O céu é um mar de estrelas,
passo noites inteiras a vê-las.
Tento construir uma canoa,
ainda sou criança,
não foi uma ideia boa,
a ignorância sonha,
cheio de esperança,
eu continuo a tentar arranjar
uma maneira de lá chegar.
Noites inteiras passadas pela adolescência,
entre a frustração e a impaciência.
Teimoso, a ciência não tem razão,
o sonho está por cima da verdade.
Tento uma nova construção
no prédio mais alto da cidade.
Todos dizem que estou louco
mas eu sinto que já falta pouco,
só preciso de me pôr em bicos de pés e esticar o braço,
apercebo-me que ainda há algum espaço.
Deram-me sermões e mais trinta mil razões
para eu deixar de sonhar e fixar-me ao que é real,
já tinha tentado de tudo e escrito quinze cartas ao Pai Natal.
O sonho era grande mas obrigaram-me a ser normal.
Retenho o sonho dentro de mim,
sou um adulto homogéneo na caminhada da Humanidade
mas menos igual por ansear adormecer e voltar à irrealidade.
Até o sol se pôr vou sendo outra pessoa.
Os meus netos fazem-me lembrar os tempos da canoa,
eles gostam da história, querem sempre que eu a repita,
fiquei com uma pergunta deles na minha mente:
"Porque é que não conseguiste?"
"Porque desisti de tentar."
"Porquê?"
"Porque tornei-me uma pessoa diferente..."
Mas não, continuo igual a mim mesmo só que mascarado,
ainda hoje me pergunto, se tivesse continuado, teria conseguido?
No meio da reflexão apodera-se em mim um sono pesado e estranho,
adormeço e volto a ser criança,
é a mesma relva, a mesma única árvore, o mesmo lago...
estou no lugar onde costumava estar em criança.
Este sonho parece ser real...
A canoa está à minha frente,
completamente empoeirada,
observo-a, sento-me nela,
sinto-me no meu lar,
encosto-me, observo o céu estrelado,
um sorriso alegra-me e dá-me vontade de remar,
mal o faço, a canoa começa a voar...
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