A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

sexta-feira, 18 de maio de 2012

À Parte Do Mundo

Não conheço mundo algum.
Só conheço o meu que tanto desconfio.
O meu mundo confuso e desarrumado.
Não sei se isto são cacos do meu mundo.
Ou se cada caco é um mundo.
Sim, acho que tenho mais que um.
Nem sei qual deles é o verdadeiro.
Não sei se estes lençóis são feitos de sonhos.
Não sei se é de mim que desconfio quando desconfio dos outros.
Não sei olhar o mundo senão a janela que ninguém vê.
E passam sempre por ela.
Tanta gente que no comboio vai.
Como eu.
Não sei se pensam.
Mas eu penso.
Pergunto-me se são máquinas...
Tão rotineiras.
Até o repouso delas é rotineiro.

O meu mundo é preto da escuridão.
E o sol aquece o planeta com luz branca.
O preto da escuridão e o branco do sol aglomeram-se no que está fora de mim.
Na realidade.
E vejo o que vejo à minha volta a preto e branco.
Completamente sem sabor...
Metade do que vejo é meu.
A outra metade é do mundo.
Do mundo que é o mesmo mundo dos outros mundos.
É um mundo que ninguém lhe dá cor.
Não somos pintores.
Não somos criadores.
Somos repetições que trabalham oficiosamente repetidamente.

Somos cada um uma tela.
Telas com tintas permeáveis.
Quando a realidade chove essas tintas desaparecem.
E florescem cores originais aos poucos nessas telas.
Mas primeiro tornam-se pretos.
Por causa da humidade da tristeza.
E entendem o mundo no ponto de vista totalmente diferente.
Mais real. Mais original. Mais incomum.
Sim. Tornam-se telas pretas.
E vêem de maneira diferente.
Porque a tela nasceu branca, sem nada.
Um nada com tudo.
Um nada que pode ser tudo - até o impossível.
Um tudo que se converge nalgo.
Mas somos todos iguais.
Ninguém tem a sua própria cor.

Eu tento pintar a minha tela.
Mas a minha palete de madeira só tem madeira.
Eu sei que não tenho as minhas próprias cores.
A ilusão mostra cores invisíveis.
Talvez porque só eu as conheço.
Porque só eu é que me conheço.
E tento pintar a tela.
Ferindo-a. Esburacando-a. Destruindo-a.
Tentando desesperadamente acreditar que vejo.
Mas tudo o que vejo é nada.
Um tudo que é nada porque o mundo que sonhei não aconteceu.
Mas o mundo que sonho é um mundo que não existe.
Um mundo que sinto falta.
Por isso o sonho.
Nem sei porque o sonho.
Nem sei porque estou vivo.

Estou aqui.
Já aconchegado ao meu próprio desespero.
Um desespero sem palavras.
Desespero a saudade de algo que não tenho.
Nem nunca tive.
E por isso não há palavras para isto.
Porque não sei quais são.
Nunca tiveram na minha alma.
É um buraco. Um vazio que arrasto.
No entanto não sou pessimista.
Apenas não conquisto quando acredito que não conseguirei.
Que é quase sempre.
E mesmo que conquiste nunca vale uma festa.
Porque eu fico feliz com as mais pequenas coisas da vida.
Aquele minuto. Aquele milésimo de segundo.
Um sorriso. Nada mais me apraz que um sorriso.
Porque não o tenho.
Tu tens o meu quando sorris.
Não é egoísmo.
É amor e partilha.

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