num olhar esperançando ser mentira,
mas o silêncio predomina
como se de um pedido de desculpa se tratasse
por ter dado notícia tão dolorosa.
A dor infiltra-se,
os olhos avermelham-se,
a lágrima ganha maturidade,
os olhos fecham-se:
é hora da lágrima sair do seu ninho.
Faz a viagem pela face
e vai morrendo pelo caminho,
evaporando-se aos poucos
enquanto aos poucos o seu progenitor
perde as forças nas pernas e vai caindo
no chão, num grito mudo querendo afastar a dor.
A tristeza apodera-se num riacho de lágrimas,
nos soluços constantes e nas meias interjeições.
Como uma flor que murcha
ou uma aranha a encolher as patas ao morrer,
o corpo fecha-se ao deitar-se no chão,
ganhando a forma de como foi antes de nascer
(como se quisesse regressar ao passado,
quando esteve no ventre de sua mãe),
os joelhos juntam-se no peito,
as mãos tapam a cara sem querer ver...
A lágrima de tristeza que se evaporou,
criou um ambiente pesado através do ar,
entranhou-se no corpo de quem a respirou,
partilhou a tristeza e fê-la chorar.
Vai ficando escuro,
tudo fica paralisado.
É o fim.
Ouvem-se os aplausos e os gritos,
as luzes acendem-se,
o público está de pé,
os actores voltam ao palco,
com sorrisos na cara,
para o agradecimento.
Foi esta a última peça
neste teatro apodrecido pelo esquecimento.
Estou numa das cadeiras da plateia
e, com os meus olhos,
transformo o que fora tudo,
com a memória, o que é nada.
Todos seguiram as suas vidas,
mas este teatro ficou,
à espera de ser acolhido por alguém,
é a morte de um passado cheio de glórias
e o fim do que aqui se vivera,
já não passam de memórias.
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