Voar. Voar aos mais altos céus
e mergulhar até ao chão por explorar,
flanquear as árvores, acompanhar aves de rapina,
acima das nuvens, chupar uma nuvem com uma palhinha,
cumprimentar o sol, mergulhar do ar para o oceano,
a mais alta velocidade, deixar-me cair,
infiltrar-me na água, às profundezas
e encontrar libelinhas na sua escuridão.
Andar por baixo de água e dançar,
pegar num peixe-balão para fazer dele uma bola de basket,
caminhar entre cardumes.
Voar. Voar por baixo de água,
descansar à sombra de uns pares de corais,
provocar um nevoeiro de areia,
encontrar uma bota de há sete séculos atrás
e calçá-la, substituir as estrelas-do-mar pelas do céu,
saltar com a gravidade da lua,
ser engolido por uma baleia.
Acordar na Antárctida,
com um urso a dar-me duas bofetadas, levantar-me,
ter uma multidão de pinguins especados a olharem para mim,
quebro o silêncio, digo timidamente olá,
não há reacção, um pinguim aproxima-se curioso,
bica-me com jeito a ver se não me quebro como uma estátua,
decido fazer o que os meus antepassados primitivos faziam:
gritar. Levantar os braços e gritar.
E também correr. Correr de olhos fechados.
Um ursinho põe a pata para eu tropeçar.
Tropeço. Caio. Bater com a face no gelo.
Virar-me para cima, deitado.
Ursinho fofinho a olhar para mim.
Levanto-me. Fico de joelhos.
Olho para ele. Admiro-o.
Ele olha para mim com o focinho jovem.
Tão fofo.Dou-lhe uma festinha na cabeça.
Morde-me. Trinca-me a mão.
E eu grito. E todos o pinguins gritam também.
Questiono-me assustado com o bicho.
O bicho olha para mim.
Com voz rouca de velho diz:
Entrega esta mensagem aos da tua laia.
E dá-me um pontapé na canela.
E dói. Dói. Dói. E ele vai-se embora.
Fim.
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