Estes homens são indignos,
festejam em banquetes ilusórios.
Bebem vinho alegremente,
sem saberem que é sangue dos mortos.
Enfardam a fruta envenenada.
Eles enfardam.
Os mordomos são os senhores da Morte,
em silêncio obedecem aos mortais.
É noite de lua cheia.
As nuvens carregadas de raiva
anunciam a chegada do fim.
Os réis labregos não se apercebem,
e festejam. Ignoraram os ignorantes,
pensando terem ditado destinos
da nossa gente, roubando-lhes
as acções tornaram-nos inexistentes,
mas foi as ruas da miséria
que os acolheu, que,
na fome que chora,
semeou flores de sangue.
É a Morte, é a Morte a chegar,
pelas sombras invisíveis das ruelas,
nos veio abraçar, como nossa mãe,
nos pegou ao colo e sussurrou
formas de vingança.
Pegou num cravo ensanguentado
do cadáver do nosso irmão,
pousou-o junto do meu coração,
no meu peito e, pelas minhas lágrimas,
o cravo encarnado tornou-se
branco e límpido, de esperança.
A Morte tocou-me nas mãos,
guiando-as até se fecharem em volta do cravo,
e, quando as abri,
uma pomba branca surgiu delas,
voando em liberdade.
Era a Morte, que, existindo,
me fez ver a realidade.
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