A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

terça-feira, 16 de julho de 2013

Desafeição da Poesia

Estou levando balas na cara,
estilhaçam os meus ossos,
perfuram-me a carne,
esmagam-me os olhos.

E eu parado, como se fosse nada.

Estou sendo esfaqueado na barriga,
as minhas entranhas desfazem-se,
os meus órgãos são carne picada
caindo no chão com a  cascata de sangue.

E eu parado, como se fosse nada.

Estou ficando surdo,
rebentam-me os tímpanos
ao espetarem objectos nos meus ouvidos
para matarem a curiosidade de estarem a ser ouvidos.

E eu parado, como se fosse nada.

Estou cegando,
agarram a minha cabeça
direcionando a minha visão ao sol,
na obrigação de ver a beleza desnudada.

E eu parado, como se fosse nada.

Estou ficando sem corpo,
descolam-me a pele da carne,
puxam arrancando-me os músculos,
desmontam-me os ossos.

E eu parado, como se fosse nada.

Porque urgem encontrar, literalmente,
no meu corpo a minha poesia,
e se encontrarem o segredo da vida,
deixo de ser poeta para ser nada.

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