As pedras do riacho
que ali estão
são feitiços que acho
na solidão.
Onde passa a água
passa o tempo
na pedra parada
que o vento trespassa
como um sentimento
que à pedra ultrapassa
com esperança de ter sorte
nas próximas vazas.
"Talvez ganhe um par de asas
sem ser entregue pela morte",
pensa a pedra esperançada
admirando o céu
enquanto tudo o que faz...
é rigorosamente nada.
E a pedra
deixa-se dissolver
pela água que passa
como o tempo...
deixa-se corroer
pelo vento que trespassa
como um sentimento...
É assim que se desgasta
a pedra da pobre casta
que à esperança se entrega
num nada feito que assossega
para que a espera não a desespere
tornando relativo todos os sonhos
que ela tiver.
Aonde estás, acção?
O que não é preciso ter é esperança
mas sim determinação
porque o tempo avança
acumulando à pedra
sonhos e sonhos por realizar
enquanto o peixe
não reza, aliás, até despreza
desprendendo-se de sonhos
porque sabe que fazer é completar.
Acreditar é para quem duvida,
quem concretiza é quem está certo.
E o peixe contra a corrente nada
e nada encontra na sua frente
senão mais um arrastão
mas enquanto avança
vai ganhando mais razão,
nada tanto que se cansa
mas a força está no coração
e substitui qualquer músculo.
Concretizar a acção
é retirar o sonho dum crepúsculo,
nesse quadro onde o horizonte
inalcançável é pintado pela esperança.
A mesma esperança
que se alimenta de sonhos
por concretizar...
O peixe tem de lutar
porque...
o que é gratuito
é para a alma prostituta
que assim desfruta
com o intuito
de agradar,
mas isso é uma fruta
que apodrece
quando descobre o que é amar.
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