A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

sábado, 31 de março de 2012

Reflexos da Realidade

São tudo ideias
tão longe da realidade,
são ilusões
do outro lado da paisagem,
sonhos sem coragem,
histórias abstractas
de passar o tempo,
invenções paralelas,
de alma agarrada a trelas
a viver uma falsa vida
de falsidades
convivendo
somente com falsos,
a sofrer várias modulações
que alteram a maneira de ver
sem que se veja todo o jogo,
nunca somos justos e verdadeiros
mas vamos contribuindo
sem crédito a terceiros,
somos reais
porque o sangue é pesado,
cheio de memórias por contar,
prendendo-nos à terra,
não pesa a alma
mas dá-lhe peso
suficiente para se perder
nos laços do universo
sem que fuja do que se pode ver,
de verdades absolutas
onde se agarrar
com a morte por desvendar
vai tudo se apagar
ou se calhar
entrar em choque
porque nada mais foi real
que a própria morte.

São anos assim
até me perder
sem saber
quem mente a quem,
se sou eu à vida,
se é ela a mim.
E vivo à suspeita
de que haja algo de real
à espreita.

Magoam-se as crenças
porque as certezas gozam
e criam desavenças.
No entanto
as crenças
mandam matar,
torturar e desgraçar
os seus contrários
enquanto as certezas
deixam-nos a rir
e a sentir de como
os outros são otários.


E eu sou o otário
à procura de um barco
para poder ver um céu
com sol e luar.
Mas quanto mais certos estão
mais eu fico a desconfiar
e investigo falhas,
qualquer perturbação
ao esquema da Natureza.
Eu sei que estou vivo,
se estiver num sonho
não importa,
a morte há-de dizer-me
qual é a real porta.
Estou debaixo d'água
afogado numa tempestade irreal
na minha própria banheira,
a afogar a minha mágoa,
talvez a água substitua
este vazio espiritual.

Não posso dizer certezas
mas estou certo das reacções
previsíveis da sociedade.
Porque o que sinto
sobre as minhas interpretações
é mais real que a realidade
que a altera e luto
por ela mesmo se amanhã já era.

Tão certo como a morte
são os acontecimentos do passado
apesar de não ter a sorte
de descobrir como resolver
o que hoje me deixa calado:
a verdade dos factos
que me transformou
e me levou a este fado.

Sem me aperceber
já cheguei aqui,
nunca pensei em viver
mas a verdade
esconde-se no que sou
pelas ruelas das memórias que vivi.
E ninguém melhor que eu
pode contá-las,
não as viveu não pode analisá-las
ou a personalidade já morreu.

Hoje em dia nem há o Fogo de Prometeu,
as lágrimas invadiram a terra
sobre a Humanidade que já morreu
à espera de que a vida não fosse a guerra.
Rio-me lunaticamente
sobre o poder dos senhores,
são a sua própria desilusão
criam dores para ter dinheiro na mão,
mas a morte nunca lhes dará razão.

Estamos perdidos,
só se fala da corrupção
da solidão e da depressão,
agora que têm liberdade de expressão
perderam a razão.
Pensa-se sexualmente de famas
e falham o compromisso com eles mesmos
porque estão numa prateleira dos iguais num super-mercado
querem ser lembrados sendo mais uma folha em remos
para tirar fotocópias de sonhos iguais,
de tão banais que são que têm sempre os mesmo finais.
Tão falsos que quando se querem sobressair
percebem que estão a mais,
sem poderem sair começam a cair
e querem fugir com preguiça
porque acham que ainda estão a vencer
por terem conquistado algum tempo de atenção
enquanto as suas almas estão a morrer
e só ficam vivos por causa do coração.

Tudo o que quero é o amor,
acalma e conforta,
porque não há nada mais forte
que este sentimento,
mesmo que a vida esteja morta
conquista o Fogo por cada momento
em que o amor cicatriza a dor
e o resto conquista-se por consequência
porque amar tem sempre essa preferência.

sexta-feira, 30 de março de 2012

É Porque Sinto

É tudo confuso,
não sei se estou
às voltas nos lençóis
se a minha cabeça
é que está a andar à roda,
ou se é o mundo a girar
à minha volta.
Há algo que me pica
e eu não consigo coçar,
está dentro de mim
tão profundo que não consigo chegar,
sei que é no meu peito,
tão intenso que me encolho
e não consigo pensar direito,
quem me dera poder escolher
mas não sou eu que escolho,
tentar esquecer talvez
mas não posso deixar
de ver os porquês,
talvez por serem irreais
ou se calhar por
fazerem parte de mim,
mas eu não posso fugir deles
porque há algo a mais,
não sei se sou eu, a minha visão,
talvez me esconda na escuridão
do tempo,
porque por cada momento
que vai passando
vai-me pesando
sem me deixar
ir pelos ponteiros,
vai-me arrastando
nos meus passos verdadeiros
que apenas vão andando...

quarta-feira, 28 de março de 2012

Eu, o Cognome e Eu.

Eu, o Desvio do Vento
e o Movimento Contrário ao Tempo.
Eu, Alguém que é Ninguém
e o Boneco Pousado na Prateleira dos "Sem".
Eu, a Roupa Fora de Moda
e a Mais Esquecida Foda.
Eu, o Poema Nunca Lido
e o Rio Mais Poluído.
Eu, o Dente Substituído por Baixo da Almofada
e o Mais do Menos do Nada.
Eu, a Pessoa que já Morreu
e o Minuto que já Desapareceu.
Eu, a Comida Fora da Validade
e a Desprezada Realidade.
Eu, o Sangue Derramado
e o Coração Parado.
Eu, o Grito Abafado
e o Nó da Garganta Apertado.
Eu, a Sombra mais Escura da Negra Solidão
e os Olhos que Nunca mais Abrirão.
Eu, a Morte da Calma.
Eu, o Despedaço d'Alma.

terça-feira, 27 de março de 2012

Linha de Partida

E assim chegara o terceiro dia,
ainda estava com a mesma euforia
e veio um gajo com bué-da lábia e mania,
a pavonear-se como se fosse um gigante
a querer falar que eu era um grande ignorante.
Eu sabia que mal entrasse na escola do rap iria ser espancado,
que sem preparação e experiência sairia fracassado,
que precisava de ter atitude em cada rima,
mas nunca fui convencido e a humildade vence auto-estima.
Mas mesmo assim decidi entrar sem estar preparado,
completamente desembolsado, 
passei vergonha, fui humilhado
e ainda fiquei calado, especado,
totalmente desinspirado,
mas é demasiado tarde, bazei ferido e triste,
mais uma vez virei as costas à cobarde
e recriei o inferno no meu quarto,
entristecido, dei por mim mais uma vez farto
desta vida que não me deixa em paz,
foda-se, eu ando a ser perseguido
por um guião à espera de me ver agradecido
para me descarregar situações tão más.
Mas quem fui no passado para ter de levar
com tanta merda? Eu sou apenas um rapaz,
estou cansado de estar sempre em guerra.
Já me tinha apercebido que sempre que algo corre mal
a minha reacção é sempre igual, estar deprimido.
E fiquei cansado de estar cansado,
de me lamentar como um desgraçado
e como nunca antes me tinha acontecido,
tive uma conversa comigo que nunca tinha tido:
Não sejas cobarde, essa gente é traste,
sê forte e resiste, que venha a má sorte, persiste,
se parares mano aí é que vais ser falhado,
nepia, não vou ficar calado,
que seja esta a minha linha de partida
para uma nova fase da minha vida,
esse bacano tentou me abafar
mas no final é ele quem vai ficar chorar,
é de mim que toda a gente vai falar
porque o meu rap vai ser a corda
com que ele se vai suicidar.


domingo, 25 de março de 2012

Infâncias

Figueira da Foz,
é onde está a minha voz,
é a foz e o início do Universo
e a origem do sonho sonhador
que suporta a insuportável dor.
Pedido subtil em cada verso
com que apelo em contrastes
quanto mais me afastas
mais o ódio se torna belo
sem nunca ter hastes castas.

É o mais doce doce lar
onde está a mais bela estrela a brilhar.
És inocência da minha infância,
quando enegreço tu és a discordância.
O sol que guardas ilumina a minha caminhada,
a lua que recordas liberta-me para ser mais conciso,
guardo-me ao teu desejo em cada hora desesperada
e aguardo a tua chegada enquanto improviso
na complicada vida que me desespera
até parar e observar o horizonte à tua espera.

Merdicida (Egotripping)

Vêm sempre para o meu lado
para armar confusão
e ainda fazem questão
de me ver irritado.
Acham que eu não faço nada,
a minha paciência é quase ilimitada
mas a verdade é quando se ultrapassa
eu transformo-me num monstro
e torno-me na vossa desgraça.
Esta música chama-se merdicida,
é um repelente para calar essa merda de gente
que me quer ver casado com a SIDA.
Mas essas gentalhas nem sequer têm vida,
só têm neurónios cancerisnos,
por mais que os critiquemos
só podemos ficar pelos eufemismos.
Não têm onde serem enterrados
nem onde descarregar a testosterona
e ficam todos incomodados
porque não preciso de dar na hormona.
Ao contrário de ti
eu uso a inteligência,
com essa burrice única
nem dá para te fazer concorrência.
Foda-se, tu és a piada do milénio,
no dicionário de antónimos
está lá o teu nome como contrário de génio.
Põem-se a falar, a criticar, a aconselhar,
mas a hipocrisia global deixou África por alimentar.
Ainda se dão para espertos
com muita fé de que estão certos
mas o que é certo
é que ainda não vi nada vosso em concreto.
Eu não tenho culpa da vossa falta de afecto.
Eu defeco na vossa cara,
porque em termos de inteligência
o meu chão é o vosso tecto.
Bro, eu nem egotriping sei fazer
mas também nem é preciso saber
porque ainda estou na introdução
e essas unhas já te estão a desaparecer.
És uma identidade falsificada,
não sabes o que hás-de ser,
natural, também não vales nada.
Como é que tens lata de gozar com os homossexuais
quando tu é que és a desgraça dos teus pais?
Vens para aqui armado em T-Rex
mas os meus pensamentos são vortex
e deixam o teu cérebro às voltas numa rotunda,
és duas vezes maior mas eu dou-te tanta porrada
até ficares cento e oitenta graus corcunda.
Tens uma mentalidade tão quadrada
que só sabes falar de sexo
mas é dos vídeos pornográficos com que ficas perplexo.
Tens um grande complexo de inferioridade,
isso não é complexo man,
isso é a mais pura realidade.
Andas armado em macho,
manda mas é a parte de baixo para o abate,
só usas isso a solo, nunca terá outra utilidade,
já estás vermelho como um tomate,
se tens vergonha desta verdade
vai mas é virar para frade.
Sê então bem-vindo
à outra margem da paciência,
vens armado em bandido
mas para ti eu cago irreverência.
Mas quem és tu?
Foda-se, devias abrir o olho
como a tua mãe abre o cu
porque enquanto me tentas espicaçar
a tua mãe chama-me de xuxu.
Vieste-me atiçar, chega,
antes de começares a falar
devias saber que a tua mãe é uma grande pêga.
Sozinha faz concorrência
ao parque Eduardo VII,
estou a brincar,
ela é tão feia que a tendência
é deixar-me céptico
por ela ser mãe.
Quer dizer, se pensar bem,
o desespero dela para ter alguém
obrigou-a a vomitar uma filha,
mas foi a um banco de esperma
pois nem um cego lhe abriu a braguilha.
Vens com grandes conversas
mas não passas de um grande fake,
é tanta a merda que dizes
que nem dá para fazer re-make.
Não passas de um fedelho,
eu nem precisava de te bifar
porque o facto
é que bastava trazer-te um espelho
e fazia logo xeque-mate.
Acha que faz sempre o que quer,
mas sempre é o complemento circunstancial
para o estado fechado do seu fecho éclair.
Mas ainda estás aqui?
O Valete é trezentos milhões de anos-luz
mais forte que eu, assim como eu sou para ti.
Porque é que andas armado em Fidalgo?
Para que é que fazes isto?
Queres ganhar algo? O quê, respeito?
Não é preciso saber muito disto
para te levar direito ao prémio da desgraça:
parabéns, ganhaste a taça
por seres a maior vergonha da nossa raça.
E já agora, agradeço-te por te ter conhecido,
assim nunca na vida irei me sentir vencido.
Achavas que eu não fazia nada, não era?
Então agora fica aí de boca aberta a ingerir a minha fera.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Palavras Para Quê?

A Humanidade descobriu o sol
e recriou-o no teu corpo,
se é mito talvez
mas no meu olhar torna-se um ritual,
quando surges eu derreto
para ser o oceano que reflecte
a perfeição do teu brilho,
nem branco nem preto,
não precisamos de ver
para saber o que o outro há-de querer,
não precisamos de crer,
já a temos a certeza
do que a Natureza requer,
é simples, eu sou o teu homem
e tu és a minha mulher,
és espelho re-criado
da obra do amor
 e eu sou aquela parte
aparte da dor,
juntos fazemos rituais únicos
e torna-mo-los recordações,
por cada vez que nos juntamos
celebramos a cerimónia
bebendo o planeta num copo de champanhe
e reformulamos a teoria da relatividade
porque não há palavras,
só há olhares e momentos intensos,
entre nós não há razões,
como deuses activistas, tu e eu,
somos criadores da realidade,
somos sonhos realizados
e sem se saber,
alteramos toda e qualquer verdade,
criamos o efeito borbuleta
através de acções em pequenas proporções,
nós é que ditamos o que é treta,
hoje tornamos a ilusão, o sonho,
a miragem, o abstracto, o surreal,
em algo bem real,
tão real que quase considero
ser fatal,
o universo não passa de uma meia anedota
quando existe algo como isto entre nós
que a toda a hora torna a hora morta,
fomos feitos um para o outro,
para lá destas quatro paredes
está um resto de um mundo louco...

sábado, 17 de março de 2012

Eu sempre quis ter o intelecto do Valete
e o afecto com que Sam pega no papel
mas nada me surgia em concreto
também não tinha instrumental
só queria cantar, 'tou-me a cagar
se cantar mal,
porque sinceramente,
é só mesmo para desabafar
mas o meu cérebro anda dormente
porque eu sofri bullying na escola da vida,
ela quase que me tornou suicida
mas depois da tristeza vem o ódio
que nos quer monstro e homicida,
não para ter poder por qualquer pódio
mas sim para fazer sofrer,
porque quando o mundo desaba
desaba em grande só para uma pessoa
e raiva torna-se uma voz que soa
constantemente no ser ignorante.
Vivi na escuridão,
no escuro não consigo ver o caminho,
bato e tropeço em tudo
e o que nos resta na solidão
é a imaginação
por isso ficava mudo,
aparte deste mundo.
É como cair no Universo,
as estrelas passam por mim
e eu não sei se a vida me mata ou o inverso
porque resumidamente é assim:
a morte anda a perseguir-me,
a vida não me quer,
a natureza tranquila esconde-se no horizonte
e entre mim e amar
está um mar imenso
com a ilusão de uma ponte,
a rua deixa-me sempre tenso
porque eu penso
com tanta merda que sucede
a morte está no outro lado da esquina
a pedir a uma alma para me vir chatear,
o que eu acho? É que na vida anterior fui Hitler
e agora vingam-se causando-me dor,
neste mundo eu não encaixo,
não há espaço para o meu corpo
já está demasiado abafado,
não consigo respirar,
já estou quase a chorar
eu quero gritar,
parem de me agarrar,
deixem-me andar,
deixem-me respirar
eu vou estoirar!
Tremo todo de nervosismo
e o mundo nem sequer reparou que eu explodi,
aqui, caído no chão,
mas esta canção é vigarice
porque o que eu disse é um eufemismo.
Estou farto, vou mas é dormir para o meu caixão,
ao menos lá estou sossegado,
se perguntarem se eu estou vivo digam que não,
eu estou cansado de estar cansado...
só quero dormir e achar-me achado...

quinta-feira, 15 de março de 2012

Eu conheci um rapaz
fraquinho e incapaz
de enfrentar situações más
apenas queria paz.
Era calado e tinha postura de cocado,
qualquer um metia-se com ele
todos lhe encostavam a roupa ao pêlo
até ao dia em que se virou
contra um pseudo-ganster
e espancou-o com tanta força
que passou a ser respeitado,
ficou tão mocado com a vitória,
a histeria fora tanta
que se virou contra uma faca
e foi conhecer Florbela Espanca.

Pátria Fraqueja

Choro, ó minha Pátria,
choro o nosso Povo.
Que outrora fora rei com o mundo
e hoje está num declínio profundo.
De ignorantes nos fizeram
achar-mo-nos grandes.
Teve, o nosso triste Tejo, a premonição
da desgraça da entrega do nosso Povo à escravidão.
Mas acha-mo-nos inteligentes,
mas acha-mo-nos livres,
mas preguiçosamente desfazemos frentes
que tão orgulhosamente inspiraram livros.

Ó Povo, meu Povo,
que lágrimas te hei-de chorar?
Se quando te exalto
queres-me calar.
Continuamos analfabetos
iludidos do mar alto,
pois não se conhecem,
se à memória
se não conhece a nossa História.

O Tejo implica
as lágrimas dos marinheiros
cujos corpos estão
enterrados no esquecimento
que sem voz se complica
a escrita da nossa Nação.

Adivinhaste, Tejo,
que, por quantas palavras choraste,
nenhuma conquista veio para ficar
senão somente a escuridão no profundo mar
com que abrigaste a rotina
que ao turista se vai lembrar.

Já não te conheço, país,
mas sei onde ficas
e mais os restos
de conversa que o político diz.

Abandonámos D.Sebastião,
ao vendermos a nossa Pátria e Nação
para sermos tratados por País
na cobiça da globalização
engolidos pelas suas acções vis.

terça-feira, 13 de março de 2012

Roupas d'Alma

Visto um casaco grande e forte
para esconder o que sinto falta
mesmo assim não escapo à má sorte
quando me encontro no meio da malta.

Para não me lembrar uso um gorro,
mas o tempo está a passar para ver se morro
e eu não quero andar
porque a felicidade nunca há-de chegar.

Ponho uns óculos para não chorar
porque a dor é tanta
e as lágrimas começam a fraquejar
e toda a gente se espanta.

E fazem perguntas sem parar
e puxam assuntos que eu não quero pensar
mas as memórias não me deixam sorrir
e eu escondo-me sem conseguir fugir.

Calço um par de sapatos
para conseguir andar direito
mas depois de uns desacatos
abraço e encolho com o meu peito.


Como jovem sonho
clareando o meu olhar
mas a velha preguiça
não me deixa ir.
E para mais me perder
dos meus actos me envergonho
sem sítio por onde esconder.
Mas não sei se é preguiça
se é medo de aventura
se são brancas de viver
ou fantasias sem estrutura.
São poemas diferentes
com palavras iguais
pois não consigo dizer
o que em mim está a mais.
Quando tento falar
sai em meias palavras,
o silêncio está a guardar
algo, talvez um sentimento
que se desvendará com o tempo...

segunda-feira, 12 de março de 2012

Na estrada passa um comboio
que vagueia no paredão
à espera de algo,
talvez de ondas
ou de um pôr-de-sol perfeito,
um comboio que vai e volta,
sem saber para onde ir
passa, devagar ou depressa,
para a frente, para trás,
para a esquerda, para a direita,
um comboio sem direcçao perfeita,
vai e volta como um ciclo de uma ceita...

domingo, 11 de março de 2012

Nos meus dedos estão os oprimidos
que outrora ousaram construir torre de Babel,
toda a vossa desgraça
está profetizada no meu papel.

A tinta que gasto são as feridas
com que deito heróis por terra,
por cada palavra que escrevo
crio nas vossas vidas uma nova guerra,
por cada ponto final
dito o fim das vossas vidas,
por cada ponto de exclamação
abraço uma nova catástrofe
da qual vocês não têm explicação,
no meu quarto fabricam-se
histórias macabras, insanas,
que fazem das vossas almas desumanas,
eu dou-vos um bocado de inteligência
para vos ver matar por poder
para fazerem o resto do mundo sofrer
e no final, quando morrerem,
vão-me conhecer,
e quando se aperceberem
vão sentir da minha força,
da minha frustração, da minha ira,
e vou-me rir da vossa desgraça
de toda a vossa vida ter sido
uma grande mentira!

sexta-feira, 9 de março de 2012

Rasgos No Caderno

Imaginei-te de longe,
um pesadelo fora
na realidade confusa
onde me encontro
sem me achar.
De facto, por cada acto
que sai de mim
pergunto-me se sou eu
ou consequência do que aconteceu.
É torturante quando sabemos
que o sub-consciente mente na sua percepção
e queremos do consciente o coração
mas nesta guerra solitária somos nós quem perdemos.
Criamos um passatempo por necessidade,
não pela carência mas pelo medo da sociedade,
entre as imitações, opiniões e o lazer
perdemos totalmente a nossa identidade,
passamos a ser mais uma marioneta
com tantas exigências esquecem-se
de que a morte é o único profeta.

É no início do fim ou no fim do início
quando já perdemos qualquer noção da realidade,
quando não nos apercebemos que não há nada de nós connosco,
quando o tempo conta-se em comboios que vão por vício,
tudo o que se repete em todo o lado torna-se verdade
e tudo o que não nos faz pensar é o nosso indiscutível encosto,
passamos a ser mais um entre muitos na vala comum
onde todo o mundo é da mesma cor, sem sabor e sem gosto.
A alma única perde-se dentro do seu próprio corpo
e o talento apodrece dentro do seu próprio ovo
porque a inteligência resume-se a um tanto faz,
festeja-se o que é bom e reclama-se das coisas más.
Mas há quem viva no razoável que é a vida reles,
eu torturo-me porque involuntariamente visto outras peles
e não consigo travar, será que devo falar ou calar?
"Olá o meu nome é anónimo
e eu dou-te a conhecer o meu heterónimo.
A cara verdadeira do meu marionetista é desfigurada,
ele vive nas sombras do universo,
talvez só de veres a minha atitude
julgas-me uma personagem rude
mas o meu criador é-me completamente adverso,
ele está a afogar-se em ódios de cadernos
nas suas linhas descrevem-se mil infernos,
nada de especial, ele cresceu entre três portões
e está a tentar divorciar-se das razões."
Vem, desconhecido, vem-me julgar, isso é tão normal
como a naturalidade com que julgo o mundo
julgar-me e atacar-me e sei que vejo mal
mas ainda continuo a sentir-me um moribundo.

As contas são de ser humano
e às contas do tempo não paro de me torturar
na dor de outros a quem devo amar,
poderia lutar, de facto, sei as razões e as soluções
mas fiquei frágil, cheio de rugas invisíveis
do esforço que fiz para sorrir,
agora estou fraco, já não aguento discussões tais
que me façam sofrer mais.
Apesar de tudo, tenho consciência que fugir e fingir
não existem em relação a estes fantasmas
porque eles comem-nos a vida, trincam-nos lentamente,
além disso, este é o século vinte e um,
não nos podemos falhar com este presente.
É tempo de deitar fora o que já morreu
e de entender o que fazer quando na minha vida
há mais que um protagonista (não sou só eu,
é também o sangue que o meu coração bombeia)
e se me for abaixo, que se foda,
alguém tem de estar acima desta merda toda,
alguém tem de empurrar o barco quando os ventos são desfavoráveis,
alguém tem de sacrificar a sua própria infelicidade
para contornar os problemas incontornáveis.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Foder A Vida É Parir A Morte

O meu melhor amigo é perfeito
ele dá-me os parabéns em tudo o que faço,
mesmo que não o faça direito
ele aplaude sempre o meu fracasso.
Mesmo que eu seja palhaço,
tudo bem, ele gosta de mim,
vai comigo por aqui e além,
porque a verdade é que eu sou boa pessoa
mesmo que realmente não seja assim.
Porque eu sou um grande playboy
dou coro e conquisto qualquer fada,
pratico orgulhosamente a traição
enquanto não topo que ando a ser encornado
porque a minha namorada
gosta de ter mais do que um namorado.
Porque, tropas, eu sou da pior zona,
tenham cuidado, temam-me,
eu sou o vilão, eu roubo, eu espanco,
eu mato e já estive na prisão,
o que não contei é como matei o mano do meu bairro,
começou com uma discussão sobre um charro,
discussão puxa discussão e já eu tinha pistola na mão,
e ele disse: "Onde é que desencantaste essa merda?
Agora usas armas porque não aguentas uma guerra!
És grande playboy mas a tua dama já rodou o bairro inteiro,
dizes que és ganster mas todos te querem fora desta terra!
Falas muito mas na hora da verdade encolhes os colhões!"
e eu respondi-lhe: "Continuas a falar! Ainda cais tu primeiro!"
Ele veio contra mim e eu disparei sem razões,
com um tiro desfiz mil corações
e passei a ser totalmente respeitado
ninguém me falava, todos olhavam-me de lado.
Porque eu sou invencível,
abordei um magricelas
achando eu ser impossível responder-me,
perguntei-lhe as horas
e ele, sem demoras, partiu-me duas costelas,
mas só me venceu porque atacou mais cedo,
por isso continuem a ter medo.
Porque eu sou muito rico,
tenho dinheiro para nikes,
para saídas, noitadas e fumo muitos pipes,
através de extras como roubos
e muitas ganzas feitas.

Tem sido muito divertido viver,
a vida anda a fazer-me bicos
e eu tenho suspirado na boca dela
com satisfação desta vinda, a vida é bela,
eu estava quase a ter um orgasmo quando a vida parou,
e zangado reclamei: "O que estás a fazer!?",
três gajos tinham três caçadeiras
com três cartuchos apontadas a mim, sem eu me aperceber,
e disseram três palavras "Fizeste demasiadas asneiras.",
assustei-me e pensei que iria morrer,
olhei para eles e quando voltei-me para a vida
já se tinha transformado em morte, estava a sorrir,
e perguntou-me se ainda me queria vir,
desesperadamente tentei soltar-me mas não estava a conseguir,
não sei se isto é real ou a cabeça está toda fodida,
até os gajos começarem a disparar nas minhas costas
durante três minutos até me transformar em três bostas
E lá fiquei estendido no chão a apodrecer,
porque eu fui rei e ninguém quis saber.

O sol a queimar à noite
é sonhar de olhos abertos
e se alcançar água na areia do deserto
prova então o erro do que é certo,
tornando a certeza incompleta
quando o coração aperta
a lutar para que tenha
o esforço uma barriga prenha
com vitória numa fotografia
para calar quem se opôs
com fofocas e histeria.

terça-feira, 6 de março de 2012

Pátria, Nação, País e Pocilga

O que foi que não dissemos ao mundo?

Será que sou eu que sou louco
ou são eles, que louco me querem?
Será assim tão absurdo erguer-me
e gritar a quem não me quer ouvir
enquanto estão a dizer-me
que me estão a sentir?
Será assim tão patético espernear contra tudo e todos,
enquanto nos vendem um sonho de felicidade
que nunca haveremos de alcançar?
É assim tão pouco importante aonde trabalhar
desde que se consiga algum trabalho
para ter com que pôr os meus intestinos a funcionar,
desde que seja eu o bandalho
e tu estejas feliz a defecar
então tudo fica bem na nossa verdade.
Escravo nos escombros da cidade,
a limpar sapatos dos graxistas
que engraxam os sapatos dos oportunistas
que põem a brilhar os sapatos dos senhores materialistas,
que negoceiam sapatos com os senhores parlamentaristas,
que parleiam sapatos a seu gosto e batem palmas
e dão panos comerciais para o resto das almas
enquanto os meus pés feridos fedorentos
feios famintos falhados crescem e criam
nas honradas e benzidas terras dos tormentos,
desprezados e orgulhosos da Pátria saberiam
mas estão ocupados a improvisar uma sola de sapato
para não se esburacarem nesta espécie de quase chão
que os senhores, grandes doutores, dizem que é inacto
e nós abençoamos a sua opinião sem saber o fundamento,
sem inocentemente nos apercebemos que somos nós a razão,
mas desde que haja droga, sexo, vinho e muito contentamento,
quem precisará de comer sequer um pão?

sábado, 3 de março de 2012

Repudio tudo o que me ensinaste,
cuspo sobre tudo o que vivi,
trago nas minhas costas o peso do mundo,
se isto é o inferno então as chamas da minha mágoa
trazem o calor do sol à minha boca
e se é a desgraça que me espera,
então garanto-te que me vais ver em cada sombra,
em cada lágrima, em cada sorriso triste,
em cada grito, em cada choro,
e sem ninguém saber,
o meu nome vai ser aclamado
em cada ódio, em cada revolta.

Na mínima esperança que haja,
construir-se-á um mundo escondido,
um mundo amado e desprezado,
e nesse pequeno mundo,
verás soldados, verás a maior das guerras,
verás o sangue subvertido,
onde a morte mata por pena...
e aí, sentirás nos teus ossos
as almas nascidas e criadas pela desgraça,
chorarás por cada campa de porcos
onde nos deram de comer,
desconfiarás do que vês,
desacreditarás nas tuas crenças,
chorarás sobre a tua ignorância,
vomitarás, de nojo, o teu próprio coração,
quererás arrancar a tua língua
sobre os julgamentos com que fizeste sexo,
e morrerás louco, mergulhado na vergonha
de teres vivido no céu sem teres vindo à terra.