A inocência é a universalidade dos seres vivos, é nela que está a beleza da ignorância de quem vive acreditando.

A minha inocência foi esta:


Francisco Sarmento

Este blogue encontra-se concluído para que outro aconteça agora: http://poemasdesentir.wordpress.com/

sábado, 19 de novembro de 2011

Maturidade

(...) porque o sofrimento requer o exercício da reflexão e sem nos apercebermos, por estarmos afogados nas lágrimas, começamos a reflectir intensamente, porque um problema não foge, é como um fantasma, acompanha-nos até nós descobrirmo-lo e sofremos por termos descoberto o problema e no meio disso tentamos achar uma solução, mas nada parece ter força, nada parece razoável, nenhuma acção deste mundo consegue pôr o nosso próprio cosmos em ordem e sofremos ainda mais, como se estivéssemos num poço escuro e gélido, tão profundo que deixamos de ver a luz do sol, aquele resto de luminosidade que nos guiava e dizia por onde sair e andamos ás voltas, na escuridão de um poço, a bater com força nas paredes procurando uma saída que não há e, cansados, desistimos e deitamo-nos no chão à espera que a morte nos venha resgatar, alucinando memórias felizes que nunca aconteceram, entre a fome desesperante de um simples abraço e a sede da troca de amar e ser amado, acabando por adormecer... e quando acordo, ao meu lado está uma bela e mágica pomba de penas brancas que iluminam uma parte do que estava escondido na escuridão, observando-me em silêncio à espera de uma minha acção mas o medo, os traumas que se tornaram experiência de vida criam hesitações e barreiras e escavam a cova. A pomba dá às asas e voa, voa para o céu mais alto obrigando-me a olhar para cima e, nesse momento, o meu peito alimenta-se das estrelas erguidas num mistério inalcançável e aí, a palidez ganha uma nova cor e recomeço a erguer-me do chão para um novo e diferente início. Numa luta incessante, de uma determinação extraordinária que faz cravar bem fundo os meus dedos nas paredes do poço, escalando com determinação, tendo como objectivo um lugar na superfície da Terra. A cada queda que dou, a revolta torna-se maior e maior e maior e maior... cada célula vai-se transformando num pedaço de monstro a cada centímetro que subo. A umas dezenas de metros da superfície, já todo eu transformado num mostro, com uma voz esganiçada pela raiva, com os olhos vermelhos de lágrimas que fervem, começo a expulsar o ódio entre ameaças temerosas... Chegado à superfície, irreconhecível, a revolta ganha atitudes e acções, a vingança de uma vida requer a ordem natural das coisas... a raiva, o ódio... tudo se perde quando um espelho se atravessa na minha frente e o choque do que vejo faz-me questionar no que me tornei eu... num monstro que afastou qualquer gesto... qualquer palavra de amor... todas estas questões trancam o monstro dentro de mim, porque quase ceguei... e então, sento-me na minha cama, pego o meu álbum de fotografias pousado na mesinha de cabeceira ao lado da cama e começo a folheá-lo recordando-me de tudo, de todas as memórias, de todos os meus pensamentos, de tudo o que fiz e me aconteceu... e todas as minhas misérias e desgraças dão vontade de rir, chorar de tanto rir, rir até não poder mais, rir até me deitar na cama e agarrar-me as dores dos abdominais e quando me acalmo, um sorriso se esboça para que no final diga: a sério? Levanto-me da cama e vou-me embora viver com as células que ainda me sobraram.

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