Em dias de semana,
eu cou sempre de cana,
pedindo ajuda à minha mana
mas ela não se preocupa,
só lhe interessa a grana.
Mas sou eu que chego a casa
e já nem reconheço a mamã que eu abraçara um dia,
em que lhe chamava querida, linda e tonta,
velhos tempos de criança em que ela sorria.
Agora já não tenho forças para tanta afronta,
de tantas tentativas, já perdi a conta.
Leva essa mulher de armas num vício,
tento-a ajudar mas é cair num precipício
e rebolar até ao fundo onde não há luz,
onde as feridas não conseguem deitar pus.
A cada dia que passa vejo a carcaça da minha mãe,
que a beijo sem perceber se ela é alguém,
alguém que eu amara, que à vida me providenciara.
Agora parece que a vida está cara,
não é dinheiro com que se paga,
é a desertificação que traz a vara
da bandeira branca da desistência,
da memória que tinha dela que se torna vaga,
em que eu odeio, não venero nem creio.
Não há ser humano com tanta paciência
da morte que a vejo levar desta maneira.
Os sorrisos que perdi das vezes que abri a porta
e encontrei a desgraça em pessoa com a sua bebedeira.
De vez em quando pergunto-me o que devia ser diferente,
se amanhã vai ser tudo diferente,
mas acordo desabituado e adormeço habituado
e durante o sono sinto-me cansado,
pela porrada que dou em mim,
pela raiva que tenho desta vida ruim...
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