É de noite, na rua...
dou de caras com...
sinto a rua a desfragmentar-se,
as pedras da calçada e do alcatrão,
os postes, as árvores, os carros...
tudo se vai soltando do chão,
pairando desfragmentam-se,
desconstroem-se, ao nadarem no ar
- uma preparação d'uma onda de choque,
fulminante e implacável, prestes a chegar
para separar as partículas de todas as coisas -
e eu, no centro, em velocidade real,
assistindo a isto, pensando em nada,
consciente do que vem depois
e nada poder fazer senão fluir
o que tem de ser e nunca chegou a partir...
Na harmonia da realidade desfazida,
o que se desfragmentou converge-se repentinamente
dando-se uma explosão de fogo gelado,
e a dor centrada e enfraquecida espalha-se
antes de eu fechar os olhos...
As lágrimas batem de raiva contra as grades
berrando a liberdade. Uma a uma, caiem,
inevitavelmente, inutilmente... afinal,
a realidade está descomposta por mentiras.
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