Baseiam-se muito em números,
uns muito desafogados, outros desesperados,
outros com muitos cuidados,
esses capitalistas, esses políticos,
esses soldados, esses pobres
e ainda mais os ignorantes que se baseiam em factos contados
e tornam verdadeiras as mais repetidas opiniões,
esses todos que vivem à base de números e suposições
não sabem a ponta de um corno sobre o que é viver,
ainda vêm dizer que nós não sabemos o que é sofrer,
mas a verdade é que conheci alguém que se suicidou
sobre números infinitos de dívidas que herdou,
também conheci um outro que acampou na manifestação
de 19 de Maio de 2011 e foi tratado como cão,
mais outro que não virou terrorista
porque viu nos grafittis a derradeira conquista,
outro que andava a traficar para a ganhar pão,
preferia arriscar a prisão que ser escravo de um patrão,
para ele, estava fora de questão ser escravo por um tostão,
também fui abordado por um ladrão,
acabámos a confusão a conversar
e explicou-me ele que tinha vinte anos,
uma família por sustentar
e a verdade é que não era ele o culpado,
ele achava que o diabo tinha-se-lhe cruzado
quando o atestaram como desempregado,
encheu em mim a raiva, até me deu vontade de chorar,
só de pensar em que estado nos deixa o nosso Estado.
Apesar de tudo, vou fazendo a minha parte,
palavra aqui, acto ali como me manda a minha arte,
sou só um e faço aos poucos e aos bocados,
passando um bocado ao lado de quase todos
mas há pessoas que agradecem a minha passagem
porque sou um soldado desarmado
e também tenho a minha história
que, sempre que ponho o pé na rua,
surge-se na minha memória
e vêem nomes dos culpados
que tornaram a minha vida nua,
sem roupa para me aquecer,
a sentir aquele frio de quem está a morrer.
E porque números, factos e massas não resolvem problemas,
eles comem muita cultura e vomitam muitos temas
e eu assisto gentes a beberem do seu próprio suor,
eles dizem que é sempre para melhor
e que é o nosso país que está em jogo,
já nem lhe chamam Pátria,
porque a História da nossa Nação morreu
porque o Povo Português há muito adoeceu.
Eu sou hipócrita mas a maior hipocrisia
está nesta espécie de democracia,
que já Salazar dizia que nem para isso o povo não estava preparado
e no final de contas, o que é que mudou?
O Povo prefere estar pouco informado
e pouco se lhe dá sobre o que pensa da política
e quando não damos valor ao poder, alguém dá por nós,
é esta a nossa sociedade mentalmente paralítica
que se deixa confortar por uma voz que soe bem ao ouvido,
tenha bom aspecto, um sorriso charmoso, uma boa propaganda
e já é um político bem vendido, é garantido...
Também é garantido que quem me conhece vai ver-me a praguejar,
porque eu vivo nos confins do mundo
e sei muito bem quais os preconceitos que gostam de nos desprezar
pois a Assembleia da República rodeia-se de algarismos,
vivendo numa dimensão aparte da realidade,
numa lua só para o capitalismo,
com muitos histerismos vão se acusando com falas muito bem ensaiadas,
num diz que disse e que não deve fazer,
mas a oposição seja ele o partido que for,
só o é à grande - e mesquinhez - para ganhar poder
à boa maneira do político provinciano português,
como o Passos Coelho fez, era contra o PEC
para ganhar uns bons pares de votos
veio dizer que se fosse eleito
não iria mexer o décimo terceiro mês,
que não iria mexer nas pensões,
esse cão nem merece o meu respeito,
lutámos pela liberdade e este Primeiro-Ministro
andou na mesma cama que Salazar,
dizendo agora que impõe e que é necessário,
então para quê democracia, meu grandessíssimo otário?
Se é necessário impor como tu andas a espalhar,
porque é que há democracia se tu sabes perfeitamente o que estás a fazer,
saberias mas nem és tu que estás a sofrer.
Quem diria, a direita em maioria,
garanto-vos eu que vamos ficar como a Grécia,
com a Troika, nossa amiga, eu até tenho inércia em levantar-me...
Oh! Quem me dera ser um super-assassino profissional,
é necessário um anti-herói para acabar com tanto mal.