Os olhos que me viram não me olharam,
passaram ao lado como quem vai num comboio
cuja curiosidade do olhar aguça numa pradaria que passa
e não volta, nem nos olhos nem pelo que deles são feitos
- os desejos de olhar como quem sente o seu real espaço,
(infelizmente o meu não padece em lugar nenhum da matéria e essência do teu corpo) -
só me resta saber que existo, ou se não existo acreditar que sim,
e viver o que a vida simboliza em questões de ser no olhar dos mortos.
Desprezas-me como quem despreza a própria respiração,
mas o ar continua à nossa volta, mesmo que não o vejamos,
e mais outra diferença entre mim e o ar é que ele não precisa do porquê,
porque já precisas dele. A minha ilusão é tão vazia como uma caixa de cartão inútil.
Desmamado da sua essência, sem que se renove até se renovar,
cujo o tempo (que tanto se diz curar) vai enferrujando-me
como um cano onde já não passa mais água.
Quero voar como um pássaro mas o oceano onde fui pescar
estava cheio de petróleo que eu achei ser paraíso,
afinal eram peixes mortos a boiar,
e eu, cujos olhos que tanto brilharam,
foram enganados pela realidade
e fiquei lá, entre os mortos e os cadáveres,
sem mais conseguir voar,
rendido pela suja realidade,
à espera de algo que nunca saberei o que é,
não sei se é esperança ou se é tortura,
mas o que há-de ser há-de ser,
os pássaros voarão e o sol nascerá.
Mas deixemos os olhos com a imaginação
e façamos nós a fé com as palavras
e a realidade através da acção.
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