Silêncio.
Estou chocado.
Passaste. Passeaste.
Olhaste e não pousaste.
Silêncio.
Com que então!
Com que então com que então...
fui um autocolante no teu coração,
uma tatuagem temporária na tua pele,
um dia rotineiro, uma estrela que nem chegou a brilhar,
um cigarro fumado, uma beata fatela,
uma personagem inexistente de uma história feliz,
um aniversário de uma criança
que faz anos num dia fora do calendário.
Silêncio.
Sou uma lápide confundida com uma pedra vulgar.
Silêncio.
Sim senhor! Mas que piada seca que me tornei!
Uma chave para palitar os dentes.
Silêncio.
Que belo é o mundo!
Vive através das minhas disfunções!
A realidade funciona disfuncionando-me!
Silêncio.
Ao menos a minha voz poderia fazer eco, sei lá!
Mas eu também não quero incomodar-vos,
continuem a ver televisão.
Desde que inventaram prédios
as árvores tornaram-se acessórios.
E toda a beleza florestal esfumou-se,
por isso comam a televisão.
Não vos quero incomodar.
Silêncio.
Descasca pele seca de cebola devagarinho.
Silêncio.
Também só sou turista.
Prefiro ser vento e passear entre vós
do que ser uma pegada na areia.
Silêncio.
Enfim,
está tudo em fim.
Silêncio.
Cai a cebola...
e também os passos.
Agora sim, silêncio.
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