Entro no autocarro, pessoas sérias,
parecendo estarem descontentes
parecendo estarem cansadas,
fingindo serem indiferentes
como se não passasse nada.
A menina sentada sorri para o telemóvel,
querendo fugir ao tempo real:
um autocarro do funeral.
O homem da gravata está direito,
até demasiado, cara de homem,
rapazito é com medo de ser tocado.
O silêncio é de morte,
pessoas olham pela janela fora,
à espera de ir embora.
O autocarro leva todos os dias
as mesmas pessoas e pelas mesmas vias,
eles partilham tempo e espaço
e não se conhecem,
vêm e fingem que se esquecem
dos seus vizinhos...
Ó grande guerra fria,
são estes meus vizinhos estéris?
Porque se perdeu ao que fora um dia
e que agora morreu?
Onde estão as cores
que fazem renascer as nossas flores?
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