O que foi que não dissemos ao mundo?
Será que sou eu que sou louco
ou são eles, que louco me querem?
Será assim tão absurdo erguer-me
e gritar a quem não me quer ouvir
enquanto estão a dizer-me
que me estão a sentir?
Será assim tão patético espernear contra tudo e todos,
enquanto nos vendem um sonho de felicidade
que nunca haveremos de alcançar?
É assim tão pouco importante aonde trabalhar
desde que se consiga algum trabalho
para ter com que pôr os meus intestinos a funcionar,
desde que seja eu o bandalho
e tu estejas feliz a defecar
então tudo fica bem na nossa verdade.
Escravo nos escombros da cidade,
a limpar sapatos dos graxistas
que engraxam os sapatos dos oportunistas
que põem a brilhar os sapatos dos senhores materialistas,
que negoceiam sapatos com os senhores parlamentaristas,
que parleiam sapatos a seu gosto e batem palmas
e dão panos comerciais para o resto das almas
enquanto os meus pés feridos fedorentos
feios famintos falhados crescem e criam
nas honradas e benzidas terras dos tormentos,
desprezados e orgulhosos da Pátria saberiam
mas estão ocupados a improvisar uma sola de sapato
para não se esburacarem nesta espécie de quase chão
que os senhores, grandes doutores, dizem que é inacto
e nós abençoamos a sua opinião sem saber o fundamento,
sem inocentemente nos apercebemos que somos nós a razão,
mas desde que haja droga, sexo, vinho e muito contentamento,
quem precisará de comer sequer um pão?
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