A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A Desgraça De Alguém

És gozado e desonrado sem saberes,
por alguém que tens grande amizade,
te esfaqueia e tu, sem te aperceberes,
estás a sangrar nessa dança inunda de irrealidade
em que o teu inimigo te pôs a dançar.
Começas a juntar todas as peças
e desconfias das conversas,
então de repente,
ele pensa que estás de costas,
fala mal de ti a toda a gente,
mas tu viraste antes do tempo
e apanhas o gajo no momento
em que diz que tu és nojento
e fazes-lhe frente, ele atrapalha-se
e o cérebro dele fica dormente,
gagueja-se sempre por mais que tente,
vem com merdinhas a desculpar-se,
só está a queimar-se.

Tu descobres e fechas a mão,
queres dar-lhe um grande sopapo
e dizes: "disso eu não papo",
sabes que perdes toda razão,
mas que se lixe,
é o que merece esse cabrão,
esse bicho, que nem humano é,
a raiva é tanta,
já lhe estás a dar um pontapé,
não te dás conta do que estás a fazer
mas estás a espancá-lo com uma grande fé.
Queres vê-lo sofrer,
quanto mais lhe bates mais lhe queres bater,
ele já nem se levanta,
mas a raiva é tanta
que toda a gente se espanta
e levantam-se para parar
o cenário sangrento,
agarram-te, mas ninguém te pára,
tens um rio de lágrimas na cara,
a fúria deixou-te cheio de força,
à tua frente está um homem,
mas nem trinta deles te movem.
Tu mandas-lhe berros,
atiras-lhe com cadeiras,
encontras mil e uma maneiras
de lhe dar pancada,
a polícia aperece e dá-te uma cacetada,
mas tu não páras por nada deste mundo,
nem que visses o traidor completamente moribundo.

Entras no carro azul,
o outro vai na carrinha amarela,
ambos vão à boleia,
sabes que, para o teu lado, a coisa ficou feia,
começas a chorar em pânico,
aquele não eras tu,
era um monstro que te tornara mecânico.
Mostras a tua identificação na esquadra,
és identificado,
na escola todos olham-te de lado,
fazem mil perguntas
todas iguais, todas juntas.
Deixas de ir à escola,
os teus pais deixaram-te de dar esmola,
estás sozinho, ninguém te ajuda,
apercebes-te que sempre tiveste,
de que não valeu a pena teres-te irritado,
porque na verdade é o pão deles de cada dia,
mas agora és tu que estás queimado,
ainda faltava responder a tribunal
pela tua atitude mortal.
Estás no lugar do réu,
o sacana mente e as testemunhas não viram tudo,
o juiz já tinha tirado conclusões e fez de ti mudo.
Vais preso,
a tua mãe chora e o teu pai diz que és uma vergonha,
o teu irmão é que é um exemplo
mas tu sabes que ele anda a fumar maconha,
não dizes nada,
a tua vida foi queimada.

Na prisão,
és vítima de violação.
Tu e eles sabem que és fraco,
um dia rejeitas quando te põem a mão
e levas uma facada e mais um taco.
Começas então a fazer flexões,
a contar as razões
que te afastam as tuas últimas pulsações.
Começas a ganhar respeito
e a reclamar tudo a que tens direito.
Agora todos querem ser teu amigo,
mas tu já és amargo
e para ti, qualquer um é teu inimigo.

Dois anos e oito meses de bom comportamento
fizeram-te sair antes do tempo
e matares aquele gajo é o teu primeiro pensamento
mas lembras-te do que aconteceu,
quase que alguém morreu
e sabes que foste tu quem teve a culpa,
então decides encontrá-lo e pedir desculpa,
mas o anormal está enrolado com a tua irmã
e apercebes-te de que ele não mudou,
que fez com que a tua família se separasse,
que o teu irmão entrou na droga pesada,
que a tua mãe se suicidou,
que o teu pai se desgraçou na bebida,
lutaste mas a tua família está destruída.

Enfrentas o gajo,
começam numa grande discussão,
ele tem uma pistola na mão,
começam à pancada,
tu tiras-lhe a sua pistola
e no meio da confusão
dás-lhe um tiro na tola,
ele já não diz nada,
antes que a tua vida arde,
bazas de casa dele antes que seja tarde.

A tua irmã chora
e tu dizes que já estava na hora
desse gajo morrer,
ela começa a bater-te
e a gritar que nunca mais te quer ver,
que te ausentaste e que, o que tu fizeste,
só prova que nunca a amaste,
respondes que ela não está a compreender,
mas ela não quer saber
e grita para tu desapareceres,
antes de saires dizes-lhe que só a querias ajudar
e ela responde chamando-te máquina de matar.

E agora? Não sabes o que fazer,
a cada passo que deste só fizeste alguém sofrer.
Rejeitas e renegas tudo,
quem foste, quem conheceste, o que fizeste,
e pões-te a andar no caminho da vida
como se nunca te fosse conhecida.

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