É verdade, sou um gajo muito violento,
a minha alma dá cabeçadas nas paredes do meu corpo
na tentativa de sair para voar pela liberdade
e arranha o peito até estar em carne viva desesperadamente
à procura de perceber se ela própria é a real...
a minha alma é maior que o meu corpo,
não cabe em mim, está a sufocar,
mesmo assim foi forçada a viver
como o meu corpo foi ao ser parido...
ando na rua a passear a minha dor
enquanto a minha dor passeia um exército
esquecido que trouxe com a sua morte
vitórias e conquistas agora destruídas,
sou feito de sorrisos que vão e não voltam
e a minha alma foi tecida por buracos
que de quando em quando se revoltam
contra o vento que os trespassam
como se eles e eu fôssemos invisíveis,
inexistentes... buracos cheios de dor,
ainda assim vazios porque ninguém
consegue tocar-lhes como se fosse água...
buracos cheios de desejos intocáveis,
irrealizáveis, os sonhos são a única realidade
que me vão abanando suavemente,
como se eu fosse bebé e filho de crianças loucas
frustradas e castrados por não terem sonhos com que viver...
sou uma faca sem lâmina mas refaço-me...
todas as manhãs renasço e ressuscito,
cada poema destes é uma ressurreição
da minha felicidade e o símbolo máximo da esperança
que durante o meu silêncio recito
com palavras sempre diferentes e passageiras.
Cresço rápido, ao final da noite sei todos os segredos
do Universo, da Humanidade e da Vida
mas quando acordo esqueço e não sei de nada,
nem faço ideia que esta cama é minha,
como se tivesse sido parido com esta idade
sem saber nunca o que é que se avizinha...
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