A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Faz o que quiseres,
faz-me mal,
continuo a sorrir,
é isso que preferes,
para mim é igual,
continuo a sorrir.

Inflige-me dor,
descarrega a frustração,
é indestrutível o meu amor
mesmo não possuindo o teu coração.

Vês, é que não sinto corpo nem alma,
sou célula dum sentimento
cujo o único movimento é abanar,
por isso sou indolor, diferente de amar.

Talvez ultrapassou o amor,
talvez seja obsessão,
mas já não me afectas
no final desta oração.

Música.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Noites Urbanas

À noite,
as luzes da cidade são estrelas
iluminando as ruas e ruelas,
onde, do outro lado dos estores e janelas,
sonhos se realizam durante sono.

Lá ao longe,
são imagem da paisagem,
mostrando caminhos
de contos de fadas adormecidos,
escondidos entre prédios.

Algures, nuns estores iluminados,
alguém cruzar-se-à comigo
em troca de olhares,
com aplausos no coração.
Espero então,
à noite, na minha humilde janela,
fumando o cigarro sozinho,
sinto-me irradiar magia
enquanto os meus olhos
procuram o seu caminho.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

É engraçado, senti que algo em mim estava a mais, era o vazio de sentir que algo estava a faltar em mim.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Irmão

Sinto a tua falta.

Nos remoinhos das tempestades,
naufragando às voltas
até me afundar nas escuridões
profundas do oceano
lembro-me de ti,
de me teres ensinado
que chorar é de ser humano
mas o mar que me afogo
é das minhas lágrimas
e são elas criadoras
do buraco negro do remoinho,
do mesmo buraco negro
que me suga até ao esqueleto.

Este é o abraço que te quero dar,
meu irmão, e nele compensar
o nosso tempo de separação.

É o conforto que a saudade sauda,
reconhecendo-o como a maior vitória
de tudo o que é nossa memória
e o desejo do que não é, ser a nossa causa.

Transformados pela vida,
ou antes ao que a ela sucedeu,
separados tu e eu,
mais uma vez, alguém de partida.

Somos nós assim, movidos pela fé,
na luta sem fim à margem da maré.

Brindemos juntos.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Preciso de sonhar
para me sentir livre.

Quando Te Vejo

Eu já nem te olho nos olhos
para não me apaixonar outra vez,
a magia do teu olhar hipnotiza-me
fazendo-me acreditar que me queres.

Baixo a cabeça, olho de relance,
cumprimento rapidamente
e não me lembro de o ter feito,
só de te ter visto e não te ver.

Demónia.

E sorrio,
quase rindo de cumplicidade...
Pois morram, morram todos,
com esse vírus sugador de almas!
Morram bêbados, durante o sexo,
de pança cheia! Morram neste século
para não destruírem o próximo!

Pois falem! Falem!
Que os dentes se partam
a falar das vidas de ninguém
como quem trinca pedras!

Se não chorassem,
haveria o vosso sangue
solidificar por não fazerem nada
pelo Povo e pela Pátria!

Deixem os mortos viver
que eles fariam alguma coisa!

Não houve sangue,
afirmaram com orgulho,
o que não disseram eles
foi a causa: não havia carne viva,
carne ardente e corajosa
que estivesse, não atrás,
mas à frente, à frente dos canos
das armas! Homens fracos
e cobardes, ovelhas cor-de-rosa
cheias de curiosidades!
Homens fingidos!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Fazendo Nada

Cá estou eu,
depois de um dia nulo,
cheio de acções nulas,
sem interacções,
sem que o tempo
tivesse passado por mim.
Fazendo nada,
neste nada que nada
em sonhos sobre nada.
Nada, rigorosamente nada.
Não me lembrei de amigos,
de inimigos, de curiosidades.
Nada. Não tive triste nem alegre,
nem apático. Nada.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Deambulações

Às vezes
evito olhá-la
porque me sinto
que me roubaram
algo irrecuperável,
algo que não existiu
mas deixou saudade.

Olho-me ao espelho
e imagino-me de ombros direitos,
como a vida se tornaria melhor,
como a primeira impressão
seria tão diferente,
como se outras coisas
pudessem acontecer inesperadamente.
Gostava de ter ombros endireitados,
até sorrio só de pensar nisso,
mas o peso que carrego
encurvou-me, como uma
flor murcha.

O que há para dizer?
Entre estes parágrafos
sinto estar guardado o segredo
da realidade.
A chave que torna as portas
em janelas para que eu possa
apreciar e conhecer antes de entrar.
Posso fugir? É que já não aguento fingir,
sinto-me a cair sem saber para que lado.
Morro à noite e ressuscito a cada manhã.
Ainda não houve quem salvasse
a minha alma de morrer durante a noite.

Onde está a porra da física
do que nos torna abstractos?

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Dias Diários

O quão desnecessário
é armar discussão.
Quer dizer,
não temos certezas
de voltarmos a viver.
Para quê
criar incêndios
se ao fim e ao cabo
são nossas as lágrimas a apagá-los?
Deixai-os falar,
se és honesto contigo próprio
não tens que te justificar.
Olho à minha volta
e só vejo beleza,
porque ela está
dentro de mim,
sentes-me?
Porque
se te sorrir
sorrirás,
que paraíso
precisarás
se tens quem
te provoque um sorriso?
Só há um ano para cada idade,
para quê esperar?
Conversa, move e mexe
sem vergonha, timidez,
sem orgulho ou a preguiça de um talvez,
quando deres por isso os dias foram iguais,
e não conseguirás lembrar-te de cada um,
torna-os especiais e quando forem demais
descansa em lugar nenhum...
Não me apetece escrever
acabar isto, tu e eu estamos a perder
o tempo a ler isto, deveríamos
era criar mais um momento.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A Beleza da Tristeza

Poesia triste
é esperança
que resiste
e alcança
mais alto,
começando
na cova
dando
o salto
ao ar
que renova
o coração
e a alma
e sabe amar
a solidão
com calma
e harmonia,
essa sim,
é a Poesia
que canta
tristeza
assim
e encanta
a pureza
duma lágrima
a brilhar
fazendo
estancar
essa página.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Deambulações

Vejo-a.

Ao longe um mundo
que quase conheci.

Desejo-a.

Por um segundo
não correspondi.

Não é verdade,
uma festa na cara,
um olhar de ansiedade,
em lugar errado.

Não sou burro
mas mantenho a minha burrice,
por outro lado...
o tempo deu-me um murro...
burro... seria se eu caísse.

Atirei-me do pico de uma estrela
e a gravidade da terra puxou-me,
não queria tê-la
porque sou feito de deambulações
incríveis, condenadas pela sociedade,
não conhecendo as razões,
tornou-me em teorias impossíveis:
sonhos...
sonhos...
sonhos...
enquanto sonho,
sonho não sonhar,
sem mexer concretizar...
sou eu,
sonho que detesta sê-lo,
que sonha ser real.
Sou eu, metade inexistente,
de objectivos e momentos falsos,
sou eu, cujo o pé esquerdo
arrasta-se atrás do direito
como um bêbado
bêbado de sorrisos 
e olhos fechados
enquanto olha o céu.
Sou eu, lúcido,
nestas linhas onde me perco
e escrevo sem escrever,
sem perceber a raíz do poema,
chego ao fim sem conclusão,
porque sou eu.

Fumo Que Me Sai

Já não choro ultimamente,
não é por falta de vontade
mas sim por não ter forças.

Caiem-me os olhos pesados,
derretem-se formando olheiras.

Oh vida cruel

eles sorriem e eu não.
Todos menos eu.

Demónios, essa gente,
riem de mim, da minha vida
e de tudo o que não é meu.

Como a minha felicidade.

A minha felicidade que não tenho.

Eles gozam com as minhas dívidas
para com a felicidade.

Oh inferno

devo a minha morte
para ser feliz.

Oh maldição,

ainda não fumei
cigarros suficientes
para que tal aconteça.

Ainda hoje encontrei
um prostituta pura,
cheia de cornos em casa,
a casa plurista, plural
do seu adjectivo.

Pedi-lhe um cigarro,
não parecia ela quem era,
mas senti-lhe o olhar
desejoso sobre o meu corpo,
que, por o ser,
tornou-a logo desejável.

Senti-me um prémio,
senti-me ser dinheiro,
e logo logo eu era poder.
Senti-me um objecto caro
que só serve para exibir o seu valor
financeiro e todo o poder
que ela podia comprar.

Puta subtil, não sabia ela
que o dinheiro ganha vida
e controla todos os gananciosos,
enquanto a morte se ri nas costas deles.

Gostei do que senti,
deixei de ser a minha pessoa
para ser um objecto de três pernas.
Imortal como um objecto.
Ilusório, essa era a minha magia.

Ah como a vida é bela.

Enquanto o inferno tem chamas
é divertido para quem as controla.

Ah prostituição louca

Não vendi a minha mente
e ela julga que sim,
inteligentemente
faço-me de parvo assim.

Mas ela não sabe que eu sei,
não vê ela que eu lhe vejo
e observo o mundo enquanto sonho.

Tenho-a na minha mão,
ninguém compreende
que não é solidão.

Faço dos meus neurónios
peças de xadrez,
pensam eles que a minha inteligência
defini-se pelo que digo, pelo que faço,
mas está na ciência
da quantidade de espaço
que o silêncio tem,
pois não há promessas
nem o tempo se define
em tal dimensão.

Sabem lá eles,
coitados,
pensam conhecer-me
mas pensam em voz alta,
ouço as suas reacções,
como se penetrasse
nos seus sonhos
criando as razões
para guiar a razão.

Ah ignorância

Como eu gosto de viver
e vivo sem o fazer.

Ah

Não sei o que digo,
naturalmente sou meu inimigo
e mato-me a cada segundo,
mas gosto de fumar,
o fumo é o meu mundo
ele se traduz pelos meus pulmões
e sai desenhando aquilo que sou:
fumo que sai da boca.
Dos outros.

Ah que harmonia

sinto a paz em mim,
parece que acertei o meu pensamento
com a hora real do planeta,
parece que cada momento
está bem arrumado em sua gaveta,
parece que tudo faz sentido
sem pensar duas vezes,
parece que tenho vivido
assim todos os meses,
parece que não há fim nem início
gozando ao máximo o meu vício...

Ah tão saboroso

tão saborosos
estes "ah's" que me saiem
enquanto o fumo me sai
pela boca.

Ah

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Paixão - Despedida Desconcretizada Silenciada

Passo por ti,
os nossos olhos cruzam-se,
e se cruzam-se-me 
factos interpretados por mim.

Desconheço a tua interpretação,
se jogaste com razão, com o coração
na nossa interacção, ou se foi tudo
ilusão fornecida pela solidão
de uma vida de um ruidosamente surdo.

Ainda me pergunto
o que terá acontecido,
e se aconteceu,
quem interrompeu
e o que terá corrompido.

Passas por mim,
apesar do meu fogo congelado,
ainda há calor sem fim
quando passas ao meu lado.

Meu ser, meu parecer,
meu espelho infinito,
caio em ti sem me perder
até o chão me tornar mito.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Há peixes que vivem num aquário minúsculo a vida inteira, sem fisionomia para se libertarem, tornam-se definição antónima à liberdade de viver.
Se não és um peixe desses, não reclames, faz pela vida.
Sonhos não são desilusão,
ainda me divirto na solidão.
Não é realidade, é temporário,
é verdade.

Sou um peixe num aquário.

Teus Olhos Belos

E às vezes olho-te nos olhos,
naqueles milésimos de segundos
quando passas por mim,
quando os nossos olhares cumprimentam-se
e só nós é que existimos,
pergunto-me o que aconteceu,
se tu exististe ou se foi só entre mim e eu?

Teus olhos belos,
minha ilusão.

Minha paixão em acapella.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Quando sofremos
antes de nascermos
- a dor dos pais.

Quando sofremos
antes de escolhermos
- o medo.

Quando nos arrastamos
pela corrente da sociedade
- o pavor da solidão.

Quando prostituímos
as nossas morais
- a alma vazia.

Quando na luta sentimos
serem muitos mas fáceis
- certeza da vida.

Quando resistimos
à destruição do nosso mundo
- o fim dos opressores.

Quando choramos
em tempos de guerra
- o amor vivo.

Quando tudo isto acontece,
um herói nasceu.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Tudo escuro.
Apagaram-se as luzes.

Não sei se é o fim,
não sei se é o início.
Se as luzes se fundiram
não sei onde buscá-las
nem para que lado caminhar.

Não há voz
neste mundo sem eco,
é sem fim, sem fim...
sem paredes....

algo dentro de mim
está a sugar-me,
a sugar o meu corpo.
O tempo passa
e passa sem mim...
estou encarcerado,
diminuto,
caído sobre mim próprio,
perdi a noção de mim mesmo,

sou um chão abstracto,
uma realidade onde
os sentidos se confundem,
e choro sem chorar,
numa respiração profunda,
aquela que tenta absorver energia
à sua volta, mas os pulmões enrugam-se
do seu próprio vazio...

tudo que é meu é tão próprio
que se torna na vida um ser impróprio,
e sei disso, choro só por causa disso.
Todas as noites me suicido
para matar todas as minhas tristezas.
Odeiem-me. Eu também me odeio.
Sou cabrão, tão merdoso
que mereço viver nesta porra de solidão.

Será que entendes as minhas feridas
de leão?