A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Não sei o que fazer, não sei o que dizer,
parece-me que só me resta ver-te morrer...

sábado, 17 de setembro de 2011

Quarto - Um Mundo

Quando se passa pela porta
entramos num mundo diferente,
como se, de repente,
tudo rodasse à volta deste quarto
e o resto deixasse de existir…

Está escuro,
estamos a ouvir gritos,
parecem ser de raiva,
tentamos falar com essa voz,
ligamos a luz… e o silêncio,
não está aqui ninguém senão nós.
Prosseguimos com a nossa investigação.
O tecto parece uma televisão,
transporta-nos para outros lugares,
parecem sonhos ou memórias,
uma qualquer outra dimensão.
O roupeiro está cheio,
parecem máscaras de receio,
contudo vazio, porque o que o enche
é o que não é verdadeiro.
Há aqui um espelho
que nos mostra distorcidos,
corruptos e bandidos,
faz-nos ver o que detestamos,
apesar de irreal
através da percepção seria um ideal.
As paredes estão pretas da humidade
pintadas com uma cor fingida
mas que não escapa à verdade.
A cama é gélida como um cadáver
mas está tapada por um cobertor
que se mexe quando se mexe a dor.
A almofada é nervosa,
talvez por estarmos aqui…
fazemos-lhe perguntas
mas a marca da cara permanece imóvel,
com um olhar distante,
apesar de escorrerem lágrimas.
Na secretária há fins inacabados,
fotos distorcidas… sem caras,
palavras caladas em papéis invencíveis.
Um mealheiro com elogios guardados,
uma gaveta misteriosa trancada mas sem fechadura,
os segredos, aqui, são invisíveis
mas sinto-lhes a presença.
Está aqui uma forca das palavras
e uma lista de sentenças…
nota-se rastos de água,
talvez lágrimas de tristeza
ou suor de cansaço.
Na mesinha de cabeceira
está uma caixinha que cabe na minha mão,
não sei porquê, chamou-nos a atenção,
abrimo-la e está lá um apaixonante sol,
pequeno e muito confortável,
com uma temperatura suportável,
que me deixa mole,
como se o meu corpo quisesse ficar,
dá-me esperança… acho que o vou levar.
Já acabámos a investigação, vamos embora.
Mal pomos os pés fora do quarto,
parece que algo ficou por desvendar,
quando olhamos para trás,
o quarto estava diferente,
talvez mais normal,
seja lá o que for que vimos,
nunca mais foi igual.