Às vezes
evito olhá-la
porque me sinto
que me roubaram
algo irrecuperável,
algo que não existiu
mas deixou saudade.
Olho-me ao espelho
e imagino-me de ombros direitos,
como a vida se tornaria melhor,
como a primeira impressão
seria tão diferente,
como se outras coisas
pudessem acontecer inesperadamente.
Gostava de ter ombros endireitados,
até sorrio só de pensar nisso,
mas o peso que carrego
encurvou-me, como uma
flor murcha.
O que há para dizer?
Entre estes parágrafos
sinto estar guardado o segredo
da realidade.
A chave que torna as portas
em janelas para que eu possa
apreciar e conhecer antes de entrar.
Posso fugir? É que já não aguento fingir,
sinto-me a cair sem saber para que lado.
Morro à noite e ressuscito a cada manhã.
Ainda não houve quem salvasse
a minha alma de morrer durante a noite.
Onde está a porra da física
do que nos torna abstractos?
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