Há um par de pernas em fuga,
andam para fingir e parecer,
correm para fugir e desaparecer
da escuridão e da luz...
sem lua, sem sol,
à procura de um buraco
para encaixar o objecto
em permanente queda
que ele é, mas não
sabe que o próprio planeta
é um gigantesco buraco
cheio de peças desencaixadas,
amontoadas e apressadas...
agarradas às vinte e quatro horas,
sem se moldarem, inflexíveis,
não cabem em molduras reais
pois o tempo é-lhes infiel
pela realidade ser o esquecimento
de se ser mortal,
e então vive-se, ou parece...
Há um par de pernas a correr
dentro de lama movediça,
irrequietas, agitadas,
gritam socorro mas não há ar...
é a lama dos mortos,
os que fizeram o luto à luta,
sugam os agitadores
que assim desfazem
o pensamento homogéneo
e criam a diferença.
Trazem a mudança
e tecem a nossa evolução,
simples e honesta
alma aberta,
resiste, ergue-se
e conquista.
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