A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Assim Se Foi

Os olhos que me viram não me olharam,
passaram ao lado como quem vai num comboio
cuja curiosidade do olhar aguça numa pradaria que passa
e não volta, nem nos olhos nem pelo que deles são feitos
- os desejos de olhar como quem sente o seu real espaço,
(infelizmente o meu não padece em lugar nenhum da matéria e essência do teu corpo) -
só me resta saber que existo, ou se não existo acreditar que sim,
e viver o que a vida simboliza em questões de ser no olhar dos mortos.
Desprezas-me como quem despreza a própria respiração,
mas o ar continua à nossa volta, mesmo que não o vejamos,
e mais outra diferença entre mim e o ar é que ele não precisa do porquê,
porque já precisas dele. A minha ilusão é tão vazia como uma caixa de cartão inútil.
Desmamado da sua essência, sem que se renove até se renovar,
cujo o tempo (que tanto se diz curar) vai enferrujando-me
como um cano onde já não passa mais água.
Quero voar como um pássaro mas o oceano onde fui pescar
estava cheio de petróleo que eu achei ser paraíso,
afinal eram peixes mortos a boiar,
e eu, cujos olhos que tanto brilharam,
foram enganados pela realidade
e fiquei lá, entre os mortos e os cadáveres,
sem mais conseguir voar,
rendido pela suja realidade,
à espera de algo que nunca saberei o que é,
não sei se é esperança ou se é tortura,
mas o que há-de ser há-de ser,
os pássaros voarão e o sol nascerá.
Mas deixemos os olhos com a imaginação
e façamos nós a fé com as palavras
e a realidade através da acção.

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