Saio de casa
à descoberta dum novo caminho,
de mala às costas,
vou sozinho,
com uns pares de cadernos e canetas,
não levo a minha pessoa,
memórias ou outras tretas.
Na direcção sem destino,
nesta aventura conquisto
o que não tenho visto,
como quando era pequenino
que não via acima da minha altura,
agora, ver para além do limite,
viajar na vida é a minha cura.
É fazer uma pausa
- viver é a nossa causa -
estar acima do que nos foi incutido
e elevar o que realmente tenho vivido.
Não tenho substantivo,
chama-me o que tu quiseres,
é-me completamente relativo.
Sem minutos, horas ou dias,
gosto muito de estar aqui,
tiremos uma fotografia para ti
que vou pôr-me nas vias
que ainda não vivi.
Em cada cidade ou aldeia,
saio com nova muda de roupa:
entro estranho, saio amigo,
mas sempre de uma nova maneira.
Sem objectivo para o futuro
sem lembrar o passado
mas sempre viver o presente
e assim me vou tornando puro.
Não ando a fugir à tortura
nem ao fisco,
até porque nestes novos tempos
nem sequer me apelam de Francisco.
O planeta roda,
sou uma célula nele perdida por aí
sem saber quantas vezes o planeta rodou
ou o que anda a acontecer e o que já mudou.
Tudo o que sei é de mim,
as pessoas que conheci,
os lugares onde dormi,
menos o tempo que já vivi.
Na minha mente já passou tanto tempo
que tenho de fazer um esforço
para me lembrar de cada momento.
Um dia voltarei ao meu lar,
com um diferente olhar,
mais crescido, mais vivido,
como assim era no início
em que se dizia que viver
era um vício.
Não é remédio, é a cura
para uma vida rotineira,
para quando te sentes uma máquina,
tudo o que fazes é de mente apática
e não aproveitas nada à tua volta
porque andas com a mudança automática.
Tomas logo partidos,
a desconfiança torna-se guarda-costas
contra os desconhecidos
e nem sequer sabes se deles gostas.
Foges do amor com medo da dor
e depois dizes que o mundo é escala de cinzentos
mas nunca tentaste encontrar uma nova cor.
Nem sequer pensaste nisso,
não estás num funeral,
assim sem razão,
manda mas é vir dum riso.
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