Absorto, completamente absorto, fora do meu corpo,
à espera, erguido pelas pernas,
sem nada fazer, sem nada dizer, sem nada querer...
Só sei o quanto o tempo passou
pelas vezes que me deram os parabéns,
porque não dou conta do sol a nascer,
do céu escurecer nem de mim a envelhecer...
Absorto, absorto, completamente absorto,
faço gestos como uma marioneta do vento,
que me vai empurrando como um barco à vela sem remos...
Movo-me por causa das correntes marítimas,
em mim não levo ninguém nem coisas, nada...
como um barco à vela sem remos fantasma,
completamente absorto...
à deriva na lentidão dos dias e das noites iguais
- se houve novas estrelas e novas manhãs não as vi -,
nos meus olhos estão panos esburacados das velas do barco
onde metade do vento passa por elas sem saber...
Não me afundo por haver algo espiritual no barco fantasma,
algo leve... algo que é como ar numa bóia atirada ao mar...
assim vou eu, absorto, completamente absorto,
vagueando sem sair do lugar...
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