A toda a hora grito o teu nome na minha alma,
tenho-o cravado em crosta na minha palma
que sangra a morte da inocência
daquele que chorou enquanto implorava clemência,
tenho o terror de ter o teu sangue
que o meu coração esguincha em cada pulsação.
És a nicotina que fumo enquanto espero a tua vinda
para cumprir a promessa de vingança,
jurada à frente dos espelhos do demónio,
promessa feita em lágrimas caídas sobre o rosto de uma criança:
não irei morrer sem primeiro te ver sofrer.
Tu és o inferno que carrego sobre as costas
de hoje ver a minha mãe com a amargura da vida,
lágrimas alcoolizadas e ácidas que desejam a morte
por não conseguir pagar as contas da electricidade puxada,
das rendas atrasadas, da água roubada e da internet pirateada.
Não me esqueci,
não me esqueci das vezes tentaste eliminar
da minha mente a minha mamã,
das vezes que me bateste logo pela manhã,
das vezes que gritaste comigo
como se fosse eu o teu pior inimigo,
das vezes que levei porrada e não tive culpa,
das vezes que me deste com o metal
mesmo quando te pedia mil vezes desculpa,
das vezes que fechavas as janelas e a porta
que me arrepia a espinha por saber o que se avizinha,
das vezes me obrigavas a ficar na cama durante horas,
das vezes que ficava aliviado por saíres para ir beber café,
das vezes que não pude falar porque não me deixaste
mas a verdade e a razão estavam do meu lado,
das vezes que me deitaste a baixo nas minhas vitórias.
Eu era criança, ingénuo, e fiquei com a percepção
que o mundo fosse assim como tu foste comigo.
Eles dizem que és o meu pai,
eu digo que és a minha maldição,
eles dizem que foi amor,
eu digo que foi destruição,
eles não viveram o que eu vivi,
eles não sentiram o que eu senti,
eu é que tenho razão.
Porque tu criaste em mim a solidão que a opressão
cria quando nos pega pela depressão.
Tu quiseste-me em fatos
mas só me sufocaste em gravatas.
Nunca me disseste que me amavas,
só aparecias quando me espancavas.
Tu apelidaste-me de porco, irresponsável, marginal,
tu conheces-me mal, mas passo a apresentar-me:
eu sou a flôr murchada à pala do teu sal,
sou o rancor e o ressentimento
de quem foi castigado por dizer a verdade,
sou o ódio e a raiva de quem não viu a justiça
e foi obrigado a fingir o mau sentimento,
sou a tristeza de quem foi posto de parte pela sociedade,
sou o poeta que anseia o purgatório
sobre aqueles que crucifixaram a liberdade
com o que lhes conveio chamar de obrigatório,
sou o monstro do cão criado nas escuridões,
nas solidões, nas torturas e nos desafectos
que agora ladra e mata enraivecido
sem lhe terem deixado soluções,
sou a humildade e o medo impuros
torturados pela perseguição do ser vencido,
sou o desepero de quem chamou cura à morte
mas acordou a tempo e passou à margem da sorte,
sou o louco que vê no espelho um ser horrível
que todos riem eternamente, situação impercetível,
sou a revolta tresloucada de um terrorista
que chocou os seus conhecidos quando se tornou bombista.
Como vês, sou o produto e o resultado da vontade do teu alter-ego,
quando tudo o que eu quis foi um abraço, um beijo,
ou uma outra qualquer amostra de amor,
mas tu não, tu destruíste todo o meu ego,
assassinaste e roubaste a minha alma
e foste-te embora depois de teres semeado a dor
e ainda levaste qualquer memória de esperança.
Agora vives feliz
e eu arrastar-me na maldição
de toda a minha realidade ser da tua criação.
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