A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

sábado, 29 de outubro de 2011


Eu vi-te, lá nas longes alturas,
lá nesse tempo perdido,
nesse caminho sem fim,
o meu olhar não te alcançava
apesar de te conseguir ver.
Mas havia um de nós que se afastava,
um, que se estava a perder.
Bem te quis, muito te quis,
mas lá, nesse universo desconhecido,
brilhavas tu na imensa escuridão,
fiquei apegado ao teu brilho,
parecias estar à distancia do meu braço
e eu esticava-o mas havia ainda muito espaço.
Oh! Se não te quis! Como te quis!
Apenas exististe quando eu, de olhos fechados,
te via, te sentia até ao dia
em que os meus olhos cegaram, obcecados,
mas nunca mais voltaste, nunca mais te pude ver,
ah! Como te queria... como te queria...
nunca te devia ter sonhado
para conseguir viver...

Bagageira Sem Malas


Conheces só palavras,
nada sabes do que falo.
Imaginas tão desonestamente
tal coisa que pode mas nada tem disso
e nada disso é.

São apenas palavras o que ouves
mas a mágoa é minha.
Para ti não é mais que uma letra
de uma canção sem música,
de uma flor sem cheiro,
de uma vida sem o tempo,
de um lugar sem espaço,
de uma foto sem fundamento,
de uma tela branca...
e um desabafo é um tormento,
um templo em ruínas
onde ganhei lugar,
lapidado pela tua memória
e sem chão onde me enterrar.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Segredos Trancados


Não te disse,
ainda não te disse
mas hei-de dizer
como digo na solidão
e te vejo comparecer.

Falas-me mas não me conheces
porque não te disse.

É um peso que carrego
à espera do momento certo
de um tempo incerto
desconhecido pelo teu ego.

Nem imaginas quantas mentiras
são as minhas reacções quando falas.

Ouço as tuas sábias teorias
desse orgulho de ser superior
e ponho-me a pensar
quantas lágrimas verterias
se eu dissesse a tua dor.

Nem te apercebes do meu silêncio
nessa toda tua avareza
onde te perdes na tua prepotência
esquecendo-te fatalmente da minha existência
e de como pode ela ser a desgraça da tua natureza.

Se soubesses terias medo dos meus olhos,
dos meus mais honestos olhos,
mas eu também tenho medo,
muito medo... porque eu sou tu,
criado por ti e pelo amor...
uma fera enjaulada berra ferozmente,
nesse mundo meu, onde vive um terror.



sábado, 22 de outubro de 2011

Percepção Alucinação

Sou eu que estou errado,
sou eu a escória que foge à razão,
sou uma bela maçã destinada à podridão
crescida nas terras nojentas,
porque cada acto meu
são mil olhos de interrogação.

Entrego o meu mistério de vida
aos julgamentos com pena antecipada,
não interessa a origem
nem se foi bem intencionada.

Juízes não se perguntam,
têm vertigens de onde vim,
não me conhecem
e já têm certezas de eu ser assim.

Que veneram eles que eu não sei,
serão os meus olhos assombrados
que os deixam assustados?

O que lêem eles em mim
que eu não leio?
Talvez sejam as minhas atitudes
mas isso eu não creio.

Se calhar sou um tormento
como uma catástrofe natural,
quando aparece todos fogem à dor
como se considera normal.

Querem que seja o vilão
que alguém tenha os defeitos deles
para se sentirem bem.

Convém julgar com alguém
para se afirmar e confirmar
que eles são o bem.

Não se passa nada,
eu sei quem foi a causa,
já vou na décima oitava vaza
e ainda tenho a alma marcada.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Os olhos desesperados,
desfocados pelas lágrimas,
no sofá, virado para a janela
onde a noite escura enche a solidão do lar.
O sentimento ganha forma no corpo
que se deita abraçado a si próprio
e uma respiração profunda e cansada
inicia os encantos dos sonhos
como os efeitos do ópio.
Adormece...
Acorda numa ressaca
de arrancar com uma faca,
mas algo mudou,
a esperança morreu,
o sol está vivo
já não sinto saudade,
o que morrera,
agora ressuscitou.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Foi Tudo Amor

Das vezes que escrevi sobre ti
escrevia mais sobre mim,
sabes porquê?
Porque somos nós
à distância de um coração.

Num mundo confuso
tu foste a minha razão
porque sempre que te via
assim sentia-me numa confusão.

Achei que fosse um fosso
mas afinal era só o fundo de um poço
e uma dessas vezes que acordei
percebi o quanto é possível
se houvesse mais um bocadinho de esforço.

Porque sei
o quanto me amaste, o quanto me amas
o quanto nos afastámos um do outro.

Porque fui o criador do rio Tejo
através das minhas lágrimas
por estares do outro lado da margem
e já me faltar a coragem.

Sim, tive o medo de me afogar,
o medo de atravessar a ponte da liberdade para te falar,
por isso fiquei aqui a tentar descobrir
na imensa saudade de te ver sorrir.

Quantos peixes, quantas gaivotas vi passar,
eles foram emigrar mas eu fiquei aqui a sonhar,
a olhar para as estrelas, à espera do teu regresso,
a re-viver as nossas memórias
e deitei-me,
aconcheguei-me na relva à espera de novas histórias.

Porque, apesar de distante, tão afastado,
sabes que sempre estive ao teu lado.
Nesta caminhada tropessámos em discussões,
mas sempre nos amámos e ainda o mostrámos
mesmo em alturas de rouquidões,
porque.eu sei, porque tu sabes,
que o nosso amor foi e é a razão das nossas razões.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

As Chagas Dos Nossos Pés

O mundo está num tal estado
que por onde caminhamos
a hipocrisia está sempre ao nosso lado.

Os nossos direitos foram cosidos com o sofrimento de alguém
e as roupas que tanto desejamos também.
As nossas conversas de revolta e mudança
não passam de falácias de esperança.

Este capitalismo criou um sistema
para que os planetas se encontrem
um de cada vez e de um intervalo de tempo
que nos faz esquecer a essência do problema.

O Universo não esquece o significado da universalidade
e os gananciosos que criaram uma virtual realidade
deparam-se agora com o fim da sua existencialidade,
porque o que é natural nunca deixará de ser natural
se a sua origem não chegar às mãos do mal.

Para concluir:
o meu País, ó economistas sem nome,
foi criado pelo Povo Português e chama-se Portugal.