Imaginei-te de longe,
um pesadelo fora
na realidade confusa
onde me encontro
sem me achar.
De facto, por cada acto
que sai de mim
pergunto-me se sou eu
ou consequência do que aconteceu.
É torturante quando sabemos
que o sub-consciente mente na sua percepção
e queremos do consciente o coração
mas nesta guerra solitária somos nós quem perdemos.
Criamos um passatempo por necessidade,
não pela carência mas pelo medo da sociedade,
entre as imitações, opiniões e o lazer
perdemos totalmente a nossa identidade,
passamos a ser mais uma marioneta
com tantas exigências esquecem-se
de que a morte é o único profeta.
É no início do fim ou no fim do início
quando já perdemos qualquer noção da realidade,
quando não nos apercebemos que não há nada de nós connosco,
quando o tempo conta-se em comboios que vão por vício,
tudo o que se repete em todo o lado torna-se verdade
e tudo o que não nos faz pensar é o nosso indiscutível encosto,
passamos a ser mais um entre muitos na vala comum
onde todo o mundo é da mesma cor, sem sabor e sem gosto.
A alma única perde-se dentro do seu próprio corpo
e o talento apodrece dentro do seu próprio ovo
porque a inteligência resume-se a um tanto faz,
festeja-se o que é bom e reclama-se das coisas más.
Mas há quem viva no razoável que é a vida reles,
eu torturo-me porque involuntariamente visto outras peles
e não consigo travar, será que devo falar ou calar?
"Olá o meu nome é anónimo
e eu dou-te a conhecer o meu heterónimo.
A cara verdadeira do meu marionetista é desfigurada,
ele vive nas sombras do universo,
talvez só de veres a minha atitude
julgas-me uma personagem rude
mas o meu criador é-me completamente adverso,
ele está a afogar-se em ódios de cadernos
nas suas linhas descrevem-se mil infernos,
nada de especial, ele cresceu entre três portões
e está a tentar divorciar-se das razões."
Vem, desconhecido, vem-me julgar, isso é tão normal
como a naturalidade com que julgo o mundo
julgar-me e atacar-me e sei que vejo mal
mas ainda continuo a sentir-me um moribundo.
As contas são de ser humano
e às contas do tempo não paro de me torturar
na dor de outros a quem devo amar,
poderia lutar, de facto, sei as razões e as soluções
mas fiquei frágil, cheio de rugas invisíveis
do esforço que fiz para sorrir,
agora estou fraco, já não aguento discussões tais
que me façam sofrer mais.
Apesar de tudo, tenho consciência que fugir e fingir
não existem em relação a estes fantasmas
porque eles comem-nos a vida, trincam-nos lentamente,
além disso, este é o século vinte e um,
não nos podemos falhar com este presente.
É tempo de deitar fora o que já morreu
e de entender o que fazer quando na minha vida
há mais que um protagonista (não sou só eu,
é também o sangue que o meu coração bombeia)
e se me for abaixo, que se foda,
alguém tem de estar acima desta merda toda,
alguém tem de empurrar o barco quando os ventos são desfavoráveis,
alguém tem de sacrificar a sua própria infelicidade
para contornar os problemas incontornáveis.
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