A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Nosso Sangue

Minha Vida,
Não consigo parar de pensar
na desordem de um mundo vazio
que se tornou numa tenda
a abarrotar de produtos e bens à venda.
Já nem dá para nos abraçar,
as mãos estão ocupadas a consumir,
Amor, como é que nós nos podemos beijar
se as nossas bocas estão tão cheias
que já nem conseguem sorrir?
Escorrem nas nossas veias
tantas horas de tempo queimado
pela publicidade.
Em que corredor do supermercado
está a nossa vida feliz e bela?
O que é a nossa realidade
se não conhecemos o resto do mundo?
Amor, o que é o nosso olhar
senão uma promessa de clientela?
Será que a Moral dá-nos um lugar
se dermos uma esmola ao moribundo?
Amanhã ele estará lá outra vez,
a sua função é ser porteiro do alívio
a quem lhe dá um pouco de dinheiro
em troca um sermão em convívio.
Amor, isso não é egoísmo?
Capitalismo este que se tornou uma peste
em que se olha ao espelho a ver se se bem veste
e não repara em quem se tornou,
se realmente o é,
mas o dinheiro abraçou todos os homens sem fé.
Amor, onde é que estás?
Dizem que és tu quem nos muda
mas não te acho capaz
ou nas minhas preces tu és surda.
Que Vida tão absurda,
para sermos felizes temos de ser egoístas,
esquecer o mundo à nossa volta
e celebrar as nossas conquistas,
tão pequenas que são,
não influenciam a revolta
contra a podridão deste mundo cão.
Amor, vamos conversar a fim
de ver se o mundo é mesmo assim
ou se só faz parte de mim...
Porque eu não consigo ser racional sem sofrer,
por mais voltas que dê só vejo tudo errado,
parece que morremos antes de morrer
como se o nosso destino estivesse amaldiçoado.
Amor, dizem que cegas,
então porque é que não me pegas?
Este calor que sinto é infernal
prefiro o teu, Amor,
que à sociedade
nunca haverá de ser normal.
Prefiro os teus lábios
do que uns pares de neurónios sábios.
Espelho meu,
qual de nós é que sou eu,
se o amor não sente nada?
Qual de nós é que já não tem vida
e deixou-se ficar à berma da estrada?
A Vida não é injusta,
a sociedade é que leva-nos a um caminho
que só a nós próprios é que nos custa
na rotina que se ajusta
a sermos indiferentes ao nosso vizinho.
Amor, és um produto ou semente?
Só na aparência é que não há luto
num mundo que se tornou tão conveniente.
Amor, o pecado dos heróis foi a morte,
é o esquecimento a sorte
com que pagas a quem te ofereceu casamento?
Não, a verdade virá com o tempo...

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