Acordo.
Desligo tudo o que deixei ligado.
Preparo-me para sair e ir trabalhar.
Saio.
Chego à estação.
Entro no comboio e sento-me.
Olho para a janela e vejo:
Vejo muitas casas,
vejo um rasto de plantas,
vejo muitas pedras.
Vejo uma criança a brincar na estrada,
vejo adolescentes a vandalizar a mente de uma criança,
vejo um acidente de carro,
Levanto-me e saio.
Trabalho.
Acabo o trabalho diário.
Vou-me embora.
Chego ao comboio.
Sento-me.
Olho para a janela e vejo:
vejo um roubo,
vejo um bêbado a gritar irritado com toda a gente,
vejo um homem a ser esfaqueado por adolescentes,
vejo um assalto a um banco,
vejo casas históricas com gatafunhos nas suas paredes.
Saio do comboio.
Chego a casa.
Deito-me no sofá.
Vejo televisão.
Vejo o primeiro-ministro a dizer que o país está num bom caminho.
Vejo televisão.
Adormeço.
Acordo.
Desligo tudo o que deixei ligado.
Preparo-me para sair e ir trabalhar.
Saio.
Chego à estação.
Entro no comboio e sento-me.
Olho para a janela e vejo:
Vejo uma briga,
vejo uma pessoa a chorar,
vejo alguém a suicidar-se,
vejo um prédio a desmoronar-se,
vejo um tiroteio entre gangs,
vejo brancos a espancarem um preto,
vejo alguém a morrer,
vejo um placar que diz:
"Estamos num bom caminho"
situado à frente de um bairro de lata.
Ouço o comboio a chiar intensamente.
Deixo de ver.
Não revoltar e morrer.
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