Bate... bate... bate à porta
o fim que vivi sem pensar...
Toca... toca... toca à campainha
o mistério que me veio buscar...
Anuncia... anuncia...
e eu sou obrigado a ir...
Está na hora... está na hora...
e eu não sei se hei-de ir a sorrir,
ou se hei-de ir a chorar...
É tudo falso, é tudo uma mentira,
quando sabemos que a morte se aproxima...
Como se, de repente, uma vida inteira fosse irreal,
e só naquele momento, só naquele instante
em que sabemos que é o fim que nos bate à porta
e que temos de atravessá-la
sem sabermos quantos passos ainda nos restam,
que nada mais importa...
Tudo e todos foram meras fantasias
porque já nada disso nos vale,
e somos só nós, apenas nós sem mais ninguém,
que existimos, que realmente existimos para deixarmos de existir.
E as crenças, as fracas subjectivas e abstractas crenças
sobre o que é ou não a morte,
onde passámos décadas sem lhes tocar,
tornam-se a única almofada onde nos podemos agarrar
como crianças no meio e com medo do escuro...
É agora, na última idade,
que a nossa consciência dita o estado de espírito
num balanço de memórias vivas,
na ingenuidade incerta do que fomos,
abrigando-se em nós um peso no coração:
um breve julgamento de nós próprios
sobre se vamos morrer calmos...
ou não...
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