
se dependesse da minha vida 
seria eu próprio a cavar a minha cova
sem esperar pela demora...

É tua a vitória pela tua liberdade
é nossa a derrota da Humanidade.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Tudo bem? Olha, não sei quem és,
o que tu foste revela o contrário dos teus pés,
esse sorriso não combina com estas feridas,
vestes camadas sobre camadas camufladas de vidas
com adjectivos contraditórios
como rir em momentos irrisórios
entre desespero de esperança.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Fugas


Procuras uma solução
sem perceber o problema,
corres sem pernas, rapaz,
mas ainda assim tentas fugir,
escapar da terra que tanto desconfias
tentando correr em cima de oceanos
mas a água é como o teu espelho
e quando o vês parte-se aos bocados
absorvendo-te, engolindo-te, mastigando-te
e lutas absurdamente para voltar à luz da superfície
enxovalhando as memórias à tua volta
e como areia movediça
quanto mais lutas contra ti próprio mais te sufoca
e deixas-te desmaiar para não sentir a dor
que fez de ti um desertor e um drogado:
injectas sonhos à desesperado
tentando alcançar a conquista do sentido do amor
mas quando te aproximas surge em ti o maior pavor
e corres sem pernas
mesmo assim tentas fugir,
escapar à terra que tanto desconfias
mas estás num pesadelo
onde outrora tão puramente te rias...
Queria compreender
mas nem as palavras
conseguem entender.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Encoberto De Pensamentos - A Minha Fuga

Vazio, como água, como ar,
quando estou a pensar,
a pensar no andar daquele,
a pensar no que aconteceu,
a pensar no porquê,
a pensar que estou a pensar demais
e ainda estou a andar
sem me lembrar por onde caminhei,
a pensar porque não me lembrei,
já estou a pensar em não pensar
sem conseguir parar de pensar
como contas sem contas contar
e a lua passa e eu já não sei qual é a vaza,
quando vai já não vai tempo
por cada momento que passa,
passa passou e já foi passado
passado estou eu por não
conseguir ficar parado.
Não é energia a mais
é simplesmente...
Desculpa-me lá ó eu
é sem querer que acontece
mas a pausa já morreu,
já estás a pensar, esquece.

Mas eu sei o que se passa
porque eu sou a tua consciência
e digo-te porque tens essa tendência,
é para preencheres o vazio:
na retina nada se passa
para não veres que te vêem
para não sentires o que te pariu,
mas bem que podes fugir
que eu sei quem te sorriu
e sei que vais reflectir
na estupidez de não reagir
à frente do olhar
que te penetrou,
ficaste incomodado
e pôs-te a pensar
na arma que tens na mão
contra ti próprio de anti-perdão.
Acomoda-te à solidão
como um animal
e serás instinto
antes de chegares ao para-normal.
Agora já tentas e tentas e tentas
e enfrentas com vergonha não comentas,
sei do que falo e tu sabes bem,
consegues-me ouvir?
Então ouve, não é nenhuma receita,
não escondas segredos de ti próprio,
lutas sozinho sem ocupar espaço
nem posição, lutas contra o quê, então?
Porque eu não entendo, simplesmente,
porque quando tentas falar não consegues
e tentas absurdamente passar à frente.
Caos, como uma fénix,
ruíste com a vida,
afundado entre dentes cerrados,
estéril com tantos fardos,
quem és tu?
Mudaste de personalidade, foste obrigado,
ou não eras fera ou eras espancado.
Quem és tu afinal?
Não percebo, que fim terás?
Porque o tempo passa
e eu ainda não entendi se o verás
antes de abandonares essa caça.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Sempre que olho à minha volta
dá-me vontade de voltar a ser criança
e estar do lado da lua, do sonho,
pois caiem-me as lágrimas
de não conseguir nada com a revolta.
Quando acabo de escrever perco a esperança
porque foi mais desabafo entre muitas páginas
de um livro que não foi aberto.
Às vezes dou por mim com um sorriso belo,
o de sonhar com olhos brilhantes,
ganho asas e voo entre a beleza da Natureza,
as conquistas esquecidas e falhadas,
e no teu sorriso feliz de um conto de fadas
e assim, por instantes, vivo cinco vidas
que a realidade as tomou como vencidas
mas enquanto o meu coração bater
e eu senti-lo, nunca irão consegui-lo.

sábado, 17 de dezembro de 2011

O tempo faz colecções,
na minha pele estão as razões
de um movimento fingido
e as cicatrizes tornam-me fugido
do toque suave e acolhedor de alguém
que me arrepia só de pensar que me quer bem...

de dentro para fora surgem borbulhas preguiçosas
secas pelo tempo de uns ventos laterais...
mãos com cales desenhadas por lutas impiedosas,
e que mãos, de dedos paralisados por cansaços imortais...

das rugas do sorriso pertencem outras de tristeza,
notam-se olhos distantes de lágrimas invisíveis,
tatuagens sem tinta contam histórias imperceptíveis
de toda uma vida desnatural da Natureza.

Escondido no meio de milhões de pêlos camuflados
da cor das outras espécies de humanos
como uma flôr, uma flôr pendurada numa árvore
que suspira pedaços seus de pólen
escondido entre as próprias folhas.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Ó homem, tu, que trazes
a arte, a cultura, a história
de uma Pátria tão longínqua,
tão longe da minha imaginação
mas igual ao tecido do meu coração.

O teu olhar, o teu falar,
a tua maneira de estar
desenham a História do teu Povo.

As nossas histórias são diferentes,
somos de origens distantes,
de educações diferentes...
o que é irreal para mim
já tu assististe e
o que tu imaginavas não ser
vejo eu como algo banal,
as nossas diferenças são tantas
como os quilómetros de espaço
entre os nossos lares,
mas a igualdade que supera
e cala todas as diferenças
está naquele momento
em que olhámos para a mesma paisagem
e sentimos a sua beleza reconfortante,
e isso, é alma de ser humano.


Somos nós o reencontro
de uma esperança
esquecida nas banalidades
da liderança.
Estou à janela à espera
de ser levado aonde não quero ir,
trancado atrás das grades do silêncio
na prisão que é o pavor
de qualquer palavra poder ser
a fonte e origem de uma cena de terror.
Dominado por ventos mortos no peito,
o cérebro quer desmaiar para não sentir,
para não saber o que virá a seguir
mas sou obrigado a ir a direito.
Hoje, é Sexta-Feira,
daqueles inícios de fim-de-semana
de mau presságio,
onde eu e a minha mana,
íamos para um pequeno estágio,
ser vítimas do fascismo.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Fujo, fujo desesperadamente de algo,
num pânico enorme as palavras fogem-me
e fico a olhar, a olhar, a olhar, a olhar,
tentando vezes e vezes sem conta
atirar-me para os braços da honestidade
de ser quem sou mas não consigo.

Mas qual palavra... mas qual peito...
balançando entre a raiva e a frustração...
Porque me impedes e me deixas perdido no tempo?

Vou matando quem se aproxima
com o medo de violarem o meu coração
 e no meio das multidões vou sufocando
porque um desgosto marca um espelho
de antiguidades recordadas
que não esquecem quem sofreu.

E qual desgraça vens tu, ó estrangeiro,
dar a vitória e uma conquista que nunca conheci.
Ou invariável vida, quase a única real, dum sorriso falso.

Não, eu não procuro os podres da sociedade,
eu revejo-me nela sem me ver
e fujo dela para não sofrer,
porque os males se atacanham
entre os sorrisos honestos...

Mas a mim, ensinaram-me
que a honestidade tem um interesse,
tem um cancro num dente afiado
que num abraço, num beijo, numa carícia
torna o sangue podre e espreme o coração.

Afasta toda a gente!!! Desconfia!!!
Desconfia!!!! Ah!!! DESCONFIA!!!!....
Mas eu não posso mais sozinho
viver deste cancro d'alma...
não posso mais sozinho...
apodreci...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Sociedade. Odeio-te. Odeio os filhos que pariste. Odeio-me por te pertencer. E tantas, mas tantas são as vezes que te observo só para me certificar que sou diferente. Quase que já é instinto. Às vezes dou por mim a profanar-te com tanta profundidade que me esqueço de mim. É frustrante estar para aqui a gritar contigo e tu estares à minha volta a desprezar-me. Odeio-te mais por isso. Quanto mais me desprezas mais te odeio. De vez em quando fico rouco sem sequer ter falado. Mas quanto mais te espanco mais tu te apoderas de mim. E quanto mais diferente tento ser mais igual fico a ti. Esgotas-me como um cigarro. Mas ainda não me venceste, ainda estou vivo.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Sociedade

Para sempre crianças, é na infância que estão as raízes dos nossos sonhos e o sonho vive-se mais intensamente que a própria vida, por enquanto pois quantos somos nós os condenados.Os presos, atrás das grades da sociedade que nos educa com a tortura do relógio, esmaga ovos talentosos, impede as sementes de crescer, preenche os campos da solidão com crateras cinzentas e inférteis. A mim, deram-me uma chupeta para provar e mal a apreciei eles arrancaram-ma e disseram: agora sobrevive, ó desgraçado, uma vida inteira à procura dela e do seu culpado. E morremos à procura, mesmo sem procurar, procuramos o conforto do abraço trancados no quarto com o medo da opressão dos julgamentos insanos desses humanos desumanizados que fogem, covardes às suas próprias desgraças contando anedotas, fingindo falando com intelectualidade para ter a atenciosidade escassa que fracassa quando é esse o objectivo, ou na inveja que espreita nas janelas dos vencedores, ou na violência com que beijamos o nosso igual entre ferros quentes fascistas, ou justificar a ignorância desses merdosos inocentes que se preenchem com sexo e álcool que defecam a pensar na política e na História da sua Nação que não amam porque não a conhecem. Sociedade, é sua própria causa, é sua própria consequência e é a sua próxima há-de vir e eu sou filho dela, um filho duma grande puta.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Na Rua Do Meu Nome

De mãos escondidas nos bolsos,
de capuz a cobrir as faces
vou descendo a rua esquecida;
a memória desfocada transformou-a em noite;
nas janelas dos prédios fotografias ganham vida;
ao meu lado, na parede, os tags desenham palavras marcadas;
os candeeiros de rua projectam sombras de amigos que passam;
nos espaços confusos entre as pedras das duas calçadas
ramificam-se pensamentos, reflexões
e experiências de vida justificadas por opções;
ouve-se um forte eco de um pêndulo
a tocar a cada passo que dou...
e a cada passo que dou
passa o vento por mais uma ruga que ficou.

sábado, 3 de dezembro de 2011


Só uma mãe louca e perdida na razão
morre de amores pelo seu filho vilão.
O teu carácter é o teu abismo,
os teus actos são a tua desgraça,
tudo o que fazes, tudo o que dizes,
transformam-se em reflexos
que te atacam como corvos esfomeados,
assim vai o tempo sugando os restos da tua alma.

sábado, 26 de novembro de 2011

Olá,

o meu nome é 86 389 098 da estatística da pobreza,
nele basearam-se para criarem leis e regras,
caminhos vazios e mais trezentos destinos
menos o destino do qual afirmaram com toda a certeza.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A flor amadureceu à medida que a minha infantilidade ia, tão lentamente, tão subtilmente, escapando-se de si própria... e na minha própria mão as suas raízes fundiam-se com os traços da minha face escondida na mão. Ela, ainda contendo apenas uma pena, reflectia uma viciante beleza eternamente mítica, eternamente mística... Alimentava-se dos sentimentos que faziam fechar e apertar a minha mão de uma força contrária à força da transformação que torna uma mulher mãe. Conhecia-a tão bem, já conseguia adivinhar o tempo e sabia perfeitamente onde estavam os astros. Tornara-se num ciclo diário fechado, óbvio, banal...
A qualquer momento a culpa passou a ser minha, eu dei o Presente ao Futuro vivendo com os rastos e os restos do Passado... se alguma vez as palavras tiveram significado então transformaram-se em palavras ditas por um péssimo actor, de uma palete monótona, de expressão forçada... e todas as cores passaram a ser vistas na escuridão, iguais, sem hipóteses de haver gostos... e o sol e a lua e tudo o que os rodeia passou numa janela de um comboio que bazou sem destino...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Tédio

Sentado no sofá
a ver o tempo passar lentamente,
não que queira passar para o lado de lá
mas sim por não ter nada em mente.

sábado, 19 de novembro de 2011

Maturidade

(...) porque o sofrimento requer o exercício da reflexão e sem nos apercebermos, por estarmos afogados nas lágrimas, começamos a reflectir intensamente, porque um problema não foge, é como um fantasma, acompanha-nos até nós descobrirmo-lo e sofremos por termos descoberto o problema e no meio disso tentamos achar uma solução, mas nada parece ter força, nada parece razoável, nenhuma acção deste mundo consegue pôr o nosso próprio cosmos em ordem e sofremos ainda mais, como se estivéssemos num poço escuro e gélido, tão profundo que deixamos de ver a luz do sol, aquele resto de luminosidade que nos guiava e dizia por onde sair e andamos ás voltas, na escuridão de um poço, a bater com força nas paredes procurando uma saída que não há e, cansados, desistimos e deitamo-nos no chão à espera que a morte nos venha resgatar, alucinando memórias felizes que nunca aconteceram, entre a fome desesperante de um simples abraço e a sede da troca de amar e ser amado, acabando por adormecer... e quando acordo, ao meu lado está uma bela e mágica pomba de penas brancas que iluminam uma parte do que estava escondido na escuridão, observando-me em silêncio à espera de uma minha acção mas o medo, os traumas que se tornaram experiência de vida criam hesitações e barreiras e escavam a cova. A pomba dá às asas e voa, voa para o céu mais alto obrigando-me a olhar para cima e, nesse momento, o meu peito alimenta-se das estrelas erguidas num mistério inalcançável e aí, a palidez ganha uma nova cor e recomeço a erguer-me do chão para um novo e diferente início. Numa luta incessante, de uma determinação extraordinária que faz cravar bem fundo os meus dedos nas paredes do poço, escalando com determinação, tendo como objectivo um lugar na superfície da Terra. A cada queda que dou, a revolta torna-se maior e maior e maior e maior... cada célula vai-se transformando num pedaço de monstro a cada centímetro que subo. A umas dezenas de metros da superfície, já todo eu transformado num mostro, com uma voz esganiçada pela raiva, com os olhos vermelhos de lágrimas que fervem, começo a expulsar o ódio entre ameaças temerosas... Chegado à superfície, irreconhecível, a revolta ganha atitudes e acções, a vingança de uma vida requer a ordem natural das coisas... a raiva, o ódio... tudo se perde quando um espelho se atravessa na minha frente e o choque do que vejo faz-me questionar no que me tornei eu... num monstro que afastou qualquer gesto... qualquer palavra de amor... todas estas questões trancam o monstro dentro de mim, porque quase ceguei... e então, sento-me na minha cama, pego o meu álbum de fotografias pousado na mesinha de cabeceira ao lado da cama e começo a folheá-lo recordando-me de tudo, de todas as memórias, de todos os meus pensamentos, de tudo o que fiz e me aconteceu... e todas as minhas misérias e desgraças dão vontade de rir, chorar de tanto rir, rir até não poder mais, rir até me deitar na cama e agarrar-me as dores dos abdominais e quando me acalmo, um sorriso se esboça para que no final diga: a sério? Levanto-me da cama e vou-me embora viver com as células que ainda me sobraram.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011


Estive dentro da tua mente,
nesse teu campo de concentração.
Ainda hoje sinto a sua respiração,
era tão nojento... tão repugnante...
abafado pelo cheiro da dor.
De tão asfixiante que era,
até mesmo de olhos fechados
conseguia ver cada pormenor de cada corredor:
o sangue raspado nas paredes,
ainda fresco, da carne desfeita em sangue
das caras que te afrontaram com a verdade,
raspadas nas paredes até ficarem só osso.

Ainda sinto o cheiro a lutas inúteis
contra o gás abafador do teu orgulho
nas câmaras... nas câmaras de gás,
onde a impaciência se exaltava
e se aclamava o silêncio da morte,
o silêncio que nos leva sem nos trazer...

Eu caminhei  naqueles corredores húmidos,
dos seus tectos pingava água,
eram gotas de lágrimas, formavam poças...
delas, ecoavam gritos de ódio e tristeza
a cada trémulo passo atingido no chão.

No andar acima, torturas amarradas a cadeiras
dão forma à figura do horror
através do cheiro nauseabundo de pragas roucas
em pedaços perdidos numa imensidão de sangue seco.

Eu te digo, o inferno existe
e nele não há qualquer forma de esperança,
apenas reina o desespero e o medo,
a mentira de vida e a clemência pela morte.
É uma nuvem carregada
de relâmpagos tempestuosos,
incendiários de árvores férteis.
Num céu superior
jorra de si águas poluídas e ácidas
secando a mais bela flor.
É uma onda gigante
que, por onde passa,
semeia a desgraça,
onde devia ter nascido
memórias de um amor.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Bem te vejo, ó nuvem,
e como barro, te manejo
tão grosseira e bruscamente
arrancando-te os fatos de anti-ser
para atingir o finalmente.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

As pedras da calçada
sentem a leveza do terror
de um olhar fixado no interior
vendo nada do que é o seu redor.

Um impedimento consciencializado
não ganha resolução no coração
atormentando numa mentira...
os olhos querem abrir e sair deste horror 
mas o maior pesadelo duma mentira está em vê-la 
e não conseguir deixar de vivê-lo.

E eu sei, sei tão de cor
as letras da verdade desonesta,
tão certas como a água que vejo e saboreio
mas escorrega sempre das minhas rotas mãos
e quanto mais as fecho mais depressa me foge...
forjando espelhos de água deturpados.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Beethoven Sinfonia 05 Sonata 14 (Moonlight)

Acabaram-se as palavras,
os sonhos e as esperanças.
Já não há ventos nem espaços
não há silêncios nem tempos.
Morreram as árvores,
os artistas, as flores,
os céus, as núvens ténues…
É o fim da criação,
o choque da evolução.
As circunstâncias
destas estrelas
são cereais
saboreados
ao pequeno almoço,
são conversas banais…
Cidade sem alma,
aterrorizada subtilmente,
ignorada, desprezada
por formigas
ligadas a fios eléctricos,
que caminham
com pensamentos estéticos.
.
Já não há telas brancas
nem folhas limpas,
o tempo é o relógio que o dita,
os horários fazem dos vivos mortos
e a noite é dominada pelo
desprezo.
A paisagem correu
na viagem de comboio
onde o tempo passa
esperando passar rapidamente,
se é que a paisagem já não morreu,
será que ela não existe
ou serei eu?
Eu, que sem alma
me encontro nesta cidade desencontrada,
que compra o amor em pacotes de plástico reciclado
sem saber de onde veio,
que acha saber sem viver
senão num comboio alimentado,
não pelo sonho, não pela esperança
mas pelo prazer mundano dos vícios
do acolhimento palpável
e materializado, falsamente materializado…
Somos bebés amamentados por chupetas
crescidos na deformação do amor
desconfiados de sabor…
somos nós as formigas
que trabalham para serem pisadas,
tão arduamente na casa de alguém,
de um rei qualquer que desconhece
a nossa existência,
a nossa tradição e cultura…
Somos galinhas secas
de muito sabemos contar
tão gordas de mentiras
condenadas a não saber voar…
A única glória é a mentira
de uma história contada
por nós, protagonistas falsos,
contada por alguém que de nada
tem do que podemos dizer ser nosso,
despegado de fantochada.
Vivemos nos calabouços dum castelo
feito de gente pisada como cartas,
numa tentativa absurda de ter importância
subindo escadas de degraus,
ou antes números de pessoas,
sim, massacrar a ganância
com ganância.
É esta a hora em que a fome
se tornou um prazer,
a morte um caminho presente
que tentamos tão desordenadamente
fingir não ser connosco a idade
avançada de memórias
guardadas em masmorras,
presas numa qualquer saudade
inexistente, puramente imaginária,
um total plágio do fracasso escondido,
amando o desconhecido mas real,
puro irreal mas sentido
um descobrimento fatal
de um destino
que aos comuns é sempre igual…

sábado, 29 de outubro de 2011


Eu vi-te, lá nas longes alturas,
lá nesse tempo perdido,
nesse caminho sem fim,
o meu olhar não te alcançava
apesar de te conseguir ver.
Mas havia um de nós que se afastava,
um, que se estava a perder.
Bem te quis, muito te quis,
mas lá, nesse universo desconhecido,
brilhavas tu na imensa escuridão,
fiquei apegado ao teu brilho,
parecias estar à distancia do meu braço
e eu esticava-o mas havia ainda muito espaço.
Oh! Se não te quis! Como te quis!
Apenas exististe quando eu, de olhos fechados,
te via, te sentia até ao dia
em que os meus olhos cegaram, obcecados,
mas nunca mais voltaste, nunca mais te pude ver,
ah! Como te queria... como te queria...
nunca te devia ter sonhado
para conseguir viver...

Bagageira Sem Malas


Conheces só palavras,
nada sabes do que falo.
Imaginas tão desonestamente
tal coisa que pode mas nada tem disso
e nada disso é.

São apenas palavras o que ouves
mas a mágoa é minha.
Para ti não é mais que uma letra
de uma canção sem música,
de uma flor sem cheiro,
de uma vida sem o tempo,
de um lugar sem espaço,
de uma foto sem fundamento,
de uma tela branca...
e um desabafo é um tormento,
um templo em ruínas
onde ganhei lugar,
lapidado pela tua memória
e sem chão onde me enterrar.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Segredos Trancados


Não te disse,
ainda não te disse
mas hei-de dizer
como digo na solidão
e te vejo comparecer.

Falas-me mas não me conheces
porque não te disse.

É um peso que carrego
à espera do momento certo
de um tempo incerto
desconhecido pelo teu ego.

Nem imaginas quantas mentiras
são as minhas reacções quando falas.

Ouço as tuas sábias teorias
desse orgulho de ser superior
e ponho-me a pensar
quantas lágrimas verterias
se eu dissesse a tua dor.

Nem te apercebes do meu silêncio
nessa toda tua avareza
onde te perdes na tua prepotência
esquecendo-te fatalmente da minha existência
e de como pode ela ser a desgraça da tua natureza.

Se soubesses terias medo dos meus olhos,
dos meus mais honestos olhos,
mas eu também tenho medo,
muito medo... porque eu sou tu,
criado por ti e pelo amor...
uma fera enjaulada berra ferozmente,
nesse mundo meu, onde vive um terror.



sábado, 22 de outubro de 2011

Percepção Alucinação

Sou eu que estou errado,
sou eu a escória que foge à razão,
sou uma bela maçã destinada à podridão
crescida nas terras nojentas,
porque cada acto meu
são mil olhos de interrogação.

Entrego o meu mistério de vida
aos julgamentos com pena antecipada,
não interessa a origem
nem se foi bem intencionada.

Juízes não se perguntam,
têm vertigens de onde vim,
não me conhecem
e já têm certezas de eu ser assim.

Que veneram eles que eu não sei,
serão os meus olhos assombrados
que os deixam assustados?

O que lêem eles em mim
que eu não leio?
Talvez sejam as minhas atitudes
mas isso eu não creio.

Se calhar sou um tormento
como uma catástrofe natural,
quando aparece todos fogem à dor
como se considera normal.

Querem que seja o vilão
que alguém tenha os defeitos deles
para se sentirem bem.

Convém julgar com alguém
para se afirmar e confirmar
que eles são o bem.

Não se passa nada,
eu sei quem foi a causa,
já vou na décima oitava vaza
e ainda tenho a alma marcada.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Os olhos desesperados,
desfocados pelas lágrimas,
no sofá, virado para a janela
onde a noite escura enche a solidão do lar.
O sentimento ganha forma no corpo
que se deita abraçado a si próprio
e uma respiração profunda e cansada
inicia os encantos dos sonhos
como os efeitos do ópio.
Adormece...
Acorda numa ressaca
de arrancar com uma faca,
mas algo mudou,
a esperança morreu,
o sol está vivo
já não sinto saudade,
o que morrera,
agora ressuscitou.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Foi Tudo Amor

Das vezes que escrevi sobre ti
escrevia mais sobre mim,
sabes porquê?
Porque somos nós
à distância de um coração.

Num mundo confuso
tu foste a minha razão
porque sempre que te via
assim sentia-me numa confusão.

Achei que fosse um fosso
mas afinal era só o fundo de um poço
e uma dessas vezes que acordei
percebi o quanto é possível
se houvesse mais um bocadinho de esforço.

Porque sei
o quanto me amaste, o quanto me amas
o quanto nos afastámos um do outro.

Porque fui o criador do rio Tejo
através das minhas lágrimas
por estares do outro lado da margem
e já me faltar a coragem.

Sim, tive o medo de me afogar,
o medo de atravessar a ponte da liberdade para te falar,
por isso fiquei aqui a tentar descobrir
na imensa saudade de te ver sorrir.

Quantos peixes, quantas gaivotas vi passar,
eles foram emigrar mas eu fiquei aqui a sonhar,
a olhar para as estrelas, à espera do teu regresso,
a re-viver as nossas memórias
e deitei-me,
aconcheguei-me na relva à espera de novas histórias.

Porque, apesar de distante, tão afastado,
sabes que sempre estive ao teu lado.
Nesta caminhada tropessámos em discussões,
mas sempre nos amámos e ainda o mostrámos
mesmo em alturas de rouquidões,
porque.eu sei, porque tu sabes,
que o nosso amor foi e é a razão das nossas razões.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

As Chagas Dos Nossos Pés

O mundo está num tal estado
que por onde caminhamos
a hipocrisia está sempre ao nosso lado.

Os nossos direitos foram cosidos com o sofrimento de alguém
e as roupas que tanto desejamos também.
As nossas conversas de revolta e mudança
não passam de falácias de esperança.

Este capitalismo criou um sistema
para que os planetas se encontrem
um de cada vez e de um intervalo de tempo
que nos faz esquecer a essência do problema.

O Universo não esquece o significado da universalidade
e os gananciosos que criaram uma virtual realidade
deparam-se agora com o fim da sua existencialidade,
porque o que é natural nunca deixará de ser natural
se a sua origem não chegar às mãos do mal.

Para concluir:
o meu País, ó economistas sem nome,
foi criado pelo Povo Português e chama-se Portugal.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Não sei o que fazer, não sei o que dizer,
parece-me que só me resta ver-te morrer...

sábado, 17 de setembro de 2011

Quarto - Um Mundo

Quando se passa pela porta
entramos num mundo diferente,
como se, de repente,
tudo rodasse à volta deste quarto
e o resto deixasse de existir…

Está escuro,
estamos a ouvir gritos,
parecem ser de raiva,
tentamos falar com essa voz,
ligamos a luz… e o silêncio,
não está aqui ninguém senão nós.
Prosseguimos com a nossa investigação.
O tecto parece uma televisão,
transporta-nos para outros lugares,
parecem sonhos ou memórias,
uma qualquer outra dimensão.
O roupeiro está cheio,
parecem máscaras de receio,
contudo vazio, porque o que o enche
é o que não é verdadeiro.
Há aqui um espelho
que nos mostra distorcidos,
corruptos e bandidos,
faz-nos ver o que detestamos,
apesar de irreal
através da percepção seria um ideal.
As paredes estão pretas da humidade
pintadas com uma cor fingida
mas que não escapa à verdade.
A cama é gélida como um cadáver
mas está tapada por um cobertor
que se mexe quando se mexe a dor.
A almofada é nervosa,
talvez por estarmos aqui…
fazemos-lhe perguntas
mas a marca da cara permanece imóvel,
com um olhar distante,
apesar de escorrerem lágrimas.
Na secretária há fins inacabados,
fotos distorcidas… sem caras,
palavras caladas em papéis invencíveis.
Um mealheiro com elogios guardados,
uma gaveta misteriosa trancada mas sem fechadura,
os segredos, aqui, são invisíveis
mas sinto-lhes a presença.
Está aqui uma forca das palavras
e uma lista de sentenças…
nota-se rastos de água,
talvez lágrimas de tristeza
ou suor de cansaço.
Na mesinha de cabeceira
está uma caixinha que cabe na minha mão,
não sei porquê, chamou-nos a atenção,
abrimo-la e está lá um apaixonante sol,
pequeno e muito confortável,
com uma temperatura suportável,
que me deixa mole,
como se o meu corpo quisesse ficar,
dá-me esperança… acho que o vou levar.
Já acabámos a investigação, vamos embora.
Mal pomos os pés fora do quarto,
parece que algo ficou por desvendar,
quando olhamos para trás,
o quarto estava diferente,
talvez mais normal,
seja lá o que for que vimos,
nunca mais foi igual.

domingo, 28 de agosto de 2011

Houve pessoas que enlouqueceram porque se aperceberam da verdade: vivemos numa mentira. Eles enlouqueceram porque lhes apelidaram de loucos, porque não quiseram ver.

sábado, 27 de agosto de 2011

Como nos Descobrimentos quero descobrir outra realidade


para poder elevar-me até aos céus da verdade

mas sempre que ponho os pés fora de casa

ultrapasso os limites da minha cidade.
A planta cresce...
entre as chuvas ácidas que a amarguram,
entre os raios de trovoada que a queimam,
entre as inundações que a asfixiam,
entre as abelhas que lhe roubam a essência,
entre os furacões que a assustam,
entre as larvas que lentamente a comem,
não foge por estar presa...
mas quem és tu, ó Natureza?

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O Baralho Do Século XXI

A realidade
é um gigantesco baralho de cartas em queda.
Sempre a cairem em cima de mim (!!!):

Reis a darem ordens, quando na verdade,
são uns mortaizinhos que só provocam desordens!

Os Príncipes! Os Príncipes!
Ah! Os Príncipes! Sempre têm tudo!
Nunca lhes falta nada!
Aliás!, problemas?, com eles!?
Só os de matemática e não são os da vida!
Viva a porra da igualdade, pá!!!

As Damas... ai as Damas!
Não sou Príncipe mas sei tratar duma Princesa!
Damas, tantas Damas! Que beleza!
Mas só me passam ao lado!!!
Sou um romântico frustrado...
Não não, sou mas é um desleixado!

E quem o diz é a porra do Joker!!
Esse então nunca se cala!! Sempre a gozar
sempre a gozar sempre a gozar!!!
Sempre armado em palhaço,
aquele palhaço da merda!
Sempre a falar da minha vida
como se fosse uma novela!!!
Com intrigas e difamações,
senão está a dormir está a falar mal de mim!
Cúmulo da superficialidade!
Como é um anormal e não tem amor próprio,
anda a ver se os outros se desamam!!!
Suicidem-no, porra!!!

A Manilha, a Manilha lá vai!
Aponta o dedo a tudo o que faço!
"Tudo perfeitinho tudo perfeitinho,
não podes falhar!"
Se me desvio por milímetros,
pimbas!! Lá está ele!
"Estás te a desviar! Estás-te a desviar!"
Parece uma sirene, foda-se!
Sempre que o oiço apaixono-me pelo meu despertador!

Burro, pois, eu sou o Burro!
Ando para aqui a falar,
mas quem é que me ouve?
Quem é me entende, hã?
Pois, ninguém responde!
Eu nem sei porque raio me estou a queixar,
nada muda, é sempre a mesma merda!
Esta merda é como a SIDA,
muda de forma com as gerações futuras
mas continua lá, nunca nos larga!

Estou farto de Palha!
A Palha, pá, está sempre a queixar-se!
Se não se queixa da sua vida
queixa-se da vida dos outros!!!
Mas também, sempre a lamuriam-se
mas não fazem nada por isso!!!
Palha... palha é para queimar!!
Contribuem para tudo,
para morrer mais depressa, para dar uma boa queca,
para destruir a Natureza, para os bolsos dos políticos,
só não contribuem é para a evolução da Humanidade!!!
Tanto paleio tanto paleio que o navio encalhou
e, claro, quem é que tem levar com esta merda toda?
Sou eu claro!!! Como é mais que óbvio!!!

Pá, ó Deus! Baralhaste isto muito mal baralhado, pá!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Purificando A Alma

Pintaste as paredes do meu mundo,
distorceste a minha visão com pesadelos,
fizeste de mim um louco ingénuo.
Operaste os meus inocentes olhos
com visões negras solidificadas com a solidão.
Manipulaste o espelho onde me via,
fechado em casa, enquanto fugia
a esses olhos onde alucinei perseguição
mas o anjo que aclamo Minha Mãe
me fez ver o irreal em que acreditei
ser real, esse pesadelo onde fui rei.

Um Tema Para Os Outros Tempos

Cigarro aceso no cinzeiro,
cama por fazer, quarto por arrumar,
roupa amontoada no chão,
cortinas fechadas, molduras partidas,
versos escritos nos armários,
café intornado, posters rasgados,
papeladas na secretária,
migalhas, luzes apagadas,
quarto desarrumado,
mas a janela está aberta,
o vento entra e fuma o cigarro
até ao filtro, faz a cama,
arruma o quarto,
abre as cortinas,
leva os cactos dos vidros partidos,
como se o tempo voltasse atrás,
põe o café intornado na chávena,
leva os posters, organiza os papeís,
transporta a roupa suja
e a luz do sol entra no quarto.
Entro sem saber o que aconteceu
e apercebo-me do amor da mãe que me concebeu.

Família

Eu via o espelho do meu mundo desfocado,
achando eu vê-lo real, vivi absurdamente um fardo,
o fardo de ser eu nenhuma parte desse total:
família.

A Forca Das Palavras


Na forca das palavras ninguém pode esconder-se,
porque elas assassinam em nome da ignorância.
É a crítica e o gozo de quem assiste,
atirando frutas contra ti e sem puderes fugir dali
és humilhada no teu mundo, onde só tu o conheces.
Presa na palavra que tanto desejas mas não vem,
tentas sair constantemente esperançando a salvação.
Na boca de todos, és mastigada vezes sem conta,
torturada por boatos e mentiras,
culpada por coisas que não aconteceram.
Perdes a força para tanta afronta,
deixas-te ficar, à espera do fim.
E quando tudo acaba,
quando todos já se foram embora,
Deus acende a tua alma
ou Jesus aparecer-te-á
dizendo estar já na hora.

domingo, 21 de agosto de 2011

Mulher De Armas

Deixa-me amparar o teu rosto
ó mulher de armas,
que encarregaste e carregaste o mundo
sem descanso, beijaste sempre os teus,
nas suas tristezas e nas suas alegrias
mas quem te beijou sem agradecimento
e com sentido fraterno?

Escorrem lágrimas de suor
sobre as tuas cicatrizes,
limpá-las-ei do teu ninho
e dar-te-ei o amor e o carinho
com que tu deste em troca,
somente, de varizes.

Sem te aperceberes,
lutaste contra o impossível
e tornaste-te invisível,
no entanto, demasiado importante,
pois tu, foste a base
onde bati as asas, tu, foste o carvão
para que eu sentisse o calor da água
e o chão onde dei os primeiros passos.

Eu fui a tua criação,
nascido para te levantar do chão,
mesmo sem quereres, mesmo sem admitires,
criaste-me com amor e nele te cuido com o meu coração.
Em ti, poema, encontrei umas breves calçadas
que me mostraram os horizontes da liberdade,
por ti, poema, nasceu em mim a ansiedade
pela tua expulsão do meu ser,
de ti, poema, arranquei a sujidade
que a minha alma deixara reter,
para ti, poema, esta minha paixão
entrego-te do mais fundo do meu coração.

Porque tu, poema,
és o mundo onde sonhei,
a infecção que curei,
a verdade que revelei,
tu, poema, és o número ímpar
que completa a matemática da minha vida.
De longe escrevi para ti,
tão perto fora por ter vindo de mim.
Encontrados no mesmo sonho e na mesma esperança,
neste planeta grande que é
mas pequeno no colo de uma criança.
Já me lês, leitor,
com os mesmos olhos com que vi o mundo,
irrigados pelo mesmo sentimento.
Escrevi amor entre palavras abraçadas
às que tu deste carinho, talvez pela felicidade
talvez por almofadas encharcadas.
Somos nós, meu irmão,
iguais à Humanidade,
porque ambos sentimos
a mesma respiração.

domingo, 14 de agosto de 2011

Olá,

estava a passar por ali e decidi vir aqui.
Sei que te tenho falado mal
e hoje, que sou mais homem
que criança e sei pensar por mim (...)
mas tem estado em mim uma desordem.
Há desarrumações em gavetas e armários
que não foram das minhas decisões.(...)
Sei que te traí, vida,
nos momentos de tensão
fui eu quem ousou parar o coração,(...)
mas estás a esquecer-te de algo,
é que eu sou humano
e não fui quem me criou,
que nas minhas quedas
o mal quis amparar
as minhas lágrimas no seu peito
e eu nunca lhe dei esse direito,
mas claro, sentimentos?
Não existem pá,
não interessa pá,
que se foda
se foste ou se és,
a única coisa
que interessa é o trabalho,
por isso é que o governo
dá-te vacinas de borla
e é por isso que
existem instituições,
para continuares vivo
para trabalhares!
Porque raio
dás-te ao trabalho
de sentires!?
Dá-te mas é ao trabalho!
Ao verdadeiro trabalho!
Mas tudo bem,
eu vou arranjar-me,
pôr uns pregos,
uns chips, umas engrenagens,
umas placas enferrujadas,
uns fios eléctricos,
umas luzes,
vou arrancar de mim a alma,
o coração,
e vou trabalhar, que é essa
a gigantesca função
de toda a nossa vida
insignificante.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A Origem Da Realidade

A toda a hora grito o teu nome na minha alma,
tenho-o cravado em crosta na minha palma
que sangra a morte da inocência
daquele que chorou enquanto implorava clemência,
tenho o terror de ter o teu sangue
que o meu coração esguincha em cada pulsação.

És a nicotina que fumo enquanto espero a tua vinda
para cumprir a promessa de vingança,
jurada à frente dos espelhos do demónio,
promessa feita em lágrimas caídas sobre o rosto de uma criança:
não irei morrer sem primeiro te ver sofrer.

Tu és o inferno que carrego sobre as costas
de hoje ver a minha mãe com a amargura da vida,
lágrimas alcoolizadas e ácidas que desejam a morte
por não conseguir pagar as contas da electricidade puxada,
das rendas atrasadas, da água roubada e da internet pirateada.

Não me esqueci,

não me esqueci das vezes tentaste eliminar
da minha mente a minha mamã,
das vezes que me bateste logo pela manhã,
das vezes que gritaste comigo
como se fosse eu o teu pior inimigo,
das vezes que levei porrada e não tive culpa,
das vezes que me deste com o metal
mesmo quando te pedia mil vezes desculpa,
das vezes que fechavas as janelas e a porta
que me arrepia a espinha por saber o que se avizinha,
das vezes me obrigavas a ficar na cama durante horas,
das vezes que ficava aliviado por saíres para ir beber café,
das vezes que não pude falar porque não me deixaste
mas a verdade e a razão estavam do meu lado,
das vezes que me deitaste a baixo nas minhas vitórias.
Eu era criança, ingénuo, e fiquei com a percepção
que o mundo fosse assim como tu foste comigo.
Eles dizem que és o meu pai,
eu digo que és a minha maldição,
eles dizem que foi amor,
eu digo que foi destruição,
eles não viveram o que eu vivi,
eles não sentiram o que eu senti,
eu é que tenho razão.
Porque tu criaste em mim a solidão que a opressão
cria quando nos pega pela depressão.
Tu quiseste-me em fatos
mas só me sufocaste em gravatas.
Nunca me disseste que me amavas,
só aparecias quando me espancavas.
Tu apelidaste-me de porco, irresponsável, marginal,
tu conheces-me mal, mas passo a apresentar-me:

eu sou a flôr murchada à pala do teu sal,
sou o rancor e o ressentimento
de quem foi castigado por dizer a verdade,
sou o ódio e a raiva de quem não viu a justiça
e foi obrigado a fingir o mau sentimento,
sou a tristeza de quem foi posto de parte pela sociedade,
sou o poeta que anseia o purgatório
sobre aqueles que crucifixaram a liberdade
com o que lhes conveio chamar de obrigatório,
sou o monstro do cão criado nas escuridões,
nas solidões, nas torturas e nos desafectos
que agora ladra e mata enraivecido
sem lhe terem deixado soluções,
sou a humildade e o medo impuros
torturados pela perseguição do ser vencido,
sou o desepero de quem chamou cura à morte
mas acordou a tempo e passou à margem da sorte,
sou o louco que vê no espelho um ser horrível
que todos riem eternamente, situação impercetível,
sou a revolta tresloucada de um terrorista
que chocou os seus conhecidos quando se tornou bombista.

Como vês, sou o produto e o resultado da vontade do teu alter-ego,
quando tudo o que eu quis foi um abraço, um beijo,
ou uma outra qualquer amostra de amor,
mas tu não, tu destruíste todo o meu ego,
assassinaste e roubaste a minha alma
e foste-te embora depois de teres semeado a dor
e ainda levaste qualquer memória de esperança.

Agora vives feliz
e eu arrastar-me na maldição
de toda a minha realidade ser da tua criação.

Dinheiro Ganancioso

Tu, dinheiro, és Semi-Deus-Pseudo-Poderoso,
brincas com a mente e o corpo humano,
adoeces os gananciosos sedados pelo poder
ainda depois de mortos continuam-nos a foder.

Tu vestiste e ergueste o homem da ambição,
deste-lhe um bom carro, sexo e muita influência
e para te rires dele atiraste-o ao pricipício
quando ele se apercebeu da máxima de solidão:
pisou toda gente que lhe fez frente.
Ele achava-se máquina mas entregou-se ao suicídio,
depois de se gabar que já tinha tudo
foi conquistado pela verdade que o tornou mudo
quando lhe pronunciou a harmonia:
"és mais um humanóidezinho que eu piso,
eu cheguei para te lembrar que tens alma,
precisas do amor honesto,
pois, eu tenho-te na minha palma
e agora vou diminuir-te com o meu riso".

Eu sei a tua fraqueza,
o teu poder não é verdadeiro,
és um jogo virtual:
pode demorar uma eternidade
mas voltamos sempre à realidade no final.

Somos humanos,
marionetas da Natureza,
obrigados a ser amados e a amar,
aconteça o que acontecer,
o amor verdadeiro estará sempre em primeiro lugar.

Consigo viver sem ti,
posso roubar-te, tu não sabes quem sou
mas eles amam-me pois eu o assim dou.
Tu não dás nada, só mandas matar,
tudo o que sabes fazer é desgovernar.
Eu sinto o teu prazo de validade,
és apenas um cancro na Humanidade.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Amante Das Estrelas E Do Sonho

O céu é um mar de estrelas,
passo noites inteiras a vê-las.
Tento construir uma canoa,
ainda sou criança,
não foi uma ideia boa,
a ignorância sonha,
cheio de esperança,
eu continuo a tentar arranjar
uma maneira de lá chegar.

Noites inteiras passadas pela adolescência,
entre a frustração e a impaciência.
Teimoso, a ciência não tem razão,
o sonho está por cima da verdade.
Tento uma nova construção
no prédio mais alto da cidade.
Todos dizem que estou louco
mas eu sinto que já falta pouco,
só preciso de me pôr em bicos de pés e esticar o braço,
apercebo-me que ainda há algum espaço.
Deram-me sermões e mais trinta mil razões
para eu deixar de sonhar e fixar-me ao que é real,
já tinha tentado de tudo e escrito quinze cartas ao Pai Natal.
O sonho era grande mas obrigaram-me a ser normal.

Retenho o sonho dentro de mim,
sou um adulto homogéneo na caminhada da Humanidade
mas menos igual por ansear adormecer e voltar à irrealidade.
Até o sol se pôr vou sendo outra pessoa.

Os meus netos fazem-me lembrar os tempos da canoa,
eles gostam da história, querem sempre que eu a repita,
fiquei com uma pergunta deles na minha mente:
"Porque é que não conseguiste?"
"Porque desisti de tentar."
"Porquê?"
"Porque tornei-me uma pessoa diferente..."
Mas não, continuo igual a mim mesmo só que mascarado,
ainda hoje me pergunto, se tivesse continuado, teria conseguido?

No meio da reflexão apodera-se em mim um sono pesado e estranho,
adormeço e volto a ser criança,
é a mesma relva, a mesma única árvore, o mesmo lago...
estou no lugar onde costumava estar em criança.
Este sonho parece ser real...
A canoa está à minha frente,
completamente empoeirada,
observo-a, sento-me nela,
sinto-me no meu lar,
encosto-me, observo o céu estrelado,
um sorriso alegra-me e dá-me vontade de remar,
mal o faço, a canoa começa a voar...

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Querem princípios!?
Voltem ao princípio!
Que as vossas almas
estão cheias de crimes e pecados
e ao criticarem-me vocês ficam mais pesados!
Algures neste planeta,
onde um casal de tigres se encontra,
onde milhares de milhões de células estão a multiplicar-se,
onde um político está a fazer promessas às gentes,
onde um pai está a chorar a morte do seu pai,
onde alguém atrasado está a dar início a um reunião,
onde está a haver sete guerras civis,
onde um avião está a preparar-se para nunca mais voltar,
onde duas pessoas estão a culpar-se no meio de um acidente de viação,
onde uma folha está a cair da sua árvore,
onde uma águia está a caçar,
onde um investigador de directa está a arquivar um caso de homicídio,
onde uma mãe está a sorrir ao seu recém-nascido,
onde um casal está a fazer juras de amor,
onde alguém está a ler este poema,
onde alguém acaba de acordar,
onde uma rosa está a florescer,
onde uma mãe está a receber a morte, na guerra, do seu filho,
onde um grupo de amigos está a ir para a discoteca,
onde um peixe está a desovar,
onde um pombo está a defecar,
onde uma onda está a rebentar,
onde alguém está a afogar as suas mágoas no álcool,
onde alguém está a ser preso e a está despedir-se da liberdade com o olhar,
onde alguém acaba de conquistar a carta de condução,
onde alguém está a planear um atentado,
onde alguém está a rezar,
agures neste planeta, estou eu,
entre prédios e janelas iluminadas,
a escrever as últimas palavras deste poema.
À margem do precipício,
as rochas caídas,
por baixo de mim,
levam com ondas,
os dedos dos pés estão preparados.

O horizonte de um mar,
uma lágrima reflecte as memórias,
como se tudo o que aconteceu
estivesse um único fim: estar ali.

Vem uma rajada de vento,
empurra-me para a queda,
a viagem é calma e lenta...
o céu parece aumentar.

Tudo começa a ficar claro desde o princípio,
o sorriso deixa uma lágrima a meio da falésia,
é esta a peça que me falta
na busca entre respostas incompletas,
darei por completo esta peripécia
quando chegar lá abaixo.

sábado, 6 de agosto de 2011

Trips Comerciais No Sistema Solar S.A. (Sem Publicidade)

Dão-me as boas-vindas
mal chego à:
Trips Comerciais
No Sistema Solar S.A.

Dão-me um fato
e umas botas especiais
com o grande logotipo
da "Trips Comerciais™".

Entro no vai-vém
que vai mas não vem,
aconchego-me no lugar VIP,
o capitão da estação mostra-se pelo ecrã,
faz-me continência e diz:
"Tenha uma boa Trip".

Na Lua a caminhar,
o movimento do meu andar
é que a faz girar
e eu vou a todo o lado
sem sair do mesmo lugar.

Na Terra caminho,
vou estando por aqui, por ali
mas nunca estou em mim.

Vou a andar em Plutão
numa rota desvairada
em completa desorganização.

A passos em Marte
a fazer flexões
e a marcar território
por toda a parte.

Com um pé em Vénus
e outro a meio do ar
a admirar as #$5(.)(.)]!"
e os #/!=(__)??"(#. .

Destino final: Sol,
uma espreguiçadeira
uns óculos, vodka
e um sorriso mole.

Trips Comerciais No Sistema Solar S.A. (Com Publicidade)

Dão-me as boas-vindas
mal chego à:
<<,,;;;::::Trips Comerciais
No Sistema Solar S.A®™::::;;;,,>>

Dão-me um fato
e umas botas especiais
com o grande logotipo
da "Trips Comerciais".

Entro no vai-vém
que vai mas não vem,
aconchego-me no lugar VIP,
o capitão da estação mostra-se pelo ecrã,
faz-me continência e diz:
"Tenha uma boa Trip".

----- // ------
Intervalo

Publicidade:

"Não tenha relações sexuais,
combata a doença da imortalidade!"

"Não seja estúpido!
O Amor não existe!
Seja Inteligente!
Compre a Boneca Paixão!
Ligue agora e receba
o chip "Eterna Versão"!"

"Seja moderna!
Use a maquilhagem Maqui-Age!
Mudança de cor
por cada segundo que passa
equivalente às novas modas!"

----- // -----

Na Lua a caminhar,
o movimento do meu andar
é que a faz girar
e eu vou a todo o lado
sem sair do mesmo lugar.

Na Terra caminho,
vou estando por aqui, por ali
mas nunca estou em mim.

Vou a andar em Plutão
numa rota desvairada
em completa desorganização.

A passos em Marte
a fazer flexões
e a marcar território
por toda a parte.

Com um pé em Vénus
e outro a meio do ar
a admirar as #$5(.)(.)]!"
e os #/!=(__)??"(#. .

Destino final: Sol,
uma espreguiçadeira
uns óculos, vodka
e um sorriso mole.

----- // -----

"Não quer publicidade a meio da leitura?
Por cinco euros terá a cura!
Ligue Já"

---- // ----

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O meu inferno grego é eu ter o teu sangue
a escorrer nas minhas veias,
assim,
ser obrigado a amar-te de modo natural
quando tu é que semeias o mal.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Carta Inter-Universal

Ei, Deus, deixa-me pedir-Te um desejo,
leva-me para a Figueira Da Foz
onde não precise de usar a voz
que aclama e reclama o amor
de uma dor no meio do oceano
pelas lágrimas que secam
e se transformam num ardor
de uma amargura que não esquece.

Ei, se ouves a minha prece,
pede ao amor para namorar comigo
e me faça o seu melhor amigo
que eu já não acho em mim
a força que resistia à tortura
de pensar não haver cura
de ser ele o meu inimigo.

Ei, faz aqui umas reparações, por favor,
o tecto está inteiro mas chove cá dentro,
a minha chave de casa entra na porta
mas não a sinto como o meu lar,
a minha almofada está encharcada
a água que nela há é amargurada,
sinto-lhe o sabor o cheiro
do que é mas não é verdadeiro,
a cama onde me deito
faz sufocar o meu peito,
as janelas são transparentes
mas o sol não parece ser real
e as luzes que ligo são tão intensas
como quando as desligo...
sabes que mais?
Isto está tudo mal.

Ei, diz lá o que é normal,
não me lembro das normas da sociedade,
dita-me aquelas que fazem parecer outra realidade
para não levar para a rua as paredes-mestras
ou transformam os traços da minha face nas suas arestas.

Ei, não tens por aí um anjo-da-guarda a mais
para que me possa ouvir?
Ou antes um paraíso para onde eu possa fugir?

Ei, por acaso não tens um cigarro?
É que eu estou um bocado frustrado
e estou farto de levar com merda em cima,
não espera, é melhor não fumar,
é que mal o acendo vai estar
alguém por trás a criticar,
foda-se, eu só quero relaxar, posso?
Ou vais dizer que tenho de ir trabalhar?
Estás preocupado com o quê?
Mete-te na tua vida que eu sei
que contas tenho para pagar!
Estou farto de ouvir o que tu farias
e dirias mas não fazes nada
nem sequer sabes o que é minha vida!
Mas o que estás aqui a fazer!?
Cala-te com as tuas hipocrisias
e vai mas é tu trabalhar!

Ei, Deus, desculpa lá,
mas é que fartei-me de gente má.
Estava aqui uma pessoa a deixar-me louco
sabes como é, falam muito mas sabem muito pouco.
Ei já agora, fá-la desaparecer,
é que sempre que ela fala
parece que eu estou a desfalecer.

Ei, Deus, dá-me uma caravela
que resista a tempestades
e me leve a experimentar
do que faz a vida bela.

Ei, Deus,
faz com que eu não precise nada disto
e Te diga adeus.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Liberdade De Estar

Escrevo sobre a escuridão
porque é nela que mais anseio a luz.
- É muito triste e profundo - dizem,
não, é esperançoso, é uma foto desfocada
que só eu consigo ver nitidamente,
que fui eu que a vivi ou a quis viver
e está penetrado na minha mente
mas todos esqueceram,
falaram mas não a viveram.
"Convém para teu bem
que finjas estar tudo bem."
Mas eu sou quem!?
Uma máquina que não ama?
Que por amar, não odeia?
Que por odiar, não chora?
Que por chorar, não se vai abaixo?
"Não te podes ir abaixo,
tens de ser forte e lutar"
Lutar contra o quê?
Contra a vida?
A vida sou eu
e mais o seu porquê.
Como posso liberta-me de lágrimas
quando as aprisiono aqui dentro?
Incomoda-te, ou convém não partilhar?
Para não sentires a tristeza?
Da tristeza há a beleza da nobreza
de não me ter assassinado.
Sim, apodera-te de mim
e deixa-me berrar tudo o que tenho silenciado
para não ter de ser perseguido,
para não ser acusado de um acto cometido
que no fundo foi uma consequência
da sociedade ter-me obrigado
a deixar as lágrimas de lado e ficar calado.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Desinspiração - Meios Poemas

Poemas meios,
são canetas encravadas
que tendem a escrever
o que já está escrito:
branco, invisível...
É o jeito da mão,
não forma novas palavras
senão as que já estão escritas.
Precisa-se de evolução,
leitura de instrução
e aumentar o vocabulário.
Ou ser fiel e acreditar no poema
como se nada mais existisse.

Ou nada disso, apenas escrever
e fazer desaparecer esse tema
irreal criado pela mente
que desmente a realidade
e nos quer transformar
com uma outra verdade.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Chega de escrever,
está na hora de fazer,
de resolver, de re-criar!
Chega de estar sentado,
é hora de andar!
Nada de luzes sintéticas,
é hora de caminhar ao sol!
Fora, fora todas as teorias,
é tempo de praticar!
Denunciem as calúnias do pensamento,
calem as declamações da alma!
Chega de embelezar a desgraça!
Façamos antes o belo!
A vontade de ser e estar.
Que se lixem essas personalidades
insanas e desvairadas!
Desmantelem as guerras complicadas!
O ponteiro das horas deu duas voltas
e nada de novo aconteceu...
é tempo de viver,
é tempo de provar,
é tempo de ser eu!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

?

Se tivesse de escolher entre ti e uma vida perfeita
menina do meu coração, sem ti não há nunca perfeição,
dançaria num ritmo frustrado da vida.

Sou cego, só os teus olhos é que me são visíveis,
traz-me as notas da tua voz para me embalares
num sono inocente entre os momentos mais horríveis,
insensível sou pois só tenho tacto para a tua pele.

Quero descrever-te mas sou apenas um barquinho,
cujas velas são sopradas por tão doce brisa
e guiadas pela voz do encanto.
Ai que já me perdi em tão magníficas águas!

Donde vens ó senhora da minha inspiração?
Serás real? Demasiada perfeição que vejo.
Não derivas com certeza da minha mente
ou eu seria demasiado humilde,
nem Aphrodite teria tanta ousadia
para se rebaixar a tamanha obra de arte!
Anjo não poderás ser pois és gigantesca tentação,
Semifará não te inventou, 
como é óbvio,
ou ele teria criado a sua própria morte.
Deves ser uma Deusa real,
real por não brilhares 
e Deusa por dares brilho.
Nem ponho em questão
se foste inventada pelo Homem,
que isso seria o fim de tudo
pois teríamos conquistado a perfeição.

Qual poema, qual palavra que te descreva?
Nada, bem tento mas tudo se dá
como menos que parecido.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Vagabundo Nocturno

Um escuro adormecido pelos candeeiros da cidade sobre o silêncio do sono que tranquila gentes. Um carro ou outro passava, uma pessoa andava em direcção ao seu destino. Uma brisa tão suave e confortante aconchega o meu rosto. As estrelas lá estão, no céu. Os prédios à minha volta dizem-me o caminho, as folhas das árvores cantam com o vento. Os semáforos indicam a madrugada no seu piscar amarelo. Chego à praia, a lua ilumina-a, não era forte, era uma luz de presença, uma luz que fazia brilhar as ondas e as pedras da areia que estavam viradas para essa esfera, lua não egoísta ao ponto de não deixar que se veja as estrelas. Depois de tantos passos chegara perto das ondas, furiosas, enraivecidas mas respeitavam-me quando me tocavam nos meus pés acalmando-se. Deitei-me e os meus olhos fixaram-se no céu, numa estrela que, não sei porquê, me hipnotizava, por mais que quisesse não consiguia desviar os olhos mas também não queria. Deitado na praia e na água fina, de olhos abertos, adormecido, a sonhar....

Esta É A Carta Que Não Deves Ler

Não te posso dizer o que é pois o dinheiro não permite, o físico não permite, a mente não permite... a única coisa que tenho são estas palavras que lês e nem te apercebes que estou a falar de ti, dos teus belos olhos dos quais me fixo, dos teus lábios que desejo, da tua voz que me embala e da tua presença que, com a ignorância que tens sobre isto, me deixa nervoso, com as mãos nos bolsos e a olhar para o horizonte para não ser percebido. Um tema ao qual não consigo falar porque quando te digo olá tenho vontade de te dizer adeus e quando te digo adeus tenho vontade de te dizer olá. Sonho-te, crio a tua presença, assim, durmo sossegado, ando com um sorriso na cara pela rua e dá-me vontade de fazer nada. Sonhar-te implica desligar-me do mundo e da razão. E tu lês isto, do mais forte que tenho, palavras escritas, até gostas, até achas piada, até dizes que tenho jeito "pá" coisa mas... não te engasgues com o que vem depois: amo-te.

Doença

Ainda me lembro dos sabores da comida, de cada prato, de cada ingrediente... sabores únicos dos quais não dava valor, era tão rotineiro comer que para me alegrar teria de haver uma perfeita combinação de textura e de sabor. Agora para me castigar, não sinto na carne senão a sua textura que tão nojenta é sozinha, da massa que, não tendo sal, é tão salgada que nem dá vontade de beber água mas sim cuspir, do queijo no pão que salga tanto como a massa e da sobremesa, tão doce, tão aliciante, não, tão sem sabor, apenas textura... Todos os dias tento tão desesperadamente encontrar o sabor... falta açúcar? Pimenta? Oregãos? Salsa? Então ponham um quilo de cada e sirvam-me esse prato de Obèlix. Ah castigo! Que fiz eu? Para que me obrigas a ficar tão só em casa a assuar-me até sair sangue? Porque me obrigas tu, a ficar deitado para que não fique com tonturas? E acordar, fazes-me não querer acordar ou sinto o meu cérebro a rebentar... nem sono deixas que tome conta de mim no meio da tosse que já vomito... castigo, abafa-te em comprimidos, desaparece e deixa a cura comigo. Morre.

O Lar Antes Da Luz

Nasci por estes lados,
anos passaram, não me lembro,
são memórias nos confins da minha mente.
Foram as primeiras,
não devia estranhar mas estranho.
Reconheço um lugar parecido,
mas é diferente, agora são outras as maneiras.
Jurava que fosse maior,
tudo mudou, tenho a certeza...
mundo demasiado esquisito,
sinto saber esta fase toda de cor,
normal, sou marioneta da Natureza,
como tal, devo habituar-me à estranheza.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Felicidade

Felicidade seria conquistar o velho e descobrir o novo, seria convidar-te para tomarmos um café, seria desmontar as peças da minha personalidade e destinguir os defeitos dos traumas para reciclá-los, seria quebrar as regras da minha condição humana numa só conquista, seria acordar sem sono e contemplar cada raio do sol, seria ter calor e sentir uma brisa suave e fresca na face num planalto onde nenhum ser humano tenha estado, seria amar-te sem actos nem palavras nem pensamentos, seria sonhar em cima de sonhos realizados, seria não preocupar-me contigo nem com eles sem deixar de vos pensar, seria renascer em mim próprio sem ser novo mas diferente, seria morrer e dizer "fiz tudo o que podia para viver" com um sorriso de orelha a orelha... felicidade, seria não ter de escrever sobre ela.

sábado, 2 de julho de 2011

Não consigo chorar mais,
estou desidratado,
já não sinto amor...
Tirem-me a alma,
imploro de olhos inchados,
não quero sentir mais dor...

Grito nos vossos tímpanos,
brinco com as minhas mágoas,
tudo isto é uma farsa trágica...

Ajoelhado e rendido,
sem sequer te olhar
nesse teu olhar que não me vê
me vejo vencido...

Vencido na guerra
entre mim e a minha pedra
que se recusa, revoltada,
a encaixar nesta terra...
Que terra tão infértil, esta...
Que água tão salgada...
Que árvore tão seca...

Sou uma mosca
que bate no vidro da janela,
sem o ver, mas insiste,
porque para lá dela
está uma vida livre e bela.
Um vidro que sinto mas não vejo...
o que me agarra àquilo, atrás de mim?
Ó mosquinha tontinha,
porque voas tão desenfreadamente
contra uma janela aberta?
Desesperas contra o nada,
pois nada será quando passares
para um dos três lados...
Talvez a vitória, talvez o fracasso,
seja qual for, voa,
voa pelo céu sonhador
ou pelas terras da realidade,
se tens asas cria-te...

Bem, estou farto,
ou matas ou vai morrendo,
já não quero saber,
apatia é, menos sofrer.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Eu, Borboleta

Sou uma larva,
um projecto de borboleta no chão.
Infiltra-se na minha alma a luz
que me faz renascer de mim próprio,
transformando-me numa borboleta
a vaguear entre cidades de árvores,
entre relvas, entre campos floridos...
que se esforça para ser livre num bater de asas,
ao sabor ou contra o vento.
No cuidado mas não desconfiado,
entre a honestidade e a falsidade
de uma planta que me oferece o seu pólen
ou planta bela e atraente mas secretamente carnívora.
É absurdamente nobre, no tempo do Universo
sou uma borboleta que dura um dia,
entre vinte e quatro horas a voar
e morrer depois como uma brisa que veio sem ficar.

domingo, 26 de junho de 2011

A Cozinha

Deve ser o piar dos pássaros,
o silêncio dos móveis,
os moços a gritarem no rés-do-chão,
o som quase nulo da televisão,
o ruído da máquina de roupa tão constante
que acabamos por deixar de a ouvir
tornando-se hipnotizante,
a luz do sol a entrar pela janela indirectamente,
iluminando a cozinha suavemente,
o canto junto à porta com um banco
e a mesa do lado esquerdo a apoiar o copo.

É esta a física que vejo.
E tu, o que sentes?

Um ruído de fundo da televisão
que faz parecer a rua em movimento,
um silêncio que provoca o pensamento
que te transporta para as memórias do tempo,
os raios de sol desmascaram o pó
das coisas que não se mexem
ou a escuridão da noite que dá vida
a essas mesmas coisas que te deixam só.

Essa cozinha, onde te refugias,
vives um mundo que é passado,
onde vês coisas que não devias
e fazem do teu presente um fardo.
Num mar de descobertas
a levar com ondas de Pessoa,
de Agostinho, de Sérgio Ramos,
(de outros mais que virão)
me têm trazido tempestades
de dúvidas e de confusão.

É a destruição do meu ser
a navegar em alto-mar,
para o nada que sou, ter tudo,
e reconstruir-me na forma de escrever.

sábado, 25 de junho de 2011

A Vida Foi No Tempo

Uma lágrima baloiça na pálpebra
num olhar esperançando ser mentira,
mas o silêncio predomina
como se de um pedido de desculpa se tratasse
por ter dado notícia tão dolorosa.

A dor infiltra-se,
os olhos avermelham-se,
a lágrima ganha maturidade,
os olhos fecham-se:
é hora da lágrima sair do seu ninho.
Faz a viagem pela face
e vai morrendo pelo caminho,
evaporando-se aos poucos
enquanto aos poucos o seu progenitor
perde as forças nas pernas e vai caindo
no chão, num grito mudo querendo afastar a dor.
A tristeza apodera-se num riacho de lágrimas,
nos soluços constantes e nas meias interjeições.

Como uma flor que murcha
ou uma aranha a encolher as patas ao morrer,
o corpo fecha-se ao deitar-se no chão,
ganhando a forma de como foi antes de nascer
(como se quisesse regressar ao passado,
quando esteve no ventre de sua mãe),

os joelhos juntam-se no peito,
as mãos tapam a cara sem querer ver...

A lágrima de tristeza que se evaporou,
criou um ambiente pesado através do ar,
entranhou-se no corpo de quem a respirou,
partilhou a tristeza e fê-la chorar.

Vai ficando escuro,
tudo fica paralisado.

É o fim.

Ouvem-se os aplausos e os gritos,
as luzes acendem-se,
o público está de pé,
os actores voltam ao palco,
com sorrisos na cara,
para o agradecimento.

Foi esta a última peça
neste teatro apodrecido pelo esquecimento.
Estou numa das cadeiras da plateia
e, com os meus olhos,
transformo o que fora tudo,
com a memória, o que é nada.

Todos seguiram as suas vidas,
mas este teatro ficou,
à espera de ser acolhido por alguém,
é a morte de um passado cheio de glórias
e o fim do que aqui se vivera,
já não passam de memórias.

Ultramar - Abandonados No Oceano

Esquece esses malfeitores, irmão,
não te preocupes se eles te vierem buscar,
deixa a guerra e ensina-me a ser criador
de um mundo que nunca aparece na televisão.
Dá-me um abraço sempre ao acordar,
sais de casa descansado
mas logo podes não voltar.
Tens uma família que precisa de ti,
a guerra pode estar à nossa porta
mas ainda não entrou.
Não fujas, não te escondas,
a nossa casa não é segura
mas não há outro lugar
onde tu possas descansar.

Olho para a porta da casa
e sinto próximo o dia
em que a mesa terá um lugar vazio,
em que não conseguirei comer
por pensar que estás ao frio,
na noite escura, com uma arma na mão,
sozinho, a matar para não morrer.

Sinto-me enjoado, meu irmão,
sempre foste anti-violência,
mas que lhes interessa?
Foste obrigado,
destruíram todas as tuas crenças,
criaram um cancro na tua alma,
os pesadelos, os sustos,
a apatia, as lágrimas,
a perna ferida...
agora não tens trabalho,
a guerra acabou,
a tua vida foi esquecida,
onze anos e o Estado não pagou.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Poemas Duvidados

Preciso de ti, inspiração,
estou estancado,
puseram em questão
a forma da minha mão,
já não passas de um caderno abandonado
onde outrora escrevi
mil poemas e projectos
perdidos, sem temas concretos.
Onde estás meu poeta, que te choro,
se és realmente, escrevo agora,
por não saber onde moro
com tantos poetas que há,
não quero ser um mas o poeta.
Tempos eram a apanhar outro cacho
do meu profundo afecto
mas agora parece que cheguei ao fim do tacho.
Tudo o que deixo por escrever
é desinteresse ou cansaço,
desinspiração ou fracasso?
O que é que eu faço?
Esperar em desespero
pela identidade que me confortei,
de um escape onde chorei,
senti e amei?
Vejo poemas amaldiçoados
por dúvidas, completamente desamados.
Triunfei-os numa outra hora
em que dava por finalizados,
agora, já não passam de palavras vazias
de alguém que fui, por amor que dei,
já nada tenho, já nada sei...

sábado, 18 de junho de 2011

O FMI pode me emprestar dinheiro? É que também fui enterrado (e foi em areia movediça: quanto mais me mexo, mais me enterro, mas se não me mexo sou enterrado) por causa das más vontades. Sei que o FMI ajuda-nos puxando-nos através de uma corda no pescoço, mas ao menos não vou ficar sem conseguir mexer-me debaixo da terra, é que debaixo da terra estão os mortos.

Para Anjo Lurdes

Chorei lágrimas sobre o teu corpo
na esperança que acordasses,
para que eu te dissesse adeus
ou outra qualquer despedida
que não fosse como fora:
um par de beijos na cara 
dum olhar inacabado.

Morreste a servir
um cadáver vivo,
que não fala nem sente,
e por ela te crucificaste,
anjo, e por ela
morreste inocentemente.

Agora que foste embora,
abandonaram esse corpo
ao qual prestaste serviço,
de nada foi teu meio século,
minha árvore da vida infértil,
meu sol sem planetas...

Tornaste-te um anjo,
só te faltava asas
e agora já as tens.

Nasce outra vez
e responde-me
se esta desumanidade 
demoníaca
tem os seus 
porquês.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ninguém destinou o que sonhei
na realidade que passei
onde não fui rei nem reinei
mas comando o sonho
que me faz viver
nesse mundo que só
me quis ver sofrer.

terça-feira, 14 de junho de 2011

O Meu Registo Mental

Sinto-me preso,
preso à realidade
desconhecendo a imaginação
que me traz inspiração.
Quem sou eu?
Serei realmente poeta?
Ou não passo de um profeta
da sociedade que me afecta?
Há poesia nos meus versos?
Duvido, não a sinto,
mas sei que já a senti,
também não me lembra de ter escrito
o sentimento com que escrevi.
Talvez sejam, poemas meus,
fases temporais do meu ser,
períodos que se desvanecem
no tempo em que estou a viver.
Não me atrai a poesia
por não a conhecer.
Vida que quero ter,
essa alegria não faz parte de mim.
Os meus poemas não são
senão meras palavras que dizem:
"Eu estou assim..."

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Guitarra Portuguesa

Preciso de Te ouvir, 
minha Guitarra Portuguesa,
entra no meu peito que Te quero sentir,
quando Te ouço sinto-me Português.
Canta para mim a Tua beleza, 
que me lembras a Pátria,
o orgulho das nossas conquistas,
do grito do nosso Povo, 
do amor à dor,
em tudo o que já passámos,
Portugal, olhos meus da Tua cor.

domingo, 12 de junho de 2011

Montanhas De Pessoas

Como um triângulo
de cima para baixo,
de uma pessoa para multidões,
o gelo está onde não batem corações.


As fontes são feitas das tristezas
de quem se encontra por baixo
e quanto mais abaixo mais riachos se juntam
formando rios, rios que separam montanhas iguais.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A Criação Dos Meus Poemas

Arranquei as minhas próprias veias
para desenhar as linhas dos meus cadernos.
Vomitei o meu sangue para encher esferográficas
e pintei teias entre o mundo e a minha vida.
Fui para os maus caminhos
e espetei os pés entre agulhas e facas com firmeza.
Arranquei os meus dedos com os dentes,
engoli-os para pesar a minha culpa
entre a opressão e a fragilidade.
Recusei-me a respirar a poluição,
enfiei uma mão dentro da minha boca
e arranquei os meus pulmões.
Espanquei o meu crânio contra a parede
até ficar com a mente louca.
Arranquei toda a minha pele
para fazer dela o meu mundo da escrita.
Decapitei as minhas orelhas
para que não fosse influenciado pelas ovelhas.
Destruí todos os meu pêlos para ficar mais vulnerável
e sujeito a tudo o que não é palpável.
Retirei a minha carne e deixei só o esqueleto
para vestir o meu corpo com a minha alma.