A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

E se eu morrer pelas minhas próprias mãos,
e se perguntarem porquê a minha morte
é porque não conheceram a minha vida.

E não sei o que é que pior,
os que nos amam matarem-nos sem saber
desfazerem-nos para seu belo prazer.

Estou exausto, tão exausto...
só quero voltar para onde não me lembro...
As minhas lágrimas não param,
a garganta está tão tensa que os gritos
berram-se mudos,
levem-me daqui....
Sinto-me só e tenho medo...
sou aborto falhado
apaixonado pelo desumano.
apetece-me gritar
a loucura deste mundo,
mas não posso chorar
porque não quero sentir-me vazio,
sem sentimentos,
vagueando sem andar,
desprezando todas as formas de felicidade...
como eu desejava ser normal!
dava tudo para ser normal...
mas não há espaço para mim,
o ar que respiro é pesado
e sufoca-me...
morri antes de morrer
e só me iludo por cada dia que passa,
já não há nada para mim,
o fim está perto...

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Não posso chorar porque se o fizer surge das lágrimas um reflexo meu nojento e vergonhoso. Gigante, até me fazer sombra, até me rodear, até me devorar... penetrando no meu peito para desmembrar a minha alma. Tenho medo... mãe, tenho medo que o sol desvende a minha pele... a minha pele de velho rancoroso, covarde o suficiente para não ter posto um fim à sua vida e viveu-a negando o que a todos nos une, o amor. Tenho medo destas noites em que me castigo por ter vivido mais um dia... um dia não haverá mais carne para desfazer... não haverá mais provas físicas em como estou vivo...
tenho raiva de mim... que merda de espelho é este que não se parte!? É o inferno!?... Mas não estou amaldiçoado, sou a maldição, se quisessem desfazê-la teriam de me fazer desaparecer... mas este céu!? Onde está o céu com mais estrelas do que vazio? Estou farto disto! Ah! Ao menos podia fazer eco mas não! Não! É claro que não! Já estão todos em silêncio a fazer o meu luto! Claro! Ah! Se ao menos os mortos pudessem falar quantos vivos se calariam!...
Olhem para mim... o cúmulo do altruísmo! Ofereci as minhas lágrimas e já não há água em mim! Agora só sou uma carapaça seca da velhice... isso, fujam da aberração que eu sou... Mas no inferno serei eu quem irá governar! Ah! Vemo-nos lá!
Estou farto disto. Desliguem as luzes, acabou o espectáculo. Com licença.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

à roda, à roda à roda, 
parado e sem parar,
os meus pensamentos giram sobre mim
como um tornado de chamas,
não posso mexer-me,
se me mexo diante do mundo
essas chamas penetram
nas minhas veias nervosas
e carbonizam o meu peito,
mas se ficar muito tempo parado,
o meu sangue congela
e o meu coração deixa de bater...
não sei o que fazer...

bem-vindos à minha auto-estima.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Amo-te,
o que há mais forte que isto no mundo?
Quero deitar-me no teu caixão,
eternamente ao teu lado,
contigo coser estrelas no universo
e narrar histórias nunca antes imaginadas.

Sentir os teus lábios
é como chegar aos portões do paraíso
com um passe V.I.P.,
felicidade imensa impossível de sonhar.

Dizer que te amo é frustrante,
tão ínfimo em relação ao que sinto por ti
que senão me beijasses preferia ser mudo,
pois sentiria a insignificância das palavras,
negando a minha alma
em revoluções espiritualmente sanguíneas,
divorciado cirurgicamente de ti.
Morte tão certa da minha alma
que os porquês não existiriam,
porque o caos estava a formar-se
tendo como final o meu fim.
São colhidos os cravos vermelhos,
vermelhos da nossa terra, nosso sangue,
e esquecidos os cravos brancos,
é a ausência da paz do povo,
escravos da própria Pátria.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Todos admiram a lua,
anseiam a sua presença
para se iluminarem,
mas do outro lado da lua,
na face escura e escondida,
há um verdadeiro ser
a chorar tristeza.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Sou distraído porque o mundo não tem argumentos válidos suficientes para ter a minha atenção.
O verdadeiro amor está na linguagem gestual.
peace
Sou poesia imensa,
tão banal e pouco intensa,
às vezes ainda acerto
quando sou honesto.

Real e verdadeiro
ou ilusório,
tenho esta capacidade
de ser arrogante
por achar a realidade
tão desinteressante,
com números deambulantes
nas equações da vida.

Com incógnitas universais,
e tudo o mais.

Amar

Sou um beijo mal dado,
um lábio a sangrar rasgado
por causa do dente amaldiçoado.

Sou a opção de quem prefere sentir dor
em nome da paixão e do amor
e pede mais um beijo dizendo por favor.

Sou música.

Condimentos Do Amor

Está tudo claro,
claro está que me iludo,
mas é que quando te vejo
fico atordoadamente surdo,
completamente cego de desejo,
não me farto de escrever isto
nem sequer resisto em repetir,
que me interessa a mim
quando me faz sorrir?
Porque sai-me a fluir
tão rapidamente assim
que poderia morrer
sem parar de escrever
sobre ti.
Estou mais para lá
do que para cá,
o sono é pesado
e o café parece-me chá,
és minha adrenalina
sinto-me tão amado
que ainda sou capaz
de analisar esta paz
na retina da vida.

Baseio-me em ti,
meu amor,
para cantar
esta canção
através da
linguagem gestual.
Não há
outra maneira
de demonstrar
algo tão natural.
Façamos em silêncio,
os nossos olhares
revelam palavras
por inventar.

A vida é temporal,
uma partida de Deus
que corre sempre mal,
uma despedida sem adeus
pelas recordações permanecidas
no inferno questionável de quem vai,
deixando dor às almas vivas.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Por detrás do sonho
há um pesadelo...
uma luz que desmascara
os rostos inacabados...
são as sombras na face,
são covas nos ossos
de tanto chorar...
pele afogada, olhos inchados,
desfocados pelas suas águas...

Tenho saudades de algo
mas não sei o que é,
estou tão incompleto
que o que faz falta em mim
é mais completo que eu.
Entre as minhas atitudes,
acções, pensamentos,
vive esse meio buraco.
Menos nos momentos
de felicidade, quando
estou feliz tudo está certo,
talvez seja a minha felicidade
que me torna completo...
mas porque estou feliz?
Qual é a matéria,
ou a essência do meu sorriso?
Os dias passam-me pelos dedos
como água... e não espero.
Não há esperança.

Meu Ser

Desejo fazer amor com o mundo
mas não sei onde me enfiar,
sinto-me deslocado,
os meus pés não deviam tocar no chão,
devia ter nascido sem corpo
para melhor amar,
devia ter sido Natureza
para ser possuído por todos.
Quero abraçar o mundo
como se fosse uma criança,
ensinar-lhe que o impossível é ser impossível
e vê-lo adormecer ao meu colo
enquanto sonha o céu...

Ser Poesia

Sou expressão espiritual,
sofro mutações a cada sol matinal.
O meu corpo existe para ser tocado,
é uma prisão cujas janelas são os meus sentidos,
uma próxima definição da liberdade de viver.
Sinto-me turista no mundo,
a cada dia que me lembro do que não vi,
da miséria, da dor e da malvadez do planeta,
vou me sentindo mais longe da realidade,
mergulhado nas teclas de um piano,
entre os agudos inocentes aos graves raivosos
- é a minha máquina de escrever.
O meu coração é ritmo de percussão,
definindo a quantidade de passos
no espaço dos sentimentos.
A minha fragilidade é um violino
quando me sinto sozinho,
é violencelo na escuridão
da minha sombra.
Sou uma flauta reproduzida
do outro lado das montanhas
como um eco a gritar:
"Humanidade à vista! Humanidade à vista!".
Sou a proximidade íntima
de uma viola em coro.
Sou infinito...

Retracto

Esparançosos e sonhadores
são estes meus negros olhos,
tão negros e escuros
que afectam as minhas pálpebras
tornando-as olheiras.
Esta é a minha contradição de vida.
E enquanto expelo os meus segredos humanos
vou-me tornando universal,
e tu, leitor, vais amando o que escrevo,
brilhar na minha essência.
Leitor eu, que mais me reconheço
nas minhas palavras e sei
melhor que ninguém do que é feita
a minha poesia.
Este é o meu legado,
como na minha supultura,
só poucos saberão o significado
das palavras inscritas nos poemas
da minha autoria.
Crio-os com o tecido da minha alma,
trespassando a honestidade máxima,
é aqui que me conheces
e podes afirmar que já me conhecias,
mas devo precisar de morrer
para se ouvir as minhas preces.

[poeta a] Paginação da Vida

Escrevo para mim,
sou feito de sonhos pequenos,
de sorrisos entre lágrimas.
Vejo mas vejo mal
e tento ver para além de.
Cresci nos meus silêncios
pois não pude senão ouvir
os gritos e as lágrimas
das gentes minhas amadas.
Deixei de falar
porque fiquei espantado
com as mentiras ensinadas,
com as palavras falsas...
e odiei tanto, tanto,
que preferi apagar as luzes
e esconder a minha loucura.
Sou poeta só,
a minha agricultura de reflexões
é alimentada por lágrimas transparentes,
por sorrisos honestos,
pela partida dos raios solares,
pelo protagonismo da lua
e pela saudade escondida
de algo que não tive.
Amo-te,
és o sonho a caminhar pela terra
com capacidade de me levar ao céu.

Suicídio

Suicídio,
quando a vida é impossível,
a felicidade de outrem é imperceptível,
farto de sofrer, sem medo de morrer,
há mais amor na morte do que na sorte,
é ser forte ao ir contra a Natureza.

Suicídio,
quando o futuro é uma incerteza,
o fim do tempo torna-se uma presa,
um desejo palpável numa faca
mais realista para destruir
todas as outras lâminas
que sangram lágrimas de dor,
para abafar a pior morte:
o sufoco, as lágrimas contidas,
os gritos desprezados,
os abraços fantasmas.

Suicídio?
Não há alimento para a alma,
não razão para a pulsação,
aborto incompleto,
só o corpo rasteja
numa alma estancada.

Suicídio,
não há vida nem futuro
quando o passado é mais sombrio
que a própria morte.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Antecipadamente Tarde

A vida tornou-se uma maré de recordações
sobre indecisões tomadas como decisão,
em momentos onde poderíamos ser grandes,
em escolhas que nos tornariam mais perfeitos,
mais reais, mais completos, maiores...
é como... caminhar numa estrada de terra,
deparar-se com uma pedra pousada no chão
e esperar eternamente que ela se desfaça,
para podermos seguir em frente.

E sem querer, a vida não aconteceu,
restando só eu como a única realidade
da minha própria vida. Sem querer,
fiz-me de indecisões, de medos inexistentes,
até chegar o dia em que os dias seguintes
se tornam restos, vivendo de recordações
e arrependimentos; olhando-me ao espelho
e ver que, por dentro destas camadas de pele
cheia de rugas e cales sem significados,
há um vazio de intenções que ninguém compreendeu...

Não quero morrer antes de morrer.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Aeronave Poesia

Directamente para a queda.
Desde que a minha alma deu o primeiro salto
saindo do planeta Terra, caindo pelo Universo,
sem saber se é para cima, para baixo, para o lado.
Há dezanove anos a cair,
tão lentamente que pareço voar, fumando.
Cigarros fazem a contagem do tempo,
funcionando como ponteiros.
Sentado no ar a escrever poemas,
livre da gravidade, movo-me
em setecentos movimentos,
mergulhado na Poesia.
Hipnotizado pela velocidade,
deixo-me confundir e fundo-me
com a estrela Polar,
parindo umas quantas cadentes
entre disparos para o vazio.
Sou uma estrela com asas,
os planetas vêm atrás de mim
com dentes carnívoros.
Também, de quando em quando,
apanho mocas deprimentes
com buracos negros,
absorvido neles e eles na minha alma,
noutra dimensão conhecida como solidão,
esfregando a minha cara no seu chão
em desafio a ver qual de nós fica sem nada,
mas tenho ossos cuidados por lágrimas,
músculos desenvolvidos pelos sorrisos
e estes meus olhos têm dois buracos negros
conhecedores do Universo inteiro,
são o máximo da sapiência
pois sabem que não sabem.
Ando a pisar sóis
só porque disseram que era impossível,
sou rebelde imperceptível
correndo parado,
mas quando respiro
deixo-os entrar nos meus pulmões
para que pressintam as razões
destes dois órgãos limpos:
não falo, tenho ouvidos gigantes,
com mais fome que o Bubu,
mas não engulo, cuspo sementes
que em tempos de poluição morrem
sem nascer como abortos.
Estou cheio de trips,
não não fumei, não injectei nem sniffei,
também não estou doente,
apenas uso a imaginação,
brincando com a inteligência
em troca de um par de infinidades
sobre uma história sem fim
porque não tem conclusão,
é apenas uma espiral.

Este poema
não é Big nem Bang,
apenas estou a ouvir
o clã Wu Tang.


Desinteressado pelos elogios,
a minha Poesia progrediu na solidão,
da total auto-destruição.
Abandonado e estranhado pela sociedade,
canalizei tudo na Poesia.
Também souberam rebaixar-me,
vejo-os reflectidos na tempestade,
são monstros e gigantes,
fortes e tudo o mais,
eu não,
sou pequeno o suficiente
para caber entre povo,
não sou nada demais
apenas diferente.

Fui rebaixado, pisado,
esmagado, até o meu corpo
ficar soterrado no chão,
no chão vi os pés dos pequenos,
esfaqueados como as minhas costas,
esburacados como a minha alma,
esfolados como os meus ouvidos,
obrigados como o meu sorriso,
extasiados como a minha vida,
desidratados como os meus olhos,
sou deles, são a maioria da Humanidade.

Os da minoria são grandes,
são mas é fantasiados e iludidos,
lêem livros escritos pelo nosso sangue,
aconchegados como mortos na cova
a ver-nos passar pela horizontal,
às voltas pelo mundo,
enquanto eles vão pela vertical
avançam vertendo sede pelo poder.

Poema é ser pessoa viva
gerando reflexões
onde porquês vivem de emoções.
Onde lágrimas têm tanto brilhar
como os dentes lavados de quem sorri.
Vês através de mim
mas sentes de maneira diferente.
Papel branco é a maior liberdade,
ser poeta é definição de ser livre,
apresento-me deus, eterno e infinito,
honestidade define a realidade
mesmo sendo irreal
- é sobre o que sinto.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Sou imitação barata de mim mesmo
nos olhos dos outros, um espelho
que reflecte a escuridão da face
do pano que o cobre e tapa.

Estou do lado dependente,
sem ter nada para imitar
a não ser a escuridão.

Inútil, mexo e remexo as mãos
à procura de uma função,
ou do amor desfuncional.

Fim.

Inteligência Para Ti

Olho esses teus olhos
a ver se encontro inteligência
mas só vejo a ironia
de um filósofo sentado
numa sanita como se fosse um trono,
suportada por cartas sem trunfos
como se fosse um castelo.

É claro que o teu cérebro
está em decomposição,
nunca foi lá fora apanhar ar,
apodrecido, fora da realidade,
descontextualizado nas acções,
não há modo de pensar.

Vês, achas que vês,
por essas janelas
tapadas com fotografias
editadas por miragens.

Ouves o quê?
Notícias irregulares
por quem nunca conheceste.
Que tal ouvires os gritos
de dor, de desespero
dos que nascem sofridos.
Impõe a questão de nascer
morto porque natural é viver.
E viver é escolher.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Tempos e Círculos

Sonhei contigo hoje de manhã,
ao acordar senti-me ressacado,
apercebi-me, ao abrir os olhos,
que voltei à realidade.

Qual é a origem do tempo?
Se o que me faz mover
para além da ciência
é a vontade de ser.

Onde encaixa o sonho
no meio de tantos encaixes
de engrenagens e rodas dentadas?

A vida é um círculo,
às voltas às voltas sem fim.

Senão há fim como pode haver início?
E se realizarmos um sonho
não é o fim de um ciclo?

Não é também o tempo
que encrosta rotundas sem saída?
Ou, se não cura, faz esquecer,
ou antes, não lembrar,
porque quando voltamos
às voltas sentimos dejá vús reais.

E se falhámos antes,
falhamos outra vez,
e se conquistámos antes
conquistamos outra vez.

Ou o contrário.

Nós somos o nosso círculo
mas muitos não percebem os sinais
e quando a ilusão deixa de existir
percebem o quanto é tarde demais.
Minha flor de sentinela,
passeias pelas veias da cidade
desconcentrando a poluição.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Planeia-se o esperado
e acontece o inesperado:
Amor.

Tudo faz sentido.
Desconhecem-me,
afirmam a minha presença
mas estou distante...
eu também os vejo,
mas o meu pensamento
teletransporta-me...
dizem ver-me,
eu não os ouço,
ando nas ruas
enquanto vagueio nas memórias
inconcretizadas,
hoje não devia ter saído da cama...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Lagos Inalcançáveis

Há algo em nosso nome
por oficializar,
será que sabemos?
Estará entre
segundos instintivos,
minutos contados
e horas desesperadas.

Embora quisesse pegar-lhe,
é invisível como o vento,
impossível de agarrar como um lago,
onde mergulho para tocar
acabando por ser eu o tocado,
envolvido pela imaginação do ser.
Faço bolhas de ar com os meus sonhos
até não haver mais ar em mim,
mas não me habituo...
deixo-me afundar até às profundezas
porque a matéria do meu corpo
não foi feita para este ambiente,
desfazendo-se aos poucos,
caindo morto,
dissipado pela tua essência,
dissolvido no teu desprezo.

Há um silêncio criminal envolvido,
o som das balas não faz sentido,
palavras não se percebem,
a água está turva,
a visão tornou-se desfocada.
Alguém mergulhou no lago
na tentativa de encontrar sabores
mas a água é insípida e pesada,
sem haver superfície
mais uma alma que se afunda,
uma voz torna-se nítida,
é a morte a chamar
a aprofundar a vida.

Algo Nosso

Há um par de pernas em fuga,
andam para fingir e parecer,
correm para fugir e desaparecer
da escuridão e da luz...

sem lua, sem sol,
à procura de um buraco
para encaixar o objecto
em permanente queda
que ele é, mas  não
sabe que o próprio planeta
é um gigantesco buraco
cheio de peças desencaixadas,
amontoadas e apressadas...
agarradas às vinte e quatro horas,
sem se moldarem, inflexíveis,
não cabem em molduras reais
pois o tempo é-lhes infiel
pela realidade ser o esquecimento
de se ser mortal,
e então vive-se, ou parece...

Há um par de pernas a correr
dentro de lama movediça,
irrequietas, agitadas,
gritam socorro mas não há ar...
é a lama dos mortos,
os que fizeram o luto à luta,
sugam os agitadores
que assim desfazem
o pensamento homogéneo
e criam a diferença.
Trazem a mudança
e tecem a nossa evolução,
simples e honesta
alma aberta,
resiste, ergue-se
e conquista.
Estou sem fim,
a fim de encontrar o fim
mas enfim...

é o tédio dos imortais.
Sou um castelo de areia,
o vento desfaz-me em contrastes,
leva ele a vida
e vai ficando a morte,
só.

Foi e vai com os vivos
até me restar a cova
e uma vida vivida
inscrita numa lápide.


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Sapatos Descalços


Silêncio.

Estou chocado.
Passaste. Passeaste.
Olhaste e não pousaste.

Silêncio.

Com que então!
Com que então com que então...
fui um autocolante no teu coração,
uma tatuagem temporária na tua pele,
um dia rotineiro, uma estrela que nem chegou a brilhar,
um cigarro fumado, uma beata fatela,
uma personagem inexistente de uma história feliz,
um aniversário de uma criança
que faz anos num dia fora do calendário.

Silêncio.

Sou uma lápide confundida com uma pedra vulgar.

Silêncio.

Sim senhor! Mas que piada seca que me tornei!
Uma chave para palitar os dentes.

Silêncio.

Que belo é o mundo!
Vive através das minhas disfunções!
A realidade funciona disfuncionando-me!

Silêncio.

Ao menos a minha voz poderia fazer eco, sei lá!
Mas eu também não quero incomodar-vos,
continuem a ver televisão.
Desde que inventaram prédios
as árvores tornaram-se acessórios.
E toda a beleza florestal esfumou-se,
por isso comam a televisão.
Não vos quero incomodar.

Silêncio.
Descasca pele seca de cebola devagarinho.
Silêncio.

Também só sou turista.
Prefiro ser vento e passear entre vós
do que ser uma pegada na areia.

Silêncio.

Enfim,
está tudo em fim.

Silêncio.
Cai a cebola...
e também os passos.

Agora sim, silêncio.
Vejo-te passar.

Na verdade já passaste.

Mas ainda estou a ver-te.

Dizem ver-me ver nada.

Se calhar é mesmo nada.

Mas o que se sente não se vê.

Bem vindos ao mundo,
esta é a realidade que vos espera,
um conhecimento feito de certezas
e uma morte desmentida pelo capitalismo.

Mas não se preocupem,
o ser humano está habituado
a habituar-se à dor e à alma vazia.

Se não estás do lado dos que sofrem
estás nos que vivem o vazio
de uma vida irreal:
a felicidade do planeta infeliz.

Por mais que te batam palmas,
ou és burro e sorris
ou és inteligente e desconcerta-os
com verdades da realidade
decadente a que chamam Humanidade.

O que quer que vivas
não contes com a imortalidade
do desiquilíbrio do mundo
nem com a impossibilidade
implantada sobre a perfeição
contrária às origens.

Foge, se não tiveres consciência
não fales, não ouças, não toques,
não vejas e vive da cultura agrária
numa terra onde não houve retrocesso
humanitário.

Coisas Entre Mim, Tu e Eu

Frustração, frustração...
Ainda me pergunto onde falhei,
será que não cheguei a tempo,
será que me quiseste?

As pessoas passam por mim
mas as perguntas mantêm-se
porque nenhuma sabe responder,
só tu tens a essência da resposta...
nos teus lábios... nos teus olhos...
na tua voz...

diz-me no que acreditas...
quem me viu, quem me vê,
e o importante tornou-se
num objecto de usar e deitar fora,
porque te quero, e nada mais tem valor...

Amas-me?
Pergunto se me amas.
Se não, vou-me embora,
e fica tudo esclarecido entre nós,
só preciso que me respondas
para silenciar a minha voz...

quem me dera ser por um beijo teu,
seria o início, seria certo... certo?
mas houve alguém que morreu
entre tu e eu...

quem foi? tem nome?
existe? ou sou eu mirabulando
num mundo feito de quedas,
de planaltos fracos?

vou dormir,
que sejam os sonhos
a organizar a minha realidade...

Romance Inconclusivo

Sentei-me à tua espera,
talvez esperando o impossível,
sentado na berma do passeio
do outro lado da estrada,
olhando a janela do teu quarto,
quase através dela pelos meus sonhos.

Dias adormecido,
pessoas passavam por mim
achando-me vagabundo
e vagabundo era
vagueando pelo teu mundo.

Pela primeira vez o céu não me interessou
porque ao teu lado sentir-me-ia maior,
juro-te, a minha liberdade seria infinita
num tempo eterno.

Sais de casa sem me ver,
parece desprezares-me,
fui desaparecendo aos poucos
sem saber o que fazer.

Perguntei-me qual era a ilusão,
se era eu ter o teu coração
ou o teu não.

E não pude moldar
por desconhecer a realidade,
disseste sim e não,
qual deles é verdade?

Porque o que faz a ilusão
é a minha vontade.

Quando te vejo
sinto aquele desejo
mas a minha frustração
prefere afastar-se
do que haver hipótese de desilusão.

Amo-te.
Não te amo.
Amo-te.
Não te amo.
Quero,
não venero.
Tic-tac-tic-tac.
O tempo passa...

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Estou sem palavras,
ainda por cima
não consigo encobrir
este silêncio.

A tua beleza desconcertou-me...
irradias-me, estou incapaz
de não olhar para ti.

Infidelidade do Tempo

Conheci o sonho duma criança,
o brilhar dos seus olhos era dum herói,
as suas palavras eram lençóis inocentes,
as suas questões desconcertavam adultos
ao tornar simples o que simples é,
o destino dos seus olhos desenhava
anjos sem asas, frustrados, desamados, nas pessoas
recebendo em resposta futuras desilusões
ao tornarem-no limitado por definições
do que há-de ser a sua realidade.

Conheci a droga dum adolescente,
mais uma criança que não cresceu,
preso numa realidade deficiente:
um sonho não realizado,
é este o crime que o deixou indiferente.
Enjaulado nos seus próprios horizontes,
sem se poder mover,
descobriu o que a droga lhe pode oferecer:
uma moca para matar o tempo,
como se esperasse que o corpo
igualasse no que a alma já é:
velho morto e cansado.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

De repente estava ali eu,
diante da minha transformação,
não pude acreditar,
preferia chamar-lhe ilusão
à prova de toda uma mentira vivida.

Parece que nem de propósito,
como se todas as cores do mundo se despegaram
para formar a escuridão,
a luz estaria sempre lá,
como se me fosse fazer uma festa surpresa,
esperando o momento mais inesperado.
Vejam como sonhos
se tornam desilusões,
encorajados a fracassar
dando-lhe o nome de realidade,
somos nós crianças sub-desenvolvidas
em sonhos tropeçados pelas corridas
do tempo, tempo dividido em prazos
por dias e por horas
esquecendo-nos da nossa mortalidade.

E quando damos por isso
maior parte da nossa vida
esfumou-se da memória
por causa das constantes repetições
a que chamam de rotina.

Mas até perdoa-se,
apesar de o ser humano
ter habituado a Natureza
ao nosso belo prazer,
nós não nos despegamos
do que somos,
pacotes funcionais
castrados à nascença.

Pratos Limpos

Vi no teu olhar
promessas universais de amor infinito,
assisti aos teus gestos
prometedores na minha face
e as tuas reacções face
às minhas provocações.

Fui tua sombra nos meus sonhos,
na verdade fui tua esponja,
absorvi os teus males, os defeitos
sem nunca contra-argumentar
para não te afugentar.

Fiz um dos meus maiores feitos
por causa de ti
mas quando te quis mostrar
não quiseste estar aqui.

Preferiste estar aí,
bem longe de mim,
afinal não te atraí.

Tu e eu somos diferentes,
duas dimensões paralelas
cuja a única igualdade
é o tempo imparável.

Nunca houve amor,
nunca te amei de verdade
porque nunca me amaste,
apenas foi a minha dor
da solidão que conquistaste.

Estive desidratado,
abandonado nesse deserto
onde tudo é incerto,
mas as lágrimas hidratam.

Real é ilusão
quando o coração
pulsa o vazio
sem saber
se é sangue
o sangue
que nos prova
sermos reais.

Mas te garanto,
não estiveste a mais.

Bom dia
amanhecer,
acordo pelo prazer
de te ver e apreciar,
hoje adormeço
antes do pôr-do-sol
de cansaço
sem ter de o ver
pois vivi e não
necessito de te pensar.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Desconcretização

O assassino assina nas ruas
homicídios invisíveis,
são sombras de pessoas
sangrando constantemente
sangue estático,
alguém matou alguém
mas não há quem saiba,
nem o morto nem o homicida,
por vivermos num planeta
de cadáveres ambulantes
cuja função é terem função.