Já não choro ultimamente,
não é por falta de vontade
mas sim por não ter forças.
Caiem-me os olhos pesados,
derretem-se formando olheiras.
Oh vida cruel
eles sorriem e eu não.
Todos menos eu.
Demónios, essa gente,
riem de mim, da minha vida
e de tudo o que não é meu.
Como a minha felicidade.
A minha felicidade que não tenho.
Eles gozam com as minhas dívidas
para com a felicidade.
Oh inferno
devo a minha morte
para ser feliz.
Oh maldição,
ainda não fumei
cigarros suficientes
para que tal aconteça.
Ainda hoje encontrei
um prostituta pura,
cheia de cornos em casa,
a casa plurista, plural
do seu adjectivo.
Pedi-lhe um cigarro,
não parecia ela quem era,
mas senti-lhe o olhar
desejoso sobre o meu corpo,
que, por o ser,
tornou-a logo desejável.
Senti-me um prémio,
senti-me ser dinheiro,
e logo logo eu era poder.
Senti-me um objecto caro
que só serve para exibir o seu valor
financeiro e todo o poder
que ela podia comprar.
Puta subtil, não sabia ela
que o dinheiro ganha vida
e controla todos os gananciosos,
enquanto a morte se ri nas costas deles.
Gostei do que senti,
deixei de ser a minha pessoa
para ser um objecto de três pernas.
Imortal como um objecto.
Ilusório, essa era a minha magia.
Ah como a vida é bela.
Enquanto o inferno tem chamas
é divertido para quem as controla.
Ah prostituição louca
Não vendi a minha mente
e ela julga que sim,
inteligentemente
faço-me de parvo assim.
Mas ela não sabe que eu sei,
não vê ela que eu lhe vejo
e observo o mundo enquanto sonho.
Tenho-a na minha mão,
ninguém compreende
que não é solidão.
Faço dos meus neurónios
peças de xadrez,
pensam eles que a minha inteligência
defini-se pelo que digo, pelo que faço,
mas está na ciência
da quantidade de espaço
que o silêncio tem,
pois não há promessas
nem o tempo se define
em tal dimensão.
Sabem lá eles,
coitados,
pensam conhecer-me
mas pensam em voz alta,
ouço as suas reacções,
como se penetrasse
nos seus sonhos
criando as razões
para guiar a razão.
Ah ignorância
Como eu gosto de viver
e vivo sem o fazer.
Ah
Não sei o que digo,
naturalmente sou meu inimigo
e mato-me a cada segundo,
mas gosto de fumar,
o fumo é o meu mundo
ele se traduz pelos meus pulmões
e sai desenhando aquilo que sou:
fumo que sai da boca.
Dos outros.
Ah que harmonia
sinto a paz em mim,
parece que acertei o meu pensamento
com a hora real do planeta,
parece que cada momento
está bem arrumado em sua gaveta,
parece que tudo faz sentido
sem pensar duas vezes,
parece que tenho vivido
assim todos os meses,
parece que não há fim nem início
gozando ao máximo o meu vício...
Ah tão saboroso
tão saborosos
estes "ah's" que me saiem
enquanto o fumo me sai
pela boca.
Ah
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