Este é o eco infinito,
uma memória presente
de uma lembrança ausente,
uma voz tornada mito.
Como uma brisa arrepiante,
arrepia-me a alma só de pensar em ti
e uma lágrima anseia ir avante
pela certeza de não te ter aqui.
Não soube, algures, viver a vida
nessa imensa paz
duma última despedida
que nem isso a morte me traz.
Morreu, e só consegui ir à janela,
o meu lar tornou-se pesado,
tornara-se irrespirável como uma cela
onde se pressente o final de algo.
Pela primeira vez conheci a vida
e o que ela nos dá e tira,
sou pobre, sou feliz,
porque dinheiro não me dá o que sempre quis.
São os amigos verdadeiros,
as mulheres que nos amam,
os desconhecidos que sorriem e se espantam
e os meus poemas inteiros.
É a Poesia da vida.
Da gente que chora e sorri honestamente,
que se entrega com amor sem pedir nada em troca,
que nós queremos e amamos verdadeiramente,
que com desprezo e desprezo o dinheiro se invoca,
porque é um dos meios, não um fim,
que sem prostituição, entregam-se a mim
com toda a verdade, e vivemos um momento,
sem haver ilusão, somos nós realidade
mesmo que vá com o tempo.
O dinheiro poderia vingar a minha vida,
poderia dar-me poder e prazer tocável infinito,
poderia comprar a admiração dos outros pelos objectos,
tanto poderia ser que haveria de ser passado esquecido
baseado em ilusões, no fundo nada seria certo
nem sequer o meu próprio afecto,
talvez me tornasse uma personalidade desinteressante
rodeado de gente interesseira agarrada à minha carteira
a alimentar a minha angústia constante.
Nasci a querer antes o amor da amizade,
que cria prazos às minhas tristezas,
que faz-me rir de verdade
e são momentos feitos de certezas,
são eles que me tornam mais forte
como comida para o organismo,
com eles não preciso da sorte
e isto é apenas um eufemismo
porque em questões de fatalidade
são eles que me ajudam a moldar
a minha própria personalidade,
antes que eu soubesse amar
já eles me amam,
conseguem-me interpretar
e nunca se cansam,
nunca desistem de me ver sorrir,
se eu chorar, eles sabem fazer-me rir,
e não tenho nada mais do que amor para lhes dar,
e nunca me sinto a mais porque é essa amizade
que eles querem, a que só tem verdade,
e eu não sei ter outro tipo de amigos
que se possa chamar amigos,
senão aqueles que me fizeram crescer,
viver, são meus abrigos,
unidos sem dimensão de espaço nem tempo,
a qualquer hora são bem-vindos
nas minhas mãos largas para os amar,
mãos sem dinheiro, têm espaço para os abraçar.
Quem tem dinheiro tem tudo,
menos o que é importante,
aquilo que a vida se baseia,
o amor real, certo e autónomo,
isso conquista-se pelo que somos,
e quem não é, vive um incómodo,
uma comichão que quanto mais se coça
mais se alastra pelo corpo,
que se disfarça fazendo troça,
porque a pergunta é:
quando estiver morto
alguém chora?
Alguém fará luto?
Outrora,
esse tornou-se dinheiro,
e o dinheiro vai,
e o dinheiro vem,
deixou de ser pessoa
para ser um investimento.
Na amizade, sou parte de um sentimento,
é partilhado, criando-se cumplicidade.
Tu tens carro, eu tenho pernas,
vais rápido, eu vou lento
e vou conhecendo
gente de outras terras,
vou lento, lentamente,
mas vou vivendo intensamente,
com gente que me vai aparecendo pela frente.
Porque a humildade faz-me honesto
e vou sorrindo honestamente,
porque o dinheiro não me faz falta,
o que me faz feliz é a minha poesia e a minha malta.