A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Chega de escrever,
está na hora de fazer,
de resolver, de re-criar!
Chega de estar sentado,
é hora de andar!
Nada de luzes sintéticas,
é hora de caminhar ao sol!
Fora, fora todas as teorias,
é tempo de praticar!
Denunciem as calúnias do pensamento,
calem as declamações da alma!
Chega de embelezar a desgraça!
Façamos antes o belo!
A vontade de ser e estar.
Que se lixem essas personalidades
insanas e desvairadas!
Desmantelem as guerras complicadas!
O ponteiro das horas deu duas voltas
e nada de novo aconteceu...
é tempo de viver,
é tempo de provar,
é tempo de ser eu!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

?

Se tivesse de escolher entre ti e uma vida perfeita
menina do meu coração, sem ti não há nunca perfeição,
dançaria num ritmo frustrado da vida.

Sou cego, só os teus olhos é que me são visíveis,
traz-me as notas da tua voz para me embalares
num sono inocente entre os momentos mais horríveis,
insensível sou pois só tenho tacto para a tua pele.

Quero descrever-te mas sou apenas um barquinho,
cujas velas são sopradas por tão doce brisa
e guiadas pela voz do encanto.
Ai que já me perdi em tão magníficas águas!

Donde vens ó senhora da minha inspiração?
Serás real? Demasiada perfeição que vejo.
Não derivas com certeza da minha mente
ou eu seria demasiado humilde,
nem Aphrodite teria tanta ousadia
para se rebaixar a tamanha obra de arte!
Anjo não poderás ser pois és gigantesca tentação,
Semifará não te inventou, 
como é óbvio,
ou ele teria criado a sua própria morte.
Deves ser uma Deusa real,
real por não brilhares 
e Deusa por dares brilho.
Nem ponho em questão
se foste inventada pelo Homem,
que isso seria o fim de tudo
pois teríamos conquistado a perfeição.

Qual poema, qual palavra que te descreva?
Nada, bem tento mas tudo se dá
como menos que parecido.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Vagabundo Nocturno

Um escuro adormecido pelos candeeiros da cidade sobre o silêncio do sono que tranquila gentes. Um carro ou outro passava, uma pessoa andava em direcção ao seu destino. Uma brisa tão suave e confortante aconchega o meu rosto. As estrelas lá estão, no céu. Os prédios à minha volta dizem-me o caminho, as folhas das árvores cantam com o vento. Os semáforos indicam a madrugada no seu piscar amarelo. Chego à praia, a lua ilumina-a, não era forte, era uma luz de presença, uma luz que fazia brilhar as ondas e as pedras da areia que estavam viradas para essa esfera, lua não egoísta ao ponto de não deixar que se veja as estrelas. Depois de tantos passos chegara perto das ondas, furiosas, enraivecidas mas respeitavam-me quando me tocavam nos meus pés acalmando-se. Deitei-me e os meus olhos fixaram-se no céu, numa estrela que, não sei porquê, me hipnotizava, por mais que quisesse não consiguia desviar os olhos mas também não queria. Deitado na praia e na água fina, de olhos abertos, adormecido, a sonhar....

Esta É A Carta Que Não Deves Ler

Não te posso dizer o que é pois o dinheiro não permite, o físico não permite, a mente não permite... a única coisa que tenho são estas palavras que lês e nem te apercebes que estou a falar de ti, dos teus belos olhos dos quais me fixo, dos teus lábios que desejo, da tua voz que me embala e da tua presença que, com a ignorância que tens sobre isto, me deixa nervoso, com as mãos nos bolsos e a olhar para o horizonte para não ser percebido. Um tema ao qual não consigo falar porque quando te digo olá tenho vontade de te dizer adeus e quando te digo adeus tenho vontade de te dizer olá. Sonho-te, crio a tua presença, assim, durmo sossegado, ando com um sorriso na cara pela rua e dá-me vontade de fazer nada. Sonhar-te implica desligar-me do mundo e da razão. E tu lês isto, do mais forte que tenho, palavras escritas, até gostas, até achas piada, até dizes que tenho jeito "pá" coisa mas... não te engasgues com o que vem depois: amo-te.

Doença

Ainda me lembro dos sabores da comida, de cada prato, de cada ingrediente... sabores únicos dos quais não dava valor, era tão rotineiro comer que para me alegrar teria de haver uma perfeita combinação de textura e de sabor. Agora para me castigar, não sinto na carne senão a sua textura que tão nojenta é sozinha, da massa que, não tendo sal, é tão salgada que nem dá vontade de beber água mas sim cuspir, do queijo no pão que salga tanto como a massa e da sobremesa, tão doce, tão aliciante, não, tão sem sabor, apenas textura... Todos os dias tento tão desesperadamente encontrar o sabor... falta açúcar? Pimenta? Oregãos? Salsa? Então ponham um quilo de cada e sirvam-me esse prato de Obèlix. Ah castigo! Que fiz eu? Para que me obrigas a ficar tão só em casa a assuar-me até sair sangue? Porque me obrigas tu, a ficar deitado para que não fique com tonturas? E acordar, fazes-me não querer acordar ou sinto o meu cérebro a rebentar... nem sono deixas que tome conta de mim no meio da tosse que já vomito... castigo, abafa-te em comprimidos, desaparece e deixa a cura comigo. Morre.

O Lar Antes Da Luz

Nasci por estes lados,
anos passaram, não me lembro,
são memórias nos confins da minha mente.
Foram as primeiras,
não devia estranhar mas estranho.
Reconheço um lugar parecido,
mas é diferente, agora são outras as maneiras.
Jurava que fosse maior,
tudo mudou, tenho a certeza...
mundo demasiado esquisito,
sinto saber esta fase toda de cor,
normal, sou marioneta da Natureza,
como tal, devo habituar-me à estranheza.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Felicidade

Felicidade seria conquistar o velho e descobrir o novo, seria convidar-te para tomarmos um café, seria desmontar as peças da minha personalidade e destinguir os defeitos dos traumas para reciclá-los, seria quebrar as regras da minha condição humana numa só conquista, seria acordar sem sono e contemplar cada raio do sol, seria ter calor e sentir uma brisa suave e fresca na face num planalto onde nenhum ser humano tenha estado, seria amar-te sem actos nem palavras nem pensamentos, seria sonhar em cima de sonhos realizados, seria não preocupar-me contigo nem com eles sem deixar de vos pensar, seria renascer em mim próprio sem ser novo mas diferente, seria morrer e dizer "fiz tudo o que podia para viver" com um sorriso de orelha a orelha... felicidade, seria não ter de escrever sobre ela.

sábado, 2 de julho de 2011

Não consigo chorar mais,
estou desidratado,
já não sinto amor...
Tirem-me a alma,
imploro de olhos inchados,
não quero sentir mais dor...

Grito nos vossos tímpanos,
brinco com as minhas mágoas,
tudo isto é uma farsa trágica...

Ajoelhado e rendido,
sem sequer te olhar
nesse teu olhar que não me vê
me vejo vencido...

Vencido na guerra
entre mim e a minha pedra
que se recusa, revoltada,
a encaixar nesta terra...
Que terra tão infértil, esta...
Que água tão salgada...
Que árvore tão seca...

Sou uma mosca
que bate no vidro da janela,
sem o ver, mas insiste,
porque para lá dela
está uma vida livre e bela.
Um vidro que sinto mas não vejo...
o que me agarra àquilo, atrás de mim?
Ó mosquinha tontinha,
porque voas tão desenfreadamente
contra uma janela aberta?
Desesperas contra o nada,
pois nada será quando passares
para um dos três lados...
Talvez a vitória, talvez o fracasso,
seja qual for, voa,
voa pelo céu sonhador
ou pelas terras da realidade,
se tens asas cria-te...

Bem, estou farto,
ou matas ou vai morrendo,
já não quero saber,
apatia é, menos sofrer.