Estou levando balas na cara,
estilhaçam os meus ossos,
perfuram-me a carne,
esmagam-me os olhos.
E eu parado, como se fosse nada.
Estou sendo esfaqueado na barriga,
as minhas entranhas desfazem-se,
os meus órgãos são carne picada
caindo no chão com a cascata de sangue.
E eu parado, como se fosse nada.
Estou ficando surdo,
rebentam-me os tímpanos
ao espetarem objectos nos meus ouvidos
para matarem a curiosidade de estarem a ser ouvidos.
E eu parado, como se fosse nada.
Estou cegando,
agarram a minha cabeça
direcionando a minha visão ao sol,
na obrigação de ver a beleza desnudada.
E eu parado, como se fosse nada.
Estou ficando sem corpo,
descolam-me a pele da carne,
puxam arrancando-me os músculos,
desmontam-me os ossos.
E eu parado, como se fosse nada.
Porque urgem encontrar, literalmente,
no meu corpo a minha poesia,
e se encontrarem o segredo da vida,
deixo de ser poeta para ser nada.
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