A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

domingo, 18 de novembro de 2012

Pinturas Deambulantes

Para o inferno com o mundo!
Se eu estou em queda
então que penetre profundo no chão!

Hoje vou-me injectar
até ter mais buracos
do que células na pele,
até ter mais branca
do que sangue nas veias.

Vou snifar tanto
até começar a tossir pó branco.

Vou devorar tantas lâminas
até o meu corpo
se transformar num quadro de Picasso,
até me tornar mais desmontável
que bonecos de brincar.

Tornei-me inatingível,
infalível, impossível,
inalcançável e aplausível
porque a minha alma
saltou duma ponte
e caiu no céu
espalmando-se até ao horizonte.

Hoje a dieta deste poeta
é à base cogumelos alucinogénicos
com direito aos genéricos
por causa da penúria
que não me afecta
mas é preferível
ver gente inexistente a morrer
como uma criança
colada à televisão
às sete da manhã.

Estou cheio de coágulos
na ponta da língua,
de acordo com os meus cálculos
ela é uma pista de rally ambígua.

O meu corpo é um armazém
crente e fiel às mentiras de ninguém.

Uma garrafa fumou-me
e sugou-me até me tornar seco
como chão árido.

Passa-me esse ácido
que o mundo está demasiado doce
além disso estou muito ávido
desde das doze horas e há doze
horas que espero desesperado
por isso preciso de mentiras sem demoras.

Este planeta tornou-se tão imperfeito
que rejeito a minha alma a preceito,
preciso de drogas e ilusões
enquanto entram-me verdades gritadas
pelo ouvidos a dentro
mas isso são só alusões
de contos de fadas
onde eu nunca estou no centro
e se não estou centrado na minha vida
porque raio continuo vivo?

Mas a minha alma foi parida
para escrever sem objectivo,
maldita a hora que vim
parar à desgraça sem fim.

Ainda por cima vejo
demasiadamente bem,
tornei-me mestre profissional
mas não há ninguém
com escola igual
para que possa ser rival
na luta contra o mal,
por isso hoje traio-me
e esfaqueio-me
mas não me contraio
porque se a morte veio-me
buscar eu morrerei de pé
como uma estátua,
estava a brincar,
se a morte vier eu mato-a!

Eu vou sugá-la com uma palhinha
até me transformar nela,
ela infiltrar-se-à no meu corpo
mas sentir-se-à numa cela
até se sentir um aborto
mal resolvido,
rir-me-ei tanto
até os meus pulmões rebentarem
porque sou o esplendor vencido
que nem todos os vencedores juntos
compensam tamanha derrota.

Destranco e abro mais uma porta
e deparo-me com conjuntos de pessoas
mas não há quem seja especial
especialmente única, ímpar e tal,
são cérebros feitos de broas,
o meu está guardado numa sanita usada,
numa casa-de-banho pública
onde ninguém mete lá a pata.

A minha cabeça oca tornou-se cinzeiro
para se despejar pessoas cremadas,
esquecidas, não reclamadas,
mas ninguém é certeiro
por isso ando a cheirar cinzas dos mortos,
rodeado de fantasmas
a berrarem-me na cara
sobre problemas que ninguém solucionara.

Estive em todos os lugares abstractos
do planeta e da Humanidade
agora os meus olhos estão fartos,
cheguei ao fim do meu mundo,
acordo agora para viver a realidade.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comentário